A radiação de Chernobyl está a aumentar? Sim. E não. Para sermos mais claros: boh?
Ok, ok: ordem e disciplina. As notícias das últimas horas dão conta dum aumento dos níveis nas proximidades da antiga central nuclear que, lembramos, sofreu um catastrófico acidente em 1986. Na altura, uma série de erros nas operações num reactor de velha geração provocaram uma reacção descontrolada que provocou uma explosão de vapor, um subsequente incêndio, libertação de grafite e radiação na atmosfera ao longo de dias.
O total das vítimas provavelmente nunca será conhecido com exatidão porque, além dos 31 óbitos inicias, houve e haverá as doenças provocadas no longo prazo pelos efeitos da radiação. Segundo um estudo da ONU as victimas poderiam estar compreendidas entre 9.000 e 16.000.
Hoje
Existe agora um alerta de radiação em Chernobyl, embora ainda não haja informação confirmada. As tropas russas, no decurso da invasão da Ucrânia, parecem ter assumido o controlo da antiga central atómica, a 130 quilómetros de Kiev e perto da fronteira com a Bielorrússia.
A Inspecção Estatal de Regulamentação Nuclear da Ucrânia adverte: os níveis de radiação na área excederam os níveis de controlo e acrescenta que isto está ligado aos movimentos no terreno de um grande número de veículos militares na zona de exclusão (a área directamente atingida pelo desastre em 1986) e ao relativo aumento da poluição atmosférica. Sempre segundo a Inspecção, os níveis de controlo da radiação gama aumentaram mas actualmente é impossível estabelecer com certeza as razões desta mudança devido aos combates na área.
Os russos contestam esta reivindicação: segundo eles, os níveis de radiação são normais e a central foi ocupada como forma de protecção preventiva.
Tudo torna-se ainda mais complicado porque é preciso lembrar que não é a primeira vez que os níveis de radiação aumentam após a catástrofe de 1986.
Ontem
Em Abril de 2020, por exemplo, foi detectado um aumento dos níveis de radiação (dezasseis vezes o normal) por causa dum incêndio florestal nas redondezas de Chernobyl. As chamas ajudaram a libertar a radiação anteriormente contida no solo, folhas e árvores num raio de 30 km em volta da área da antiga central. Curiosamente, esta versão dos factos foi contestada pelas autoridades ucranianas, segundos as quais os níveis da radiação permanecer normais.
No mês de Junho de 2020, por exemplo, tinha sido detectado um aumento de material radioactivo no Norte da Europa. O aumento da radiação foi muito leve, tendo atingido níveis considerados inofensivos para os seres humanos, mas mesmo assim suficientemente significativo para ser detectado por parte das estações de monitorização em vários Países. A “assinatura” dos isótopos mostraram que as radiações tinha como origem uma central civil e alguns pesquisadores individuaram Chernobyl qual possível fonte do fenómeno.
Em Maio de 2021 novo alarme: alguns dias após o 35º aniversário do desastre, houve um aumento da actividade de neutrões dentro da estrutura de confinamento da central (o New Safe Confinement) que, desde 2017, reveste os restos do reactor número 4. Também neste caso: um aumento de leve entidade, mas que demonstra o que já era sabido: debaixo da estrutura de contenção o que resta do reactor continua a exalar radioisótopos em grandes quantidades, como brasas a arder num churrasco. Em 2021 uma possível causa sugerida foi individuada na água da chuva e na humidade que, ao longo do tempo, podem ter penetrou as fendas da estrutura de revestimento. A hipótese é que a água pode ter abrandado os neutrões, ajudando a desencadear uma reacção de fissão (os neutrões lentos e menos energéticos são mais susceptíveis de dividir o núcleo de urânio do que os neutrões rápidos). Todavia muitos peritos acreditam ter sido um falso alarme.
Então?
