BigBrotherWatch: «Epidemia» de reconhecimento facial no Reino Unido

O presente artigo foi publicado em 21 de Agosto de 2019 pela agência Britânica de notícias independente, TruePublica, reflectindo a investigação levada a cabo pela Big Brother Watch, uma organização sem fins lucrativos e apartidária que trabalha na defesa das liberdades civis e pelo direito à privacidade no Reino Unido.

Na TruePublica, temos escrito bastante sobre o contínuo e lento estrangulamento das liberdades civis e dos direitos humanos na Grã-Bretanha. Alertamos sobre o surgimento de um estado tecno-Stasi onde a tecnologia é aproveitada e usada contra civis sem qualquer debate ou verdadeiro enquadramento legal. Alertamos o público sobre as colectas ilegais massivas de dados pelo governo e a perda subsequente de grande parte dos mesmos pelo MI5, que em primeiro lugar nunca os deveria ter em sua posse. Alertamos contra «as revistas digitais» (digital strip searches pela sua sigla em inglês, ndt.) – uma atividade exercida pela polícia nos casos de vítimas de estupro, e o facto da Grã-Bretanha estar a tornar-se num Estado de base de dados.

Na TruePublica tentamos deixar claro que a vigilância do Estado em tal escala, descrita como a mais intrusiva do mundo Ocidental – não é apenas ilegal, é imoral e perigosa. (veja a nossa base de dados sobre vigilância AQUI).

Aqui está mais uma evidência de quão perigoso e fora de controle se tornou este esquema insidioso de vigilância. Uma investigação da Big Brother Watch descobriu uma «epidemia» de reconhecimento facial em locais privados no Reino Unido. O grupo de campanha pelas liberdades civis encontrou grandes empregadores, centros comerciais, museus, centros de conferência e casinos, usando essa tecnologia no Reino Unido.

Milhões de compradores digitalizados

A sua investigação descobriu o uso de reconhecimento facial ao vivo em Sheffield’s Meadowhall, um dos maiores centros comerciais do Norte da Inglaterra, durante testes secretos efectuados pela polícia e que ocorreram no ano passado. O experimento pode ter digitalizado os rostos de mais de 2 milhões de visitantes.

O centro comercial pertence à British Land, que possui grandes espaços dentro de Londres, incluindo partes de Paddington, Broadgate, Canada Water e Ealing Broadway. A política de privacidade de cada localidade diz que o reconhecimento facial pode estar em uso, embora a British Land insista que apenas Meadowhall usou essa vigilância até agora.

Na semana passada, o Financial Times revelou que a empresa privada Kings Cross em Londres estava a usar o reconhecimento facial, enquanto a Canary Wharf considerava seguir o exemplo. A situação provocou preocupações generalizadas e o presidente (Mayor pela sua sigla em inglês, ndt.) de Londres, Sadiq Khan, escreveu para essa empresa expressando as suas preocupações. A Comissária da Informação (Information Commissioner pela sua sigla em inglês, ndt.) Elizabeth Denham, iniciou uma investigação.

No ano passado, o Centro Trafford (Trafford Centre pela sua sigla em inglês, ndt.) , em Manchester, foi pressionado para parar de usar a vigilância ao vivo por reconhecimento facial após uma intervenção do Comissário da Câmara de Vigilância (Surveillance Camera Commissioner pela sua sigla em inglês, ndt.). Estima-se que cerca de 15 milhões de pessoas foram digitalizadas durante a operação.

“Uma Ironia Sombria” visitantes da exposição sobre a China foram digitalizados

A investigação da Big Brother Watch também revelou que o Museu Mundial de Liverpool digitalizou os seus visitantes com o sistema de vigilância de reconhecimento facial durante a exposição, «O Primeiro Imperador da China e os Guerreiros de Terracota» em 2018. O director do Big Brother Watch, Silkie Carlo, descreveu a situação como uma «ironia sombria» observando que «esta ferramenta de vigilância autoritária raramente é vista fora da China» advertindo que «muitos daqueles que foram digitalizados serão crianças em idade escolar».

O museu faz parte do grupo National Museums Liverpool, que também inclui o Museu Internacional da Escravidão (International Slavery Museum pela sua sigla em inglês, ndt.), o Museu de Liverpool e outros museus e galerias de arte. O grupo de museus disse que está «actualmente a testar a viabilidade do uso de tecnologia semelhante no futuro».

“Corroendo a liberdade de associação”

A investigação da Big Brother Watch também descobriu que o centro de conferências Millennium Point em Birmingham usa o sistema de vigilância de reconhecimento facial «a pedido da aplicação da lei», de acordo com a sua política de privacidade. Nos últimos anos, a área em torno do centro de conferências tem sido usada para manifestações de sindicalistas, adeptos de futebol e activistas anti-racismo. O centro recusou-se a dar mais informações sobre o seu uso no passado ou na actualidade do sistema de vigilância de reconhecimento facial. Millennium Point está prestes a sediar um «hackathon»*.

Vários casinos e casas de apostas também têm políticas que se referem ao uso de tecnologia de reconhecimento facial, incluindo Ladbrokes, Coral e Hippodrome Casino London.

A diretora da Big Brother Watch, Silkie Carlo, disse:

Há uma epidemia de reconhecimento facial no Reino Unido.

O conluio entre a polícia e as empresas privadas na construção destas redes de vigilância em torno de espaços públicos é profundamente perturbador. O reconhecimento facial é a ferramenta perfeita da opressão e o uso generalizado que encontramos indica que estamos a enfrentar uma emergência de privacidade.

Sabemos agora que muitos milhões de pessoas inocentes terão seus rostos digitalizados com esta vigilância sem o saber, seja pela polícia ou por empresas privadas.

A idéia de um museu Britânico digitalizar secretamente os rostos das crianças que visitam uma exposição sobre o primeiro imperador da China é arrepiante. Há uma ironia sombria de que esta ferramenta de vigilância autoritária raramente é vista fora da China.

A vigilância de reconhecimento facial corre o risco de tornar a privacidade na Grã-Bretanha extinta.

O Parlamento deve seguir os passos dos legisladores nos EUA e proibir urgentemente essa vigilância autoritária dos espaços públicos.

* Hackathon (palavra-valise inglesa, formada pelos vocábulos to hack, ‘fatiar’, ‘quebrar’, ‘alterar ou ter acesso a um arquivo ou rede’,[1] e marathon, maratona), termo eventualmente aportuguesado para “hackaton,” é uma maratona de programação na qual hackers se reúnem por horas, dias ou até semanas, a fim de explorar dados abertos, desvendar códigos e sistemas lógicos, discutir novas ideias e desenvolver projetos de software ou mesmo de hardware. Por ser um evento público (também referido como hack day, hackfest ou codefest), a maratona dá visibilidade e transparência a essas atividades, além de divulgar os novos produtos gerados. – Wikipédia

Fonte: TruePublica

Artigo seleccionado e traduzido por JF.

 

 

 

 

 

One Reply to “BigBrotherWatch: «Epidemia» de reconhecimento facial no Reino Unido”

  1. O que essa gente não sabe é que esse tal de reconhecimento facial tem muito pouca serventia, não pode evitar um ato terrorista por exemplo, nem mesmo um assalto, serve para identificar um devedor, sim mas não vale a preocupação.

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