Estamos a perder tempo

Vladimir Bukovsky, um ex dissidente da antiga União Soviética de 63 anos, tem  um medo: será que a União Europeia está a tornar-se uma nova URSS? Não comunista, claro: mas totalitarista.

Num discurso em Bruxelas na semana passada, Bukovsky definiu União Europeia como um “monstro” que deve ser destruído o mais depressa possível, antes que se transforme num verdadeiro estado totalitário.

Bukovsky é um dos heróis do século XX. Quando jovem, tinha denunciado o uso do internamento psiquiátrico forçado dos presos políticos na antiga URSS e foi por 12 anos (1964-1976), nomeadamente desde os 22 anos de idade até os 34, nas prisões soviéticas, campos de trabalho e hospitais psiquiátricos.

Em 1976 foi expulso do País e encontrou refugio no Ocidente. Em 1992 foi convidado pelo governo russo como perito para depor no julgamento realizado em Moscovo, para determinar se o Partido Comunista soviético tinha sido uma instituição criminal.

Para dar-lhe a oportunidade de preparar o processo, Bukovsky obteve o acesso a um grande número de documentos nos arquivos secretos soviéticos.

Ele é, portanto, um dos poucos que foram capazes de ver estes documentos, que ainda são segredo. Usando um pequeno scanner e um computador portátil, conseguiu copiar muitos documentos (alguns top secret), incluindo os relatórios do KGB para o governo soviético.

Entrevista com Vladimir Bukovsky

É um ex-dissidente soviético conhecido em todo o mundo. Recentemente, revelou uma semelhança perturbadora entre a União Europeia e a antiga União Soviética. Pode esclarecer o seu pensamento?

Refiro-me às instituições, a uma certa ideologia, programas, direcção tomada, expansão inevitável, cancelamento das diferentes nacionalidades. Este foi também o objectivo da própria União Soviética. A maioria das pessoas não percebe o que está a acontecer. Os Europeus não sabem, nós sim porque fomos educados na União Soviética, onde tínhamos que estudar a ideologia soviética, tanto no ensino médio como na faculdade. O objectivo final da União Soviética era a criação duma nova entidade histórica, o povo soviética, em todo o mundo.

O mesmo objectivo é perseguido hoje pela UE. Estão a tentando criar um novo povo. Chamam isso de “povo europeu”, seja qual for o significado atribuído a esta expressão. De acordo com a doutrina comunista, assim como em muitos ramos do pensamento socialista, o Estado, o Estado-nação, tem que desaparecer. Na URSS, o Estado soviético tornou-se muito poderoso e as diversas nacionalidades foram eliminadas. Mas, no momento do colapso, aconteceu o processo inverso. Os sentimentos sufocados de identidade nacional ressurgiram novamente, e quase destruíram o País. E foi realmente terrível.

Acha que a mesma coisa pode acontecer quando a União Europeia entrará em colapso?

Com certeza, a psicologia humana é como um elástico que pode ser puxado, mas não além dum certo limite. Uma faixa de borracha pode ser puxada mais e mais, mas nunca devemos esquecer que, entretanto, está a acumular-se energia para retornar a forma original. A psicologia humana é como um elástico, que sempre tende a voltar rapidamente para a própria  forma original.

Mas todos os Países aderiram à União Europeia voluntariamente.

Não, as coisas não estão assim. Olhem para o exemplo da Dinamarca, que votou duas vezes contra o Tratado de Maastricht. Olhem para a Irlanda [que votou contra o Tratado de Nice]. Olhem para todos os outros Países, estão todos sob pressão. É como uma espécie de chantagem. A Suíça foi forçada a votar cinco vezes sobre a mesma pergunta do referendo. Todas as cinco vezes foi rejeitada, mas ninguém sabe o que vai acontecer na sexta ou na sétima. É sempre a mesma história. É um truque simples. O eleitorado é obrigado a votar até a votação correr como pretendido. Nesta altura já não se pede para votar. Porque parar? Continuamos a votar. A UE parece um casamento feito sob a ameaça duma arma apontada para a têmporas.

O que acha que os jovens deveriam fazer acerca da União Europeia? Qual o objectivo, a democratização da instituição ou a sua eliminação?

