O Sudão é um País sem paz.
Os problemas começaram logo após a independência (1955) e nunca pararam.
Entre as várias razões que impedem de encontrar uma solução definitiva há o petróleo. E não poderia ser diversamente.
Entretanto o sangue continua a fluir no sul do País, desta vez por causa da violenta repressão das manifestações em Khartoum, organizadas pelos estudantes que querem mais autonomia para a parte meridional do Sudão.
A decisão do governo, anunciada pelo secretário-geral do Sudan´s People Liberation Movement, Pagan Amum, de pagar ao Norte só uma taxa de utilização dos oleodutos que transportam petróleo até Port Sudan, e de não compartilhar as receitas, tal como previsto pelo acordo de Compehensive Peace Agreement, desestabiliza ainda mais o quadro geopolítico do Darfur.
Segundo o acordo de 2005, o Norte iria receber metade das receitas do petróleo bruto extraído no Sul do País, que não tem litoral e depende inteiramente das infra-estrutura do Norte e do porto do Mar Vermelho para exportar o produto refinado.
Mas Juba não tem intenção de vender as riquezas do próprio território e exige que as regras sejam redefinidas.
A maioria da produção diária de petróleo, actualmente 500 mil barris, é garantida pelas explorações do Sul, enquanto os gasodutos e as refinarias estão localizadas no Norte.
Ambas as partes, para apoiar as respectivas economias, têm interesse em manter a cooperação no campo do petróleo, a principal fonte de renda do Estado, mas acerca das condições existe divisão.
O Sul do Sudão tem ideias claras sobre como gerir os recursos energéticos.
Se fossem descobertas novas reservas de petróleo, já estaria pronto para construir outros gasodutos e desenvolver uma maior rede de transporte para os portos do Quénia, Djibuti e da República Democrática do Congo como confirmou, irritando Khartoum, o secretário do SPLM.
Irritação que poderia transformar-se em actividades mais grave, especialmente tendo em vista o processo de demarcação das fronteiras que envolverá também o mapeamento das áreas disputadas, como Abiey, uma das mais ricos em “ouro negro”.
A região, de estatuto autónomo, deve decidir através dum referendo, em paralelo com o da independência do Sul, se quer permanecer no Norte ou seguir o Sul independente.
Salva Kiir Mayardit |
A votação foi adiada por causa das disputas entre o National Congress Party e o Sudan’s People Liberation Movement acerca de quem tem o direito de voto.
Neste ponto Salva Kiir Mayardit, o presidente do Sudão do Sul, exprimiu preocupação ao falar de “obstáculos post-referendo que marcam o início de uma nova luta.”
O medo de que não estivesse a falar apenas em sentido figurado deve fazer reflectir sobre o futuro que aguarda este instável e turbulento País, que prepara-se por uma independência esperada ao longo de cinco anos; um País que, apesar dos seus quase 40 milhões de habitantes, raramente encontra espaço nos media ocidentais.
Fonte: Limes