Ajudar a Grécia: um erro?

Francesco Forte é um político, jornalista e professor italiano.

Já ministro das Finanças e das Políticas Comunitárias, em 1984-1985 foi presidente da International Atlantic Economic Society.
 
Actualmente é editorialista económico e professor de Política Económica e de Ciência das Finanças na Universidade La Sapienza em Roma..
Esta entrevista foi gravada em finais de Abril de 2010.

Professor, acredita ser um erro a ajuda à Grécia?

Penso que esta espiral de piedade esteja errada. Na área do euro, além disso, cada um responde por si e não podem subsidiar aqueles que cometem erros. Eu não consigo entender esta teoria em que uma área como a União monetária  todos devem responder pelos erros de um: não é justo e não e há equidade.

Então, melhor a falência duma Grécia …

A Grécia provavelmente irá falir, porque foi descuidada. O problema real para Atenas não é representado pela dívida, mas a balança de pagamentos. Na verdade, tem um saldo passivo de pagamentos igual a 4% do PIB. Em essência, a Grécia não tem dinheiro para pagar o empréstimo estrangeiro (contrato com a França e a Alemanha em particular) e está nessa situação é culpa dela.

O que quer dizer?

O seu comportamento era absurdo. Acho que ninguém sabe que a Grécia no ano passado teve uma carga tributária equivalente a 37% do PIB, enquanto na Alemanha é de 42,5%, na Italia 43% na Itália e na França 44%. Atenas teria feito melhor em trazer a carga tributária na média da Europa, elevando-a pelo menos 5 pontos percentuais.

O que aconteceria se a Grécia declarasse falência?
Desde que o empréstimo será desembolsado em breve é ultra-garantido, imagino que a Grécia não reembolsa totalmente os anteriores. Em caso de falência, a dívida grega tornar-se insolvente e nesta altura procede-se com a  reestruturação da dívida, como aconteceu com Países em dificuldades como a Argentina.

Não há nenhuma maneira diferente?

Deveria ser o oposto do que está acontecendo. A Grécia deveria primeiro realizar as reformas, começar a colocar as contas em ordem, e só depois de ter estabilizado a situação pedir empréstimos para atender a uma dificuldade temporária. Isso tornaria o País mais credível. Em vez disso, temos uma situação em que descobrimos que enganou duas vezes sobre os orçamentos públicos, ainda não lançou uma reforma séria para conter os gastos públicos e mais, que podem servir até 120 bilhões de euros. Como podem ser credíveis? O Premier grego Papandreou não é credível, porque foi para o Governo com um programa que prometia rosas e não austeridade.

Acha que existe um risco de contágio em outros países europeus como Portugal?

Claro que sim. Portugal tem agora de provar de ser credível. O problema é que lançou recentemente um orçamento rectificativo e, aparentemente, é incapaz de completar outro que seria necessário.

E o contágio poderia se espalhar ainda mais?

Portugal está sob o fogo, apesar de uma dívida equivalente a 77% do PIB. A linha alemã, que ninguém entendia, é óbvia e lógica. Tão grande que é, a Alemanha é incapaz de ajudar alguém, para além da Grécia. Se as coisas correrem mal, Portugal irá pedir ajuda. Em seguida será a vez da Espanha e talvez de alguma ajuda será possível. Quando tocar a Itália não acho que ainda haverá dinheiro para emprestar.

Assim, também a Itália está em risco?

Sim, a Itália está no olho do ciclone. Em comparação com a Alemanha já perdeu um ponto de interesse sobre os títulos de Estado. Na verdade, o rendimento sobre a dívida alemã caiu meio ponto e o sobre a nossa dívida aumentou em meio ponto. O nosso problema é que ninguém pode conceder um empréstimo, pelo contrário, vêm para pedir dinheiro.

Uma grande responsabilidade para a situação em que estamos é também da Finança?

A Finança faz o seu trabalho, ainda que errado. Os bancos que jogam para o lado negativo, na verdade, ficaram muito feliz que alguém chegou para salvar a Grécia. Devemos ter os requisitos de capital para aqueles que fazem essas operações. Actualmente, no entanto, essas operações não têm quase nenhum custo, pois são feitas nos spreads, derivados, sem a necessidade de ter as obrigações de Estado. Portanto, não há limites para estas operações. Existe um sistema de especulação internacional não regulamentado.

Acredita que o euro vai sobreviver?

O euro, sem a Grécia e Portugal iria funcionar melhor. O fato é que o euro pode sobreviver perfeitamente bem com a falência deles, na verdade acho que ficaria mais forte. A UE deveria ter dito que a socialização é uma forma de distribuir fatias de bolo que existem, que não as que queremos e que são imaginárias. Em vez disso, perdeu tempo nos casos dos rácios dívida/PIB, em vez de tomar medidas para evitar, por exemplo, que as famílias ficassem com dívidas tão alta.

Fonte: Il Sussidiario
Tradução: Massimo De Maria

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