“Nada de chatices” disse a gaivota.

Do farol de Cabo S.Vicente olho para baixo: o dia é limpo, mas aí, no fundo, as ondas das duas correntes cruzam-se, criando remoinhos e vórtices que acabam nas rochas afiadas.

O vento é forte, tal como os gritos das gaivotas que mal conseguem aterrar nas encostas e que blasfemam contra uma Natureza tão árida de calma.

Eu fico admirado. Olho para as ondas e pergunto como foi possível que alguém subisse nos pequenos cascos de madeira e escolhesse enfrentar um mar do qual não se conheciam os limites. Únicas perspectivas: ficar longe de casa ao longo de alguns anos e encontrar novas terras. Se é que existem.

Eram homens ou doidos varridos? Heróis ou simples inconscientes? Seguiam apenas um sonho de riqueza ou algo mais?
Não era apenas a riqueza. Havia maneira de seguir o dinheiro aqui, ficando nas confortáveis ruas de Lisboa, de Madrid, de Roma. Havia algo mais, talvez uma chama que deveria arder em cada um de nós.
Uma chama que morreu.

Inútil

Paolo Barnard, TNEPD, Mondart.
Três sites italianos que ao longo dos anos tornaram-se pontos de encontro, de discussão, referências para muitos leitores que não aceitam a dose de ansiolítico fornecida diariamente pelos media mainstream.
Dos três, dois fecharam, outro acabará em breve.

Fecham por uma única razão: é um trabalho inútil. Pessoas que vasculham internet ao longo do dia, à procura de explicações alternativas, de soluções alternativas.
Para alertar: meus amigos, atenção, as coisas não são tão simples e o que pode parecer esquisito em verdade tem uma explicação.
Para despertar: não é este o Mundo melhor, há outras maneiras.

Inútil.
Estamos aqui a falar para quê? Falar para falar? É isso?
Falar para ficar deprimidos? Não, obrigado, não estou interessado nisso.
Falar para estar convencidos de ter uma visão alternativa, de ser duma certa forma “diferente” e “superior”?
Isso tem um nome, chama-se “snobismo”.

Informação Incorrecta tem vindo a crescer de forma constante desde a abertura. Hoje são cerca de 500 os leitores que cada dia visitam estas páginas.
Em verdade são mais: já foi ultrapassada a marca das 1.000 visitas diárias e não podemos esquecer os que seguem o blog via feed ou via e-mail, outra centena mais ou menos.
Mas vamos simplificar: 500 Leitores diários.

No passado dia 1 de Julho foi lançada uma iniciativa: uma petição para mudar o sistema de financiamento do Fundo Monetário Internacional, um sistema profundamente injusto que penaliza os mais desfavorecidos.
Não fiz publicidade até agora, por uma razão muito simples: queria ver quantos dos Leitores deste blog têm a vontade de mudar.

Porque após um ano ao longo do qual aborreci os Leitores com a história de “nós temos que fazer algo, não podemos ficar sempre à espera”, finalmente tinha chegada a ocasião de fazer algo.

O Leitor não concorda? Então é só escrever: “Caro Max, esta iniciativa é estúpida”. Opinião legítima.
Mas não recebi observações contrárias (apenas um par, que foram tratadas nestas páginas).

Na semana passada, eis uma nova iniciativa, sugerida pelo Nobre Saraiva: o Grande Concurso. Escrevam, enviem um texto com as vossas ideias, os vossos pontos de vista, eu vou publicar.
Também neste caso alguém poderia ter dito: “Caro Max, esta é uma iniciativa estúpida”. Ainda uma vez, opinião legitima, mas neste caso ninguém disse nada em contrário.

Mais custa

Quais foram os resultados?
No caso da petição: 41 assinantes.
No caso do Concurso: 1 texto (o de Maria, que agradeço e que amanhã será publicado).

