A Globalização em coma

Um das mais conhecidas vítimas que temos de contabilizar entre as baixas da invasão da Ucrânia não tem apelido, só o nome: Globalização. Pifou de vez? Não sabemos, ainda é cedo para o funeral: mas as condições não são famosas, podemos falar de coma profundo. É uma dura paragem na teoria baseada numa competição sem fronteiras, no mercantilismo, nas exportações ganhas através da redução dos custos e não no crescimento da procura interna.

O paradoxo é representado pelos Estados Unidos, a ponta de lança do Ocidente capitalista que abandonou completamente a produção industrial, a velha economia, imaginando que a “nova” economia teria proporcionado um século de prosperidade: e em vez disso tornou-se o País mais endividado do mundo, com uma posição financeira líquida negativa de 13 triliões de Dólares e um défice comercial estrutural que em 2021 atingiu o valor astronómico de 859 mil milhões de Dólares.

O problema nem é tanto a dívida, como sabe quem segue a Modern Money Theory. O problema é que todos estes gastos não significaram uma subida do nível de vida dos norte-americanos. E dos 859 mil milhões de Dólares de défice comercial, bem 353 mil milhões derivam das trocas comerciais com a China (+14.5%), o principal adversário económico do EUA. Washington compra com dívida, apostando no facto que atrás do Dólar há o petróleo: mas ao longo de quanto tempo ainda?

A Europa também enfrenta enormes dificuldades. O excedente da Zona Euro provém de quatro Países: Alemanha (+249 mil milhões de Euros), os Países Baixos (+78 mil milhões), a Irlanda e a Itália (+68 mil milhões). Tirando estes quatro, a situação não é nada alegre: a França, por exemplo, regista um novo recorde negativo da balança comercial em 2021, com -84.7 mil milhões de Euros em comparação com -75 mil milhões de Euros em 2020, agravando ainda mais a sua posição financeira externa líquida (agora de -800 mil milhões de Euros). É ultrapassada apenas pela Espanha, que tem um défice de 909 mil milhões de Euros.

Mas este quadro vale até hoje e não tem em conta o efeito das sanções, que será ruinoso. Em qualquer caso, estes são os números do Ocidente e mostram que EUA e UE perderam gravemente o desafio de vinte anos de Globalização.

O processo de reequilíbrio passa agora pelo hipotético isolamento geopolítico da Rússia e da China, aquele que no mundo da Economia é chamado de decoupling. Como explicam as páginas do diário económico Il Sole 24 Ore:

Literalmente significa “desacoplar”, “desengatar”, como quando uma carruagem é desacoplada da locomotiva. […] Mas a palavra também pode significar uma dissociação dos mercados: se, por exemplo, Wall Street desce e a Bolsa de Londres sobe, diz-se que houve um decoupling entre os dois mercados.

Entre as motivações da guerra na Ucrânia há também esta: os EUA quiseram acelerar um processo que pode representar uma boia de salvação, com a criação dum espaço económico “fechado”, supostamente impermeável a influências do Resto do Mundo.

Lembramos quanto já afirmado em artigos anteriores: a passagem para uma energia “verde” (com muuuuitas aspas) determinará o fim do petro-Dólar. O efeito poderia ser catastrófico, particularmente nos EUA como é óbvio. Dado que a transferência de poder para a China não pode ser parada ou invertida (e ninguém tenciona fazer isso, a não ser uma parte minoritária no âmbito do Deep State norte-americano), a solução mais rápida consiste na criação duma zona económica fechada, uma espécie de reserva de caça dos EUA. Este é o decoupling em curso, a razão mais profunda (e também a principal) da actual guerra na Ucrânia.

Então explica-se o regresso ao TTIP (Trans Atlantic Trade and Investment) e as tentativas para ressuscitar a TPP (Trans Pacific Partnership). É o regresso às políticas de Barack Obama, não acaso Democrata, do ano de 2014.

