“Europa, levanta-te!”

Reportamos um artigo do jornalista Paolo Barnard.

Barnard escreve nos mais importantes quotidianos italianos e há muitos anos dedica-se ao jornalismo de investigação nas áreas da economia, da geo-política, da corrupção.

Neste artigo enfrenta o assunto da dívida pública e aponta o dedo para uma questão extremamente delicada (e bem pouco divulgada): a soberania monetária.

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Faço um apelo aos poucos que ainda usam a cabeça, por favor, olhem.

A Europa do euro está explodindo, e os próximos a terminar debaixo dos escombros serão Italianos, Portugueses e Espanhóis. Em seguida, Franceses e Alemães. Porquê? Porque todos nós adoptamos a moeda única, o euro, que está suspenso no nada, e não tem um estado soberano que o regulamenta, ninguém sabe a quem pertença, só podemos usar, não possuir esta moeda. Está todo aqui o desastre.

Eu já escrevi que, se a Grécia fosse ainda um Estado soberano que imprime moeda não teria tido nenhum problema, porque poderia ter feito o que fizeram os EUA há 60 anos com uma dívida bem pior: imprimir moeda, pagar algumas dívidas e relançar a economia quase sem limite. É exactamente o que o Japão fez ao longo das últimas décadas.

Reparem: além dos Estados Unidos, que são endividadíssimos (10,4 triliões de dólares), hoje o Japão tem um rácio dívida-Produto Interno Bruto de cerca de 200% (o que na Europa seria considerado o inferno na terra). Mas ouviram alguma vez um alarme em catastróficos acerca do Japão? Existe alguém que está infligindo ao País os abusos que serão impostos aos gregos? Não! Porquê?

Porque o Japão é dono da sua moeda não convertível e não atrelada a outra moeda forte, e isso significa que o governo pode emitir moeda no País para curar, como descrito acima. E atenção: pode auto-financiar-se. É como se o marido está em dívida com a sua esposa … O que acontece? Nada, é o mesmo núcleo.
Nós Países europeus devemos, antes de gastar, pedir euros emprestados do Banco Central Europeu; assim para nós as dívidas são um problema porque nós temos que devolve-las para outros, não apenas para nós mesmos. Nós somos marido e mulher em dívida com agiotas, uma história muito diferente.

Repito: um Estado soberano com dinheiro, e o Japão é só um dos exemplos possíveis, pode emitir dívida soberana sem problemas, e re-financiar quase que indefinidamente, com o lançamento de outro dinheiro, o que, ao contrário do que todo o mundo vai dizer, não é um problema (os detalhes técnicos no meu estudo no futuro). O que acabei de dizer foi confirmado há alguns meses atrás, entre outros, pelo ex-presidente da Federal Reserve, Alan Greenspan, que disse que “o governo nunca pode ir à falência com dívidas emitidas em moeda soberana” . Na verdade o Japão, que emite enormes dívidas, não é pobre ou colapsado como a Grécia e ninguém o está crucificando.

Vocês que têm uma mente livre, não perguntam porque os E.U.A.permaneceram na varanda olhando, sem fazer nada, o nascimento do suposto gigante económico do euro? São estúpidos? Não. São espertos. Eles sabiam e sabem exactamente o que eu disse, ou seja, que com a união monetária nós ficaríamos presos na gaiola onde estamos: presos pelas dívidas que não podemos controlar e refinanciar com a nossa moeda soberana. Para quem não lembra, a Itália com a moeda soberana nos anos ’70 / ’80 estava cheia de dívidas e inflação, mas tinha uma economia muito forte que hoje é um sonho.

Vejam o caso, nos meados dos anos ’80, ou seja, com o nascimento dos poderes financeiros supranacionais que são agora aqueles que lucram com nossas desgraças, começou-se a pregar que os deficits eram uma praga, e isso não é verdadeiro. Releiam acima. Nunca o são num estado que tem a sua própria moeda, porque “um governo não pode ir à falência com dívidas emitidas em moeda soberana.” Alan Greenspan é bastante confiável e inteligente. Então, qual o propósito daqueles mantras obsessivos contra os deficits e dívida pública que ninguém hoje se atreve a desafiar?

Resposta: empurrar-nos para as mãos de uma união monetária com regras absurdas para limitar o deficit e a dívida, retirando a única arma possível (a soberania monetária) para lidar com a dívida, sem danos. E isto para agradar a quem? Resposta: o Tribunal Internacional de Investidores e Especuladores guiados justamente pelos Estados Unidos, com a desculpa de que a recuperação dos Estados endividados, mas já não soberanos, obrigam-nos a vender os nossos produtos a preços de saldos para os barracudas das finanças públicas, depreciar o trabalho com o desemprego, assim arruinando as vidas de gerações de seres humanos, as nossas vidas.

A crise na Europa, o calvário da Grécia e o nosso próximo calvário, são construídos acima do engano da união monetária, o engano do inexistente dever de consolidar as dívidas dos Estados, que nunca são um problema se os Estados são soberanos monetariamente. Um engano construído pelos suspeitos do costume.

Sair da união monetária agora! Voltar a ser Estados europeus com a moeda soberana e não-convertível, agora! Os gregos têm razão, e faço eco ao grito deles escrito nas encostas da Acrópole: “Povos da Europa, levantem-se.”

Acaba aqui o artigo de Paolo Barnard.

Uma breve nota pessoal: “criar” moeda não é uma coisa que seja possível fazer com tanta facilidade. A primeira consequência em aumentar o volume da moeda em circulação é a subida da inflação. O que pode ter efeitos devastadores. Ver o post Inflação ou deflação

Fonte: Paolo Barnard
Tradução: Massimo De Maria

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