Petição: nem 10% dos que costumam ler este blog assinaram a petição.
Concurso: 1/500 dos Leitores diários deste blog participaram.

Vamos também somar outro indicador que julgo ser interessante: a última sondagem efectuada neste blog recolheu 75 votantes. Vamos subtrair o meu voto e o de Ana Margarida (que foi obrigada a votar para manter a paz no lar) e obtemos 73 votos.

73 votos em 500 leitores? 36%? E esta foi a iniciativa de maior sucesso.

Eu não sou uma pessoa que gosta de lutar contra os moinhos de vento. Se não há a possibilidade de obter um resultado, então melhor pensar em algo diferente.

Neste caso, acho que a mensagem dos leitores é clara: “desejamos continuar a ler Informação Incorrecta como uma das tantas fontes de informação alternativa, sem ficarmos envolvidos em nada mais do que isso”.

Dito de outra forma: a “vontade” de mudança é presente, sim, mas apenas nas palavras. Nos factos, bem poucos querem fazer algo, a maior parte dos Leitores nem uma miserável assinatura, ou um insignificante voto numa sondagem interna, nem o tempo para escrever duas linhas.

Eu sempre disse que o meu desejo era o de criar um blog que não fosse apenas “o blog de Max”, mas o blog dos Leitores.

Neste sentido, dobro-me perante a vontade dos Leitores: Informação Incorrecta será unicamente um entre os muitos blogues de informação alternativa. Máximo dois artigos por dia, justo para lembrar quanto é desgraçada a nossa vida e que sorte que temos em ter uma visão diferente dos outros.

Nada mais do que isso, porque “mais” custa. E não queremos chatices, não é?

Como costumo dizer: o Leitor é que sabe.

Ipse dixit.

12 Replies to ““Nada de chatices” disse a gaivota.”

  1. Hey Max,

    esse pensamento invade-nos muitas vezes…e por vezes identifico-me com a relação que Winston Smith tem com O'Brien no livro "Nineteen Eighty-four" (George Orwell). Isto é, querem que nos esqueçamos da realidade e que aceitemos de uma vez por todas o que nos é imposto – a lavagem cerebral.

    Não podemos deixar que isso aconteça…

    Quanto ao artigo: vou escrever o meu esta semana. 🙂 Infelizmente não tive disponibilidade para o concretizar, mas ainda vou a tempo…se há algo que os portugueses são bons a fazer, é a deixar tudo para última hora. 😛

    eheheheh

    Grande abraço…and…
    …cheer up! 🙂
    — —
    R. Saraiva

  2. Max,leio os seus textos e venho me cobrando o que escrever para o seu blog através de um texto.

    Eu não acredito na petição, devido não acreditar em nenhuma forma de combater o sistema usando das mesmas armas. Porém, prefiro me calar para não ser chamado de desestimulador, de pessimista, ou qualquer coisa no gênero. Eu tenho outra visão e idéias, as quais não as vejo na internet, por isso vou bem devagar em expô-las. Às vezes a faço sutilmente em meu blog.

    Outro dia li você perguntando aos leitores o que eles gostariam de ler: Olha, eu nunca vi ninguém na internet fazer um trabalho a fundo no estudo das centenas de cartas do jogo Illuminati NWO de Steve Jackson. – Pode ser interessante – O que há é tudo muito superficial. Em inglês têm algo, mas não achei grande coisa, em português o que há é melhor dizer que não há.
    E,
    Mas,
    Te devo um texto, perdoa-me pela demora. Tentarei escrever está semana
    Abraços

  3. Olá…sou um dos muitos leitores diários, e já muitas vezes tenho tido ideias para partilhar…em Agosto decerto terei o tempo de escrever algo, só não o tenho feito por falta de tempo. Julgo que na minha situação hão-de haver muitos outros 🙂

  4. Também pretendo escrever um texto,
    mas neste momento estou realmente ocupado com trabalhos paralelos que preciso terminar, assim que conseguir, vou escrever o texto.

