No Inferno do México

Este mês, a polícia mexicana descobriu uma nova fossa comum, com dezenas de corpos mutilados: as vítimas das guerras de droga, desde 2006, alcançam desta forma quota 40.000.

Informação Incorrecta já tratou da conexão entre México, droga e bancos. Mas a situação parece agora estar a fugir de mão.

Dum lado temos os cartéis dos produtores e distribuidores, que encontram nos bancos americanos cómodos cúmplices para a reciclagem de dinheiro.

Doutro lado temos o governo Calderón que, com a ajuda da Administração dos Estados Unidos, tenta pôr fim ao mercado dos estupefacientes.

Como é possível observar, ambos os lados têm um comum denominador: os Estados Unidos, presentes como bancos (enquanto ajudam na reciclagem) e como Administração (com meios militares). Mesmo País, dois lados da barricada.

ATENÇÃO
Antes de prosseguir com leitura, leiam quanto segue:
as imagens apresentadas no resto do artigo são particularmente violentas e chocantes.
É desaconselhada a visão por parte de crianças e de pessoas sensíveis.

Actualização
Imagens removidas para não perturbar os leitores mais pequenos

Descida ao Inferno

Todos os dias, dezenas e às vezes centenas de pessoas mortas são encontradas nas ruas ou em sepulturas anónimas, assassinadas em casa, no carro, nos transportes públicos e até nos hospitais. Outras são raptadas ou simplesmente desaparecem: estudantes, Pais, professores, empresários, são capturados durante o dia e fiquem à espera dum resgate ou morrem. Milhares de trabalhadores são raptados também, vendidos, assassinados e há evidências de que alguns foram utilizados no mercado negro de órgãos.

A polícia fica fechada nas esquadras e os militares, se e quando chegam, descarregam a frustração contra inteiras cidades, atirando sobra civis e não apenas contra os cartéis.

Num panorama assim, a vida diária é concentrada na sobrevivência, pois os perigos estão em todos os lados, bandos armados e patrulhas militares atiram e matam impunemente. As pessoas vivem com medo e raiva.

Na segunda metade dos anos 80, o México estava em crise, mas o povo tinha escolhido uma saída legítima: tinham elegido um presidente, Cuauhtémoc Cárdenas, com base no programa nacional para promover a revitalização económica da agricultura e da indústria.

A elite mexicana decidiu de maneira diferente e, liderada pelo Partido Revolucionário Institucional de Carlos Salinas, anulou a eleição: o eleitorado ficou sem vitória as manifestações pacíficas foram ignoradas. Salinas e os Presidentes sucessivos têm pressionado fortemente a favor dum acordo de livre comércio com os Estados Unidos e o Canadá (NAFTA), que rapidamente trouxe milhões de agricultores mexicanos, latifundiários e pequenos empresários à falência.

Milhões de imigrantes foram obrigados a fugir da devastação. Começaram os confrontos no campo e a miséria da economia legal contrastava com o bem-estar da classe média envolvida nos tráficos de drogas. Pessoas que procuravam uma forma de continuar a viver alistaram-se nas fileiras dos cartéis. Os grupos de controle das zonas da droga começaram a ser vistos como “os ricos”.

No novo milénio cresceu um novo movimento popular e com ele uma nova esperança eleitoral: Andres Manuel Lopez Obrador. Desde 2006, um grande movimento política pacífico prometeu forte reformas económicas e sociais para “reintegrar milhões de jovens descontentes”.

Na economia paralela, os cartéis da droga estavam em franca expansão e beneficiavam da miséria de milhões de trabalhadores e camponeses que tinham sido colocados nas margens da sociedade pela elites mexicanas; as quais tinham roubado bens públicos, especulado no mercado imobiliário, ocupado a indústria do petróleo e criado monopólios privados no sector das comunicações e das operações bancárias.

Mas em 2006, Felipe Calderón, apoiado pelos Estados Unidos, alcançava a vitória com uma vitória muito contestada: apenas 240.000 votos de diferença. E a seguir lançava a estratégia de guerra contra o narcotráfico desenhada por Washington.

A enorme escalada dos homicídios e violência no México começou com a declaração de guerra contra os cartéis da drogas, lançada pelo Presidente Calderon, numa política impulsionada pelo governo Bush no início e mais tarde por Obama e pela política dos Clinton.

Mais de 40.000 soldados mexicanos foram implantados nas ruas, nas cidades e nos bairros.
Os cartéis responderam com o aumento dos ataques contra a polícia. A guerra espalhou-se por todas as grandes cidades, nas auto-estradas como nas estradas rurais, as mortes multiplicaram-se e o México tornou-se cada vez mais um Inferno.

