Alemanha e Califórnia: falta electricidade.

A Alemanha pensa em racionar o fornecimento de electricidade para estabilizar a sua rede eléctrica “verde”. O País europeu está a pensar na medida após os apagões devidos ao fornecimento instável da energia.

Em tempos, a Alemanha tinha uma das redes eléctricas mais estáveis e fiáveis do mundo, isso quando o negócio da produção de energia estava nas mãos de engenheiros e peritos. Depois, o aumento do alarmismo climático nos anos ’90 permitiu aos activistas e aos seus aliados políticos pressionarem em favor da energia “verde”. O abastecimento de energia, flutuante e intermitente, poderia ser facilmente gerido, diziam.

Os activistas conseguiram a aprovação da Lei das Fontes de Energia Renováveis (EEG) em 2000. Como se verificou, a eficácia das EEGs tem causado mais danos do que benefícios ao abastecimento energético da Alemanha. O País tem actualmente os preços de electricidade mais elevados do mundo, forçando-o a depender das importações. Também tem falhado consistentemente o cumprimento dos objectivos das emissões.

Ironicamente, o Parlamento alemão abordou estes problemas confiando ainda mais na energia “verde”. Ordenou o encerramento das centrais de carvão e nucleares, mais estáveis e produtivas. Os políticos do País também aprovaram a legislação para limitar a quantidade de energia consumida por empresas e indivíduos. Agora, o Ministro Peter Altmaier propõe uma lei que limita a potência das estações de carregamento dos veículos eléctricos: Altmaier, que é o Ministro Federal da Economia e da Energia, propôs uma lei que permita o “nivelamento de pico” para os fornecedores de energia. A lei de nivelamento de pico permite aos serviços públicos “cortar temporariamente a energia de carregamento para os carros eléctricos” quando não há electricidade suficiente disponível. As empresas de electricidade pediram leis semelhantes dada a instabilidade das fontes de energia eólica e solar. A proposta de Altmaier indicava que as instalações poderiam cortar a energia até duas horas por dia, mas podiam ser completamente desligadas se houvesse um risco de sobrecarga da rede. A proposta foi subsequentemente retirada, mas a ideia fica.

No entanto, o País anunciou que irá dar um grande impulso à mobilidade eléctrica, estando prevista uma grande expansão para o futuro. A Alemanha tem apenas 33.000 estações de carregamento eléctrico que servem 50 milhões de veículos. Como é óbvio, o aumento previsto do número de carros eléctricos apenas servirá para aumentar os picos de procura de electricidade. A sorte de Berlim é que para já ninguém quer um carro eléctrico, mas o discurso muda no caso dos híbridos recarregáveis, por exemplo.

Contar com 100% de energia “verde” é bom em teoria, mas mau na prática: há já algum tempo que uma série de indústrias têm vindo a sofrer os esforços de “nivelamento de pico”. O armazenamento a frio e as fundições de alumínio têm de suportar cortes de energias por períodos limitados. Contudo, é uma faca de dois gumes: no caso das fundições de alumínio, após três horas o metal fundido solidifica-se. Pode ser fundido outra vez? Sim, mas é precisa energia, outra vez: pelo que aumenta o custo de produção e também a energia utilizada.

Do outro lado do oceano, os problemas começaram mais cedo. Em Julho de 2018, o Estado da Califórnia pediu aos residentes que limitassem a utilização de electricidade durante as horas de ponta. Um pedido que chegou no meio de uma vaga de calor, levando mais californianos a usar os aparelhos de ar condicionado. Dois meses antes, a North American Reliable Energy Corporation (NERC) tinha avisado que o Estado corria um “significativo risco de encontrar condições de funcionamento que poderiam resultar em escassez de reservas operacionais”.

A dependência da Califórnia da energia eólica e solar deu-lhe uma vantagem na luta contra o “aquecimento global”, no entanto o fornecimento de electricidade não satisfaz a procura e o Governador do Estado, Gavin Newsom, admitiu que a energia “verde” falhou e é directamente responsável pelo défice energético que levou a que os fornecedores de energia tivessem de implementar apagões planificados. Este Newsom: um outro Republicano negacionista que corre em defesa das petrolíferas? Não, é um democrata.

The Wall Street Journal analisa a situação:

Os apagões contínuos em toda a Califórnia servem como um alerta à medida que os estados de todo o país aumentam a energia renovável e reduzem a sua dependência dos combustíveis fósseis que podem gerar energia 24 horas por dia mas contribuem para as alterações climáticas. […] O operador da rede do estado apelou duas vezes para cortes de energia de emergência durante o fim-de-semana devido a um fornecimento de energia inadequado, em parte porque a procura atingiu o seu pico quando a produção solar começou o seu declínio nocturno. A Califórnia tem dependido muito mais das centrais eléctricas alimentadas a gás natural, as quais, ao contrário das centrais eólicas e solares, não dependem das condições meteorológicas para produzir energia.

É importante realçar como na Califórnia apenas um terço da energia produzida seja “verde”: o resto ainda chega das fontes ligadas aos combustíveis fósseis. Um terço de energia ” verde” é já suficiente para provocar problemas.

Todd Snitchler, Chefe Executivo da Associação de Fornecimento de Energia Eléctrica:

A Califórnia, em muitos aspectos, é o canário na mina de carvão. Muitas das unidades de gás natural que alguns na Califórnia gostariam de ver desaparecer têm sido exactamente o que é necessário para manter o sistema a funcionar.