    Só estava pensando, talvez se o tema ou assunto fosse mais "livre" teria mais participantes, mais livro digo por exemplo assim: escreva sobre "o que podemos fazer para mudar" "quais meus ideais" "as pessoas ainda possuem ideais hoje em dia?" "Minha visão do mundo daqui a 20 anos" "O que realmente motiva os senhores do mundo a agirem de tal forma?" (sobre este ultimo em especial, tenho diversas teorias, muitas consideradas rídiculas ou surrais, mas, tudo com base em pesquisa.

    Peço que não desista, pois sou um dos poucos que também quero agir. Precisamos achar e atrair mais "alguns poucos" de poucos em poucos para conseguir ser razoavel.

    Tenho muita admiração por você, Max, pelo pouco tempo que ando lendo seu blog, ja o considero com um ideal a ser seguido. Gostaria de poder ajudar. Pois senti uma tristeza e desmotivação neste artigo, também me decepcionei, assim como você.

    Temos que nos conformar, pois a maioria das pessoas é acomodada. E, infelizmente, só fariam alguma coisa se estivessem diretamente sendo afetadas, digo no sentido físico da coisa mesmo, pois sabemos que todos nós ja somos afetados subjetivamente, mas o que quero dizer, por exemplo é:
    "é preciso ter seca, para que estas pessoas comecem a cavar o poço" e não ao contrário. Infelizmente.

    Precisamos pensar pensar pensar,
    o que poderia fazer as pessoas levantar o traseiro ou o que quer que seja para agirem? O que é preciso para as pessoas mudarem de atitudes?

    Não desanime meu amigo, não desanime. Somos poucos sim, mas por enquanto..

    1 ano ainda é um período muito curto para querer mudanças, comparado aos milênios que fomos enganados..

    Eu estou com você nesta causa.
    um grande abraço

  5. Ah…
    Tive alguma idéia..

    Faça um post com muitas imagens, mas muitas mesmo, de fatos e acontecimentos trágicos, tristes e cruéis, muito cruéis, algo "choque"
    e "chacoalhe" o leitor.

    Que imagens?
    ainda não sei, mas penso em coisas que bem dramáticas, pois é o único modo de algumas pessoas se envolverem e serem marcadas, algo como a fome no mundo, a matança das guerras (tudo isso com mais fotos do que texto, para chocar mesmo)a imensa desigualdade. Sei que é muito sensacionalismo, mas, infelizmente é isso que toca as pessoas.

    Muitas fotos
    tragedias
    desigualdades
    mortes
    guerras
    fome
    MENTIRAS dos nossos governantes
    ENGANAÇÃO da mídia

    e, onde vamos parar com tudo isso que está acontecendo…

    Bom, é puro sensacionlismo, mas talvez toque a alma de alguém,
    ou talvez eu tenha exagerado.

    força Max!

  6. Bom comentário:

    "1 ano ainda é um período muito curto para querer mudanças, comparado aos milênios que fomos enganados.."

  7. Entendo… realmente deve ser frustrante… tenho muitas idéias, muitos questionamentos… escrevo bem… mas realmente falta-me iniciativa…

    Não é só nisso… é em tudo na vida.

    Sou um brasileiro aguardando o processo de cidadania italiana, que estou vendendo tudo que tenho para recomeçar a vida na Europa falida…

    Eu espero que essa mudança pessoal seja completa e eu pare de fugir da realidade com sobrecarga de trabalho, passe a viver mais e, com isso, tente achar soluções para as questões insolucionáveis…

    Gostaria que você não desistisse pois você foi uma das únicas fontes de informação alternativa (a única em português) com a qual eu me identificasse quase que por completo… admirasse o ceticismo… a escrita… a seriedade… imparcialidade…

    Parabéns… mas concordo que não estamos fazendo NADA apenas nos informando…

    … mas deprimido eu não fico… gosto da informação…

  8. Eu estou a pensar em enviar um texto sobre o Algarve mas não tenho grande jeito para a escrita pelo que vai demorar bastante. Não tinha ideia do nº de visitantes do blog nem dos que realmente fazem alguma coisa. Peço desculpa por ter caído no pecado do "não vou fazer mas tenho a certeza que há centenas que irão".