Uma escolha que podemos definir “autárquica”, como era aquela da União Soviética e dos seus Países satélites. Mas não será simples. O Ocidente terá que eliminar as suas duas dependências fundamentais, a dependência tecnológica em relação à China e a dependência energética em relação à Rússia.

Microchip e Telecomunicações

O processo de isolamento de Pequim, que tem continuado ao longo dos anos nem sequer tão silenciosamente (proibição da importação dos produtos de telecomunicações, 5G da ZTE e Huawei com Donald Trump), levou a um maior controle da exportação (leia-se “limitação”) americana de microchips para a China: estes componentes representam o coração de cada dispositivo electrónico e são indispensáveis para qualquer aplicação de Inteligência Artificial, na qual Pequim deu enormes passos em frente nos últimos anos. Então as atenções focaram-se na produção em Taiwan, que actualmente oferece a maior concentração de qualidade e volumes: não acaso, nos últimos tempos a fricção entre a China continental e aquela insular voltou ao rubro.

Por outro lado, o Ocidente tem gradualmente abandonado o sector da produção de electrónica de consumo desde os anos 60: no início, os fabricantes japoneses e sul-coreanos eram os mais fortes, depois vieram os chineses, com uma capacidade esmagadora e preços imbatíveis.

A Europa saiu de cena: as suas marcas tradicionais, da Nokia à Ericsson, da Alcatel à Italtel, passando pela Siemens, foram varridas. A América só conseguiu manter uma forte capacidade de produção nos mainframes, os processadores de grande escala, sistemas de recolha e processamento de dados que são a força de plataformas de comércio electrónico, como eBay ou Amazon, ou das redes sociais como Facebook e Twitter.

Curiosamente, não se fala muito nos meios de comunicação ocidentais sobre o que está a acontecer na Rússia, excepto para enfatizar o perigo representado pelos hackers e pelos relativos ataques cibernéticos à escala global. Isso apesar de Moscovo ser a sede do melhor produto antivírus em circulação (Kaspersky) e, como os utilizadores Linux sabem, de sistemas operativos completos e muito eficientes (além de diversificados. Como simples curiosidade: ALT Linux e ROSA*).

Agora estão a ser feitas tentativas para reiniciar a produção no sector das telecomunicações (TLC), mas no meio de imensas dificuldades. O NGUE (Next Generation EU), o Plano Europeu de Recuperação e Resiliência, atribui recursos consideráveis ao sector das tecnologias de informação e inteligência artificial. O mesmo é feito nos EUA com o programa federal 3B (Built Back Better), iniciado pela administração Biden. Sem estes enormes investimentos públicos, incluindo subvenções e encomendas não reembolsáveis à indústria europeia e americana, seria impossível reconstruir um sistema de produção destruído pela globalização mercantilista.

Este é o primeiro aspecto do “percurso autárquico” ocidental, um sistema de relações industriais e comerciais fechadas e subsidiadas no sector das TLC com o qual os EUA e a UE estão a tentar reconstruir um sistema de produção autónomo em relação ao resto do mundo, especialmente à China e aos seus parceiros asiáticos, como o Japão e a Coreia do Sul, e a própria Índia. E, é claro, impermeável a qualquer presença da Rússia.

A transicção energética

Depois há a questão da transicção energética.

O objectivo é descarbonizar a produção a fim de contrariar a alegada tendência para um aumento da temperatura da Terra. A teoria não é muito sólida mas isso não importa: foi assumida como válida pelos governos e agora há um plano. Só que o calendário previsto pelo Acordo Climático, que visa o ano de 2050 como meta final não é compatível com o processo geopolítico de isolamento da Europa da Rússia. Dito de forma mais simples: falta a energia.

Portanto, o conflito na Ucrânia dum lado poderia ser a oportunidade para acelerar o processo de redução da dependência do gás russo. Gás que é fundamental, ao ponto de ter sido considerado pela União Europeia como uma fonte compatível com o processo de transição energética, que prevê o abandono apenas do carvão e do petróleo como fontes fósseis de produção de electricidade. O problema será substituir o gás actualmente fornecido pelos Russos.

