A profecia de São Franscisco

O quê? São Francisco no blog? Max converteu-se? Estuda para padre?
Não, nada disso, padre com certeza não posso ser definido.

Mas já disse que uma das figuras que admiro é aquela dele, e no passado 4 de Outubro comemorou-se o dia onomástico.
E, por inacreditável que possa parecer, as suas ideias são actuais.

Mas antes uma breve biografia.

O Cruzado falhado

Em primeiro lugar: vou chama-lo Francesco e não Francisco, pois este nome faz lembrar uma cidade americana.

Nasceu em 1182 em Assisi, uma simpática cidade da Umbria, na Italia Central. Em verdade a mãe escolheu o nome de Giovanni (João), mas o santo disse : “Não, quero ser São Francesco”.
E assim foi. (Na verdade foi o pai que mudou o nome dele).

Sabemos pouco da sua juventude, mas como o dinheiro não faltava, não deve ter sido tão má.

Em 1154 (esta data é um erro corrigido nos comentários) participa na guerra entre Assisi e Perugia (cidade bonita, onde fazem um excelente chocolate), é feito prisioneiro e aí começa a lenta conversão de Francesco.

Em 1203 tenta participar na Cruzada, mas chegado em Spoleto fica doente e percebe que combater os infiéis na Terra Santa não é tão boa ideia.


Até que, em 1205, acontece o conhecido episódio do crucifixo. São Francesco estava a rezar na igreja de São Damiano quando de repente ouviu uma voz: “Francesco, vai e repara a minha casa que, como podes ver, está em ruínas”. Assim falou o crucifixo, repetindo 3 vezes a mesma frase (São Francesco era um bocado surdo?).

A partir desta altura os eventos aceleram, Francesco vende os seus bens e começa a viver na pobreza. Com grande desgosto do pai, “pois, metem-se nas drogas, na música rock, e estes são os resultados!”.
Mais ou menos é isso.

E assim fica homem de igreja. Mas não da Igreja de Roma, já suficientemente corrupta: Francesco interpretava as palavras de Cristo de forma fiel.

Vai em Gubbio, onde fala com o lobo (“Senta! Dá a pata! Lindo lobo…”), começa a predicar, funda a sua própria Ordem. Também visita o Egipto, durante a Cruzada (uma fixação, evidentemente). Aqui decide encontrar os Árabes e explicar que sim, de facto os Cruzados têm razão e que a guerra contra o Islão é justa. Não é uma grande ideia e os Árabes riem ainda hoje.

Faz um presépio vivo,  recebe as estigmas, morre.

Mas deixa algo.

A profecia de São Franscesco

O amor pela Natureza. Era um ambientalista ante litteram, com alguns séculos de antecedência, pois não podia conhecer a industrialização. Pregava a pobreza: tinha observado o lado obscuro dos negócios. E se hoje o termo “pobreza” é obsoleto, “sobriedade” permanece bem actual (e menos radical).

Não temos necessidade de engolir tudo e mais alguma coisa, como frangos de engorda, degradados de homens para consumidores, com cada vez mais produtos, iPad, iPhone (quinta geração em dois anos…), iGarfo, iCarro, beauty center para cães, gadget demenciais e sobretudo devastadores.

Precisamos, pelo contrário, duma vida mais simples, mais à medida do homem, sem estar obcecados com Dax, spread, downgrade e Bovespa.

Existe a possibilidade de melhorar?
Sim, existe. Mas para isso temos que parar a globalização.

Que não significa fechar as fronteiras e viver cada um no seu canto, atrás do arame farpado. Pelo contrário, uma boa sociedade terá sempre muitas ligações com as outras; mas no pleno respeito e defesa das diversidades, que são riqueza e não entraves.

Nenhum País hoje poderia viver fechado em si mesmo, a não ser prévia aceitação duma recessão do estilo de vida e no bem estar geral. Mas podemos ser igualmente mais autárquicos, apostando nos recursos que a Natureza (por exemplo) disponibiliza à nossa volta.

