A troca. E a permuta. E o escambo. – Parte I

A seguir um artigo de Energy Bullettin, com o qual não concordo.
Mas que não deixa de ser interessante, pois mostra como as alternativas sejam possíveis. É só uma questão de querer mudar.

O resumo é o seguinte: e se deixarmos de utilizar o dinheiro? E porquê não voltar à troca?

Não concordo: o problema não é o dinheiro. Podemos deixar de utilizar notas e moedas: mas sem mudar as leis que favorecem apenas alguns em detrimento da comunidade, a situação será a mesma.

Mas disso vamos falar após a leitura.

Deixar de usar dinheiro?

A troca é mais antiga do dinheiro.

Se você tiver algo e quer algo diferente, então tem três opções: você pode simplesmente pegar o que você quer da pessoa que a possui [coisa que provavelmente deixa a segunda pessoa um pouco irritada, NDT] ou, alternativamente, você pode dar algo em troca ou, finalmente, pode vender parte do que você tem em troca de algo que não tenha valor intrínseco (moeda, ardósia, pérolas …) mas que tenha um valor pré-determinado.


Em seguida, pode usar esse valor virtual para comprar o que você quer.

Estas três opções mostram um aumento na complexidade, o que reflete a direção em que a sociedade tem avançado, desde quando os primeiros seres humanos não regidos por leis tornaram-se uma cooperativa até, em seguida, evoluir para seres civilizados.

Quero sublinhar desde já que a palavra “civilizado” não implica algo de positivo: civilização significa, simplesmente, viver em grupos muito grandes, tão grandes que exigem a importação de “recursos” e a exportação de resíduos, como parte dum sistema hierárquico de regras.

O sistema de permuta, a troca de bens ou serviços para produtos ou serviços equivalentes, mas não necessariamente de valor fixo, não é a mais pura forma de acordo de cooperação; porque se realmente desejamos viver de forma que as pessoas possam confiam uns nas outras para as suas necessidades básicas, então precisamos de outras formas de “dar”, inclusive o facto de “dar” incondicionalmente.

No entanto, em comparação com sistemas ridiculamente complexos com base no dinheiro e no crédito, que se tornaram a norma na sociedade civil, o sistema de troca tem um nível de pureza e rectidão que a maioria das pessoas civilizadas acha extraordinário, até causa profundo mal-estar.

Com uma nota de 20 libras no meu bolso, eu sei com bastante precisão o que poderia comprar agora, e estou certo de que a nota será aceite, pelo menos no País onde vivo.

Agora, se eu tivesse que carregar um saco de cebolas que eu plantei (um bocado volumoso, mas é mais fácil explicá-lo desta forma), então quais são as chances de que este serão aceite de forma rápida em troca de , por exemplo, um corte de cabelo ou um elegante par de calças?

Bastante poucas probabilidades, eu diria, mesmo que as duas partes chegassem a um entendimento sobre quantas cebolas valem um par de calças.

Podemos ter sorte e encontrar um vendedor particularmente emancipado, ou apenas fazer o negócio por mera vontade, mas como forma de moeda num mundo civilizado as cebolas cheiram mal!

O facto é que, ao contrário das notas e das moedas, as cebolas têm um valor intrínseco: podem ser consumidas para fornecer nutrientes e sabor ao longo duma refeição. Não existem assinaturas em cebolas, nenhuma promessa de pagar, nada de garantias do Estado. São cebolas.

São cebolas na Escócia, na França, no Egipto, na Indonésia e na Austrália [também em Portugal e Italia, NDT]. Talvez nem todo o mundo gosta ou precisa delas, mas pelo menos você sabe o que encontra; e há sempre tomates num outro saco.

Então, porque a sociedade já não troca?

Aqui está uma lista de algumas razões, apenas algumas:

  • Não confiamos ou conhecemos suficientemente bem os outros para chegar a acordo sobre o valor equivalente;
  • Não entendemos o valor intrínseco das coisas sem um equivalente em dinheiro;
  • Não há maneira de tirar proveito da troca sem fraudes óbvias;
  • Não podemos facilmente guardar tudo o que desejamos para uma posterior utilização;
  • A permuta dá poucas chances de alcançar um importante status social através de bens materiais;
  • A permuta é socialmente inaceitável numa sociedade capitalista;
  • A troca exige preparação e, geralmente, pré-contrato.
  • A troca é quase universalmente vista como algo que as pessoas costumavam usar, mas que já não é possível nem desejável. 

Acaba aqui a primeira parte.

Só isso? Mas não é curto?
Sim, é curto, mas o bom Max tem que fazer, por isso…
“Por isso quê? O leitor tem de saber, não podes deixar o leitor assim pendurado!!!”
Calma, o resto chegará muito em breve.
“Fascista!”
Faltava…

Fonte: Energy Bulletin

2 Replies to “A troca. E a permuta. E o escambo. – Parte I”

  1. Aqui na minha universidade temos a Feira do Escambo… Já é um começo…

    Não sei como seria viver em uma sociedade baseada em trocas… Só em caso de apocalipse mesmo.

  2. No Brasil nós temos… mas pergunte se algum brasileiro sabe o que é Fora do Eixo…

    http://www.foradoeixo.org.br/

    Mas eu estou me tornando italiano, como o Max… e ao contrário dele, falo português, porém nada de italiano…

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