Os recursos do citado plano europeus NGUE para a transição energética representam assim o segundo pilar da mesma estratégia, com o qual a Europa tenciona isolar-se da Rússia: são contribuições não reembolsáveis e encomendas às empresas europeias para a produção de energia a partir de fontes renováveis. Este é um enorme empreendimento, um desafio tecnológico e financeiro sem precedentes. Com muitas dúvidas, não acerca da capacidade tecnológica mas acerca da disponibilidade da matéria-prima e da eficiência das mesmas fontes renováveis.

Microchip, Energia verde… não é que falta algo?

Pelo que: EUA e Europa estão a construir um sistema fechado, um grupo energético independente e autónomo. Que terá custos de produção e consumo completamente fora do mercado. Ou seja: não serão preços concorrenciais, poderão ser aplicados apenas na “reserva de caça”. O automóvel eléctrico e a produção de energia a partir de fontes exclusivamente renováveis envolvem investimentos e custos insustentáveis num mercado global. Não são, hoje em dia, escolhas racionais e podem sobreviver apenas num mercado fechado, onde possam gozar de ajudas estatais.

Entretanto, as repercussões imediatas das sanções impostas à Rússia pela sua intervenção militar na Ucrânia penalizam a Europa muito mais do que a América, uma vez que só esta última é tão auto-suficiente em energia e agricultura como a Rússia. É fácil prever tempos duros na Europa: mesmo que o sector da telecomunicações digitais recupere, há não poucas dúvidas acerca da produção de energia a partir de fontes renováveis que serão incapazes de substituir 100% de gás, petróleo e carvão. Não acaso, há quem volte a falar de nuclear que, numa fase desta, seria a única alternativa capaz de fornecer grandes quantidades energéticas sem pegadas de carbono (as pegadas do nuclear, de facto, são outras).

Entre algo renovável e gás dos EUA, mais eventualmente o nuclear, o Velho Continente poderia até conseguir realizar o seu plano. Sem nuclear a coisa fica mais complicada. Uma solução bem mais rápida seria aquela de pôr em stand by a transicção “ecológica”, mas este cenário está fora de questão: os investimentos na Green Economy estão em constante aumento, parar agora significaria desperdiçar rios de dinheiro (e nem podemos subestimar as consequências nas Bolsas). EUA e UE estão intencionados a seguir os ditames da Green Economy, o que implicará também uma forçada redução dos níveis de vida (a felicidade do World Economic Forum).

As bolsas europeias estão a cair, juntamente com o Euro, enquanto os preços do Dólar e de Wall Street estão a subir: quando há perigo, o capital foge da periferia para refugiarem-se no centro do Império. Mau sinal: tudo o que resta ao Ocidente é uma autarquia tecnológica e energética, cada vez mais amarrado às ordens de Washington.

Voltando ao tema inicial: a Globalização ficará fora das possibilidades do sistema fechado EUA mais Europa. Com preços fora do mercado, por via dos custos das matérias-primas, a semi-Globalização ficará nas mãos da China, que problemas neste sentido não tem. Com a progressiva desdolarização (os principais adquirentes utilizarão cada vez mais moedas alternativas) e a criação dum quintal “de caça” limitado a Washington e poucos íntimos, continua com cada vez mais decisão a transferência de poderes para a China.

Tudo segundo os planos.

Agradecimentos

Para acabar: obrigado, obrigado a todos os Eurodeputados que, por medo de perder a cadeira (o tal “tacho”), viabilizaram qualquer medida castrativa apresentada pela Comissão.

Podemos (parcialmente) desculpar as ovelhas, alvos duma interminável propaganda e cada vez mais alérgicas ao uso dos neurónios. Podemos desculpar até a Comissão, doze indivíduos que afinal foram postos aí exactamente para executar o plano decidido por outros. Mas não podemos desculpar o Parlamento Europeu, cuja principal tarefa era a salvaguarda dos interesses de todos os cidadãos: a traição daqueles 704 vermes liderados pela maltesa Roberta Metsola terá agora custos que até é difícil imaginar. Mais simples adivinhar quem irá paga-los.

