De alienígenas que invadem o Planeta Terra estão cheios os filmes: geralmente chegam com uma chuva de meteoritos ou com astronaves, têm mau aspecto e estão com péssimo humor. Mas para encontrar alienígenas não é preciso ir tão longe com a imaginação: eles já vivem aqui, entre nós. E encontra-los nem é tão difícil: são aquelas espécies vegetais e animais não nativas, oriundas de outros Países ou outros continentes, que cruzaram as fronteiras do seu habitat natural por causa da intervenção do Homem. Introduzidas especificamente para ser cultivadas ou criadas, ou até importadas por acidente, transportadas em água de lastro ou agarradas à quilha dum navio, no porão, numa mala: são todas espécies alienígenas ou “alóctones”.
Os seres humanos começaram a transportar plantas e animais desde o início dos tempos. O cão é um óptimo exemplo de espécie “invasora” que sempre ameaçou a vida selvagem nativa, mas na História não faltam exemplos bem conhecido:
- a introdução do cupim Coptotermes formosanus no Hawai foi responsável por intensos danos em estruturas de madeira e gasta-se anualmente mais de 60 milhões de Dólares só para o controle do fenómeno;
- a introdução de ratos Rattus norvegicus nas Ilhas Seychelles desencadeou um declínio acentuado no turismo local pelas perdas que provocou na biodiversidade insular, que constituía um dos maiores atrativos locais;
- o caracol argentino Pomacea canaliculata tem sido a causa de enormes perdas nas safras de arroz em vários Países asiáticos, além de veicular doenças humanas;
- a introdução de coelhos Oryctolagus cuniculus na Inglaterra e na Austrália: esses coelhos, originários da Península Ibérica, foram levados de França para Inglaterra no século XII e, em 1778, daí para a Austrália. Tornaram-se uma praga tanto na Inglaterra quanto na Austrália, gerando grandes prejuízos por causa das perdas agrícolas. O seu controle foi tentado por meio de contaminação pelo vírus da mixomatose que, embora letal, deixou de sê-lo na medida em que a população do coelhos tornou-se resistentes ao vírus.
- a abelha europeia africanizada Apis mellifera, introduzida no Brasil para pesquisa científica, fugiu do controle dos laboratórios, espalhando-se por toda a América do Sul e Central. É uma abelha agressiva e também compete pelos recursos com as abelhas nativas.
- o “molusco zebrado” (Dreissena polymorpha), acidentalmente levado aos Grandes Lagos (Estados Unidos e Canadá) em cascos de navios, e que tornou-se uma grande praga, ameaçando a fauna nativa.
Estes são apenas alguns exemplos, porque a lista é deveras cumprida: e na era da globalização o fenómeno cresceu ao ponto de tornar-se ainda mais problemático. Nos últimos 30 anos, na Europa, o número de “alienígenas” cresceu 76%, atingindo 12.000 espécies.
O cerne do problema é que algumas dessas espécies não ficaram confinadas numa área restrita e sob controle: foram liberadas na natureza para a pesca, a caça ou por cidadãos que queriam restaurar a liberdade dum animal comprado. Ao encontrar um clima idóneo, e tendo deixado para trás os seus predadores naturais, as novas espécies conseguem sobreviver, reproduzir-se e espalhar-se. De acordo com as estimativas mais recentes, de 100 espécies introduzidas entre 5 e 15 conseguem estabilizar-se com sucesso num novo habitat e, entre estas, pelo menos uma pode tornar-se “invasiva”. Estas novas espécies podem ser portadoras de agentes patogénicos letais para as espécies nativas, ou simplesmente podem alterar inteiros ecossistemas ao subtrair recursos e entrando na cadeia alimentar como super predadores.
IAS
Por causa dos efeitos nocivos, pela perigosidade, as espécies exóticas invasivas ganharam uma sigla: IAS, Invasive Alien Species (“Espécie Invasivas Alienígenas”), hoje consideradas a segunda maior ameaça à biodiversidade em todo o mundo depois da destruição do habitat por mão do Homem. Em particular são as ilhas as áreas mas expostas ao perigo, pois têm equilíbrios naturais muito delicados: é nas ilhas que aconteceu 54% dos casos de extinção que ocorreram até hoje.
Um exemplo é o que aconteceu com a cobra-marrom (Boiga irregularis), originária de Papua Nova Guiné e que chegou à ilha de Guam em meados do século XX. Uma ilha onde a única cobra até então era o Indotyphlops braminus: cego e do tamanho de um verme, só atacava cupins e formigas. Não demorou muito para que os Boigas começassem a devorar os ovos de muitas aves nativas da ilha, que nunca antes tinham tido problemas com cobras. Assim, em apenas 40 anos, o Boiga foi conseguiu extinguir 12 espécies de aves da ilha de Guam, incluindo o papa-moscas Guam (Myiagra freycineti), a pomba frugívora das Marianas (roseicapilla Ptilinopus) e o Galo de Guam (Gallirallus owstoni), este salvo no último minuto por um programa de conservação e reprodução em cativeiro.
