Síria: os media e a testemunha

O que acontece na Síria? Difícil responder.
Os media falam (pouco) de massacres, centenas de civis mortos nas ruas de Damasco.

Os Estados Unidos parecem afastados destes acontecimentos, provavelmente todos os esforços dos últimos tempos foram focalizados na sepultura muçulmana de Bin Laden. Apenas o Presidente francês Sarkozy fica agitado, insiste que é precisa uma intervenção para apoiar os rebeldes.

Rebeldes…não sei porque, mas nos últimos tempos ao ouvir este termo fico com algumas suspeitas. Provavelmente estou a ficar paranoico, deve ser isso.

Mas não estou sozinho nesta Síndrome do Falso Rebelde.
Russia Today entrevistou Ankhar Kochneva, directora duma agência de viagens de Moscovo especializada em turismo no Oriente Médio. A senhora divide a sua vida entre Rússia e Síria, está em contacto regular com centenas de pessoas na região árabe. E a história contada é um pouco diferente da que costumamos ouvir. Vamos ver qual a razão.

As mentiras e a realidade

Russia Today: O que acontece na Síria? O que você vê? E o que os Sírios dizem?

Ankhar Kochneva: Eu ainda não encontrei uma pessoa que apoie de alguma forma estas rebeliões e, lembre-se, por causa do meu trabalho lido com pessoas de todos os tipos. Há muitos veículos com retratos do presidente que circulam pelas ruas em todo o País, desde carros antigos até Porsche e Hummer.

Não é possível forçar todas as pessoas a pendurar retratos. Significa que as pessoas, independentemente do seu estatuto e das suas posses, apoiam o Presidente e não a revolta. Eu vi muitos jovens, a pé ou de carro, com bandeiras sírias.

Como se pode forçar um jovem a caminhar com os amigos para agitar bandeiras? Eu acho isso é difícil. Se você entender a mentalidade dos Sírios, então sabe distinguir uma ordem dum impulso sincero.

No passado 29 de Março eu participei, em Hama, numa manifestação em favor do Presidente, na qual havia também milhares de homens e mulheres, com filhos e famílias. As ruas encheram-se de uma multidão de pessoas.

Foi muito chocante ver Al-Jazeera mostrar as manifestações em favor do Presidente como se fossem protestos contra ele. Foi tão surpreendente quanto a ver sites israelitas publicar fotos e vídeo do evento com legendas que descreviam as pessoas como adversários do regime. Há pessoas que carregam retratos de Bashar al-Assad e bandeiras da Síria, e dizem que tudo isso é contra o mesmo Bashar al-Assad.

Os meios de comunicação falam de manifestações anti-governo em massa.

Há um crescendo poderoso de desinformações. No dia 01 de Abril, os media informaram acerca duma grande manifestação anti-governamental em Damasco. Neste dia eu estava em Damasco. Esse evento nunca aconteceu. Eu não vi, e nem os habitantes viram nada disso.

No dia16 de Abril, a Reuters informou que 50 mil opositores do regime lutaram nas ruas de Damasco e que foram dispersados ​​com gás lacrimogéneo e cassetetes. As pessoas que vivem em Damasco estão bem conscientes de que um evento desta magnitude não poderia ter acontecido sem ser notado.

Quantos policiais foram necessários para dispersar os manifestantes? E como isso é ninguém viu nada disso, exceto a Reuters? Já 500 pessoas nas ruas de Damasco são uma grande multidão. A Reuters transmite o seu material em todo o mundo, incluindo a Rússia. É suficiente que uma fonte diga uma  mentira para que esta mentira se torne como uma bola de neve que desce o vale, criando uma realidade falsificada temperada com rumores e especulações.

O povo da Síria assiste à reportagem e que pode ver? Uma imagem do Iêmen, uma do Egito, uma da Síria.

Há vídeos na internet que mostram como são realizados os filmes “caseiros” dos motins: há um carro estacionado, e nada acontece ao redor. E quando um homem atirar pedras contra o carro, e as pessoas ao redor param e tiram fotos.

Há montes de vídeos manipulados. Um Libanês pode dizer logo se um vídeo foi gravado no Líbano ou em Damasco. São mostradas imagens filmadas em Tripoli, ou velhos vídeo do Iraque, e dizem que é agitação na Síria.

