Nunca vimos o Jornal de Negócios tomar parte numa campanha tão delirante e mesquinha.
O que está em causa é o uso da Golden Share feito pelo governo português.
Resumo: a Telefonica avança com uma oferta para adquirir a partecipação da PT no capital da Vivo, a empresa de telecomunicações do Brasil. Para mais pormenores podem ler o nosso artigo do passado dia 2 de Junho.
Afinal a oferta da Telefonica é de pouco mais de 7 bilhões de Euros.
Cabe à Assembleia Geral da PT decidir se aceitar a oferta ou não.
Mais do 70% dos accionistas optam pela venda. Mas o Estado, que detém uma golden share, põe o veto.
A PT recusa assim a oferta da Telefonica e tudo fica como antes.
Agora entra em campo o Jornal de Negócios.
Artigo assinado por Nuno Carregueiro.
Título: Uso da “golden share” aproxima Portugal de uma governação à Hugo Chávez.
Lemos duas vezes para ter a certeza de ter percebido bem a frase. Sim, diz mesmo isso: tendo usado a golden share Portugal está agora mais perto da Venezuela.
O jornalista reporta as declarações da Associação de Investidores e Analistas Técnicos do Mercado de Capitais. Claro, a opinião não é do jornalista, o jornalista é imparcial, percebe-se isso logo pelo título escolhido.
E que diz a AIATMC? Diz o seguinte:
O Estado usou e abusou do direito especial de apenas 500 acções (de categoria A), para esvaziar o sentido de voto e soberano de uma Assembleia Geral de accionistas, demonstrando uma enorme falta de cultura de mercado e grande irresponsabilidade pela mensagem que tal acto encerra para os accionistas e investidores, portugueses e estrangeiros.
E continua:
O Governo deu um tiro no pé do interesse público e do mercado.
A medida tomada pelo governo é ferida de legalidade, é contrária à boa corporate governance, desmotiva a gestão eficiente das empresas e contraria o interesse público e o dever do Estado de garantir a formação da poupança e da sua captação. A medida do governo, que contraria a livre iniciativa económica num estado de direito e democrático, aproxima-se em muito de uma governação à Hugo Chavez, ferindo de morte a confiança jurídica e económica de qualquer agente e interveniente no mercado de capitais portugueses; manifestações estas que já têm vindo a ser hábito neste governo
Senhores do AIATMC, mas afinal sabem o que é uma golden share?
É mesmo isso: é uma participação accionista detida pelo Estado, que apesar de ser minoritária confere poderes especiais.
Não é uma invenção do governo português, é uma instituição jurídica de origem britânica (não comunista, mas britânica) prevista nos sistemas jurídicos dos diferentes Países europeus.
“Um tiro no pé do interesse público”?
Mas qual interesse público? Ficar fora do mercado das telecomunicações brasileiro é um interesse público?
O facto dos accionista poderem encher as carteiras com os Euros espanhóis é um interesse público? Estamos a brincar?
Informação Incorrecta é um blog estritamente apolítico, não tomando parte nas disputas partidárias deste País (como de outros também); mas neste caso parece inegável que o governo de Lisboa defendeu os verdadeiros interesses nacionais. Ao contrário dos accionistas para os quais existe só o dinheiro; e não vamos além desta observação pois o discurso poderia ficar bem pior.
Não acham significativo o facto do CDS não se ter oposto à manobra do governo? Ou desejamos agora afirmar que o partido de Paulo Portas é comunista?
Após outro artigo com um título sempre em tema (“Ego português com vitória curta sobre a razão”), eis finalmente um jornalista que “mete a cara”. Pedro Santos Guerreiro:
A utilização da “golden share” é inédita, surpreendente e provavelmente ilegal. Vai contra o mercado, contra a administração e contra a decência. E revela um País próximo do subdesenvolvimento económico.
E, mais a frente:
A venda da Vivo é má para a PT. Mas não é má para os seus donos. Seja como for, isso é assunto privado. Se o BES, a Ongoing e outros decidiram tratar da sua vida, isso é com eles. O que aconteceu hoje na Assembleia Geral da PT não foi intervencionismo, nem nacionalismo, nem governação. Foi uma derrota. Uma derrota de Portugal.
Resultado final da semana: Espanha 2 – Portugal abaixo de 0.
Interessante. Então reconhece-se que a perda da Vivo seria um prejuízo para a empresa. Mas não pelos accionistas que ficariam com o dinheiro. E aqui é possível ver claramente em que mãos estamos.
Não importa se uma das principais empresas do País fica a perder.
Não importa se sair da Vivo significa sair dum mercado em plena expansão e com um potencial imenso.
Não importa se ao manter a Vivo a PT poderia propor-se a nível internacional como um dos principais operadores na área das telecomunicações, um partner de primeiro plano.
Não importa se uma PT de nível internacional pode ter recaídas positivas na imagem de Portugal.
Não importa se a PT, uma vez vendida a participação na Vivo, fica limitada ao miserável mercado português (e passem o termo: estamos a falar de 7 milhões de clientes contra os mais de 50 no Brasil).
O que importa é que os accionistas possam encher as carteiras.
É esta visão obtusa que condena Portugal a vestir os eternos panos de País menor.
É esta castração dos interesses gerais em prol dos particulares que faz de Portugal um País destinado à derrota, ao sofrimento, à pobreza não só económica.
Agora sim, estamos esclarecidos.
Ipse dixit.
Fonte: Jornal de Negócios
Foto: Portugal No Seu Melhor
Fala quem realmente não percebe nada de nada.
Diga-me lá uma coisa, o que acha disto:
A) V. Exa. decide comprar um terreno na China para plantar batatas e quando decide que o vai vender porque lhe dão mais dinheiro do que algum dia ira receber a plantar batatas, o Sócrates diz-lhe que não pode vender porque é estratégico para Portugal plantar batas na China, pelo que terá de continuar a plantar batatas e assumir o risco de correr mal porque o Sócrates o decidiu.
B) V. Exa tem esse campo de batas e dois quilos de estrume para o adubar. O campo vale 100.000€ e o estrume vale 100€. Mas um chinês que precisa de adubar o campo dele, oferece pelo seu estrume 200.000€. Bom, não há dúvida que o estrume tem um valor estratégico para o seu campo, pois sem ele não pode adubar e sem adubar não produz batatas, pelo que o Sócrates decide vetar a venda desse estrume porque considera que tem valor estratégico.
Quanto à golden share ela é ilegal desde que Portugal assinou o Tratado da União Europeia e assumiu a livre de circulação de capitais.
Por isso, em vez de fazer a figura de parvo que fez ao escrever este texto, informe-se.
Tinha escrito uma longa resposta, então pensei: mas vale a pena? Por isso apaguei.
Com os melhores cumprimentos,
Max
batatas e estrume lololollol há cromos em todo lado.
Bom blogue, continue.
nao ha preto e branco aqui..apenas cinzentos..seria interessantissimo responder max
obrigado
Olá André!
Provavelmente tens razão: como muitas vezes acontece, a verdade (ou, como neste caso, a opção melhor) está no meio.
O espaço está a tua disposição, como sempre.
Um abraço!