Pergunta Bruno: como anda a Grécia?
Justa observação. Afinal foi o primeiro Pais a ser vendido ajudado pela Dupla Maravilha, FMI e UE.
Isso aconteceu em Maio, há quase 7 meses, nesta altura deveria ser possível observar os primeiros resultados da cura.
E de facto é possível.
Aquilo que parecia um País à beira do abismo, graças ao tratamento milagroso, tornou-se um pequeno paraíso. Deve ser por isso que nunca chegam notícias: é para evitar vagas de ciumes. Se os Europeus estivessem informados acerca da situação grega, todos queriam ser socorridos.
E, claro, não há espaço para todos.
Aumento de 3,1 pontos percentuais do desemprego registados na Grécia no terceiro trimestre de 2010, comparado com o mesmo período de 2009, de acordo com dados da Autoridade Grega de Estatística.
O total dos sem trabalho é agora 621.938, numa população de 11.260.402. A taxa mais elevada dos últimos 10 anos.
Isso significa que os Gregos têm mais tempo para gastar com as próprias famílias, o que é sempre bom.
E também a produção industrial aponta para esta explicação: em Outubro -4,2%.
Esta sim que é vida.
Tendo mais tempo à disposição, os Gregos costumam encontrar-se em manifestações de alegria, a última das quais ocorreu ontem.
Definida pela oposição como “greve geral”, foi na verdade uma maneira para agradecer ao governo. Até foi atirada uma garrafa de espírito ardente para o interior do Ministério das Finanças, um claro convite para um brinde; infelizmente o Ministério pegou fogo, mas isso em nada perturbou a festa.
Um ex ministro quis juntar-se à festa: Kostas Hatzidakis, ex ministro dos transportes, é infelizmente conhecido por ser uma pessoa muito distraída e ontem confirmou esta impressão ao chocar contra muitos socos. Como é possível comprovar neste vídeo:
Sexta e sábado nova festa, desta vez dos jornalistas.
A euforia toma conta de todo o País, sem excepções.
Ontem o aeroporto de Atenas teve que encerrar, evidentemente com medo que os aviões pudessem ser confundidos pelo elevado número de fogos de artificio.
E a propósito de transportes: estradas, portos, aeroportos e comboios, tudo vai ser privatizado ao longo dos próximos meses. A ideia do governo de facto é a seguinte: porque só o Estado tem que ter estas riquezas? Todos têm o direito de possuir a própria autoestrada ou o próprio caminho de ferro!
Por isso casinos, lotarias, frequências rádio, televisões, manufacturas: tudo está à venda, para a felicidade dos Gregos!
O que demonstra também a profunda transformação que sofreu a classe política: antes vista coma retrógrada e corrupta, com a ajuda de FMI e UE tornou-se na vanguarda do continente.
Mas é toda a sociedade grega que está a evoluir depressa.
O Presidente da Câmara de Maroussi, George Patoulis, é um verdadeiro pioneiro neste sentido: com a aprovação do Ministério, acabou de lançar um cartão para melhorar o serviço de saúde e as vantagens estão à vista.
Os residentes agora têm acesso a dois dos maiores hospitais privados do País.
O diário Rizospatis reporta a boa experiência dum destes moradores que, após ter-se sentido mal, deu entrada numa destas estruturas privadas e a seguir duma breve visita, foi convidado para ficar no hospital e submeter-se a uma série de controle: análises ao sangue, ecografia e teste de stress cardíaco, tudo pela ridícula quantia de 300 Euros!
Entretanto George Papandreou, o conhecido herói nacional, apresentou ao Parlamento um novo pacote de medidas para permitir que o actual estado de graça não acabe.
Uma nova manobra para um total de 6 biliões de Euros.
Novas taxas?
Nem pensar, os políticos aprenderam a lição da Dupla Maravilha e agora está muito em frente também neste aspecto.
O mesmo Papandreou, que nestas últimas semanas trabalhou com os enviados do FMI e da UE, realçou que as receitas não derivarão de novos impostos mas da subida de IVA.
Que, como todos sabem, não é um imposto mas uma contribuição voluntária que cada cidadão quer pagar a qualquer custo.
E a União Europeia?
Bruxelas está tão contente com a situação de Atenas que quis participar na festa: e decidiu no mês passado enviar uma prenda de 9 biliões de Euros.
Nada mal, eh?
Bom, em verdade sabemos como são os políticos da União, e de facto Bruxelas pediu dois pequenos favores em troca.
O primeiro é que o Estado grego assuma um novo trabalhador apenas quando outros 5 forem reformados.
O segundo é introduzir a possibilidade de negociar violações dos contratos de categoria, isso é, quando o trabalhador é pago menos do que deveria.
“Só isso?” perguntaram maravilhados os Gregos em coro. “Ora essa, óbvio que vamos fazer estes pequenos favores, somos ou não somos a grande família europeia?”
Grande povo este grego!
Claro, todo este bem estar acaba com o gerar inveja.
Os Americanos da Moody’s, por exemplo: vivem num País, os Estados Unidos, mergulhado numa crise sem fim.
Olham para a Grécia e que vêem? Um pequeno paraíso.
E partem as retaliações.
A agência quer cortar o rating e porquê?
1. porque acha que a Grécia não pode conseguir reduzir a dívida que, pelo contrário, aumenta.
2. porque as receitas baixam em relação ao ano passado.
Coitada da Moody’s.
Não consegue perceber que esta é exactamente a cura implementada pela Dupla Maravilha, FMI e UE.
Mas a inveja não é apenas americana.
Há sabotadores em todos os lados, até no coração da Europa.
Eurostat, por exemplo, acaba de difundir dados claramente falsos, segundo os quais o deficit grego em 2010 será de 9,4% contra o 8,1% previsto.
Ridículo.
Assim como sem sentido é a previsão da dívida que deveria alcançar, sempre segundo as más vozes, 144% do PIB contra estimativas de 133,3%.
Nem vale a pena comentar, pois só quem não entende os efeitos benéficos do tratamento FMI-UE pode escrever coisas assim.
Para acabar, a satisfação de Dominique Strauss Kahn, um dos grandes heróis do povo Grego.
Questionado acerca da situação grega, assim respondeu hoje:
O mundo entende que estamos a tentar salvar a economia.
Fonte: Enet, To Vima, Rizospatis
Fotografias: Il Sole 24 Ore