Top Priority

John Toolan

John Toolan está de rastos. Quase em lágrimas, parece a sombra do soldado feliz que era. 

Não há preço para a vida humana. Vamos ajudar as famílias envolvidas da forma que melhor se adapta à cultura afegã 

Palavras de John, comandante das forças da ISAF no sul-oeste do Afeganistão. 
Está triste porque assim tem que aparecer. Muito menos triste estava antes, enquanto a Aliança Atlântica bombardeava os civis. 
Raios de civis, sempre no meio das bombas. Mas porque é que não ficam em casa?
Talvez pelo facto de já estarem em casa. É a Nato que não está.

Assim, por culpa destes Afegãos com o vício de ficar nos lugares onde as democráticas bombas da Nato caem, a Aliança é obrigada a admitir: ehhh sim, de facto houve vítimas inocentes ao longo das nossas operações. 

“Inocentes”. 
Bah, afinal sempre Afegãos são, difícil dizer até que ponto um habitante de Kabul pode estar inocente. Se os Afegãos estivessem inocentes, então este País seria o paraíso das multinacionais ocidentais. Mas assim não é, e algo isso significa.

Assim, a Nato é obrigada a apresentar a Top Priority, a Prioridade Máxima: evitar vítimas civis.
Será interessante ver como os estrategas ocidentais irão conseguir esta Priority. 
Talvez com alguns telefonemas antes das bombas. “Olhem, vamos bombardear a vossa aldeia, não se importam de ir um pouco mais longe? Não, é inútil acabar os trabalhos no campo, as nossas bombas vão rebentar com tudo, casas, campos, animais…melhor afastar-se, pode ser?. E depressa também. Obrigado. E viva a Liberdade”.


Acho que isso poderia resultar.

Um tal aviso poderia ter evitado a morte de 14 pessoas na província de Helmand, distrito de Nawzad: 12 crianças e duas mulheres. 

“Pensávamos fossem talibãns”, diz a Nato. Sim, provavelmente um batalhão de talibãns anões, os mais perigosos.

E os outros mortos? Os de Doab, na zona do Nuristan? A Nato não reconhece estas vítimas. Sim, houve um bombardeio, mas os 20 civis morreram por causas naturais. Tal como os 22 polícias. Provavelmente um surto de Escherichia Coli, como na Alemanha. Ou talvez fosse simples azar, estes Afegãos afinal são gente estranha.

Mas quantos mortos “inocentes” até agora?
A Nato diz 300. A ONU diz o triplo. A Nato não desmente, admite que os dados são geralmente baseados em avaliações imediatas.
“Ei, Jack, quantos conseguimos apanhar desta vez?”
“Grande tiro meu, 20 já nem se mexem!”

Fora da conta ficam, por exemplo, todos os que morrem após a operação ou nos hospitais.

Outras agências independentes calculam o dobro das vítimas consideradas pela ONU. Paciência.

Após 10 anos de ocupação, a mais longa guerra na história dos EUA e da Nato, e uma força de 150 mil soldados (centenas de milhões de Dólares de gastos, tudo dinheiro dos contribuintes, verdade: mas imaginem os lucros de quem produz armas), as forças da Nato não controlam quase nada do território afegão.

Os estrategas ocidentais abdicaram dos combates “casa após casa”, agora limitam-se a defender os postos “avançados”, dos quais saem só para bombardear. Operações “cirúrgicas”, como é óbvio. 

Resta compreender para que agora servem estes tais “postos avançados”.  
Bin Laden morreu e Al-Qaeda, segundo a Nato, já saiu do Afeganistão. 
E a guerra continua. 

Ipse dixit. 

Fontes: OneIndiaNews, DefenceManagemente

One Reply to “Top Priority”

  1. Deviam aprender com a polícia militar de São Paulo. Atiram e como bons samaritanos que são levam a vítima para o hospital, com o pequeno azar que esta (na maioria das vezes sem nenhum antecedente criminal) sempre acaba por falecer no trajeto.

Obrigado por participar na discussão!

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