E vamos.
Como antecipado, eis qual pode ser uma solução. Não para todos os problemas da Humanidade, isso não. Apenas alguns. E se calhar nem isso.
É sonhar, pode ser? Por enquanto não custa nada e afinal estamos na época natalícia, vamos com isso.
(advertência: o que segue foi escrito em mais ou menos 15 minutos, são algumas ideias, não um programa verdadeiro!)
Começamos.
Qual o problema? O problema é que a política perdeu a confiança dos cidadãos. Esta não é coisa nova: com um pouco de paciência é possível espreitar o que diziam da classe política nos séc. XIX ou ainda antes. É raro encontrar elogios.
Normal: o político muitas vezes é visto como uma espécie de parasita ganancioso, envolvido em trocas de favores ou até corrupção. Nos melhores dos casos a acusação é aquela de incompetência.
Verdade seja dita: muitas vezes estas são boas descrições, que bem retratam a realidade.
Se a intenção for mudar um pouco a sociedade, as alternativas são duas: ou uma revolução ou seguir a via democrática.
A revolução sabemos o que é: geralmente um acontecimento violento, quase sempre gerido por figuras que ficam nos bastidores e exploram o vazio de poder que foi criado. Além disso, a revolução é uma incógnita: sabemos como começa mas não sabemos como acaba.
A Revolução Francesa, por exemplo, cedo tornou-se um massacre de cidadãos, e poucos anos depois os Franceses tinham um novo imperador, com novas guerras. A Revolução de Outubro, na Rússia, acabou com o Romanov para começar algo bem pior.
A próxima revolução seria diferente? Alguém pode apresentar certezas neste sentido?
Nem falo de revoluções “pacíficas”, não vale a pena. E antes de falar em Ghandi, é favor ler um pouco mais acerca do assunto, obrigado.
Sobra uma revolução “do interior”, nas calhas democráticas. Melhor porque desfruta os mecanismos do sistema para uma mudança. Não é preciso inventar nada, o sistema, com todas as falhas dele, já está aí.
Perigosa? Porque o “novo” poderia ser absorvido pelo “velho”? Mas este é um risco sempre presente, também numa revolução violenta. Pensar que exista a possibilidade de mudar um sistema sem correr o risco de ser corrompido é pura ilusão: quando um sistema está em perigo, explora todas as possibilidades para preservar-se, e isso em qualquer circunstancia, violenta ou não.
Portanto, vamos falar de como poder entrar no jogo democrático para mudar as suas regras. Em primeiro lugar é preciso formar um partido. Podemos chama-lo “movimento”, “frente”, ou até mesmo “partido”, isso não interessa. Vamos chama-lo DD. Não “DDT”, mas “DD”, Democracia Directa. O importante é que apresente determinadas características:
- um programa extremamente simples
- um organograma igualmente simples
O programa deve concentrar-se em poucos pontos, entre os quais em destaque haverá sempre o poder de decisão dos cidadãos. Deve ser simples porque a) todos têm que poder percebe-lo b) se for complicado ou comprido ninguém irá lê-lo. Além disso, deve necessariamente ser simples: como a direcção política pertence aos cidadãos, que serão consultados pontualmente acerca das questões nacionais, o programa não pode conter se não indicações de carácter geral.
O organograma deverá ser constituído por poucas pessoas: um secretário e cinco juntas, cada uma com 5 pessoas. Uma junta política, uma junta económica, uma junta civil, uma junta ambiental, uma junta eleitoral. Particularidade: não haverá uma sede, a não ser fictícia por razões fiscais. E não pensem em tudo isso como um disparates: é assim que funciona o Movimento 5 Estrelas em Italia (costumam reunir-se em cafés).
Para candidatar-se a qualquer cargo no interior do partido será preciso e suficiente apresentar o próprio cadastro limpo. Caso o cadastro não esteja limpo, nada de candidatura (nota: esta não é uma norma nem justa nem inteligente pois seria preciso distinguir entre os vários tipos de condenação. Mas lá estamos: máxima limpeza para recuperar a confiança).
Depois, claro, haverá eleições primárias, internas ao partido, porque só desta forma será possível ser eleito (não há nomeações).
