A vacina da Pfizer e a Paralisia de Bell

Continuemos a desmistificar as teorias da conspiração acerca da Covid-19. Após ter demonstrado no artigo anterior que não há nada de estranho em morrer após a vacinação (porque é normal as pessoas morrerem mais cedo ou mais tarde), eis que surge dos conspiradores uma nova notícia: quatro pessoas entre aquelas envolvidas na experimentação da vacina da Pfizer teriam desenvolvido a Paralisia de Bell.

Começamos por dizer que a Paralisia de Bell não é nada de sério: perdemos a capacidade de mexer as sobrancelhas, de fechar um dos olhos e a nossa boca desvia-se para um lado. Eventualmente podemos ter também perda do paladar nos dois terços anteriores da língua e dor próxima da região do ouvido. Mas além destes pormenores a pessoa está perfeitamente bem, tirando a lacrimação continua e o movimento do olho para cima e para fora do lado afectado ao tentar piscar as pálpebras.

Praticamente uma condição normal, tanto que a Federal and Drugs Administration (FDA) afirma não estar preocupada. Nós, para verificar, confiamos no fact-check oferecido de borla por uma das maiores, melhores e veneradas agências de informação, a Reuters:

Paralisia de Bell

Os documentos de informação da FDA mostram que é verdade que houve quatro casos de Paralisia de Bell entre os que receberam a vacina. A paralisia de Bell é uma fraqueza súbita ou congelamento dos músculos de um lado da cara, que na maioria dos casos é temporário.

O documento do briefing afirmam que a frequência da Paralisia de Bell no grupo da vacina é “consistente com a taxa de fundo esperada na população em geral”, acrescentando que “não existe uma base clara sobre a qual se possa concluir uma relação causal neste momento”. A FDA disse, no entanto, que recomendaria “vigilância” para casos de Paralisia de Bell, uma vez que a vacina é enviada para grupos maiores de pessoas.

Tudo verdadeiro. Como explica também a gloriosa Wikipedia:

O número de novos casos de Paralisia de Bell varia de cerca de um a quatro casos por cada 10.000 habitantes por ano.

Os efeitos da Paralisia de Bell. Mas quase sempre passa…

Quantos tinham sido os voluntários nos testes da Pfizer na altura? 22.000. Portanto, quanto os possíveis casos no grupo de ensaio? Entre 2 e 8. Quantos casos desenvolvidos após a vacina da Pfizer? Quatro. “Uma frequência não superior à esperada na população em geral” confirma a Pfizer Canada. E nós concordamos. O facto da doença ter sido desenvolvida logo após a vacinação e num prazo tão curto não é razão para ficar com dúvidas. E nem o facto de não terem ocorrido casos de Paralisia no grupo de controle, aquele que tinha recebido não a vacina mas um placebo, não deve minimamente preocupar.

Aliás, pensando bem: dado que o número de casos possíveis em 22 mil voluntários poderia ter sido de oito, e dado que os que receberam a vacina e desenvolveram a paralisia foram apenas quatro, não é que a vacina da Pfizer também previne a Paralisia de Bell? Fica a sugestão.

Além disso, a Paralisia de Bell é mesmo uma brincadeira. Continua Wikipedia explicando que a maioria das pessoas começa a recuperar a função facial normal dentro de 3 semanas. Num estudo de 1982, quando ainda não havia tratamento disponível, dos 1.011 pacientes afectados 85% mostraram os primeiros sinais de recuperação dentro de 3 semanas enquanto para o restante 15% a recuperação ocorreu entre 3 e 6 meses mais tarde.

85% + 15% = 100%. A Paralisia de Bell já era apenas temporária quando não havia tratamento, imaginem agora!

Portanto: nada de mariquices por favor: afinal, três semanas ou três meses nesta condição são uma mais valia pois permitem que o sujeito experimente um novos look, algo que sem a vacina provavelmente nunca teria tido a coragem de fazer.

Acerca da Paralisia de Bell quis intervir também a Medicines and Healthcare Products Regulatory Agency (MHRA, Agência Reguladora dos Medicamentos do Reino Unido): além de emitir um aviso para que pessoas com um historial de reacções alérgicas a medicamentos ou alimentos não tomem a vacina da Pfizer, afirmou:

Não havia razão para acreditar que a Paralisia de Bell fosse mais provável em pessoas que tivessem tido o vírus.

Ehhhh não, não é mesmo isso: os voluntários não enfrentaram o vírus, apenas a vacinas… Bom, pormenores. E uma curiosidade: o tratamento para a paralisia de Bell? Basicamente esteróides (cortisona) e anti-virais. Um antiviral para combater um problema surgido depois dum antiviral? É mesmo esta a parte mais humorística, aquela que de certeza fará surgir um sorriso na cara dos que sofreram com a paralisia, pelo menos na metade da cara que ainda conseguem mexer. O truque é este: ver o lado divertido da coisa e enfrenta-la com bom humor!

 

Ipse dixit.

One Reply to “A vacina da Pfizer e a Paralisia de Bell”

  1. Como é que estas pessoas têm a coragem de vir a público dizer estas coisas ? Eles sabem, eles têm certeza que a maioria dos humanos já não “pescam” o significado dos ditos e escritos. Eles estão absolutamente convencidos que venceram. Venceram a razão, venceram o mais sentido. Podem tocar a boiada para o matadouro. Esta tudo correndo bem. O mundo sofreu uma ruptura definitiva.
    Nos cabe advertir, e caminhar ao lado, nada mais.

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