Porque tenho que comer uma toranja da África do Sul? Há toranjas em Portugal, e boas também (nota: a toranja é uma porcaria de fruto, amargo como o veneno, mas este é outro discurso).
Porque a minha aldeia tem que estar ligada à rede eléctrica nacional 24 horas por dia? Há o sol, é possível produzir electricidade no tecto das nossas casas.

Claro, isso diminuiria a riqueza dos vários Países.
Mas qual riqueza? Nos Estados Unidos há 46 milhões de pobres, e isso no País mais rico do mundo.
Em Portugal 18% das pessoas vivem abaixo do limiar da pobreza, quase 2 milhões de indivíduos. No Brasil são 26% (mais de 50 milhões), no Reino Unido 14% (mas de 9 milhões), na Alemanha 15,5% (mais de 12 milhões).

Esta é riqueza?

Mais autarquia significaria mais trabalho, o fim da ignóbil exploração dos Países do Terceiro Mundo. E uma maior justiça na distribuição das riquezas existentes.
E significaria também o fim do mito do eterno crescimento, o mesmo que levará a nossa sociedade até a implosão.

São Francesco disse tudo isso?
Mais ou menos.
E mais alguma coisa:

Ah, pois é…

Não é preciso ser Católico ou Cristão para entender o alcance desta mensagem, que é intemporal. Substituam “Senhor” com outra divindade qualquer, o resultado não muda.

Não seria mal recuperar um pouco daquele espírito.
Nada mal mesmo.

Ipse dixit.
Aliás: Ámen.
E arrependei-vos!

Fontes: Wikipedia (Italiano), Index Mundi, IlFattoQuotidiano

22 Replies to “A profecia de São Franscisco”

  1. Muito legal da sua parte lembrar destas mensagens em um momento em que todos estão tão distantes de tais ensinamentos.

    A boa mensagem deve ficar sempre.

    Obrigado.

  2. Bahhhhhhhh Max!

    Valeu, é isso mesmo, uma vida mais Maria (que nos deu uma lição aqui).

    São Francesco rogai por nós! Amém.

    Muito obrigado amigo, poucas palavras e um vasto conteúdo, sem contar que São Francesco adorava os cãezinhos, hehehehe.

    Abraços

  3. Max, pequena gralha:

    "Em 1154 participa na guerra entre Assisi e Perugia (…)" – ele não pode ter participado na guerra antes de ter nascido. Pelo menos não como Francesco, talvez com outro nome e noutra encarnação. eheheh

    Ainda assim, belo artigo! 😀

    Grande abraço,
    — —
    R. Saraiva

  4. Querido Max,parabéns,linda e inteligente sua visão sobre Sâo Francisco,também é o homem santo que admiro,mas não sou religiosa.
    Obs:A guerra foi em 1202.
    Até mais!

  5. @ Anónimo! Qual? Os dois. Obrigado! 🙂

    @ Burgos!
    Pois, quem não gosta de animais recusa a própria componente "animalesca", que todos temos.
    E S.Franscesco falava com eles.
    Eu também falo com o Leo, mas não acho a mesma coisa…

    @ Saraiva:
    "ele não pode ter participado na guerra antes de ter nascido".
    Pode sim, era Santo. Os Santos podem tudo! 🙂

    @ Suzete:
    Eu também não sou religioso, não no sentido clássico, e tanto menos católico. Mas, tal como vç. faz, isso não pode ser um obstáculo para reconhecer os méritos.
    1202? Ah, afinal Saraiva estava certo 🙂
    Obrigado!

    @Pedro:
    Verdade, não uma profecia como estamos habituados a ler. Mas acho espantoso o facto de S.Francesco ter falado destes assuntos numa época em que o Homem ainda tinha um relacionamento tão perto da Natureza, via bem a pobreza, conhecia a humildade…
    Os ensinamentos do Santo ganharam mais força com o passar do tempo, e hoje fazem mais sentido do que na altura. Nisso está a "profecia".