Outras vezes, o invasor foi inicialmente introduzido para bons propósitos. Como o caracol-lobo (Euglandina rosea), trazido para os Hawai nos anos 50. Caracol carnívora, a Euglandina teria que predar outra espécie alienígena, o caramujo gigante africano Achatina fulica, por sua vez importado para fins alimentares durante a Segunda Guerra Mundial. Mas o caracol-lobo preferiu uma refeição mais típica, tornando-se no principal devorador dos caracóis locais. Hoje, das mais de 750 espécies típicas dos Hawai, cerca de 90% desapareceram. Aqueles que permanecem estão à beira da extinção e estão incluídos no Snail Extinction Prevention Program (“Programa de Prevenção de Extinção do Caracol”).
Os custos
O impacto dos IAS não é limitado ao empobrecimento da biodiversidade. Alguns desses “invasores” também se tornaram um problema sério no orçamento económico global, devido aos danos causados às atividades humanas. Uma das espécies mais nocivas é o aguapé ou jacinto-de-água (Eichhornia crassipes) da América do Sul que também chegou à Europa. Esta planta, importadas para fins ornamentais, é capaz de espalhar-se de forma muito rápida formando um tapete vegetativo impenetrável na superfície dos cursos de água: ao fazê-lo, não só sufoca o ecossistema aquático, causando a morte da fauna do rio, mas também torna impraticáveis tanto a pesca quanto a navegação. Hoje, a sua remoção custa cerca de 8 milhões de Euros por ano, apenas na Europa.
Outros IAS, por outro lado, podem ter um forte impacto nos custos de saúde. Como a Ambrosia artemisiifolia, uma planta norte-americana com forte potencial alergénio. A grande quantidade de pólen produzido por essa espécie pode causar rinite e graves crises asmáticas e é, de facto, uma das principais causas da polinose de verão: uma alergia cujos custos de saúde em toda a Europa ascendeu a 7.4 milhões de Euros por ano.
As espécies exóticas invasoras não são apenas um problema para os biólogos mas também têm repercussões pesadas sobre a economia global. E só na Europa são responsáveis por perdas económicas de 30 bilhões de Euros por ano de acordo com as contas do Institute for European Environmental Policy (IEEP).
Mas ainda mais relevante é o impacto nos Países em desenvolvimento, onde as espécies exóticas invasoras ameaçam a produção de pequenos agricultores e a segurança alimentar dos produtores de subsistência. O estudo Economic impacts of invasive alien species on African smallholder
livelihoods, de 2017, focou a atenção no sector da produção de milho em seis Países da África Oriental e o impacto de cinco grandes espécies exóticas invasoras (Chilo partellus, doença da necrose letal do milho, Parthenium hysterophorus, Liriomyza e Tuta absoluta) neste cultivo. O resultado é que as perdas anuais combinadas ficam entre 0.9 e 1.1 bilhão de Dólares, com umas perdas anuais estimadas (próximos 5 a 10 anos)que podem chegar aos 1.2 bilhões.
Em 2001 estimou-se que o impacto e o custo da gestão global das IAS representa 1.4 triliões de Dólares por ano ou 5% do PIB global anual. Mas muitos desses custos, especialmente as perdas da biodiversidade, são difíceis de quantificar em termos monetários e podem ser consideravelmente mais altos do que os estimados. Não seria errado supor que os custos das IAS sejam comparáveis ou mesmo significativamente superiores aos impactos associados às alterações climáticas, um dos maiores desafios do nosso tempo.
GRIIS
Conhecer quais espécies exóticas estão presentes num País, quais são invasivas e quais as últimas novidades neste âmbito é um aspecto fundamental do trabalho de quem deseja lidar com as invasões biológicas. Mas pode também interessar os cidadãos, todos eles, para que evitem a propagação das IAS. É por este motivo que nasceu o GRIIS: o Registro Global das Espécies Introduzidas e Invasoras, um enorme catálogo que recolhe as espécies exóticas presentes em 200 Países do mundo.
Para ter uma ideia do problema: em 20 Países há mais de 11.000 espécies exóticas, das quais 20% são invasivas e têm um grande impacto ambiental. É preciso encorajar um comportamento mais responsável nos vários sectores comerciais, como no caso dos viveiros, para que sejam escolhidas as espécies de baixo risco. É necessário informar as actividades comerciais e as instituições sobre as regras, que existem mas que demasiadas vezes não são respeitadas. E, finalmente, é necessário informar os cidadãos. Estas são as bases para enfrentar a invasão dos alienígenas.
