Paramos com as más notícias e vamos falar de comida. Comida que faz mal, óbvio.
Não este ketchup.. |
O ketchup. Quem não gosta do ketchup?
Bom, eu na verdade não sou um grande apreciador, mas é um dos condimentos mais vendidos em todo o mundo.
Afinal um pacote de ketchup é uma coisa banal. Nos fast-food até é dado de graça.
O ketchup é o exemplo perfeito de quanto doentia possa ser a nossa economia.
Em 1989, o Instituto Sueco da Alimentação e Biotecnologia fez um estudo acerca do impacto do condimento no meio ambiente e na saúde humana. E os resultados foram surpreendentes.
O estudo tinha como alvo a marca de ketchup mais vendida no País.
Os tomates, ingredientes base da preparação, eram cultivados em Italia: normal, deve ser bem difícil fazer crescer um tomate em Estocolmo. Eram depois transformados num molho espesso para serem transportados.
E aqui começam as surpresas.
Os sacos assépticos para o transporte do molho eram fabricados na Holanda. O que é esquisito: não havia sacos na Italia ou na Suécia?
Portanto o saco chegava desde a Holanda, era enchido com molho de tomate em Italia e ia em frente na sua viagem até a empresa sueca. Aqui era preparado o ketchup, depois embalado em garrafas de plástico vermelho produzidas no Reino Unido, com materiais importados de Estados Unidos, Japão, Bélgica, Italia e Dinamarca.
E como se fecha uma garrafa? Com uma tampa, obviamente feita na Dinamarca.
O Instituto não tratou de outros factores: o ácido cítrico, as especiarias, os outros ingredientes, as máquinas utilizadas no processo de confecção, a distribuição do produto acabado…
Mesmo assim, dá para perceber que para produzir uma confecção de condimento entram em jogo, no mínimo, empresas de 7 Países.
E quanto custa este raio de ketchup?
Nem deveria ser consumido: deveria ser guardado num expositor de vidro e mostrado como exemplo de
cooperação internacional bem sucedida.
Mas o ketchup custa pouco, muito pouco.
E a explicação é simples: chama-se “mercado”.
A empresa sueca olha para o mercado e procura os fornecedores capazes de oferecer o preço melhor. Não importa onde, o que interessa é o preço. Desta forma a produtora pode maximizar os lucros e, ao mesmo tempo, oferecer um produto acabado com um preço popular.
Todos ganham. Ou não?
Não. Ninguém ganha.
Produzir, embalar e transportar uma confecção de 1 kg de ketchup desta maneira custa 5,2 gramas de CO2. A mesma quantidade emitida por um Fiat Punto Turbo Diesel para percorrer 600 metros.
Multipliquem por todas as embalagens de ketchup produzidas na empresa. E multipliquem por todo o ketchup produzido no mundo.
E, para acabar, repitam este processo por toda a mercadoria criada nesta maneira.
Eis o problema: qual é esta mercadoria?
Os consumidores suecos compram o ketchup convencidos de adquirir um produto nacional. No pacote não está escrito “Made in Suécia mais outros 6 Países“. Só “Made in Suécia“.
Por isso, os vários convites para “comprar nacional”, correctos à partida, não defendem a nossa escolha.
E o consumidor, ainda uma vez, não é livre de escolher.
Bom, mas isso não é uma novidade.
Fonte: The Ecologist