O carrossel em pausa

Acaba assim um dia que poderia ter sido épico e que na realidade não passou de mediano.

A grande reunião entres os iluminados do FMI e da Alemanha trouxe um nada de facto.

Os únicos com razões de queixa são os Espanhóis que viram a própria avaliação ser baixada pela Standard & Poor’s.

Cedo ou tarde teremos que falar destas empresas de rating, instituições rigorosamente privadas que tanto poder têm nos destinos de inteiros Países. Umas autênticas aberrações, possíveis só num sistema doentio.

Mais no geral: a Grécia ainda não faliu; a ajuda chega, talvez sim, pode ser que não; os valores em causa variam entre os 45 bilhões de Euros, todos e já (proposta inicial), 120 bilhões espalmados em três anos, 155 bilhões não se sabe bem como.
O que é certo é que serão bilhões. De quem? Eheheh…de facto não podemos esquecer este insignificante pormenor: não recolha debaixo das couves, os bilhões são mesmo os nossos.

Boas notícias para quem, afinal? Para Portugal.

A Bolsa começou mal, continuou bem, fechou assim assim: pouco mais de 1 ponto percentual negativo.

Mas as verdadeiras boas novidades estão num outro lugar.

O Primeiro Ministro de Portugal, José Sócrates, encontrou o leader da oposição, Pedro Passos Coelho após este último ter pedido uma reunião para discutir os graves problemas económicos do País.

Eis o relatório do Público:

No final do encontro entre Sócrates e Passos Coelho, o primeiro-ministro anunciou que “o PSD e o Governo decidiram trabalhar em conjunto”, numa iniciativa convergente para antecipar para este ano três medidas do Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC) para responder à situação de crise internacional e de “ataque especulativo” ao euro e à dívida soberana portuguesa.

Uma das medidas a antecipar para 2010 é a “nova lei de condição de recursos” que tem por objectivo “estabelecer um quadro de justiça para aqueles que recebem prestações sociais”.

O executivo vai ainda propor alterações ao subsídio de desemprego de modo a “garantir que ninguém tem vantagem em ficar no subsídio de sempre apenas por ser uma situação mais vantajosa do que estar a trabalhar”

Uma terceira medida é “avançar já” com “auditorias e fiscalizações às prestações sociais”.
“Este governo está absolutamente determinado em fazer tudo para responder à situação internacional, para que os objectivos do PEC sejam cumpridos”, disse José Sócrates.

Mais em pormenor:

Os desempregados subsidiados vão ser obrigados a aceitar, no primeiro ano, uma oferta de emprego cujo salário seja 10% superior ao valor do subsídio. A partir do 13º mês, basta que a oferta iguale o valor do subsídio, para que os beneficiários sejam obrigados a aceitar a oferta.

O regime actual é bem mais generoso. A lei estabelece que os desempregados são apenas obrigados a aceitar um salário 25% superior ao subsídio nos primeiros seis meses. A partir do sétimo mês o acréscimo é de 10%.[…]

O governo pretende, além disso, flexibilizar o regime de subsídio de desemprego parcial, que permite acumular rendimentos de trabalho, como prestações de desemprego.

No âmbito do combate à fraude, está ainda previsto o encurtamento dos prazos dos processos que conduzem ao corte do subsídio por recusa de emprego conveniente. As faltas de comparência são uma das situações que podem conduzir à cessação.

Além disso, a inscrição de trabalhadores na Segurança Social passará a ter que ser feita no início da prestação de trabalho, com excepção dos contratos de trabalho de muito curta duração.

Metade das entrevistas de emprego passarão a ser acompanhadas por técnicos do Estado e os métodos e procedimentos para as sanções serão flexibilizados.[…]

Recorde-se que ainda hoje o Governo anunciou que vai acelerar as medidas de fiscalização de atribuição do subsídio de desemprego.[…]

O Governo adiou também a assinatura do contrato para a construção da auto-estrada do Pinhal Interior. A assinatura do contrato, com a Mota-Engil, estava agendada para amanhã, mas foi adiado.

(Fonte: Jornal de Negócios)

Além da boa mossa política do leader do PSD, o que mais conta é que nesta altura Portugal pode responder aos ataques especulativos com coesão política. É já um primeiro passo.

Serão suficientes as quatro medidas para arrefecer a Bolsa de Lisboa? Depende.

A previsão é simples: se a União Europeia der um sinal forte, isso é, ajuda para Grécia em tempos reduzidos, então esta operação que implica magros resultados pode até bastar. Mesmo assim seriam precisas outras decisões “já” e sabemos que a classe política está a trabalhar nisso.

Caso contrário (sem ajuda) a resposta é não. É óbvio que a causa de todos os males não são os desempregados ou as autoestradas. Caso este segundo cenário venha a confirmar-se (hipótese mais provável), nos próximos dias serão tomadas outras medidas. Medidas que podem doer.

Mas por enquanto é tudo. Amanhã há mais.

Ipse dixit.

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