Campanha política interna ao partido: proibidos almoços, jantares, cartazes. Simplesmente: não será possível qualquer forma de propaganda. Uma semana antes da votação, cada candidato apresenta o próprio programa em vídeo-conferência aberta ao público: terá 20 minutos para as próprias propostas e 40 para responder às perguntas do público. Dois dias antes das eleições (facultativo) o candidato pode aparecer numa nova vídeo-conferência para dissipar as dúvidas entretanto surgidas.
Dois dias depois, eleições. Para votar será suficiente enviar um e-mail para o endereço electrónico do partido. No mail deverá estar presente o código pessoal fornecido a todos na altura da inscrição.
Qualquer cargo terá a duração de dois anos, sendo que será possível ser destituído antes do termo caso um número de eleitores equivalente a metade dos que votaram o candidato exprimam opinião neste sentido.
Ninguém poderá ser eleito por mais de que duas vezes consecutivas para qualquer cargo no interior do partido.
Acerca da primeira medida acho ser uma coisa razoável: a melhor forma de avaliar o desempenho dum representante é o juízo dos representados. Também não é admissível que um representante, uma vez entrado no mecanismo político, não possa ser removido, que depois é o que acontece hoje.
A segunda medida é estúpida mas necessária. É estúpida porque se um representante demonstrar valor, porque raio não pode ser reeleito? É necessária porque se a ideia for cativar a confiança dos eleitores, então qualquer partido deve excluir desde logo a possibilidade de tornar-se uma máquina de poder. E limitar a permanência num cargo limita também esta possibilidade.
Qualquer decisão no interior do partido deve ser submetida ao juízo dos eleitores. Qualquer, sem excepção. Difícil? Nem por isso: e-mail, sms, internet, meios não faltam para votar de forma rápida.
Tudo tem que passar pelos eleitores, os quais avaliam as propostas das juntas e autorizam o partido a proceder no parlamento.
O partido apresenta um relatório de contas entre o dia 15 de cada mês (referido, obviamente ao mês anterior).
Qualquer membro do partido deve apresentar a própria declaração dos rendimentos numa específica página do site do DD. Esta é uma medida alucinada, indigna de qualquer sociedade séria: mas, como já afirmado, se o objectivo for recuperar a confiança do eleitores, será um passo necessário.
O DD aceita doações dos cidadãos, em conformidade com a leis do País. Obviamente, qualquer entrada deve constar do citado relatório mensal. Não são permitidas doações anónimas no caso de valores que ultrapassem os 1.000 Euros.
Os deputados não possuem liberdade de voto: qualquer deputado deve agir em conformidade com quanto decidido pelos eleitores. Mas é garantida a possibilidade de abstenção em caso de votação. O deputado que não votar em conformidade com quanto decidido pelos eleitores deverá encontrar-se com os mesmos ao longo de uma hora: 15 minutos para explicar a razão da própria abstenção, 45 minutos para responder às perguntas dos intervenientes na vídeo-conferência aberta.
Quem preferir votar contra as directrizes dos eleitores será expulso do partido. Pode ser chicoteado na pública praça? Bom, se calhar é excessivo, vamos manter um aparência democrática. Mas a expulsão fica: afinal o deputado está no Parlamento para exercer a vontade dos eleitores, não a dele.
A duração do cargo de deputado é igual ao prazo da legislatura. Isso é preciso para não criar inúteis complicações. Mas fica a não repetibilidade: uma legislação e depois de volta ao próprio trabalho.
Ausências: valem as mesmas regras aplicadas para os trabalhadores do sector público.
Remuneração: 1.500 Euros ficam com o deputado, o resto entra nos cofres do partido, o qual terá a obrigatoriedade de utilizar o montante para material informativo de pública utilidade, manutenção do site oficial, melhoria da segurança das ligações internet.
As votações no Parlamento não acontecem “de repente”: há um calendário e isso significa que há tempo para submeter cada votação à decisão dos eleitores. Tudo pode ser feito por via informática, como já descrito, com o site oficial do glorioso partido DD.
Obviamente, as decisões dos eleitores são vinculativas.
O DD tem um único objectivo: a transição para um regime de democracia directa. Por isso é um partido com um prazo: uma vez estabelecida a democracia directa, o DD será dissolvido para deixar espaço aos novos partidos.
No entanto, ao longo da vida dele, terá que tratar de determinados assuntos. Aliás, mais do que “tratar” terá que submeter à atenção e à decisão dos eleitores algumas questões: os assuntos da gestão quotidiana do País e outros ligados aos objectivos de prazo alargado (como a política energética, por exemplo).
