Quirguistão e o Grande Tabuleiro

As notícias ainda não são certas, mas parece que a situação no Quirguistão esteja a definir-se com a leader da oposição, Roza Otunbayeva, que assume o controle com um governo provisório com seis meses para preparar novas eleições.

Ao que parece, o agora ex presidente Kurmanbek Bakiev abandonou a capital, Bichkek, de avião após o começo da revolta cujo início pode ter sido a subida dos preços dos combustíveis. Uma revolta que quer acabar com a corrupção e a má gestão do dinheiro público, muito do qual teria sido desviado pelo Bakiev para fins pessoais. 

Para compreender melhor o que acontece neste longínquo País asiático vale a pena retomar um artigo de Informazione Scorretta, cujo titulo é “O grande tabuleiro”. Nele é possível encontrar as razões pelas quais Bakiev foi eleito presidente após uma das “revoluções coloridas” que tiveram lugar no Quirguistão assim como em outros Estados da ex União Soviética. O que é uma revolução colorida? Vamos ler o artigo:

O Grande Tabuleiro
 
Zbigniew Brzezinski é o senhor ao lado.

Nascido em Varsóvia em 1928, foi National Security Advisor com o presidente Jimmy Carter; com Reagan foi presidente da President’s Chemical Warfare Commission enquanto com a administração Bush senior foi co-chairman da National Security Advisory Task Force. O seu apoio ao presidente Bush constituiu causa de ruptura entres os Democratas.

Para alguns é um neocon, dado os seus relacionamentos com Wolfowitz..Mas as suas posições acerca das duas guerras do golfo , como também o parcial apoio ao trabalho de Walt e Mearheimer (influência da lobby israelita na política estrangeira americana), podem fazer pensar de forma diferente.

Brzezinski é um teórico da expansão a Leste da Nato e foi um dos criadores da estratégia de ajuda aos movimentos religiosos do Afeganistão para combater a expansão soviética.

Zibì, podemos chama-lo assim, é uma mente complexa, dotado de apurada inteligência, óptimo estratega. Grande conhecedor de geo-politica. É uma pessoa que cuida dos interesses americanos no mundo e do domínio dos EUA sem os típicos delírios neocon.

Um dos melhores tratados de geo-politica da história moderna é o seu livro “The Grand Chessboard”, O Grande Tabuleiro.

Nele, Zibí teoriza que o controle da Eurásia é fundamental para o exercício da dominação global porque naquela zona estão concentradas:

  • o 75% dos recursos energéticos do mundo
  • o 75% da população mundial
  • os 2/3 das maiores economias do mundo
  • o 60% do Produto Interno Bruto mundial

É suficiente observar um mapa para perceber que quem controla a Eurásia controla o Vizinho Oriente, tem a África de perto e torna periferia Oceania e América.

Sempre segundo Zibí,

  • após o fim da Guerra Fria os EUA são a única super-potência
  • é possível desfrutar esta situação para exercer o domínio
  • é preciso, todavia, redimensionar a Rússia até o nível de média potência e antecipar um seu possível regresso como super-potência.

Caso contrário, a Rússia – dada a própria posição natural – estará favorita no controle da Eurásia e não os EUA.

E será fundamental adquirir posições de domínio em alguns Estados-chave, fundamentais pelas posições deles.

Um deles é a Georgia, os outros o Irão, a Coreia…(e também o Quirguistão, NDT)

A estratégia do cerco

Provavelmente foi a visão de Brzezinski que inspirou a estratégia do cerco da Rússia.

Esta táctica consiste em criar uma cintura de pequenos Estados não-colaboradores à volta da Rússia, de maneira que seja possível isolar os seus recursos e tornar complexo o acesso da riqueza aos mercados de destino.

Os pequenos Estados à volta da Rússia foram criados espontaneamente depois da queda da União Soviética.

O que era preciso eram só oportunas mudanças de regime em muitos daqueles pequenos Estados.

As revoluções coloridas

A revolução laranja na Ucrânia, a revolução azul na Bielorrússia, a revolução das rosas na Geórgia, são só alguns exemplos de revoluções “espontâneas” que provocaram mudanças em muitos pequenos Países ex-soviéticos.

Ouviram falar das salsichas grátis para os manifestantes laranjas na Ucrânia? Não é que naquele País haja assim tanto dinheiro para cuidar dos cidadãos com camiões de salsichas grátis na praça. E as bandeiras, e os balões, e os megafones…

A CIA tem uma longa tradição na área da subversão de regimes, da ajuda às oposições, da criação de redes stay behind, da agitação popular. Técnicas eficientes e consolidadas. Provavelmente utilizadas ao longo destes últimos anos nas pequenas repúblicas ex-soviéticas no quadro da estratégia de cerco.

Textos: Informazione Scorretta
Tradução e adaptação: Massimo De Maria

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