Moral Hazard

Moral Hazard. Nunca ouviram?

Vamos ver a definição de Wikipedia:

O conceito de risco moral (ou Moral Hazard) se refere à possibilidade de que um agente econômico mude seu comportamento de acordo com os diferentes contextos nos quais ocorre uma transacção económica.

Dito de outra forma: compramos um carro com bom aspecto e bom desconto. É uma ocasião, pois temos também o livro das revisões e o carro sempre teve uma vida cuidada. Passados poucos dias o carro já não funciona. Azar. Ou talvez não. Talvez o vendedor tenha tido acesso a informações que faziam pressupor este desfecho. Mas podemos provar isso?

No mundo dos carros existe a garantia. No mundo da economia e da finança não. por isso acontecem coisas feias, como explica Il Grande Bluff:

Tudo como antes, aliás, pior que antes.
E porque pior?
Por causa do Moral Hazard: porque com o custo do dinheiro muito baixo (nunca foi assim baixo) todos tentam alcançar rendimentos melhores com investimentos mais arriscados.
Por causa do Moral Hazard induzido pela “salvação garantida”: todos estão convencidos que já todos salvam todos.
Por isso as atitudes arriscadas multiplicam-se.
As apostas são ousadas, pois uma salvação está sempre por perto.
As mentes dos gestores abraçam sem hesitação o jogo da roulette russa, convencidos que a pistola não tenha a bala: cada vez um click, nunca um bang.

Nesta grande crise ninguém descontou os riscos dos próprios investimentos, das próprias escolhas. Pelo contrário: mais risco, mais ganhos.

A conta, todavia, acabou nas costas das dívidas públicas, isso é, nas costas de nós todos.
E a conta, cedo ou tarde, terá que ser paga, e a chiadeira das dívidas públicas indica mesmo isso.

Estamos perante um mercado anestesiado, com uma percepção de perigo alterada por causa da cobertura dos Estados.
É o Moral Hazard que desliga o medo; mas mesmo o medo é indispensável para perceber e evitar os riscos.
Com o medo anestesiado pego no meu carro e vou contra-mão na autoestrada sem aperceber o perigo: já sei que cedo ou tarde alguém do banco central irá ressuscitar-me. Mas os prejuízos provocados? Bom, estes ficam.
Até agora quem foi em contra-mão foi premiado e a curto prazo continuará a ser premiado.
Mas se esta mentalidade não mudar, o colapso é apenas adiado.

Por isso Angela Merkel falou em haircut, corte de cabelos. Na prática avisou: meus senhores, a conta não pode ser paga só pelo Estado. De facto, tentou uma saída da espiral do Moral Hazard.

Resultado: acusações, insultos, pressões, telefonemas de Obama & C., FMI, UE…

Mas, acrescentam nós, o mercado ainda não é maduro e quer continuar com as mesmas regras. Até quando? Até quando alguém não tocar o despertador. E não podem ser só as palavras da Merkel, será preciso algo mais. Já acordaram por causa dum balde de água fria? O conceito é o mesmo.

E, para concluir num dia no qual tudo parece ter voltado à normalidade (a Bolsa de Lisboa até ganha), um economista que o leitores de Informação Incorrecta já conhecem: Nouriel Roubini.

Nouriel Roubini, professor da Universidade de Nova Iorque que previu a crise no crédito, considera que a crise na Grécia representa apenas a “ponta do iceberg” do problema da dívida soberana, que irá provocar uma alta na inflação e falências e pode chegar aos Estados Unidos.

Os investidores estão “a sair da Grécia, Espanha, Portugal, Reino Unido e Islândia”, afirmou Roubini durante uma conferência na Califórnia, acrescentando que “infelizmente, nos Estados Unidos os investidores ainda não estão a sair”.

O economistas mostra-se preocupado com a subida da dívida soberana em diversos países e adianta que se o problema não for combatido, os países vão entrar em incumprimento ou registar uma forte subida da inflação, uma vez que os governos irão monetizar a sua dívida e imprimir moeda para combater os défices orçamentais.

“Os mercados hoje estão preocupados com a Grécia”, mas a “Grécia é apenas a ponta do iceberg, ou o canário na mina de carvão, para problemas orçamentais de escala muito maior”, refere Roubini, acrescentando que aumentar impostos “não será suficiente” para resolver o problema.

Reiterou que a Grécia poderá ser forçada a sair do euro, o que tornará a moeda única uma divisa com menor liquidez e considerou que “fará sentido” constituir uma zona euro mais pequena.

Roubini prevê também que o problema da dívida chegue aos Estados Unidos. “O risco de algo de sério acontecer aos Estados Unidos no espaço de dois ou três anos vai ser significativo”, uma vez que “em Washington não há vontade de fazer nada”, a menos que sejam forçados pelos mercados.(Fonte: Jornal de Negócios)

Pois. Esperando o balde…

Ipse dixit.

Fontes: Il Grande Bluff, Jornal de Negócios

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