Enquanto isso, o regime de Obama tem apoiado a solução militar nos dois lados da fronteira: mais de 500.000 imigrantes mexicanos foram capturados e deportados dos Estados Unidos, que multiplicaram as patrulhas armadas na fronteira. Além disso, aumentou a venda de armas perto dos confins.
Nos EUA a procura de produtos mexicanos diminuiu, ampliando assim o reservatório para o recrutamento de novos soldados da droga e a aumentando também a venda de armas pesadas.

A política da Casa Branca contra as armas e as drogas têm aumentado em ambos os lados desta espiral de loucura assassina: o governo dos EUA arma o regime de Calderón e os fabricantes de armas vendem aos cartéis, tanto a nível legal que ilegal.

A estabilização ou o aumento da procura de drogas nos Estados Unidos, a venda armas e os lucros incríveis mantiveram-se a força motriz por trás da onda de violência e de desintegração da sociedade mexicana.

Os lucros da droga, em outras palavras, são segurados pela capacidade dos cartéis de reciclar e transferir milhões de Dólares através do sistema bancário dos Estados Unidos. A magnitude e o alcance da aliança entre bancos americanos e os cartéis da droga supera qualquer outra atividade económica dos EUA no sector do sistema bancário privado.

De acordo com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, um único banco, o Wachovia Bank (agora propriedade da Wells Fargo) já reciclou 378.000 milhões de Dólares entre Maio de 2004 e Maio de 2007. Todo os grandes bancos dos EUA são parceiros financeiros dos cartéis da droga, incluindo o Bank of America, Citibank e JP Morgan, bem como os bancos estrangeiros que têm as suas sedes em New York, Miami, Los Angeles ou Londres.

Enquanto a Casa Branca paga o governo do México e o exército para matar suspeitos de tráfico de drogas, o Departamento de Justiça multou tarde e com valores bastante baixos os bancos por causa da cumplicidade com o narcotráfico, e o Wachovia Bank salvou os próprios gestores, enquanto afastou os indivíduos com as mãos mais sujas.

A agência mais importante do Tesouro envolvida na investigação sobre o branqueamento de capitais, o Undersecretary for Terrorism and Financial Intelligence (Subsecretariado de investigação do Terrorismo e das Finanças), deliberadamente ignorou a colaboração entre os bancos britânicos e os cartéis, concentrando quase todos o pessoal e os recursos no fortalecimento das sanções contra o Irão.
Ao longo de sete anos, Stuart Levey, Subsecretário do Tesouro, usou a sua força para a “guerra ao terror” ao invés de parar as operações de reciclagem da Wachovia com os mexicanos. Neste período foram mortas por cartéis e exército mexicano 40.000 civis.

Sem as armas e sem os serviços financeiros prestados os cartéis mexicanos da droga encontrariam enormes dificuldades, provavelmente fatais. E não haveria uma “guerra contra as drogas”, os assassinatos em massa e o terror.
Parar os enormes subsídios à exportação de produtos agrícolas dos EUA no México e descriminalizar o consumo e a compra de cocaína nos Estados Unidos são passos simples que poderiam esgotar o reservatório a partir do qual são recrutados os soldados dos, bem como cortar os lucros ilegais e a mesma demanda de drogas no mercado dos EUA.

Se os bancos são o mais importante motor financeiro norte-americano que permite a existência dos impérios da droga, a Casa Branca, o Congresso e as suas leis são os protectores dos interesses dos bancos. Apesar do contínuo e profundo envolvimento dos bancos na reciclagem de bilhões de Dólares em fundos negros, os acórdãos dos tribunais não levam para a cadeia nem que seja um um banqueiro.

A pena dum tribunal foi uma multa de 50 milhões de Dólares, menos de 0,5% do lucro dos bancos em 2009. Apesar da morte de dezenas de milhares de civis no México, a DEA, os procuradores federais e os tribunais têm imposto um castigo risível à Wachovia por causa dos serviços para o cartéis.

Os mais importantes conselheiros de Bush e Obama, os vários Paulson, Geithner, Greenspan, Bernacke, são todos membros ou directores de grandes empresas financeiras e de bancos envolvidos na lavagem de bilhões de lucros.

A reciclagem é um dos recursos mais rentáveis ​​para Wall Street, os bancos ganham comissões sobre as transferências dos lucros da droga, dinheiro que depois é emprestado para outras instituições com taxas de juros muito mais elevadas. Inundados pelos lucros do tráfico de drogas, esses titãs das finanças globais podem facilmente comprar os funcionários públicos para perpetuar o sistema.

