Ontem a notícia deu a volta ao mundo: Berlusconi está a vender o próprio País aos Chineses?
Não gosto do “Cavaliere”, nunca votei e nunca votarei nele. Mas não estou preocupado, aliás, acho a notícia interessante.
Pois a alternativa qual é? É só uma: o FMI, o Fundo Monetário Internacional.
Após Grécia, Irlanda e Portugal, há novos alvos na mira dos “especuladores” (a propósito: cedo ou tarde teremos que falar deste bonito conto no qual os lobos maus atacam os inocentes Países europeus…): Italia está me primeiro lugar.
Quem estava à espera dum ataque contra Madrid (e eu pensava isso), agora pode ver que houve uma aceleração: agora é um País do G8 em crise, isso sem esquecer o downgrade de dois bancos franceses operado ontem por Moody’s.
Mas voltamos aos problemas da Italia.
Parece óbvio que Roma está a percorrer um trilho muito perigoso, no fim do qual pode haver o mesmo desfecho dos Países já falidos que foram citados antes.
E o mesmo desfecho significa o Fundo de Intervenção da União Europeia e a “ajuda” do FMI.
Ou seja: o beijo da morte.
Então a alternativa é a seguinte: dívida italiana nas mãos dos Chineses ou dos bancos franceses, alemães e do FMI? Eu escolho os Chineses.
Não quero que Roma fique como Atenas, onde a dúvida quotidiana é “será hoje?”.
Não quero que Roma fique como Lisboa, onde está em curso o sistemático esvaziamento do Estado com perspectivas (ou melhor, realidade) de recessão.
Não quero seguir a mesma estrada destes dois Países: destruição do welfare, redução dos ordenados, subida dos impostos, despedimentos, privatizações e recessão.
E não quero que a “ajuda” sirva apenas e exclusivamente para reembolsar os credores ocidentais, os mesmos que provocaram a actual situação.
Ao observar a obra do FMI nos Países do ex bloco soviético, por exemplo, descobrimos que o Fundo tem operado de forma a favorecer as privatizações, aumentando a corrupção e prejudicando os cidadãos.
E não podia ser de forma diferente: e para perceber isso é suficiente olhar para quem é constituído o FMI.
E parece claro que a Italia não seria a última da série.
Num artigo do Telegraph parece evidente o que alguns já intuíram: o objectivo final não é a destruição de 4 ou 5 Países. mas é muito mais abrangente.
Os abutres do FMI voam em círculo sobre a carcaça do Reino Unido.
O FMI tem o prazer de ver o colapso das economias, assim, como no caso da Grécia, pode “ajudar” com os empréstimos que são pagos com juros devastadores e estímulos à privatização de tudo o que houver de mais caro.
É isso.
Claro está: os Chineses não ajudam em troca de nada. Mas não é este o ponto: a questão é não dobrar-se perante um projecto pensado há tempo e que agora está a ser implementado com precisão cirúrgica.
Pois ninguém pensa que tudo isso seja apenas o fruto do mero acaso, pois não?
FIM, China…mas existe uma alternativa?
Sim, existe, e não pertence ao reino da fantasia mas da realidade. Só que estas são coisas que os media não gostam de realçar.
Há poucos dias, a Islândia saiu do Fundo Monetário Internacional.
A ilha-nação do Norte da Europa está a recuperar da crise económica e agora faz exatamente o oposto do que é normalmente apresentado como inevitável.
Não há salvamentos dos vários BCE, FMI ou Banco Mundial, nenhuma transferência de soberania para nações estrangeiras, mas sim um processo de re-apropriação dos direitos e envolvimento da opinião pública nacional.
De facto, após três anos de ultimatos, rejeitados em referendos pelo povo da Islândia e pela Assembleia Constituinte, o FMI foi acompanhado até a porta.Numa altura em que os Estados em crise implementam as piores receitas neo-liberais, aceitam o cancelamento da soberania monetária e aplicam violentos cortes na estrutura da sociedade, a Islândia decidiu continuar firme no caminho percorrido ao longo de um ano, através do consenso dos eleitores.
O FMI, concluída a sexta revisão da economia islandesa, não continuará com outras “relações” ou “conselhos”, simplesmente conclui todas as operações na Islândia.
O Primeiro-Ministro islandês, Johanna Siguroardottir, anunciou a saída dos funcionários numa entrevista na cidade de Ion, nos últimos dias, acrescentando que a recuperação económica da Islândia está em marcha, com melhorias e resultados alcançados antes do esperado. Acrescentou também que a reconstrução após o colapso do sistema bancário islandês de 2008 “foi além de todas as expectativas”.
