Por vezes ler os jornais pode provocar impressões longe da realidade.
Por exemplo: o mercado imobiliário dos Estados Unidos.
Ao ler os títulos destes últimos dias parece haver um autêntico boom nas aquisições de casa; de repente a crise acabou e os americanos (mas onde tinham escondido os dólares?) compram tudo o que possa ter uma porta e uma janela.
Venda de casas nos EUA em Março subiu ao nível mais elevado desde 1963 (Oje)
Vendas de casas novas nos EUA sobem 27% em Março (G1 Economia e Negócios)
A venda de casas novas nos Estados Unidos aumentou 26,9% em Março, atingindo o nível mais alto em oito meses. (Jornal de Negócios)
Vendas de casas novas superam previsões nos EUA (Brasil Económico)
E estes são só alguns exemplos.
Tentamos contextualizar os dados? Boa ideia.
No seguinte gráfico é apresentada a real situação do mercado imobiliário dos EUA:
A seta verde indica as vendas de casas. Vista assim a situação muda um pouco, não é?
Temos depois de ter em conta que para este “boom” de vendas existem outras razões, além da alegada retoma:
- em Abril acaba o bónus governativo para a aquisição da primeira habitação.
- em Janeiro e Fevereiro a neve e o frio em geral obrigaram ao fecho temporário das obras; com o primeiro calor as obras são retomadas
- taxas dos mútuos muito em baixo, dado que a Federal Reserve continua com o custo do dinheiro perto do zero. Uma situação nunca observada antes nos EUA.
- os preços das casas baixaram 5% no último ano
- o sector imobiliário é cíclico e nos EUA a primavera representa um dos períodos melhores.
Para completar o quadro, eis o indicador do mercado imobiliário dos EUA:
O actual valor é o pior dos últimos 25 anos, ultrapassado só pela queda abrupta de Janeiro de 2009, isso é, no pleno da crise.
Resumindo: há sinais de retoma, é inegável, e muitos factores macro-económicos melhoraram nos últimos meses. Mas a crise ainda não acabou e não seria má ideia fornecer aos leitores dados correctos e contextualizados.
Ipse dixit.
Fontes: Il Grande Bluff, Calculated Risk