Estados Unidos contra o Euro?

Dúvida: mas se as agências de rating atacam a Zona Euro, e considerado que tais agências são americanas, isso significa que os Estados Unidos querem fazer ruir a moeda única europeia?

Sim. E não. Não é tão simples.

Rating: não cria, desfruta

Os acontecimentos são conhecidos: antes a Grécia, depois Irlanda, Portugal; agora Italia, Espanha, no futuro imediato Bélgica e a seguir França.

Todos Países aos quais as várias Moody’s, Standard And Poor’s e Fitch’s baixaram o rating, causando pânico e vagas especulativas.

Em primeiro lugar, volto a repetir ainda uma vez: as agências de rating não criam situações, limitam-se a explora-las.

No máximo podem “empurrar” um bocado, mas para que haja uma queda é preciso que a situação seja má já por si.

A Grécia não pediu ajuda por causa de Moody’s: a Grécia pediu ajuda porque a própria economia colapsou, sendo altamente deficitária. E o mesmo se passa com boa parte dos Países europeus.

A tal propósito, é bom lembrar que ontem o Banco de Portugal emitiu o próprio parecer acerca do futuro económico do País e que as conclusões alcançadas são as mesmas que levaram ao downgrade de Moody’s. Obviamente os media não realçaram este facto, preferindo cavalgar a vaga da indignação nacionalista (que justifica e justificará os objectivos falhados pelo Governo e a troika FMI-BCE), mas os factos são estes.

Dito isso, é verdade que as agências de rating estão prontas a desfrutar as fraquezas para atingir na altura mais oportuna, enquanto bem diferente é a atitude delas com outros Países: por exemplo os Estados Unidos. Neste caso, as “Três Irmãs” ameaçam, avisam, fazem uma cara feia, mas não se mexem.

Isso significa que Washington quer a ruína do Euro?

Investidores, Mediterrâneo, os bancos de Berlim e Paris

Atingir o Euro e a dívida europeia pode ser útil para travar a hemorragia dos Títulos americanos: quem com um pouco de juízo agora apostaria nos Títulos de Estado emitidos por Washington?

Ter um Euro estável, nesta altura, significaria ver os investidores desaparecer por completo, enquanto com um Euro em crise a fuga abranda.

Estamos a falar duma hipótese que vale 4.500.000.000.000 de Dólares.

Depois há a área do Mediterrâneo, zona delicada com potencialidades assinaláveis.

Pode não parecer, mas reparem: a margem norte, a Europa, percorrida por uma profunda crise económica, a margem sul, a África do Norte, alvo de revoluções “espontâneas” que desestabilizaram todos os Países desde o Atlântico até o Mar Vermelho.

Um mero acaso?
O Mediterrâneo é uma mar que divide mas que pode também representar um aponte entre Europa, África e Ásia: é o mar com a maior potencialidade (teórica) de crescimento que, todavia, deixaria de fora os Estados Unidos e a Inglaterra.
Nos anos passados, a mesma área registou um crescimento anual de 6%, mais ou menos 1.500.000.000.000 de Euros.

Atingir a Italia (último ataque em ordem cronológico), significa atingir não apenas a terceira maior economia europeia, mas também, de forma indirecta, as primeiras duas, Alemanha e França. Pois boa parte da dívida pública de Roma está nas mãos dos bancos de Berlim e de Paris.

Os bancos da Alemanha e da França também detêm dividas grega e portuguesa, mas em quantidades não preocupantes: nada que possa realmente levar ao colpaso as instituições financeiras.
Diferente o caso dos Títulos italianos: agora falamos de 1.000.000.000.000 de Euros.

Ontem a Consob (a comissão italiana da Bolsa de Valores) fez duas contas e descobriu que a dívida italiana está a ser abandonada pelos investidores (o que não surpreende, óbvio) mas em particular pelos investidores italianos: mas isso significa que em caso de default (como nos casos da Grécia, Irlanda, Portugal) o maior prejuízo seria para os estrangeiros, entre os quais figuram (e bem) os bancos de Alemanha e França.

A bola de neve de Obama

Há também outro factor.

Em Washington está em curso uma batalha, talvez decisiva, entre o simpático Obama e os Republicanos: aumentar o tecto da dívida pública (como deseja o Presidente) ou não (como dizem os adversários políticos)?

Não é um pormenor, é a falência dos Estados Unidos que está em jogo; e esta batalha não é surpresa nenhuma, há meses que todos estavam à espera disso.

O êxito não é certo: mas em caso dum “não” definitivo republicano, Obama poderia sempre apontar um efeito “bola de neve” de origem europeia como causa de todos os males e limitar as perdas (pois os investidores que poderiam fazer? Escolher entre duas moedas em crise?).

É um jogo arriscado, por uma razão muito simples: vivemos em sociedades interligadas e o efeito “bola de neve” de facto existe. Isso significa que um eventual colapso do Euro implicaria graves consequências em Wall Street também.

O que Washington pode esperar é um Euro doente, mas mesmo assim vivo, pois enquanto defunto poderia arrastar o Dólar consigo. 

Ipse dixit,

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