GEAB 43 – Parte I: O fim da City e de Wall Street

Está disponível o GEAB nº 43.

A crise marca o fim da supremacia da esfera financeira e o declínio da City e de Wall Street

É com uma aproximação geo-politica, mas também económica, financeira e monetária, que Europe2020 anunciava em 2006 a chegada da que baptizamos “crise sistémica global”. O mesmo tipo de aproximação agora parece confirmar que, no mundo post-crise, será a economia real a desenvolver o papel de protagonista, enquanto as últimas décadas foram marcadas pela economia virtual do sector financeiro que estava no centro dos negócios.

Em 2006, com a consideração que a crise era sistémica e global, quisemos realçar o facto da queda económica ter reflectido a queda do mundo tal como conhecido desde 1945, na sua forma centrada no Oeste, herança da II Guerra Mundial reforçada pela queda do Muro de Berlim.

As modalidades financeiras, económicas, monetárias, sociais, políticas e estratégicas que surgirão ao longo das várias fases da crise representarão expressões duma mudança geo-politica de dimensões históricas.

Os desenvolvimentos acontecidos a partir de 2006, de facto, parecem mostrar que esta ruptura pede um exame mais profundo do que tínhamos previsto. É provável que estejamos a sofrer os efeitos shock do fim de um período começado há 200 ou 300 anos, com o inicio da dominação global europeia e o nascimento da dominação financeira do bloco anglo-saxónico.

Há um ano pormenorizámos no GEAB um conjunto de sinais que apontavam para o fim deste período secular:

  • Em 2009 a taxa de interesse do Banco da Inglaterra alcançou o ponto mais baixo (0,5%) desde a inauguração do banco em 1694, 315 anos de história. 
  • Em 2008 a Caisse des Depots, o braço financeiro do estado francês desde 1816, sofreu a sua primeira perda anual em 193 anos. 
  • Em 2009, Abril, a China alcançou o status de primeiro partner comercial do Brasil. Há dois séculos a Grã Bretanha tinha acabado com a hegemonia portuguesa e os Estados Unidos substituíram a Grã Bretanha nos anos ’30.
  • A percentagem de China e Índia entre as economias mundiais caiu desde o fim do séc. XVIII e voltou a subir nos últimos 20 anos, e de forma muito rápida. São basicamente economias reais. O regresso em força marca automaticamente uma expansão da economia real face à economia financeira virtual (em particular americana).

A inversão de tendência de um período particularmente comprido acompanha a queda da mais recente “bolha” que se formou de maneira progressiva desde os anos ’70 e que podemos definir como “Os excessos dos últimos dias do império”. Ao saber que uma crise deste alcance é uma formidável contracção temporal, as mudanças que acontecem de forma normal em décadas ou séculos podem acontecer no prazo de poucos anos. 

Desde o começo de 2008, com uma série de bancarrotas gigantes de Wall Street e com as “salvações” do governo americano, estamos a testemunhar a queda das duas âncoras da bolha financeira mundial: New York e Londres, o coração da rede de acções, bond, mercados, agências de rating, média internacionais da finança. Os outros centros têm escassa importância quando comparados com estes dois gigantes.

Estes dois centros do império anglo-saxónico, Londres “alto reino” e New York “baixo reino”, estão a dividir-se perante os nossos olhos:

Londres existe só graças ao enorme suporte directo do governo inglês. Sem o dinheiro do contribuinte inglês os parâmetros da City teriam desaparecido desde 2008 (KPMG comparou a taxação das instituições financeiras de 8 centros financeiros mundiais. O resultado é claro: num só ano Londres caiu desde o 4º até o último lugar)

New York está também sob terapia governamental e sobrevive só com a politica do dinheiro com custo zero que a Federal Reserve perseguiu nos últimos 2 anos, juntamente aos milhares de milhões de mútuos que sempre a Fed adquiriu para evitar a queda total do mercado imobiliário comercial dos EE.UU. Assim como em Londres, 2010/2011 marcará o fim destas politicas, levando Wall Street para uma nova fase de fraqueza. 

Além disso, a razão de ser geo-politica desta bolha entrou na fase terminal. Este sector financeiro mundial começou o seu crescimento nos anos ’70 (ver o gráfico em baixo) em parte pela decisão americana de deixar o dólar flutuar, em parte pela necessidade de reciclar os enormes surplus financeiros dos países produtores de petróleo.

EE.UU. Economia real (em preto) e sector financeiro (em vermelho)
Fontes: Bureau of Economis Analysis e Federal Reserve System

Este foi o primeiro sinal que os EE.UU. já não eram capazes de sustentar o papel central na nova ordem mundial assim como tinha acontecido após 1945, que marcou o irresistível crescimento da economia virtual. Para manter esta invenção quanto mais possível longe da economia real, os EE.UU. facilitaram o aparecimento de novos “players”, instrumentos financeiros e produtos que permitiram ao nicho de se transformar em bolha. 

Neste aspecto, a aceleração dos desenvolvimentos dos quais a crise é ao mesmo tempo símbolo e catalisador, contribui para fazer “explodir” a bolha da economia virtual e provoca fraqueza em todos os elementos que permitiram a sua existência.

Em breve a segunda parte do GEAB nº 43. Stay tuned!

Ipse dixit.

Texto de Informazione Scorretta, Felice Capretta
Tradução Massimo De Maria

3 Replies to “GEAB 43 – Parte I: O fim da City e de Wall Street”

  1. Olá!

    Está disponível no site Clube de Autores a série de livros Maçonaria Revelada. Acho que você vai gostar muito.

    Tem um vídeo no You Tube, inclusive.

Obrigado por participar na discussão!

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