Aumento nos níveis de radiação já aconteceram e provavelmente acontecerão no futuro também. O problema não fica apenas no lugar da antiga central mas também na área em volta, cujo terreno está contaminado: perturbar aquele terreno significa fazer que a radiação seja atirada para o ar, com consequente aumento da radiação gravado pelos numerosos sensores instalados na zona. Todavia, este é um fenómeno exclusivamente local, sem nenhuma recaída em áreas mais afastadas.
Diferente poderia ser a questão no caso de acontecimentos mais “traumáticos”, como por exemplo a utilização de artilharia que poderia atingir a zona mais sensível da antiga central. Se for este o caso, tudo dependeria da quantidade de material libertado: no caso dum derrame, então continuaria a ser uma contaminação bastante localizada. Se o local tivesse sido atingido por um míssil ou um projéctil explosivo, então poderia haver uma vaporização do material radioactivo com a possibilidade de contaminação mais extensa. Mas é preciso considerar que a área de Chernobyl já está contaminada, pelo que seria “nova” radiação a cair por cima da “velha”.
O principal e verosímil perigo é que o núcleo original do reactor, que continua a derreter e a atravessar as camadas superficiais do solo apesar do sarcófago de contenção, atinja as águas subterrâneas, contaminando-as. E uma vez que muitas das substâncias radioactivas presentes têm uma actividade de meia vida de centenas de anos, o problema é sério.
Explosão?
Segundo o perito em engenharia nuclear Bruno Merk, da Universidade de Liverpool (Inglaterra), o risco de material nuclear radioactivo ser disperso do armazenamento devido ao conflito é baixo: deveria haver um ataque deliberado e mirado para provocar reacções que possam ir além da área de Chernobyl. E nem deve haver demasiados riscos por parte dos sistemas de monitorização pois há uma margem de vários meses antes de poder observar um aumento da radiação.
Merk não é o único que descarta a hipótese duma nova explosão nuclear: na reportagem da revista Science, o professor especializado na área da engenharia e ciência dos elementos nucleares Neil Hyatt repete o conceito das das brasas a arder num churrasco, enquanto o seu colega Maxim Saveliev também realça os riscos mas excluiu a possibilidade de um acidente nuclear das proporções do que aconteceu no passado.
Uma eventual explosão seria “abafada” por parte da estrutura de contenção. Pelo que, também em caso de ataque deliberado, seria precisa antes uma demolição do New Safe Confinement, a seguir algo capaz de provocar uma explosão nuclear no reactor nº 4. Não seria simples e não parece ser este o caso: a Agência Internacional de Energia Atómica, que foi alertada pela Ucrânia acerca da situação em Chernobyl, “avalia que as leituras comunicadas pelo regulador – de até 9.46 microSieverts por hora – são baixas e permanecem dentro do intervalo operacional medido na Zona de Exclusão desde que foi estabelecida, e portanto não representam qualquer perigo para o público”.
Ipse dixit.
Beleza Max: nada como um blogueiro que vai buscar dados histórico/tecnológicos “brutos” para alimentar nossos cérebros, sem insistir em dados que lhe sejam mais simpáticos para responder a indagação de um comentarista.
Pois é; a energia nuclear é muito boa até apresentar problemas que ainda não são possíveis de resolver no atual estágio da pesquisa nuclear.
No Japão as águas do Pacífico estão contaminadas e o solo também, mas as autoridades governamentais autorizam as pessoas a voltar a habitar o lugar,
Na Ucrânia há um bom território de impedimento de atividade, mas mesmo assim pode existir problemas não previsíveis.
Já no Brazil, em Angra dos Reis, encostadinho do Atlântico, há um probleminha com uma daquelas esferas enormes, que a gente vê de longe na estrada, mas tudo bem, está sem função, e afinal dizem que deus é brasileiro. O dinheiro gasto, mesmo que fosse suficiente para fazer 10 hidroelétricas, não importa.
Me parece que uma fonte de energia cujos problemas não podem ser contidos não deveria estar em funcionamento, mas os “ecológicos” de plantão consideram a nuclear uma fonte de energia “!limpa”, que não contamina o ambiente. Até explodir por imprecisão de funcionamento, sabotagem, ou porque jesus decretou o apocalipse das águas no planeta.