Bom, até aqui algumas ideias quase-sérias e escritas de forma rápida. Nem consultei Leo, por isso o resultado deve ser bem escasso. Não sei se um partido como o DD poderia funcionar. Dificilmente poderia ser pior dos partidos que já existem.
Em qualquer caso, espero nas críticas e nas sugestões dos Leitores: como seria o vosso partido ideal? O que mudariam? O que fariam? Como envolver mais os cidadãos nas escolhas do País? Tudo em termos práticos, s.f.f.
A palavra passa aos Leitores.
Ipse partidário!
Nota final: acho já existir um movimento DD Democracia Directa. Pelo menos há um blog com este nome. Obviamente o presente artigo é fruto de imaginação e nada tem a ver com partidos ou movimento reais.
Olá Max: inicialmente algumas coisinhas históricas. Não acho que a coisa deva ser posta como revolução ou democracia direta.Porque? Porque a democracia direta é uma das únicas estratégias de governo que considero revolucionárias. Porque?Porque faz passar de um processo político autoritário para um não autoritário, e por isso historicamente já se mostrou muito frágil, conquanto uma das maiores fragilidades humanas é conseguir viver processos não autoritários. Nesse sentido me parece que a revolução russa e até a revolução civil espanhola são processos que começaram revolucionários (não autoritários) e desvirtuaram-se, transformando-se em mudanças dentro da totalidade autoritária.
Bom, agora o que realmente interessa: neste teu modelo, cuja qualidade essencial é a inserção transitória no já existente, estás considerando que toda gente acessa a internet, e que muitos se interessarão em participar, o que acho um fator limitante, mas longe de inutilizar a iniciativa. Considero mesmo que ela brilha pela possibilidade de ser exequível no aqui e agora de qualquer país, e bastaria um pequeno número de pessoas lúcidas para desencadear o processo, porque não? E parabéns pela exemplificação da organização partidária,que em sendo escrita em 15 minutos, deve estar a ser remoída na tua cabeça faz bastante mais tempo. Abraços
quando é que começamos? É que parece que essas ideias saíram da minha cabeça.
Olá Max,
tenho aqui uma nota a fazer: 1.500,00€? Isso é muito dinheiro, a sério. Acho que algo a rondar os 1.000,00€ é mais aceitável. Isto para evitar que alguém entre no partido como forma de ganhar uns trocos.
Continuando…
Eu ando à uns tempos com ideias de avançar com um programa para formar um partido. Tem-me faltado tempo, mas acima de tudo, pessoas que pensem da mesma forma que eu…
…e aí, entraste tu.
Gosto muito do programa, mas difere bastante daquele que eu tinha pensado. O partido nem tinha nome, mas pensei em algo como Partido da Igualdade ou coisa que se assemelhe…enfim, o nome não interessa. As minhas ideias são muito simples:
– terminar com os benefícios da classe política.
A coisa iria resumir-se em:
– acabar com reformas antecipadas e reformas duplas/triplas/etc;
– impossibilidade de um político sair da da vida política para cargos de chefia em qualquer orgão público;
– vencimentos mais reduzidos (tinha pensado no ordenado mínimo) e fim dos subsídios para tudo e mais alguma coisa – telemóvel, deslocações, refeições;´
– fim dos regimes especiais de reformas e de saúde;
De uma forma resumida, os políticos teriam apenas direito àquilo que o comum cidadão trabalhador consegue ter direito; porque servir um país deverá ser uma honra e não uma carreira.
A ideia é basicamente este. Existem outras coisas que agora me estão a escapar, mas era isto que eu desejaria.
Na verdade, isto não fica nada longe do modus operandi do DD: "bastaria" levar estas ideias a referendo e acho que seriam bem aceites pelos eleitores.
Temos muito que falar Max – conta comigo. 😉
Grande abraço,
—
R. Saraiva
Naturalmente que um modelo de democracia directa têm o meu apoio, contráriamente ao modelo de democracia representativa.
No actual modelo de democracia representativa que existe em Portugal e quase por todo o lado, constata-se que os politicos não representam os seus eleitores, mas outros interesses que são contrários a quem os elegeu.
Daí todos os programas de austeridade aplicados para proteger os interesses dos 'mercados'; estes sim, bem representados pela classe politica.