Ainda mais importante e menos óbvio é o papel do dinheiro da droga na recente crise financeira, especialmente nas suas primeiras e difíceis semanas.

Segundo o chefe do Escritório da ONU contra Drogas e Crime (outra agência inútil, ao que parece), Antonio Maria Costa:

Em muitos casos o dinheiro da droga (foram) a única liquidez dos investimentos […] quando, no segundo semestre de 2008, a liquidez foi o maior problema do sistema bancário e os capitais tornaram-se uma prioridade. […] Os empréstimos interbancários foram feitos com dinheiro do tráfico de drogas e outras actividades ilegais, […] alguns bancos conseguiram escapar dessa maneira.

O capital dos bilionários da droga é a chave para a sobrevivência da Wachovia e de outros grandes bancos. Em outras palavras, os bilionários da droga salvaram o sistema financeiro capitalista do colpaso.

Resumindo: o genocídio do povo mexicano tem rostos e nomes: são os bancos, é o cinismo dos governantes.
Dum lado desta guerra contra (?) a droga temos Wall Street, as lobbies das armas e a corrupção; doutro lado a Casa Branca, com os estrategas militares. No meio 110 milhões de Mexicanos, num jogo demasiado grande para eles.

Isso é o que acontece quando a pessoa respeitada torna-se um criminal: o criminal torna-se uma pessoa respeitada.

Outros artigos acerca do problema México e droga:
Las drogas, la muerte y la vida en México
12 anos, profissão killer
Religião e droga
Bancos e droga

Nota: 
Estive na dúvida se publicar estas imagens ou não. Mas decidi que sim, devem ser publicadas. 
Porque estas são as consequências do cinismo dos bancos, os mesmos bancos pelos quais aqui somos acolhidos com gravatas e ar condicionado.
Porque a sociedade dourada na qual vivemos é baseada também nestes aspectos.  
Porque esta representada é realidade, uma realidade que os media preferem não mostrar para não perturbar o nosso sono profundo.
E porque afinal também este é o Homem. Talvez um lado que não gostamos de lembrar, mas que existe. 
Infelizmente.
Desde já peço desculpa às pessoas mais sensíveis. 
Que tinham sido avisadas.

Ipse dixit.

Fonte: The Truth Seeker

5 Replies to “No Inferno do México”

  1. Num jogo tão grande como este, o mínimo que podemos fazer, como meros escravos deste sistema, é não consumir drogas.

    Este é um claro exemplo de como o Ser Humano, com a sua mente perversa, permite estas situações.

    Droga = Doença Evitável

    Não consumindo droga, pode-se parar esta máquina…penso eu.

    Não sei até que ponto não existe um sistema montado que tenta impingir drogas ilegais nas pessoas.´´

    Cumprimentos Max,
    — —
    R. Saraiva

  2. E novamente os Banksters!

    Os intocáveis, Senhores do Mundo, que alguns chamam de 'Iluminados', o que é uma afronta a 'luz', conceder a estes criminosos o título de 'Iluminados' ou 'Illuminati'.

    Os criminosos, os psicopatas, lutaram para chegar onde estão hoje, mérito deles se hoje constituem a 'Elite'. Os valores deturpados de nossa sociedade é reflexo não somente daqueles que dão as cartas mas também da sensação de 'impotência' perante esta estrutura.

    Uma estrutura como esta só é possível, se encontrar terreno favorável para crescer. Se hoje o pior da sociedade predomina sobre a maioria, é porque já aceitamos isso como natural, pouco caso fazemos, desde que após servir estes Senhores possamos desfrutar das migalhas que eles nos concedem.

    Uma coisa é certa, enquanto o leão dorme, as hienas fazem a festa.

    Abraços!

  3. As armas apeendidas aos traficantes mexicanos são na grande maioria adquiridas em lojas de armamento perto da fronteira, no Texas, é um excelente negócio impulsionado pelo Obama com este tipo de luta contra os cartéis da droga, quem fica a ganhar é a industria de armamento americana.

  4. Em relação às fotos, são desnecessárias, agradecia que substituísses algumas (as piores), pois quando estou na net os miúdos andam à minha volta e pode ser desagradável!

  5. No México, os jornais usam o termo narcofossas (narcofosas) oara se referir a esta variedade de "esconderijo de corpos assassinados pelo narcotráfico". Poxa, se ganhou até um nome, concluo que é uma desgraça ratificada. Tenso.

    A guerra contra o tráfico, nesta intensidade, deve ser somente para nunca os acusarem da cumplicidade com o esquema, o que é fato, graças a esta política imbecil.

Obrigado por participar na discussão!

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