– Esta coisa da Covid está um pouco a esmorecer, não é?
– Não me parece, ainda funciona.
– Será… mas ontem no Texas queimaram as máscaras depois do fim do recolher obrigatório. Não gostei. Demasiada presunção, não acham?
– Talvez. Sugestões? Anunciar a quarta vaga?
– Não, é cedo ainda… mas a tensão tem que ficar elevada, isso sim.
– Olhem, vamos pô-lo a funcionar.
– Quem, “ele”? Oh minha nossa…
– Sim, “ele”. Olhem que não dura muito, já viram o relatório neurológico? Melhor explora-lo agora, antes que seja nomeada a outra.
– Pode ser, afinal conseguimos fazê-lo eleger e com o que custou… mas o que vai dizer? É preciso algo que capture a atenção, algo que provoque indignação e sobretudo preocupação.
– “Pequim é um esgoto governado por ratazanas”
– Não, outra vez a China não. Está a ficar monótono.
– A Rússia?
– Sim, é uma boa ideia. Desta vez o alvo é a Rússia.
– “Putin é um assassino”. Pessoalmente gosto disso, o que acham?
– Sim, pode ser. E “pagará o preço”.
– Qual preço?
– Não sei, mas fica bem, é sempre uma ameaça.
– Sim, mas paga o preço para quê? Temos que oferecer uma acusação, uma motivação…
– Por ter favorecido Trump nas últimas eleições.
– Meus senhores, calma: já utilizamos a mesma acusação uma vez e isso arrastou-se ao longo de anos, lembram-se?
– Sim, mas funcionou.
– O problema é que trata-se sempre do mesmo mecanismo, cedo ou tarde alguém vai entende-lo.
– Não, estão demasiado entretidos com a Covid. E isso sem considerar que a Rússia é o nosso inimigo histórico.
– Justo. Liguem para os serviços secretos, que preparem um relatório que acuse Putin.
– Muito bem, é para já.
– Mais: “Eu conheço-o e você conhece-me. Se eu comprovar que isto aconteceu, esteja preparado”.
– Simples mas de efeito, sem dúvida. Fica a ameaça no ar, como suspensa. Acrescentem “em breve”.
– Sim, “em breve” calha bem. E quando teria acontecido isso?
– No telefonema de Janeiro.
– Ok, no telefonema.
– Mais: “Olhei-o nos olhos e não creio que tenha alma”.
– Muito bom, aprovado. Faz um certo efeito.
– Esperem, meus senhores, esperem: olhou Putin nos olhos durante um telefonema?
– Não, num encontro anterior.
– E está a lembrar-se disso só agora?
– Bom, tratando-se “dele” pode parecer bastante normal…
– Sim, é verdade. Mas há um pormenor: isso contraria a afirmação feita há 20 anos pelo Bush, o filho, lembram-se? “Olhei aquele homem nos olhos e consegui vislumbrar a sua alma”.
– O filho, ainda me lembro de todo o trabalho que deu o filho… Mas não há problema, foi há 20 anos e as pessoas não têm memória.
– Verdade. Entretanto escrevi um esboço para os serviços, digam-me o que acharem disso: podemos incluir cidadãos ucranianos cúmplices dos serviços secretos russos para alegar que Biden e a sua família tinham “ligações corruptas” à Ucrânia. O objectivo era “denegrir a candidatura do Presidente Biden e o Partido Democrata, apoiar o ex-Presidente Trump, minar a confiança pública no processo eleitoral e exacerbar as divisões sociopolíticas nos Estados Unidos”.
– Sim, mas não muito mais, não esqueçam que tudo tem que ser tornado público e as pessoas não aguentam coisas complicadas.
– Exacto, algo simples para mentes simples. Acrescentamos um par de sanções?
– Não, não justifica. É só para preocupar as pessoas, não há nada de sério nisso.
– Óptimo, então está combinado, é só procurar um canal televisivo obediente e um jornalista não muito esperto.
– O problema aqui é o excesso de oferta… Que tal a ABC?
– Sim, perfeito, a ABC é da Walt Disney, é das nossas.
– São todas nossas…
– Esperem, meus senhores, esperem. Já agora, algo em relação à Arábia?
– Não será demais? Mais uma vez: nada de coisas complicadas, arriscamos um excesso de informação…
– Sim, mas vai ser algo leve, tal como “as coisas vão mudar”, não mais do que isso.
– “As coisas vão mudar”? Qual o sentido?
– Tudo e nada, é perfeito.
– Demasiado vago. Temos que proporcionar algo para que as pessoas possam agarrar-se, caso contrário não entendem e a mensagem não pega. Qual seria a motivação?
– O assassinato do jornalista, o Khashoggi?
– Esta é coisa de 2018, quem vai lembrar-se dele?
– Todos porque nós vamos cita-lo. Mas não podemos correr o risco de irritar em demasia Riad, não agora que está a falar com Tel Avive. É só responsabilizar todos e ninguém. Por exemplo: esclarecemos que o príncipe herdeiro nada tem a ver com a história do Khashoggi de forma directa.
– Isso é ridículo, a Arábia Saudita é uma monarquia absoluta, a casa real controla tudo: querem fazer passar a ideia de que os serviços de segurança agiram por conta própria? Não é preciso ser muito inteligente para entender que não tem bases.
– Este não é um grande problema, tenham presente qual o público-alvo. Pelo contrário, parece-me bom: exacto, agiram por conta própria. Desta forma oferecemos ao príncipe uma saída também: individua alguns culpados, manda decapita-los, incidente fechado. Afinal estamos a falar dum nosso aliado. Aliás, seria bom realçar este aspecto para que não haja dúvidas: quando tivermos uma aliança com um País, “nunca atacamos o chefe de Estado em funções nem castigamos e ostracizamos essa pessoa”. Façam o favor de acrescentar este ponto.
– Parece-me bem. Mas nada mais do que isso, o objectivo é manter os níveis de ansiedade elevados com a Rússia, ninguém se preocupa com a Arábia. Mas aquele “ostracizamos” não será demasiado complicado?
– Podem sempre consultar Wikipedia.
– Justo. Putin assassino sem alma é capaz de entretê-los durante um par de dias. Depois há a Covid que faz o resto. Mandem acordar o gajo.
Ipse dixit.
Ninguém ficará de fora da nova festa mundial.
A realidade teatralizada. Pode ser bem possível, as jogadas do poder devem ser mais simples do que parecem. E considerando o público alvo…
Esperemos que o sr. Biden (um criminoso, pedófilo, e senil) aceite o convite do Presidente Putin para conversarem através de vídeo-chamada, dando assim continuidade ao diálogo iniciado pelo primeiro.
Vai ser hilariante ver o sr. Biden ao vivo a esgrimir os seus argumentos, uma autêntica comédia que terá o próprio como personagem principal.