O futuro do Dragão

A mudança é histórica: a economia chinesa entra numa segunda fase, a fase da maturidade.
O governo chinês aceitou tornar a moeda nacional, o Yuan, mais flexível.

Eis a notícia:

A decisão da China de tornar a sua taxa de câmbio mais flexível ajudará a colocar a terceira maior economia do mundo, após os EUA e o Japão, num patamar onde o poder de compra dos seus próprios consumidores sai reforçado e tornará mais fácil gerir as tensões económicas com as outras nações. A decisão foi anunciada pelo banco central no fim de semana e foi difícil para os líderes de Pequim, embora seja provável que, por enquanto, resulte em apenas uma modesta valorização do yuan.
A liderança tinha que superar a resistência feroz por parte da lobby da exportação doméstica, bem como o próprio nervosismo[…] No entanto, mesmo com a pressão sobre a China, tanto do Congresso americano como do grupo das 20 principais economias, a decisão mostrou pragmatismo e um desejo de estabelecer relações económicas com o mundo feitas a partir duma posição mais sustentável.

Grande euforia das Bolsas, todos felizes: um Yuan desvalorizado favorecia excepcionalmente as exportações, representava um obstáculo e uma anomalia no mercado internacional, considerando as dimensões da economia chinesa.
A declaração oficial diz que a China “deve atender às necessidades da economia global e tomar uma atitude cooperativa.”
E as reacções são todas positivas. Alguns títulos::

O Banco Central Europeu e o presidente da União Europeia Jean-Claude Juncker saúdam a decisão.

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, afirmou neste domingo que o anúncio do Banco Central Chinês de flexibilizar o Yuan é bem-vindo.

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, elogiou o anúncio da China de que vai flexibilizar mais a taxa de câmbio de sua moeda, o yuan.

Deve ser a primeira vez que alguém festeja a conclusão da própria lapide funerária, mas com as economias ocidentais num estado de confusão total não é o caso para ficar muito surpreendidos…
Vamos analisar.

1,3 bilhões de clientes

Em primeiro lugar é bom realçar que a valorização do Yuan será um processo gradual e não particularmente rápido. Mas este ponto até pode ser considerado secundário.

O que mais interessa aqui é que a valorização do Yuan significará uma desvalorização do Dólar e do Euro: os produtos chineses vão ser mais caros e os custos serão pagos pelos consumidores europeus (e americanos), cujos salários, pelo contrário, não são destinados a subir.

A valorização do Yuan será um processo realizado ao longo de anos, lento mas contínuo, assim como já acontece para a moeda brasileira. O que foi dito para os produtos chineses vale também para outros Países: comprar Chinês, Brasileiro, Indiano será cada vez mais caro. E o risco para os Europeus e os Norte-Americanos, bloqueados por medidas fiscais draconianas ou com situações económicas insustentáveis, é de ficar cada vez mais pobres.

Mas mesmo que este cenário possa ficar diluído no tempo (o que poderia eventualmente fornecer o tempo necessário para uma recuperação/estabilização económica ocidental), há outro aspecto, ainda mais importante, que deve ser considerado.

A China, de facto, lançou as bases para um progressivo enriquecimento da própria população. O que significa, em perspectiva, mais poder de compra para 1.300.000.000 habitantes: hoje trabalhadores desfrutados, amanhã consumidores, clientes, investidores.

Um novo imenso mercado, um novo El Dorado para as multinacionais.

Haverá ainda alguém interessado nas “velhas” (em todos os sentidos) economias ocidentais?

O vento mudou. É a velha história do costume, antiga quanto o Mundo.
 
Ipse dixit.

Fonte: WSJ

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