E o problema não é só da Califórnia:

A transição energética também se revelou um desafio no Texas, onde a energia eólica representa agora quase um quarto da capacidade de geração do estado. O The Electric Reliability Council of Texas, o operador de rede do estado, viu as suas margens de reserva de energia caírem para um nível recorde no ano passado, à medida que as centrais eléctricas tradicionais se retiravam da concorrência das energias renováveis.

O operador da rede quase impôs blackouts programados em Agosto passado durante um pico de procura impulsionado pelo calor, mas conseguiu evitar as medidas de emergência confiando num mecanismo de preços que incentiva as centrais de gás a disparar rapidamente quando necessário.

Obviamente nem todos concordam com este cenário: o Los Angeles Times, por exemplo, afirma que a culpa não é da energia “verde”.

A mudança para aproveitar o sol, o vento e os cursos de água para obter energia não é a causa principal dos blackouts do estado; foi a incapacidade de se preparar adequadamente para um cenário inteiramente previsível de uma onda de calor prolongada e generalizada que tornaria as importações de energia menos acessíveis a uma rede que estava no meio de uma transição difícil mas essencial para a sustentabilidade.

Portanto: culpa dos políticos. E a solução? Simples:

Os blackouts são uma razão não para a Califórnia se afastar do seu compromisso de construir uma rede eléctrica sustentável, mas para fazer um melhor trabalho de transição. Isso significa avançar rapidamente para construir capacidade de reserva e instalações de armazenamento que possam disponibilizar energia quando os painéis solares e as turbinas eólicas não estão a gerar nenhuma.

“Avançar rapidamente para construir capacidade de reserva e instalações de armazenamento” diz o diário cujo proprietário, Patrick Soon-Shiong, produz baterias.

Resumindo: não temos capacidade para sustentar a economia como foi concebida até hoje apenas com a energia “verde”. Sem entrar em pormenores de “quanto” esta energia consiga ser efectivamente “verde”, o problema é estrutural: não há instalações suficientes e os investimentos eventualmente necessários estão para lá dos recursos económicos disponíveis.

É preciso abandonar os combustíveis fósseis? Sem dúvida: há razões ambientais e geopolíticas mais do que suficientes para abraçar as renováveis. Mas nem podemos seguir cegamente um histerismo “verde” capaz de provocar ainda mais problemas daqueles que resolve.

Os preços das estruturas renováveis irão baixar com a difusão? Provável, mas o problema parece correr mais depressa: os problemas começam agora enquanto os preços continuam elevados. Estamos a falar de Países em dificuldades apesar da grande capacidade de investimento, entre as maiores do planeta: Alemanha e Estados Unidos, a terceira e a primeira (ou segunda) economias mundiais.

Pergunta: será que ninguém tinha previsto uma situação destas? Aos Leitores a resposta.

 

Ipse dixit.

2 Replies to “Alemanha e Califórnia: falta electricidade.”

  1. «…será que ninguém tinha previsto uma situação destas?…»

    Sim, mas tem sido ocultada para continuar a vender e implementar a patranha.

    Se reparar-mos, os promotores do «Acordo Verde» e das ineficazes e poluentes energias renováveis/alternativas/limpas/sustentáveis, o que apresentam como justificação para substituir a energia eléctrica tradicional e moderna assim como os combustíveis fósseis, é a de serem um «perigo» para o clima e o ambiente.

    Não os vemos a apresentar estudos e dados científicos, matemáticos, ou da física, que provem que as referidas energias renováveis/alternativas/limpas/sustentáveis, são efectivamente eficazes, com melhor desempenho e rentabilidade, e menos prejudiciais ao clima e meio-ambiente, porque sabem que na análise e estudo desta temática não consegue justificar o que defendem.

    Relativamente à falta de electricidade, não é só a Alemanha que passa por essa situação:

    – Sistema energético europeu afetado pela escolha alemã por fontes “renováveis” de energia

    https://www.oabertinho.com.br/colagens/sistema-energetico-europeu-afetado-pela-escolha-alema-por-fontes-renovaveis-de-energia/

  2. Acredito que , se não sabiam com certeza, tinham sérias dúvidas.
    Mas como o planeta e seus viventes são um campo de experiências, os “verdes” ainda vão conseguir deixar o povo sem luz e à pé. Nada de novo para parte da humanidade que não tem energia elétrica, desloca-se em animais de montaria ou caminhando, e está acostumado com os rigores do inverno ou do verão.
    Ultimamente as experiências tem sido brutais: a Covid, as vacinas constantes, o aumento da escassez de água, a fome, as migrações forçadas e vamos testar agora até que ponto os humanos aceitam quietinhos a falta de energia elétrica.
    Para nós que vivemos à beira dos aquecedores ou do ar condicionado, que temos mil e um produtos domésticos e/ou de trabalho, tudo elétrico, olha que vai ser um problemão, principalmente com as desregulagens climáticas que tanto aquecem como esfriam em exagero.
    Nós estamos enfrentando dois meses de chuva contínua, e consequentes inundações, postes de energia que caem (aqui a eletricidade corre de poste em poste, não é subterrânea), morros desabam com casas e gentes ou não, estradas ficam interrompidas, ou intransitáveis, estouro de dunas, de lagoas, de esgotos, e tudo fica como o diabo gosta. É experiência, não é; é consequência de anteriores experiências, são coisas da natureza terrestre, dos planetas, do sol… sei lá. O fato é que sobrevive-se aos sobressaltos.

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