Estados Unidos contra a China?

Esta semana, vários analistas têm observado que em 2016 a economia chinesa superará os EUA.
Isto de acordo com as últimas projecções do Fundo Monetário Internacional, com base nos dados das Perspectivas Económicas Mundiais de Abril.

Não falta muito até 2016, e será a primeira vez em mais de um século que os EUA não serão a maior economia do mundo.

Mas que significa isso?

Em flecha

A China teve o crescimento mais rápido do mundo económico das últimas três décadas, crescendo 17 vezes mais em termos reais (tendo em conta a inflação) desde 1980.

A maior parte deste crescimento recorde ocorreu entre 1980 e 2000, enquanto o resto das economias em desenvolvimento tiveram que enfrentar problemas devidos por causa das mudanças na política neoliberal (como a liberalização do comércio e dos fluxos de capital, mais restritivas políticas fiscais e monetárias e até mesmo o abandono da estratégia de desenvolvimento previamente positiva).

A China, obviamente, não adoptou essas mudanças políticas, que foram promovidas por Washington através de instituições como o FMI ou o Banco Mundial.


É verdade que a aceleração do crescimento da China coincidiu com uma grande expansão do comércio e do investimento estrangeiro; mas estes foram fortemente impulsionados pelo Estado para assegurar a coerência com os objetivos de desenvolvimento do governo, precisamente o oposto do que tinha acontecido na maioria dos outros Países em desenvolvimento.

Os objectivos da China incluem a produção para o mercado da exportação, a promoção da mudança tecnológica (transferência das tecnologias das empresas estrangeiras na economia doméstica), a contratação de locais para cargos de gestão, sem permitir que os investimentos estrangeiros possam competir diretamente com a indústria doméstica.

A economia da China é ainda em grande parte dirigidas pelo Estado. O governo controla a maior parte do sistema financeiro, a taxa de câmbio e cerca de 44% dos activos das grandes empresas industriais.
É por isso que a China tem sido capaz de alcançar um crescimento de 9,8 do Pib enquanto o resto do Mundo mergulhava na crise começada em 2008. E isso apesar da queda repentina nas exportações.

Oculta a luz

Depois há a considerar as implicações políticas e internacionais.

Primeiro, é preciso realçar que grande parte do debate sobre os “Chineses que crescem” foi escrito a partir da perspectiva de Washington, isto é, a partir da perspectiva dum império.

Deste ponto de vista, o crescimento de Pequim é uma ameaça.
É um ponto de vista que considera a supremacia de Washington e dos seus aliados como coisa boa, enquanto a ascensão da China é vista como uma ameaça ao planeta.

Supõe-se que a China irá tornar-se um império como os Estados Unidos, mas não tão “bom” como Washington tem sido (e aqui seria preciso discutir muito, mas muito mesmo…).

Mas esta visão não está de acordo com os factos.

Ao considerar apenas a história mais recente, foram os EUA a invadir o Iraque, causando um milhão de mortes; a ocupar o Afeganistão e o Paquistão; a ameaçar o Irão e a Líbia; a apoiar Israel.

O controle que os EUA e os seus aliados actuam sobre as políticas das economias em desenvolvimento através do FMI, do Banco Mundial e das outras instituições tem causado muitos danos nas últimas décadas.
Assim, uma mudança para uma nova ordem multipolar não necessariamente implica uma desgraça; pelo contrário, poderia produzir um mundo mais pacífico e justo (mais ou menos, claro).

Até os cidadãos americanos ficaria beneficiado dum papel reduzido dos Estados Unidos no Mundo: menos gastos para guerras, menos mortes, menos inimigos e mais atenção aos problemas internos.

A política externa chinesa é direcionada principalmente para a obtenção de matérias-primas e de comércio, factores que irão impulsionar o seu crescimento e desenvolvimento. Este resultado é obtido através de transacções comerciais.

Obviamente, as suas corporações, como as dos Países ricos, têm sido criticadas: mas a China não requer que os outros Países mudem as próprias políticas como fazem os EUA (pelo menos, não pede isso de forma tão descarada e com ameaças de acções militares).
Esta é uma diferença importante entre um País que procura fazer avançar os próprios interesses económicos e um império que exerce o papel de Senhor do Mundo.

Claro que é possível que a China, uma vez que tornada rica, posse desenvolver ambições imperialistas. Na óptica ocidental, esta seria uma atitude “normal ” na defesa do estatus alcançado.
Mas até agora, a sua liderança parece ver a China como um País em desenvolvimento que procura transformar-se num País com altos rendimentos, e não vê espaço para uma política imperial neste processo.
“Oculta a luz, aprecia a escuridão” disse uma vez o líder chinês Deng Xioaping.

Um avião, uma guerra

Há um par de meses, a imprensa divulgou que este ano a China tinha-se tornado a segunda maior economia do Mundo.

Mas usando o PIB com paridade do poder de compra (que leva em conta as diferenças de preços entre China e Estados Unidos), a China já tinha alcançado o segundo lugar há anos em segundo lugar.

Uma questão técnica: a economia da China, medida em Dólares e usando a taxa de câmbio de hoje, atingiu 5,9 mil milhões de Dólares em 2010, em comparação com 14,7 mil milhões dos EUA.

Ao considerar a paridade de poder aquisitivo, a economia atingiu 10,1 mil milhões de Dólares em 2010 e crescerá para 18,98 mil milhões em 2016, deixando os EUA em segundo lugar com 18,81 mil milhões de Dólares (dados do FMI).

No entanto, é possível utilizar uma outra medida ainda.
O custo para produzir um avião militar e treinar um piloto na China é muito menor do que nos EUA. A política atual de Washington é de manter a supremacia militar na Ásia, Mas uma corrida dos armamentos com a China tornaria económica até a antiga Guerra Fria.

A economia da União Soviética era apenas um quarto da economia dos EUA na altura. Se os EUA tivessem que viver uma corrida dos armamentos a sério com a China, então Medicare e segurança social seriam apenas conceitos abstractos.

Felizmente, uma nova Guerra Fria contra a China não está no horizonte.
Por enquanto.

Ipse dixit.

Fonte: Ceprid

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