Daí eu ser um abstencionista de longa data.
Antes de mais, convem esclerecer que ser abstencionista é rejeitar o modelo eleitoral em vigor. Diferente de votar em branco que significa aceitar o modelo, mas não se sentir representado em nenhuma lista.
A ideia de criar novos movimentos politicos como o Max referiu, tem vindo a florescer um pouco por todo o lado. Observo isso mesmo nos foruns do Facebook.
É um processo comum em períodos conturbados da vida politica económica e social.
Esta proposta agora apresentada, e que em minha opinião resulta, como referiu a maria, de muito tempo de reflexão apesar de escrita em pouco tempo, está muito embrionária e carece de evolução.
Penso que, antes de se debater a orgânica de funcionamento do partido dever-se-ia começar pela discussão de propostas ou ideias. Para isto necessita-se de um grupo de discussão. Quem está disposto a começar a falar sobre isto? 5, 10 20, quantos?
Discutir um projecto de mudança politica requer sinergias, apoiantes de peso cuja voz se ouça, e acima de tudo muito empenho. Isto não se consegue num chat mas sim em conversas cara a cara.
Não concordo em se começar este projecto atribuindo-lhe logo a designação de partido mas antes movimento ou outra coisa qualquer.
O termo partido está cristalizado na cabeça da maioria das pessoas, como sendo um conjunto de cidadãos cujo objectivo é o poder, para encherem os bolsos.
Logo para inicio precisa-se de um nome que poderia ser Movimento para a Democracia Directa (MDD) ou outro, e um lider. Aquele que vai ter o fardo pesado de mobilizar os outros e de não os deixar esmorecer, para se levar o projecto a bom porto.
É um projecto aliciante que gostaria de ver evoluir
abraço
krowler
Olá krowler,
estou disposto ao tal debate cara-a-cara. E concordo prefeitamente com o que disseste, especialmente, a tua chamada de atenção para a nomenclatura: "Partido" já tem uma conotação muito negativa.
Se quiseres os meus contactos, pede ao Max, ou segue o link do meu user para teres acesso.
Aproveito para acrescentar duas coisinhas às ideias que eu coloquei em comentário anterior; são elas:
– responsabilização/criminilização dos políticos pelos seus actos;
– penalização dos partidos face ao não cumprimentos dos programas eleitorais;
Um abraço,
—
R. Saraiva
A Islandia está dando um exemplo para o mundo, se tá dando certo, porque não segui-los, aliás muito bom o comentário do Krowler.
Ferreira
Acrescento algumas dúvidas e ideias ao que já foi dito.
Em relação à estrutura/organograma, sendo a ideia criar uma iniciativa dentro do sistema, existem critérios legais a cumprir na estrutura, independentemente de tudo o que depende, obviamente, das opções de cada partido/movimento, pelo que será necessário adequar o que for pretendido ao que é legalmente exigido: http://www.cne.pt/sites/default/files/dl/legis_2_2008_partidos_politicos.pdf
Sobre a internet, acho que pode ser a forma de comunicação de eleição, mas não a única. A exclusividade da internet pode tornar-se um entrave à participação de pessoas que possam estar interessadas e inclusivamente afastar muitas que sentem logo aí uma barreira. Concordo com a Maria e em como isso não inviabiliza nada.
Os suíços são chamados a pronunciarem-se diversas vezes por ano, por exemplo, pelo que devem ter o sistema de consultas/referendos bem organizado e optimizado, uma vez que já o fazem há algum tempo. Pode ser uma fonte para retirar ideias sobre como organizar as consultas aos elementos do movimento/partido e, futuramente, aos cidadãos.
Nota de rodapé: por lei, os partidos políticos não podem receber donativos anónimos: http://www.cne.pt/sites/default/files/dl/legis_financiamento_19_2003_actualizado2010.pdf
O Max apresenta dados relativos à estrutura do partido/movimento e algumas das sugestões são relativas ao programa e a medidas.
Talvez fosse mais fácil dividir a discussão nos dois pontos. Estrutura do movimento e programa/objectivos.
Assim, a sensação que tenho é que é muita coisa numa discussão só. Seria discutir um passo de cada vez.
Em relação aos diferentes modelos, surge-me logo uma pergunta: será que as pessoas querem uma democracia directa ou uma democracia representativa ou uma democracia semidirecta?