    Abraço!!!

  6. Oi Max,
    Pegando uma deixa do Milton Santos, Globalização ou globaritarismo?
    Se existe uma verdadeira globalização, é justamente essa que nos permite imaginarmo-nos mesmo estando a milhares de quilômetros de distância, e tem muito mais a ver com o período histórico (social também, mas o esse tá meio que maltrapilho) da humanidade que com comércio.
    Abraço

  7. Foi uma licença poética do Max alterar a data da guerra, não importa a data ou local, pois todas as guerras são iguais na sua essência.

    Abraços

    Anônimo II

  8. Beleza Max,

    São Franc(e)sco é o mais querido de muitos, eu inclusive, que não sou precisamente o que pode se chamar de cristão, já que me identifico também com o pouco que sei do budismo e das crenças dos povos nativos das Américas. Tremendo rolo.

    Me desculpe se te pareço presunçoso, mas me senti o próprio autor do texto quando… "Que não significa fechar as fronteiras e viver cada um no seu canto, atrás do arame farpado. Pelo contrário, uma boa sociedade terá sempre muitas ligações com as outras; mas no pleno respeito e defesa das diversidades, que são riquezas e não entraves." Maravilha Max, encontraste as palavras exatas que todos nós, gostaríamos de escutar. Até mais do que escutar, vê-las em ação. Mas aí, talvez fosse pedir muito.

    Também quero agradecer a lembrança de Milton Santos pelo anônimo mais acima. O geógrafo e pensador, fazia esta distinção interessante entre Globalização e Globaritarismo. Muitíssimo bem lembrado anônimo. Grato.

    Até.
    Walner.

  9. ótimo post Max.
    Momento bem oportuno, pelo menos para mim que ando a refletir muito esses tempos pra cá.

    Walner, Maria, Fada, Saraiva, Xenofonte, Burgos e Nuno entre outros…

    Imagine todos nós juntos em uma roda de bar tomando uma cerveja, conversando e conspirando junto a Max. hahaha

    Seria muito divertido,
    como dizem alguns, seria um "papo cabeça". hehe

    abraços a todos!

  10. Pôooooo Observer, já tinha imaginado isso, acho que tu é o "centésimo macaco", juro que já tinha pensado sobre isso, inclusive pensei que um dia pudessemos marcar um encontro em Portugal ou mesmo aqui no Brasil.
    E aí Max? Que tal a idéia???
    Vamos lá pessoal, vamos combinar isso, ía ser muito legal.

    Abraços pra todos os companheiros "Incorrectos Maxistas".

  11. Hey Observer,

    como era giro isso acontecer. Seria fantástico mesmo. Eu só dispenso a cerveja, pois não bebo álcool. eheheheh

    Eu já tinha proposto um "Informação Incorrecta Live", mas o Max nem se pronunciou… 😐

    Abraço,
    — —
    R. Saraiva

  12. hehehehe

    Sobre o que o observer comentou.
    Imagino uma mesa redonda, onde todos voces estão conversando e conspirando, quando derrepente entra os agentes do governo os encaminhando para detenção e fechando todo bar.

    Max seria tipo o chefe do grupo, o mais influente, sendo o alvo mais importante dos agentes. auhauhah

    Pena que a distância atrapalha as vezes nesse caso de fazer um "encontro" não é? Pois apesar da língua de portugal ser extremamente próxima com a língua do Brasil, a distancia não é. :/

    abraços pessoal

    Marcelo. M

  13. Tony
    Pelo jeito tu deve estar trabalhando pra CIA para querer nos dar Rollmops.

    Max, acho que temos um espião entre nós.

