Dr. Copper e Mr. Morgan

Há poucos dias falámos do cobre (22 de Dezembro): preços em subida, possíveis explicações.
Há poucos dias falámos da velocidade dos navios (19 de Dezembro): parados.

Ano novo? Situação idêntica. Ou até pior, pois o cobre continua a aumentar e os navios estão cada vez mais parados. O que é bastante esquisito.

O cobre é chamado também de Doutor Copper (“copper” e cobre em Inglês), pois ao estudar o seu andamento nos mercados é possível prever com boa aproximação qual a direcção dos mercados e da economia no geral.
Uma verdadeira matéria prima antecipadora: mais procura de cobre? A economia está a melhorar. E se os preços do metal sobem é porque a procura é forte.

Depois temos o Baltic Dry Index, que indica a velocidade média dos navios comerciais: se o BDI está em alta, significa que há uma saudável troca de mercadoria em curso.

O que mudou desde os dois artigos anteriores (ambos de Dezembro)? Nada.
O cobre continua a subir. Se o seu papel antecipador fosse ainda uma realidade, então não só a crise teria acabado como teria já começado uma espécie de Paraíso. É que o preço do metal continua a subir, sem parar.

Doutro lado, também o Baltic Dry Index antecipa (embora com características diferentes) a situação da economia: e este índice acaba de atingir o valor mínimo dos últimos 12 meses. Parece que os navios ficaram todos parados no meio do mar, ninguém tenciona entregar as mercadorias.

De seguida os dois gráficos, cobre à esquerda e BDI à direita:

(Fonte: Intermarket & More)

Então?
Então algo não bate certo. Explicações?
Sim, duas:
1. a produção de cobre atingiu o limite e as reservas estão a diminuir
2. alguém está a especular

Ponto 1: Segundos alguns especialistas, de facto, a produção de cobre já não é suficiente para satisfazer a procura do metal. Em particular a China precisa de cobre, e de muito. Mas mesmo que isso fosse verdade, não explicaria o valor do Baltic Dry Index. O que leva directamente para a segunda explicação:

Ponto 2:  Alguém está a especular. Compra grandes quantitativos de cobre que depois fica guardado. E os preços continuam a subir.

No artigo do 19 de Dezembro falei em JP Morgan como possível actor principal deste facto. Vamos ler quanto escrito na altura:

Mais prováveis são duas hipóteses:

1. JP Morgan está a preparar um produto derivativo baseado no cobre.
Atrai os clientes com a promessa de grandes lucros, pois o preço do metal está a subir, e muito. 
Uma vez vendido o derivativo em razoável quantidade, JP Morgan vende o cobre, ganha um dinheirão, o cobre perde valor, quem comprou o derivativo perde boa parte do investimento.

2. A segunda possibilidade é um pouco mais complexa. Neste caso JP Morgan, Goldman Sachs e HSBC (Los Bandidos) estão a “empurrar” o preço do cobre para favorecer a extracção da prata. Pois a prata é um subproduto da extracção do cobre e JP Morgan precisa desesperadamente de prata por causa de acordos com a Federal Reserve.

Bom, ao que parece podem apagar a segunda hipótese.
Segundo vozes não confirmadas, JP Morgan detém 90% dos derivativos do cobre: um volume de negócio assustador. O que significa que podemos estar perante uma dramática especulação de tamanho até hoje inédito.

Hoje é o cobre, o terceiro metal em ordem de valor após ouro e prata.
Amanhã pode ser o petróleo. Ou um género de comida.
O capitalismo parasitário no seu melhor.

Ipse dixit.

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