Esta pergunta pode parecer estúpida, ok talvez até seja mesmo, mas o facto de a maioria das pessoas estar descontente com a situação não significa que até não concordem com este modelo de democracia representativa e só queiram mudar os partidos e a classe política. Literalmente, as pessoas podem preferir delegar o poder e eleger ciclicamente um grupo de pessoas para tomar as “melhores decisões”, porque é isso que na prática acontece com a democracia representativa.
Assumo que posso estar errada, mas esta é uma hipótese que não me parece nada improvável.
(continua)
(continuação)
Quando falo sobre democracia directa com as pessoas oiço desde logo críticas: por um lado, a dificuldade de consenso e a incapacidade de as pessoas escolherem o que de facto é melhor por falta de conhecimentos, de cidadania, etc., por outro lado, comparações com a anarquia, outro modelo, e associações automáticas das duas à violência.
Gritamos, e não todos, também é outra realidade, pela penalização dos políticos, pela transparência, mas um dos municípios com melhor nível de vida do país e com uma população com níveis de escolaridade mais elevados conseguiu votar maioritariamente numa pessoa que se demarcou do próprio partido, criou a própria lista e que, em simultâneo, estava a responder em tribunal por questões relacionadas com dinheiros públicos.
Eu entendo que culpado ou não, deveria ter resolvido as questões legais primeiro, mas os habitantes do município não entenderam assim e ele lá continua. Esta é uma escolha consciente de quem nele votou. Foi uma escolha em eleições para estruturas governamentais mais próximas da população.
Para além disso, os poucos referendos nacionais não foram particularmente expressivos e as pessoas não olham para a democracia e a cidadania nesta vertente.
Começa agora a ver-se esta nova realidade e alguma consciência na sociedade de que precisam de ter mais voz/poder ou podem decidir muito por eles sem que tenham como o impedir.
A democracia directa e semidirecta implicam o envolvimento e responsabilização do cidadão nas decisões e isto implica uma mudança muito grande numa sociedade e o desejo de cada um em deter poder de decisão, algo que as pessoas não equacionam assim.
Estão habituadas a delegar o poder em quem elegem e a obedecer ao que é decidido.
Neste momento,até já temos iniciativas do próprio governo para dar voz às pessoas.
Deixo a cada um a leitura que por bem entender desta iniciativa, bem como, se assim entenderem, a consulta do site, do arquivo de movimentos, o resultado e a escolha que foi feita e, mais simples, olharem à direita no link que deixo e verificarem quais são os 7 movimentos mais populares nesta iniciativa: http://www.portugal.gov.pt/pt/o-meu-movimento/o-que-e/o-que-e.aspx
Escrevo tudo isto porque penso que a discussão desta questão deve ter estes aspectos como ponto de partida, pois um movimento/partido, o que for e seja qual for a sua finalidade ou objectivos, deve ter como ponto de partida as pessoas da sociedade da qual faz parte.
O que escrevi mais acima é o que vejo, estou a ver mal? Garantidamente não estou a ver tudo o que existe no que escrevo, mas é uma realidade que existe.
Parece-me importante que as ideias e o projecto sejam realistas e tenham em conta o que as pessoas realmente querem e o que são e pensam.
Se assim não for, acredito que será ainda mais difícil de obter mudanças, sejam elas quais forem.
(continua)
(continuação)
Há sugestões que foram apresentadas que não precisam necessariamente da democracia directa, basta alterar a legislação e tomar as medidas necessárias.
Para isso, um partido e a democracia representativa seriam suficientes, as pessoas só teriam de votar nesse partido e o mesmo cumprir o que se propõe.
Se concordo com esta hipótese? Pessoalmente não, pois não acredito que resolvesse os problemas e, acima de tudo, porque entendo que a responsabilização/deveres e direitos é mesmo para todos.
Se os políticos não podem lavar mãos do que fazem de errado, os cidadãos também não podem fazer o mesmo perante as escolhas que fazem. A responsabilidade nestas questões tem duas vias.
Talvez começar a nível local seja mais simples: http://www.cne.pt/content/candidaturas-de-gce-al2013
Para um movimento com este tipo de objectivo, começar pela administração local é capaz de ser mais simples porque permite uma familiarização directa num município com outro tipo de organização e poder de decisão… e aproximaria as pessoas da vida política e das decisões referentes ao sítio onde vivem.