Utilizar o GRIIS é simples, apesar de ser apresentado apenas no idioma inglês.
Para efectuar uma pesquisa simples podemos escolher o País na coluna de esquerda e carregar SEARCH. Irá aparecer a lista de todas as espécies alienígenas presentes naquele território.
Para efectuar uma pesquisas mais complexa:
1. na coluna de esquerda é escolhido o País que desejamos analisar;
2. à direita selecionamos o reino:
- Animalia = animais
- Plantae = vegetais
- Fungi = fungos, cogumelos
- Protozoa = microrganismos
- Chromista = algas,
- others = outros
3. em baixo selecionamos o ambiente:
- terrestrial = terrestre
- freshwater = água doce
- marine = água marina
- brackish = ambiente salgado
- host = hospedeiro (é o caso dos parasitas)
4. por fim carrega.-se no SEARCH (em alto, à direita).
Ipse dixit.
Fontes: Francesca Buoninconti – Invasioni Aliene (via Il Tascabile), Wikipedia (versão portuguesa), Corin F. Pratt, Kate L. Constantine, Sean T. Murph – Economic impacts of invasive alien species on African smallholder livelihoods, CIASNET – Economic Impact of IAS in the Caribbean: Case Studies, GRIIS Global Register of Introduzed and Invasive Species
Parece que o único alienígena nesta historia é o homem , até o simples facto de se movimentar põe em perigo os ecossistemas, ao contrario das outras espécies cuja origem e ecossistema esta bem definida a nossa origem e evolução tem demasiadas lacunas, muito estranho para uma espécie tão recente.
Hhhummmmm
E o que o Nuno tem a dizer em relação aos alienígenas ?
Qual a sua opinião?
Olá P. Lopes
Isso tudo é verdade e maioria das vezes não é intencional, simplesmente vão com a mercadoria.
Acontece e aconteceu porque não se antecipou as consequências que isso podia criar e perdeu-se o controlo.
Nem é só com animais e plantas, às vezes não se medem as consequências até de obras, como a contenção do Rio Amundária no Uzbequistão, para a agricultura e o encolhimento do Mar Aral. Outro a Represa de Hoover no Rio Colorado e o Desertificação da área até ao Golfo da Califórnia ou Mar de Cortez (conforme o gosto), se bem que esteja a ser cobatida etc são muitos… Para qualquer acção existe uma reacção. Creio que com o que se aprendeu o controlo seja mais apertado em plantas e animais. Se bem que casos como o Ebola e aqueles mosquitos (dengue) introduzidos no Brazil não foi o último um produto de um laboratório inglês(perto de Londres) e deu no que deu.
Quais mais especificamente? Se forem humamos a coisa é estranha a prova é o continente americano, Austrália e N. Zelândia.
E não querem humanos alienígenas ilegais? Quem lá estava antes? E tirando a N. Zelândia (Maoris), e ficaram pior? E só querem de preferência brancos (Austrália), é um pouco cómico
Somos todos filhos da terra.
Se a pergunta for em relação a outra coisa, que na mitologia ou imaginário popular é ridicularizada, acho que é isso por onde queres ir?
Algo que escapa ao controlo do controlo(sistema de controlo) e que é uma tecnologia? Infinitamente mais avançada que a nossa, se for real? Não cria problemas a não ser decifrar algo para o qual não existe explicação ou é negado, outras vezes não ny times etc e tvs …como contra informação para desviar atenções França, Russia, China um pouco por todo o lado.
E nós com medo do desconhecido (instinto).
Quando nos matamos uns aos outros por ganância, poder e divisão artificial pifia ou ignorância , e os verdadeiros alienígenas (bem humanos mas nem se sabe quem são) é quem tira proveito disso e nem é monetário é poder, pelo poder, um jogo com dados viciados, porque parece até certo ponto que a maioria é como gado ou ave no aviário?
Estranho…
Peço descupa pela divagação…mas o ii tem isto de bom ;))
Abraço
Alienígenas com poder de decisão, procedentes de outros mundos, devem ter evitado mais contato com o planeta terra, provavelmente porque o açougue mundial daqui não encoraja nada avançado a envolver-se com tamanha maldade e estupidez. Embora por aqui haja “genes” de respeito e bondade, os de maldade e desrespeito são dominantes, e sob o domínio de segmentos piores da humanidade o planeta transformou-se no que ele é, com prognóstico de auto destruição.
Eu tenho um sonho porque acredito que haja alguma coisa melhor por aí. Aquele de ver verdade no que acredito. Pena que não guardo nenhuma esperança de realizar tal sonho.