Pelo menos espero que agora já haja dúvidas quanto aos verdadeiros objectivos dos vários Euro e União: a completa destruição do Continente como entidade política e económica independente.

 

Ipse dixit.

*Nota: sempre como simples curiosidade, realço KolibriOS, um completo sistema operativo que cabe em 40 MB! É um “brinquedo” (funcionante), fruto só da paixão dum programador, mas é divertido.

Imagem: Pixabay

18 Replies to “A Globalização em coma”

  1. ‘EUA e Europa estão a construir um sistema fechado.
    Isto parece ser incontornável, agora a minha dúvida é se isto é uma consequência da recomposição geopolítica global e a guerra criou as condições para este processo avançar, ou se esta guerra foi provocada para ‘forçar’ a criação deste sistema.

      1. Pela primeira vez na história da Humanidade toda, Chaplin e eu estamos de acordo.

        Esta guerra foi iniciada pela Rússia e procurada pelos EUA para forçar a criação do novo sistema e permitir que Washington possa enfrentar a desdolarização do planeta sem precipitar num inevitável fase de caos no curto/médio prazo. Isso porque a transicção energética implicitamente já prevê o progressivo abandono dos petro-Dólares: ou seja, era uma situação previsível e prevista, determinada por uma remodelação que já estava em curso mas que ficou mais evidente só nos últimos tempos.

        Mesmo hoje estava a comentar acerca disso: “Epá, tinha todos os dados à disposição, por qual razão lá não cheguei?”. E é verdade, não consegui prever o que afinal não era tão difícil de prever e fiquei desapontado comigo: uma guerra limitada no seio da Europa teria sido a ocasião perfeita para cristalizar um novo tipo de organização global. E, ao mesmo tempo, para recriar a histórica figura do inimigo-mau que com a sua maldade ameaça os valores “democráticos” americanos.

        Temos que admitir que também Zelinsky foi uma excelente escolha: é possivelmente a pessoa menos indicada se a intenção for encontrar um acordo, mas é perfeito para enervar ainda mais os adversários (e, caso se canse, pode sempre passar alguns dias na sua villa de 15 quartos em Forte dei Marmi, na Versília, la Riviera toscana).

        Só perto da invasão comecei a fazer 2+2 e a escreve-lo aqui no blog, mas os EUA já andavam há meses (pelo menos desde o Outono) a “provocar o urso” com o anúncio do que teria acontecido à Ucrânia.

        E os dados que tinha eram simples: quanto pode valer um Dólar sem a cobertura do crude, numa economia como aquela norte-americana cada vez mais baseada não na produção mas nos serviços? Muito mais do Yuan chinês, que pelo menos é capaz de apresentar uma força quase ilimitada de escravos obedientes? Não era por acaso que Trump teimava em abrandar no caminho do abatimento do carbono.

        Agora vou deitar-me, esta coisa de concordar com Chaplin tirou-me as forças todas, acho que tenho febre também… 🙂

        1. O Chaplin é um rapaz bem informado e sabe muitas coisas , só é pena é ter aquele mau feitio …

          1. O PL se especializou em prosa, gaiatices e detonar com russos e chineses… fora disso ele se complica…

            1. Pronto …estávamos no bom caminho e lá voltou o Chaplin atacar com o seu mau feitio.

        2. Max, parece-me que não tens consultado o Tom Luango. Será?
          Se assim for, aconselho-te a fazê-lo assiduamente.
          Porque “consultas de médico”, não são produtivas.

          1. Olá alfbber!

            Não concordo com a ideia de fundo de Luongo. Acho que tudo está a mover-se para que o poder seja deslocado para Oriente, a mesma criação duma “zona fechada” sob o controle americano vai neste sentido. Mas, como o mesmo Tom realça, “Esta é uma corrida entre duas versões radicalmente diferentes dos planos do pessoal de Davos”. Aqui concordo em pleno.