    Para quem não sabe:

    Receita do Rollmops

    Os rolinhos

    * 8 filés de arenque podres sem bernes. Opção: com filariose
    * 1 colher de sopa de suor de bode.
    * 2 pepinos-do-mar, ou enguias
    * 1 cebola bem picadinha.
    * 100 g de gordura de porco, rançosa
    * 8 palitos-de-dente usado para tirar cabelo de ralo

    Para o caldo

    252 mL de fluido de baterias Moura
    128 mL de aguaraz
    83 grãos de pimenta preta
    4 pêlos de nariz de balconista de bar
    4 pilhas eveready vazadas de controle remoto
    4 rola-bosta mortos (são 4, não 5, nem 3, pois há uma razão para tal)
    2 folhas penas de louro (fundamental para garantir a boa digestão)
    1 col. de chá de sal…

    Preparo

    Lave bem os filés de peixe com água do córrego que passa atrás do boteco, quando a molecada estiver tomando banho, e besunte o lado interno do filé com sebo de porco.

    Misture bem o pepino-do-mar e as enguias picados com a cebola picada. Espalhe em cima de cada filé um pouco dessa mistura e faça os rolinhos prendendo ao final com um palito de dente usado – mesmo que ficará entalado na garganta ou nas tripas.

    Coloque os Rollmops em um vidro de maionese vencida vazio, mas sem lavar, deixando os restos dos lados. Coloque os 4 rola-bosta no fundo do vidro, dispondo-os equidistantemente (3, 6, 9, 12h) para temperar a mistura. Não os ingira. Faz mal.

    Ferva todos os ingredientes para a calda, com as pilhas, e quando levantar fervura derrame devagar sobre os Rollmops. Importante: as pilhas devem estar oxidadas há pelo menos dois anos.

    Os rolinhos precisam ficar cobertos com o líquido. Feche bem o vidro e o enterre por 3 meses no quintal, preferencialmente perto da caixa de gordura, na área de lazer do capa-preta. Uma vela sobre um pano preto confere mais sabor e rito à iguaria e ajuda a localizar o frasco enterrado.

    Pronto! Agora pode saborear com os amigos.

    Não esqueça de chamar a emergência, antes de começar a ingerir.

    Lembre-se: o palito-de-dente NÃO faz parte da porção. Retire-o. Guarde para a remoção de resíduos. Do ralo, após o vômito.

    Enfim pessoal, Tony com certeza está trabalhando para a CIA, está querendo acabar com uma turma toda de blogueiros, hehehehehe.

  14. Burgos!
    Cara, muito engraçado!! Você é muito criativo!
    Curti muito a parte da "baterias moura!" kkkkkkkkkkkkk

    Mas um rolmopinho é uma delícia hein!! Principalmente aqueles com mais de 6 meses de conserva kkkk!

  15. Eu que sou criativo?
    Tu quer nos dar rollmops, e ainda me chama de criativo? Tu é que está (provavelmente junto com a CIA) criando a nossa desgraça.

    hehehehehe

    Abraços

  16. Burgos, se hipoteticamente rolar um encontro e eu e vc estivermos presentes, vou te encher muito o saco para comer esta iguaria!!! A não ser que vc seja vegetariano, aí come só a cebola kkkk!

    Eu num so da CIA não, que isso, mas confesso ser um agente secreto independente, mas (por enquanto) estou do vosso lado.

    kkkkkkkkkkkkkk

    Tamo junto!

  17. Tony

    Sou alérgico, por isso não posso comer rollmops, só como ração misturada com carne picadinha e frango também picadinho, sigo uma dieta rigorosa receitada por meu veterinário, ração própria para alérgicos e um ossinho após cada refeição de sobremesa.
    Deixo a minha parte dos rollmops para você, mas como sou um fiel companheiro estarei ao seu lado quando você estiver vomitando e lhe darei todo o "apoio e auxílio" segurando o palito-de-dente para depois você limpar o ralo.

    E você acaba de confirmar que é da CIA, porque só a "CIA é períta em encher muito o saco de todo mundo".

    Um grande abraço meu amigo

    Tamo junto! (não sei do que mas vou também) hehehehehe

Obrigado por participar na discussão!

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