Windows 8: é a vez de kill switch

Controlar internet? É estúpido.
Há centenas de milhões de utilizadores no mundo, todos ficariam enervados e descontentes perante uma clara forma de censura. Há maneiras mais subtis para alcançar o mesmo resultado.

Por exemplo: imaginem uma tecla com a qual as empresas produtoras de hardware (isso é: computadores, smartphones, etc.) possam apagar do aparelho as coisas pouco agradáveis. Imaginem esta tecla que funcione quando já o aparelho foi vendido e está nas mãos do feliz utilizador.
Não seria divertido? E muito mais eficaz do que uma horrível censura via internet?

Parece ficção científica. Mas não é: é uma notícia do conceituado Bloomberg, que publica tudo nas páginas da tecnologia (Bloomberg Business Week).


Algum tempo atrás, um desenvolvedor de software, tal Kytömäki Janne, ao navegar no Android Market notou algo estranho: dezenas de aplicativos tinham nomes de desenvolvedores diferentes dos reais. Kytömäki adivinhou que seria o trabalho dum malware (um código malicioso) de rápida propagação e imediatamente reportou a sua descoberta.
Google tomou medidas imediatas. Tinha simplesmente que activar a opção kill switch para chegar num instante até os mais de 250.000 smartphones Android infectados e remover o código malicioso de forma remota.

Kill switch é isso: um interruptor que apaga conteúdos ilegais à distância.
 
Um interruptor de matança que é agora padrão na maioria dos smartphones, tablets e e-reader. Google, Apple e Amazon, todos têm a oportunidade de alcançar os seus dispositivos remotos para remover conteúdos ilegais ou editar códigos sem a permissão dos usuários. Porque esta é a parte mais divertida: o usuário não é interpelado: tudo acontece sem o consentimento dele.

Os mais cautelosos dirão que esta é uma forma eficaz de bloquear as ameaças que se espalham rapidamente, o que é verdade: mas é também uma parte que mexe no delicado âmbito da privacidade e da segurança.

Agora a boa notícia: com o lançamento do sistema operacional Windows 8, pela primeira vez desktops e notebooks serão equipados com um kill switch como standard. Microsoft não explicou publicamente as razões que a levaram a incluir essa funcionalidade no Windows 8, além dum aviso segundo o qual poderia ser forçada a usá-lo por razões legais ou de segurança.

O kill switch de Windows 8 foi anunciado num artigo de Computerworld em Dezembro passado, artigo em que a Microsoft descreveu os termos de uso do seu novo aplicativo, o que permitirá que usuários de Windows possam baixar programas a partir dum portal online.

Mas kill switch até agora foi utilizado apenas contra ameaças de segurança? A resposta é não. 
Em 2009 a Amazon Kindle eliminou as cópias dum ebook de George Orwell vendidas por uma editora sem os direitos necessários. Na altura a reacção dos usuários obrigou o Chefe do Executivo da Amazon, Jeff Bezos, a definir a acção como “estúpida, irresponsável, e dolorosamente fora de sintonia com nossos princípios”.

Mas o kill switch não apenas não foi eliminado como até está a ser implementado em novos hardware.
Os activistas dos direitos civis e liberdade de expressão estão preocupados: as empresas podem ser pressionadas pelos governos para eliminar não apenas softwares prejudiciais como também material de tipo político.

Diz Eric Goldman, diretor do High Tech Law Institute da Faculdade de Direito da Universidade de Santa Clara, na Califórnia:

Temos alguém com o controle absoluto sobre os nossos discos rígidos, de maneira imprevisível e sem autorização. Se este poder for usado com sabedoria, poderia melhorar as nossas vidas. O problema é que não sabemos se isso vai acontecer.

Hiroshi Lockheimer, vice-presidente da Google Android Engineering, diz que a empresa irá reservar o uso do kill switch “nos casos só realmente gritantes e evidentes” de conteúdos nocivos. O problema é definir estes casos “gritantes e evidentes”.

Microsoft diz que a empresa faz uso desta tecnologia só nos smartphones apenas por “questões técnicas e de conteúdo”.
A Apple e a Amazon preferiram não comentar.

Defensor da tecnologia é Janne Kytömäki, o informático que descobriu a epidemia de malware nos Android:

Qual era a alternativa? Deixar os aplicativos piratas instalados nos telefones de 200.000 pessoas?

E que tal remover a aplicação do portal de vendas e avisar os usuários para que façam o mesmo nos smartphone deles?

Ipse dixit.

Fontes: Bloomberg Business Week.

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