            Há alguns dias escrevi sobre duas visões no seio da elite americana e as ideias acho serem estas: há a ideia “democrata”, que agora lidera, e a ideia “republicana” (obviamente, estas definições não estão tão ligadas às verdadeiras ideológica política quanto ao rosto de quem executa as ordens na Casa Branca), têm os mesmos objectivos mas maneiras muito diferentes de lá chegar.

            Há poucos dias, um artigo do The Economist (o jornal dos Rothschild) alertava acerca dos perigos económicos aqui no Ocidente da guerra na Ucrânia, isso enquanto Biden ameaçava os Russos sobre respostas cada vez mais duras. Não acaso, uma das tentativas de negociação foi feita pelo Presidente francês Macron, funcionário da casa dos banqueiros; isso enquanto a tentativa italiana nem foi considerada, sabendo os Russos que falar com um emissário de Goldman Sachs/Wall Street (Mario Draghi) seria absolutamente inútil. E Moscovo indicou israel como possível mediador: aquele mesmo israel tão caro a Donald Trump (que “pesca” na área eleitoral republicana).

            O World Economic Forum odeia Putin? Estranho, até deu-lhe formação na sua escola. E a China? O WEF faz olhos doces com Pequim e detesta a Rússia? Qual o sentido? Rússia e China estão juntas no mesmo projecto “multipolar” (aspas necessárias), que é claramente “alternativo” aos planos oficiais dos EUA. Putin nem teria começado a guerra sem ter a certeza de que a China não teria criado problemas neste sentido. E a China não criou problemas (aliás, é notícia de hoje que, segundo fontes americanas, Moscovo pediu ajuda militar à Pequim).

            Quando falamos de elite ou até de WEF, não podemos pensar num bloco monolítico mas temos que admitir várias facções internas. É a visão monolítica que fez que Luongo continuasse durante meses a dizer que a Rússia não teria sido banida do sistema SWIFT e que o North Stream 2 teria começado a funcionar.

            Como escreveu no artigo de 25 de Fevereiro (Putin Ushers in the New Geopolitical Game Board): “Até eu falhei em pensar que a Rússia não estivesse a planear mudar o jogo tão radicalmente, pensando que houvesse sempre uma solução aprovada por Davos que não envolvesse o uso extensivo dos militares russos, mas que mesmo assim terminasse com os EUA a parecerem tolos. Em retrospectiva, era óbvio que estávamos sempre a ir para este jogo final porque a Rússia via a oportunidade de mudar as regras”.

            Mais uma vez: a Rússia nunca teria mudado as regras sozinha. Se hoje Moscovo pode invadir a Ucrânia e absorver a expulsão do sistema SWIFT é só porque sabe que no Oriente há uma alternativa, sem a qual ficaria esmagada. Qual a alternativa? A China, obviamente, a mesma aplaudida em Davos.

            Não foi a Rússia que “mudou as regras”: a nova atitude é também filha de Davos, daquela parte que com a eleição de Biden e o fim da “pandemia” viu a altura certa para iniciar a implementação dum regime global diferente, que acelerasse a deslocação para Oriente e que salvasse Washington da morte anunciada do petro-Dólar (com recaídas aterradoras de nível planetário). A única forma para fazer isso era um evento justificativo de rutpura absoluta, como uma guerra no seio da Europa, algo que Putin poderia (e deveria) ter evitado. Em vez disso, Putin fez exactamente o que Washington tinha implorado durante meses.

            Obviamente, estas são apenas minhas considerações que, teoricamente, até poderiam estar erradas. Mas dado que nunca erro e raramente me engano…. 🙂