Acho que a União Europeia, tal como a União Soviética, não pode ser democratizada. Gorbachev tentou fazê-lo, e embora isso dissolveu-se. Este tipo de estruturas políticas-institucionais não podem ser democratizados.

Mas temos um Parlamento Europeu eleito pelo povo.

O Parlamento Europeu é eleito com um sistema eleitoral de tipo proporcional, que todavia não é uma garantia de representatividade. E vota acerca de quê? Da percentagem de gordura no iogurte, nesse tipo de coisa. É ridículo. Tem as mesmas funções do Soviete Supremo. Um deputado europeu fala em média seis minutos por ano no Parlamento. Não é um verdadeiro parlamento.

Excerto do discurso ao Parlamento europeu 

Vivemos num período de rápido, constante e sistemático desmantelamento da democracia.

Tomemos, por exemplo, este Legislative and Regulatory Reform Bill [projecto de lei de reforma legislativa e normativa]. Os Ministros tornam-se legisladores e podem legislar sem preocupar-se de prestar contas ao Parlamento.

A minha reacção imediata é: para que tudo isso?

A Grã-Bretanha sobreviveu a duas guerras mundiais, guerra com Napoleão, Armada Espanhola, para não mencionar a Guerra Fria, o período em que fomos informados de que a qualquer momento poderia explodir uma guerra nuclear mundial. No passado, nunca foi destacada a necessidade de introduzir este tipo de legislação ou de suspender as liberdades civis ou de introduzir poderes de emergência.

Por que precisamos disso agora? Tudo isso pode transformar-se numa ditadura, a qualquer momento.

A situação actual é muito grave. Os partidos políticos mais importantes foram totalmente cooptados no projecto europeu. Nenhum deles realmente se opõe a esse projecto. Os partidos tornaram-se instituições decadentes.
Quem defende as nossas liberdades? Parece que estamos a caminhar para o colapso, a crise do sistema. O resultado mais provável é que haverá um colapso económico na Europa, o que vai acontecer em tempo útil e vai acontecer como resultado deste crescimento em excesso de custos e taxas.
A incapacidade de gerar um ambiente competitivo, o excesso de regulamentação da economia, a burocracia, tudo isso vai levar ao colapso económico.

Especialmente a introdução do Euro foi uma ideia louca. A moeda nunca deveria ser politicamente imposta.

Nesse sentido não tenho dúvidas. Haverá um colapso da União Europeia, como foi para a União Soviética. Mas não esquecemos que quando esses momentos ocorrem, deixam por trás uma tal devastação que é precisa uma geração para assegurar que as feridas fiquem fechadas. Pensem no que acontecerá na altura da crise do sistema. Fortes tensões entre as nações. Poderia explodir tudo.
[…]

Deixe-me ser franco sobre isso: quanto mais cedo a UE for fechada, tanto melhor. Quanto mais cedo colapsar, menos dano vai fazer.

Mas temos de ser rápidos porque os eurocratas estão a mexer-se muito depressa. Vai ser difícil lidar com eles.

Hoje ainda é relativamente simples. Por exemplo, se um milhão de pessoas marcharem em Bruxelas, hoje esses indivíduos fogem para as Bahamas. Se amanhã metade da população do Reino Unido recusa pagar os impostos, nada de dramático vai acontecer e certamente ninguém vai para a prisão.

Ainda hoje, uma iniciativa deste tipo pode ser facilmente realizada.
Mas não sei o que vai acontecer amanhã com a Europol, que, entretanto, será totalmente desenvolvida e preenchida por ex-agentes da Securitate [serviços secretos da Roménia comunista, NDT] ou da Stasi [serviços secretos da ex Alemanha Oriental, NDT]. Tudo pode acontecer.

Estamos a perder tempo. Temos que vence-los. Devemos parar para reflectir e desenvolver a estratégia mais eficaz para o efeito máximo. Caso contrário, será demasiado tarde.

O que posso dizer? As minhas conclusões não são optimistas. Por enquanto, apesar de existirem alguns movimentos anti-UE em quase todos os Países, não são suficientes.
Por agora, estamos vencidos e estamos a gastar tempo.

Acabamos com uma nota de esperança, fornecida por Nuno Sav. É um vídeo de Frredomain Radio e o título é The Sunset of the State, o pôr do sol do Estado:

Fonte: ECPlanet, Youtube
Tradução e adaptação: Informação Incorrecta

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