O Ministro das Finanças, Steingrimur J. Sigfusson, participou na conferência afirmando que a estabilidade financeira islandesa está novamente sólida.
O Ministro da Economia e Comércio, Arni Pall Arnason, lembrou quantas pessoas estavam preocupadas e adversas à cooperação entre o FMI e a Islândia, por causa do medo que o próprio “bem-estar”, outro elemento de orgulho e eficiência, fosse posto em causa pelas medidas drásticas; medo baseado nas experiências de outros Países não apenas na Europa, mas também no Extremo Oriente e na América do Sul.
A Islândia tem seguido um caminho específico para sair do abraço mortal do sistema monetário ocidental: pediu ajuda à Rússia, 4.000 milhões de Euros em 2008. E, de facto, aplicou as mesmas receitas que já Moscovo e Buenos Aires (ambas antigas vitimas do FMI) conseguiram implementar, longes do Fundo Monetário.
A Argentina, por exemplo, voltou a voar com uma taxa de 8%.
Os Islandeses festejam a saída do FMI e eu deveria festejar a chegada? Mesmo ao saber que cada vez que as medidas são implementadas sob o apertado controle do Fundo a situação regularmente piora?
Deus me livre, se tenho que morrer deixem-me escolher o carrasco.
Ipse dixit.
Bom, sobre o tema achei algumas notícias interessantes…
Vi no Expresso que em 26/08 um empréstimo de €312 milhões (7ª e última parcela) havia sido concedido, e estava bloqueado devido a um possível calote do banco islandês Icesave a britânicos e holandeses. Mas o que realmente me deixou intrigado foi esse parágrafo: "Em troca da ajuda do FMI, as autoridades islandesas implementaram um programa de reformas destinado a reequilibrar as finanças públicas do país, sob o controlo direto do FMI, que deverá terminar a 31 de agosto." Essa notícia vem da imprensa tradicional, tudo bem. Mas mesmo assim, ficou um "?" na cabeça.
No Estadão captei uma curiosidade interessante (pleonasmo?): "Michelsen conta que em setembro de 2008, quando a crise financeira mundial atingiu a Islândia em cheio, foi, apesar de aparente paradoxo, um mês de vendas recorde de relógios Rolex na sua loja: com a desconfiança da população em relação ao governo, os relógios Rolex passaram a ser vistos como um ativo seguro como poupança, pois podiam ser vendidos em qualquer parte do mundo facilmente."
Já no mainstream Deutsche Welle cita uma suposta desconfiança ante um cidadão chinês que quer comprar 300 km² de terras para um projeto de ecoturismo. No texto existe uma declaração atribuida ao ministro do Interior do país que eu sinceramente acho que foi proferida dentro das redações destes jornais: "Se um investidor estrangeiro quer comprar 300 km², então devemos também pensar com cuidado se realmente queremos que isso aconteça. Devemos mesmo colocar nosso país à venda dessa forma?"
Sem querer parecer comuna (kkk), a informação mais confiável parece ter vindo do site Vermelho , aparentemente ligado ao PC do B (BR) (governista). O portal publicou um artigo muito interessante de uma tal Deena Striker , dizendo que a nova constituição islandesa está sendo escrita pela… Internet!
"Para escrever a nova constituição, o povo da Islândia elegeu 25 cidadãos, de entre 522 adultos que não pertenciam a nenhum partido político, mas recomendados por pelo menos trinta cidadãos. Este documento não foi obra de um punhado de políticos, mas foi escrito na Internet. Reuniões da Constituinte são transmitidas on-line, e os cidadãos podem enviar os seus comentários e sugestões, vendo o documento tomar forma. A Constituição que resultará deste processo participativo e democrático será submetida ao Parlamento para aprovação depois das próximas eleições."
A Islândia tem uma coisa fabulosa a seu favor: Tem uma população de 318.452 habitantes! Só isto faz a diferença… E venha quem vier!
Estarei morando na Itália ano que vem. Espero que a China realmente invista na recuperação do país… espero que medidas de austeridades e Berlusconis da vida estejam enterrados já!
Estou buscando a área rural para justamente me isolar do mundo real e cruel que conhecemos… meu contato com o mundo corporativo será pequeno, manterei meu trabalho como autônomo daqui do brasil… já vivo nas margens do sistema… mas inserido numa cidade grande… e num povo de M…
Berlusconi = Alberto João Jardim italiano