Nesse contexto, apresentar um programa dentro dessa realidade e que inclua a implementação de medidas inerentes à democracia directa adequadas à actual realidade democrática nos municípios, criando, assim, em pequena dimensão, um modelo local próximo da democracia semidirecta talvez obtenha resultados mais sólidos.
Depois… é ver como corre, analisar resultados, ver o que se precisa de mudar, onde estão os erros… não me parece que existam receitas mágicas.
E sim, discussões de ideias cara a cara parecem-me boa ideia.
E peço desculpa pelo imenso testamento.
Abraço
Rita M.
Rita,
gostei bastante do teu input e concordo com tudo o que disseste. Pelo que me parece (e também é esta a minha ideia), é dar a oportunidade à população de vetar decisões do grupo político eleito.
Apesar de teres detalhado muito bem uma série de obstáculos que irão existir, como a própria essência humana, acho que a oportunidade das pessoas poderem vetar deve existir.
Quais os cenários prováveis que poderão acontecer?
– nenhuma decisão ser tomada, porque tudo será vetado;
– ninguém querer participar e achar que votaram em alguém para tomarem decisões por eles;
– haver descontentamento porque o modelo continua a ser imperfeito, pois será sempre preciso haver uma maioria para as decisões serem tomadas;
– entre outros cenários que agora não me ocorrem.
A meu ver, a resistência a este tipo governação será muito grande, não que ele não se implemente…acredito que sim, a população aceita e de alguma forma quer isto, mas…e depois?! Onde estarão as pessoas conscientes, sabedoras e com perfeita noção sobre as decisões a serem tomadas?
Antes que tudo funcione bem, tem de haver uma estrutura bem segura a sustentar a nossa sociedade:
– educar as crianças na escola na cidadania;
– ensinar sobre economia/finanças nas escolas; ou pelo menos haver acesso gratuito a este tipo de ensino;
– educar moralmente a população – serem responsáveis, com um pensamento colectivo bem enraizado;
E agora?!
Ficamos à espera que este tipo de sociedade apareça? Ou vamos lutar por ela?
Pelo que vejo, as coisas estão a caminhar no sentido oposto:
– salas de aulas lotadas;
– ensino decadente com professores desmotivados;
– domínio do materialismo e do egoísmo;
Não esquecendo os mídia corporativos, que são os opinion makers e inimigo público número 1.
E obrigado pela partilha de links Rita. Achei umas coisas bem interessantes.
Se estiveres interessada no diálogo cara-a-cara, fala com o Max.
Beijos e abraços,
—
R. Saraiva
Olá Rita, Krowler e Saraiva: que bom que vocês contribuíram com um monte de informações úteis. Especialmente tu, Rita, embora não tenha tido tempo de verificar os links que apontas.
Tentei, por aqui, catar alguma coisa também, e me parece conveniente prescrutar experiências similares e contemporâneas:
1. O movimento 5 estrelas na Itália já tem 6 anos de vida, se não me engano,e sobre ele o Max deve saber tudo e mais um pouco. Sua curta história detalhada de poucos anos pode ajudar a pensar.
2. No Brasil, em Porto Alegre, o planejamento/orçamento participativo desenvolvido a partir de 1989, quando Olívio Dutra foi prefeito, e por 16 anos consecutivos, é referência mundial entre as 40 mais exitosas experiências de participação popular na administração pública do mundo, e ainda funciona. Sobre isso eu sei razoavelmente, e posso contribuir com informações detalhadas se for o caso, que também a internet e publicações no Brasil abundam. Mas posso falar em termos de análise enquanto cidadã participante, pois que meu ex companheiro sempre viveu em POA, e quando estávamos juntos, era o apogeu do movimento, e naturalmente participamos.
3. Uma coisa que me preocupou um pouco, mas só um pouco, foi que a experiência de POA foi colhida até em Portugal, mas buscando, hoje, na internet, desenvolvimentos, aparece pouco envolvimento dos interessados.
4. Finalmente,penso que não precisa uma multidão para iniciar alguma coisa. Só se precisa de que, quem inicie, tenha a paciência de persistir, sabendo que, inclusive pelo que já foi dito…a estrada é comprida, e a natureza humana não é fácil. Abraços
Ok Ricardo 🙂
Abraço
Rita M.