  2. “Entre as motivações da guerra na Ucrânia há também esta: os EUA quiseram acelerar um processo que pode representar uma boia de salvação, com a criação dum espaço económico “fechado”, supostamente impermeável a influências do Resto do Mundo”…”O Ocidente terá que eliminar as suas duas dependências fundamentais, a dependência tecnológica em relação à China e a dependência energética em relação à Rússia.”
    Tudo isso seria bonitinho se não fosse um simples detalhe: A Europa a muito que não tem produtividade primária básica de subsistência (industria/agricultura) sem que esteja totalmente dependente do exterior, precisamente daqueles onde agora cospe no prato. Durante anos desmantelou a sua produção energética (portugal fechou todas as suas centrais termoelectricas), transferiu a produtividade para o exterior, e vive da importação de bens de 1ª necessidade. Basear na industria tecnológica e energética (mais ainda que a electricidade é uma energia secundária, necessita de fonte primária/matéria prima para ser criada), e cortar de um momento para outro o sistema sem ter construido os pilares do novo, é suicídio! O caso de Portugal é fácil de imaginar, país de serviços e turismo, totalmente dependente do exterior, vai ser uma bela… talvés objectivo seja mesmo esse, ou a tal redução da população.

  3. Antes de qualquer linha de raciocínio, deve-se observar que as premissas que suportam a mídia, como ocidente x oriente, capitalistas x comunistas, etc, são falsas e servem apenas para desviar o cerne das prioridades geopolíticas. A banca ocidental (atende também por Comunidade Internacional e outras denominações politicamente corretas) se alinhou ao Partido mandatário chinês desde o fim da Guerra Fria (1991) qdo aceitou o ingresso da China (enfraquecida pelo fim da parceira URSS) na Organização Mundial do Comércio (OMS) e desde então, progressivamente adentrou na vastidão do mercado chinês, além de passar a faturar royaltes em escala gigantesca incidente sobre a produção chinesa.
    O que está em andamento é o “Como ajustar um projeto mundial que busca reconfigurar a civilização em condições que propiciem reduzir o abismo entre a riqueza natural e a riqueza artificial (capital fiduciário), que, em não sendo efetivado, embretará fatalmente o próprio sistema atual.

  4. Sejam quais forem as motivações, o alcançar objectivos, vai ser por cima de muitos cadáveres. Considerando a imprevisibilidade, olhar o futuro assusta. E se este processo for negativamente reforçado por leis da física, de Murphy e o “Cisne Negro”, poderemos estar a assistir ao Crepúsculo da Humanidade.
    Preferia estar a assistir a mudanças de Paradigma civilizacionais produto da transformação e evolução da consciência.

  5. Pessoal, uma raridade acontecendo na América cativa!!
    Lopes Obrador e Maduro estão festejando suas reservas de petróleo. Chegou o momento de barganhar com a matriz, reaver o ouro roubado e muito mais.
    Só o Brazil está quieto, nada diz. Nosso petróleo agora é da Chevron e companheiras. São elas a enriquecer-se, porque o pré sal foi-se.
    Hoje, poderíamos estar rindo a toa, como a Venezuela e o México, recebendo comissões norte americanas em nosso território, com a tigela na mão para comprar petróleo. Cá comigo, acredito que essa “humilhação” é para preparar-se para grandes ofensivas. Tomara esteja errada.
    Infelizmente a governança brasileira não sabia que o essencial à segurança do país não se vende, não se dá, não se negocia.

    Quanto à globalização, parece que certas coisas continuarão globalizadas, como a saúde por exemplo, tudo decidido pela OMS para o planeta inteiro, conforme artigo anterior, aqui em II

    Ahh, enchi o tanque do Bakunin (meu carro). gasolina baratiiinha, 7 reais e 29 centavos de real, o litro. E o diesel está mais caro, imaginem como vai ficar o preço da comida!? Lembrem que o brasileiro que “esbanja inteligência” acabou com as estradas de ferro. Desde Juscelino é tudo sobre pneus, bem moderninho. Afinal nosso território é pequenino mesmo!

    1. Sem dúvida , Obrador e Maduro tem muitíssimo para festejar , um narcoestado e um … nem-sei-o-que-lhe-chamar onde o seu líder supremo fala com os passarinhos, sobre o rir a toa, acredito que sim mas por motivos diferentes , no México será por excesso de droga e na Venezuela deve ser pelo efeito prolongado da fome. Sobre o ouro roubado era justo por exemplo que Espanha devolvesse tudo esperemos que não devolva também todos os Mexicanos e Venezuelanos que la tem . Conheço algumas pessoas que se evadiram da Venezuela , infelizmente são pessoas fracas que não tinham espírito revolucionário e não aguentaram comer apenas uma refeição a cada dois dias , e sem capacidade de adaptação porque não se habituaram a comer petróleo …
      Ahhhhh se o Brasil tivesse um presidente revolucionário como na Venezuela para envergar um fato de treino com as cores da bandeira nacional e por toda a gente democraticamente a passar fominha ….