  9. Boas Max,

    Infelizmente tens razao, o trabalho e a rotina acabam por nos envolver em demasia e retiram-nos alguma pro-actividade. Tinha pensado num tema engracado mas a verdade e' que ainda no tive as ganas de o escrever. Eu sugeria que o blog tivesse uma especie de "guest post" como o ZeroHedge tem, ou seja, nos enviamos-te o artigo e tu decides se o queres publicar ou nao. A ideia do concurso e' gira mas o problema e' que ha' alturas em que estamos mais ocupados/inspirados que outras.

    Espero que continues a escrever da mesma forma apaixonada e rigorosa que sempre nos habituaste. Percebo a frustracao pela falta de participacao dos leitores nas iniciativas mas espero que entendas que gostamos imenso de ler os teus textos e eles inspiram-nos para um dia a dia melhor.

    Abraco

  10. olá Max: me permite analisar as coisas a minha maneira…
    1)Blog com 1 ano de vida: 500leitores assíduos. Dada a natureza do blog, o resultado acusa uma estrondoso sucesso de leitura. Acompanha os blogs alternativos (com qualidade temática e de análise)e creio que concordarás comigo.
    2)Mas, não é êste apenas o alcance que desejavas com o blog, desejas participação ativa> Me parece que há níveis de participação ativa, e que eles surgem ao longo do tempo.
    Digamos que inicialmente as pessoas tendem a manifestar o seu apoio aos comentários e gratidão pelo rigor/contextualização histórica/simplicidade/atualidade/profundidade analítica etc, etc. Pode te parecer pouco; confio que não seja porque em primeiro lugar certos comentários teus permitem as pessoas já desconfiadas darem sustentação as suas desconfianças. E, em segundo – podes achar até estranho – mas certas explicações tuas já viraram até texto de estudo em cursos universitários aqui onde vivo ( indicados por mim, é claro!) E sabes o porquê? Porque na academia não se pratica o dueto profundidade/simplicidade com cobertura de isenção. Então quando realmente algum professor/estudante quer entender de fato uma ou outra situação por ti tratada, um ou outro acaba te indicando. Podes crer que isso não é pouco.
    3) Um nível um pouco mais intenso, dir-se-ia, de participação implica naquilo que alguns já estão a fazer, ou seja, perguntam, sugerem, raramente complementam, mas às vezes o fazem, enfim, conversam, resultando num embrião de grupo de autoformação, grupo de afinidade, coisa esta que eu modestamente te sugeriria incentivar, abrindo quem sabe um setor de perguntas a ti dirigidas, no sentido de expandir as temáticas e gerar mais diálogo entre tu, Leo, Margarida e os leitores e outras tantas coisas que venhas a imaginar para instituir, via blog, um grupo de afinidade de idéias, internacional de língua portuguesa, para fins de autoformação, divulgação de pensamento e iniciativas.
    Finalmente, de um intercãmbio de posicionamentos pode surgir uma forma de ação mais direta e consequente, como almejas. Agora mesmo teu post sobre a iniciativa da Fundação Nelson Mandela gerou em mim quase uma necessidade de dizer a mesma coisa que dissestes no post para aqueles caras da fundação.
    Mas acima de tudo te sugiro paciência, e a continuidade do que estás fazendo. Não interessa se dois ou vinte posts por dia, simplesmente aqueles que o teu desejo, teu conhecimento a respeito, tua vontade de escrever esclarecendo te guiarem.
    Uma boa noite!

Obrigado por participar na discussão!

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