Existem muitos fóruns de discussão on-line nos Países árabes. a televisão fala de “perturbação da ordem pública.” As mulheres seguem a televisão e compartilham as informações. Então perguntam: “O que se passa fora das janelas?” É a resposta: “Abrimos a janela aqui e espreitámos mas não vimos nada do que a televisão disse”.

No últimos tempos muitos jovens policiais desarmados foram mortos. Os meios de propaganda imediatamente rotula como vítimas do regime. Repito: a polícia está desarmada. A polícia síria não está muito preparado para usar armas porque há muito tempo nada acontece. Mas é relatado que os recrutas são mortos ou feridos pelos manifestantes e que os policiais recusaram abrir o fogo sobre os seus concidadãos. As palavras de Goebbels parecem mesmo oportunas: maior mentira, mais facilmente será acreditada.

Commandos

Bashar al-Assad

Mas por que então, se não houver protestos, os policiais morrem?

Quem mata os policias sabe que eles são desarmados.

Quem que mata os policias?

É um assunto muito discutido na Síria. Há rumores de que poderiam ser commandos treinados que cruzam a fronteira com o Iraque. O povo da Síria está ciente de que, após os EUA ter invadido o Iraque, foram organizadas equipas especiais. Estas equipas já mataram pessoas, criaram conflitos entre as comunidades muçulmanas, xiitas, sunitas e cristãos, rebentam estradas, mercados, mesquitas e igrejas. Esses terroristas atacam alvos civis em vez das forças de ocupação.

Não muito tempo atrás, três dos commandos foram capturados nos arredores de Damasco, enquanto disparavam de forma aleatória contra as pessoas. Eram iraquianos.

A televisão síria mostrou uma reportagem sobre alguém que estava a atirar a partir dos telhados e dos arbustos contra os polícias e os transeuntes. Foram capturados, e admitiram ser iraquiano e terem sido pagos para realizar os ataques. Esses combatentes estavam detidos em Dera e Latakia, e tinham armas de fabricação americanas.

Os serviços de segurança libaneses interceptaram vários carros carregados com armas que tinham entrado no Líbano: um destes carros vinha do Iraque também transportava armas americanas. Também há relatos que falam de prisioneiros com grandes somas de dinheiro, Dólares dos EUA. Também havia telefones por satélite caros, que não podem ser interceptadas pelos serviços de segurança sírios.

Na Síria já não é um segredo o facto dos Americanos terem oportunidades ilimitadas para recrutar e treinar os commandos no Iraque e, em seguida, envia-los onde quiserem.

Hillary Clinton já disse que se a Síria interromper os relacionamentos com o Irão e a ajuda ao Hamas e Hezbollah, as manifestações acabariam no dia seguinte. Nem se preocupam de esconder a mão que está a provocar os motins na Síria.

As provas de ingerência externa é clara.

De facto, as pessoas dizem que os manifestantes chegam de outro lugares. Estas pessoas parecem diferentes e falam também de maneira diferente. Ninguém sabe quem são. Quem contrata, treina e financia o transporte das pessoas? A pergunta permanece sem resposta.

Abdel Halim Khaddam

O anterior vice-presidente, Abdel Halim Khaddam, provocou as revoltas nas regiões costeiras.

Derrubou metade do País. Estava envolvido nas redes da corrupção e acabou por fugir para o Ocidente.
Tentava culpar o Presidente sírio, Bashar al-Assad, da morte do ex-premier libanês, Rafik Hariri.

Os Sírios acreditam firmemente que Saad Hariri [ex primeiro ministro do Líbano , de origem saudita, NDT] doou uma casa a Abdel Halim Khaddam, para que este espalhasse a versão do assassinato de Rafik Hariri.

Mas quando essa versão foi desmontada, a casa voltou para o antigo proprietário. Hoje, quem dispara a partir dos carros  grita “Não queremos Bashar. Queremos Abdel Halim”.

Em Banias há muitos membros da oposição pacífica e educada, que foram contrários ao regime de Bashar al-Assad ao longo de muitos anos. Mas agora estão espantados com o que está a acontecer e não apoiam Abdel Halim Khaddam. Dizem: “É um ladrão. Fingia de combater a corrupção e roubo”.

O longo braço de Hilary

Qual o papel dos emigrantes sírios na desestabilização do País?

É uma questão em aberto. Segundo alguns rumores, Dan Feldman, o Representante Especial de Hillary Clinton para o Médio Oriente Médio, reuniu-se com os representantes da oposição síria em Istambul, em meados de Abril, e sugeriu táticas para assassinar funcionários civis e oficiais militares.

Em menos de três dias, no dia 19 de Abril, vários militares foram brutalmente assassinados na Síria. Não só foram atacados e mortos com armas de fogo, mas em alguns casos as vítimas dos ataques, incluindo os três filhos menores dum general sírio, foram feitos em pedaços com espadas.

Os assassinatos cometidos com um elevado grau de brutalidade são utilizados para intimidar a população. A notícia das crianças feitas em pedaços funcionou bem. 

Os relatos dos meios de comunicação afirmam que os tumultos começaram após a prisão de várias crianças que estavam a escrever slogans anti-governamentais em Deraa, no sul da Síria. É realmente assim?

Todas as crianças foram liberadas muito apidamente. Além disso, os jornais de propriedade do governo publicaram as ordens de libertação.

As tropas foram transportadas para Deraa?

Sim, há soldados. Depois disso, foi proclamado um emirado islâmico em Deraa, os moradores solicitaram a ajuda do governo. Foram transportadas tropas. Eu vi os vídeos. Alguns manifestantes publicaram os vídeos na internet mas foram removidos imediatamente. Mas as pessoas tinham feito cópias. Há soldados e as pessoas aproximam-se e falar com eles de forma pacífica. Ninguém dispara contra ninguém.

Existe a impressão de que se a Síria renunciar em apoiar Hamas e os Palestinianos e chegar a um acordo de paz com Israel, os motins acabam logo?

Não, não há nenhuma impressão deste tipo. A sociedade está a consolidar-se. As pessoas estão a unir-se porque vêem que o inimigo é extremamente perigoso. Por exemplo, antes, ao pegar um táxi, a autorrádio transmitia apenas música pop e a recitação do Alcorão. Agora a música patriótica sai de todos os carros. Quando Bashar al-Assad falou na televisão, as pessoas que estavam ao ouvir começaram a aplaudir. Não se pode forçar as pessoas a aplaudir um presidente que fala na televisão.

Bandidos?

Como é o humor das pessoas nos últimos dias?

As pessoas estão com medo de sair. Em algumas regiões, arriscaram as vidas para gravar vídeos com uma câmera escondida, para gravar pessoas não identificadas que tinham entrado num carro, arrancaram e começaram a disparar em todas as direções. Esta é a maneira como estão a espalhar o pânico em áreas residenciais.

Os bandidos bloquearam uma ponte perto da costa. Logo os militares intervieram. Um dos meus contactos sírio disse: ‘Não são precisas muitas pessoas para mergulhar o País no caos”.

Colocar cinco pessoas para bloquear uma estrada principal é suficiente para paralisar toda a área. As pessoas não podem entregar a comida ou chegar aos hospitais. E o País inteiro está em alerta por causa de um punhado de bandidos.

Agora a televisão síria transmite imagens ao vivo de várias partes de Damasco e de outras cidades para mostrar às pessoas qual é a situação real e como a vida voltou à normalidade, apesar dos media ocidentais.

O governo lançou reformas?

O governo suspendeu a lei marcial e permitiu a organização de reuniões  desde que a permissão seja pedida com 5 dias de antecedência. Os estrangeiros foram autorizados a comprar imóveis. Aos Curdos foi concedida a cidadania, que não tinha sido obtida anteriormente por uma série de razões históricas. O governo está a abrir cursos de negócios para mulheres no norte da Síria. Muitos governadores provinciais foram removidos. Infelizmente, em alguns casos, eram pessoas honestas. Como aqueles que recusaram libertar os criminosos da prisão em troca de propinas e, portanto, foram submetidos a campanhas de difamação públicas.

O número de vôos para a Síria diminuiu?

Não há bilhetes para a Síria. Queríamos organizar uma excursão na Síria para um grupo de turistas, mas não havia bilhetes para Damasco no dia 30 de Abril. Mas os Russos não estão a abandonar a Síria. Tenho todas as informações neste sentido por causa do meu trabalho.

Fonte: Russia Today
Tradução: Informação Incorretca

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