    2. O Basil extrai perto de 3 milhões de barris de petróleo/dia, a Venezuela não chega a 1 milhão . Chaves e depois Maduro destruíram a indústria petrolífera venezuelana. Não há como a Venezuela aumentar sua produção a curto prazo

  6. Olá Eduardo : mesmo assim faz uns dias uma comissão proveniente do país das liberdades aterrou em Caracas. Imagina que era um sábado à noite, e fazia 14 anos que a governança daquele país democrático lá não chegava. Vinham pedir penico para Maduro, comprar aquele milhão de barris que te referes.
    Para quem está acostumado ao gentil trato que os norte americanos dedicam a Venezuela, só podiam festejar.
    Eu tomaria uma garrafa de Cointreau!

    1. Sim Maria, foi dia 5/3.
      Não se esqueça que a Venezuela baseia sua defesa em equipamentos Russos. Jatos de combate, baterias antiaéreas, fuzis, etc.
      Acho mais fácil a Rússia vender petróleo através da Venezuela do que a venda de petróleo venezuelano ao Tio Sam. Assim o mundo fica feliz com as “sanções” que os russos estão sofrendo .
      Não passa de um grande teatro!!

  7. Pois olha, Eduardo, que bom que a Rússia fornece armamento atualizado para a Venezuela. Como que esse pobre país, com o povo passando miséria, estrangulado com as sanções do império sobre ele, com suas reservas em ouro confiscadas, com milícias yankees tentando revoluções coloridas, com uma oligarquia disposta a depor Maduro a qualquer preço, tanto no país como em Miami, com propaganda discutível por todo ocidente, e tal, poderia se defender? Em prol da Venezuela, são fatos denunciados e comprovados que a mídia das ovelhas ignora.
    Tu que demonstras ser um médico bem informado da atualidade sabes que isso não é propaganda, se negares é porque assim o desejas, e te respeitarei do mesmo modo Apenas demoras um pouco, quem sabe, para admitir. Digo isso baseada na evolução dos teus comentários sobre a Covid. Parabéns.
    Acho que podes me orientar em algo que não entendo: Porque a comissão de 5 de março não foi negociar com Guidó, que reconheceu como presidente? Foi logo conversar com aquele que afirma ser um ditador, tirano ?
    Te pergunto porque acredito que não vais te perder em subjetividades ideológicas. Por profissão, deves ser ético, mas objetivo.
    Abraços.

    1. Olá Maria, também respeito e gosto de seus comentários.
      Quanto ao estrangulamento da Venezuela pelos oligarcas poderosos, sinceramente não me parece ser essa a causa do sofrimento do povo venezuelano. Parece-me que o regime escolhido por seus governantes, regime esse que falhou em todos os países onde foi adotado, é a verdadeira razão do que está acontecendo por lá.
      Quanto a não negociarem com Guaido, gostei de sua ironia. Você, assim como eu, sabe o motivo.
      Mas vou relembrá-lo, Maduro é o presidente empossado e reconhecido pela constituição venezuelana e pela suprema corte daquele país, simples assim.
      Como ele se sustenta no poder é outra história, mas ele (Maduro) é o presidente de fato.
      E para finalizar, essa história do império Yankee ser o causador de todos os males da américa latina é passado. Além disso no caso especifico da Venezuela há outros grupos milicianos que atuam lá dentro, como o grupo Wagner que é financiado pela Rússia.
      Grande abraço

Obrigado por participar na discussão!

This site uses User Verification plugin to reduce spam. See how your comment data is processed.

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

%d bloggers like this: