A longa reunião do €-Day

A ideia não era original mas parecia boa: ok, esperamos para ler o comunicado acerca do plano de emergência e logo vamos escrever algo.

Esta a teoria.

O comunicado era previsto para as 18:00. Assim esperámos.

Esperámos, esperámos…e agora, passadas as 22:30, temos uma suspeita: será que o comunicado está em atraso?

No entanto alguma coisa aconteceu neste D-Day, ou melhor: €-Day.

Assim, nada melhor do que ler o artigo de Informazione Scorretta:

A reunião do Ecofin começou, enquanto escrevemos nenhum resultado, a reunião foi suspensa e será retomada sabe-se lá quando.

São previstas horas extra para os ministros (serão pagos o dobro?), que devem absolutamente dar uma aparência de resposta ao mercado entre as 09:00 de amanhã, quando as principais bolsas estarão abertas e Ecofin não vai beneficiar dos mercados fechados.

Primeira pergunta: quem é o Ecofin? O
Ecofin, ou Conselho Ecofin, outra coisa não é a não ser a reunião dos Ministros da Economia e da Finanças de todos os 27 Países da União Europeia.

Londres, não ao Euro e  Parlamento sem maioria

Antes que começasse o Ecofin, Londres já colocou as coisas bem claras por boca do futuro ex-chanceler do Tesouro Alastair Darling

da Reuters:

O ministro das Finanças britânico, Alistair Darling, disse hoje que é importante fazer todo o possível para estabilizar os mercados financeiros, mas que o seu país não apoiará o euro.[…]
“Hoje, temos de mostrar novamente que podemos agir em conjunto para estabilizar a situação, não vamos comprometer a recuperação que está vindo lentamente. E vamos fazer a nossa parte”, disse o ministro aos repórteres.
“Mas quando se trata de apoiar o euro, é claro que o caso é dos países da área do euro

Em outras palavras: problema vosso.

Pensamentos tristes que talvez foram feitos em Londres: temos uma nação falida e não sabemos o que fazer, imaginem se nós damos um tostão.

Vamos ver se o provável governo Cameron / Clegg vai estar de acordo e será capaz de superar as divisões e bloqueio dum parlamento sem maioria, mesmo sabendo que estamos diante de uma jogada digna da melhor dissecção geo-política global: Londres, embora parte da UE, não tem qualquer interesse nem a adoptar a moeda da UE, nem a apoiar a moeda da UE.

É a estratégia “cada um por si”, estratégia que, historicamente, precede o homem “salve-se quem puder”.

Berlim, sim ao apoio à Grécia e sem maioria no Bundesrat (projecções)

Quem sabe o que a Merkel terá pensado: muito tem sido feito até agora para permitir a ajuda aos Gregos e para evitar que o Euro imploda sobre si a primeira rajada do vento especulativo, enquanto os seus eleitores decidiram puni-la nesta última consulta.

Segundo as primeiras projecções, de facto, parec que a coligação de democratas-cristãos e liberais foi derrotada nas eleições regionais na Renânia do Norte-Vestfália e perde a maioria no Bundesrat, o Senado Federal das Regiões.

Talvez a sua teimosia em querer emprestar o dinheiro para Atenas tenha tido o efeito temido sobre os eleitores alemães?

O FMI pelo contrário, já acabou a própria reunião e como não é eleito por ninguém decidiu sem problemas emprestar à Grécia 30 bilhões de Euros. O previsto, portanto.

Agora, quem paga?

Lembra-se dos famosos Parâmetros de Maastricht?

Para aderir ao euro era preciso ter as contas em ordem. A União emitiu um decálogo, ou melhor, uma espécie de poker de objectivos para ser atingidos, para demonstrar que as contas estavam em ordem e que a nação era digna de aderir à moeda única.

Um dos Parâmetros de Maastricht era:

Deficit / PIB de 3%.

Sim, mas o que é esse deficit/PIB?

Deficit significa “deficit público”, isso é, as entradas correntes menos as saídas correntes: quanto ganha o Estado num ano menos quanto gasta o Estado num ano.

Normalmente, os Estados gastam mais do que ganham, e isso é normal se pensarem no custo da educação pública, por exemplo.

Se todavia gastam monstruosamente mais do que ganham, por exemplo, com uma pública administração parasita, impostos pagos por poucos e outros exemplos, estão condenados a afundar nas dívidas.

Um deficit ao 3% do PIB é considerado aceitável.

Sabemos como a Grécia fez: com um swap combinado com os bancos de investimento. Fez o jogo das três cartas.

O jogo hoje foi “descoberto”: o rácio deficit / PIB na Grécia, atingiu 13,6% este ano.

E, finalmente, mais uma vez para a série “e agora, quem paga? “

As dívidas totais: 2 vezes o PIB mundial

Estimativas do Sole 24 Ore, utilizando-se diversos estudos e bases de dados: se somarmos o total da dívida (pública e privada) de

* Estados Unidos
* Zona do Euro
* Grã-Bretanha
* Japão
* Canadá

chegamos a um numerário quase difícil de pronunciar: 130 mil bilhões de dólares.

Ou seja: duas vezes o PIB mundial.

Ou duas vezes e meia a capitalização de todas as bolsas do mundo.

Não é necessário ser especialistas em economia: mesmo um idiota qualquer, perante esta simples matemática, pergunta naturalmente:

e agora, quem paga?

Fonte: Informazione Scorretta

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