25 de Abril: não estamos livres

Hoje é o 25 Abril festa nacional em Portugal e em Italia. Em Portugal festeja-se a Revolução dos Cravos e, com ela, o fim do Estado Novo de Salazar. Em Italia comemora-se a rendição das forças de ocupação nazistas e o fim, no País, da Segunda Guerra Mundial.

Dia de celebrações, de grandes discursos, de lágrimas, de bandeiras. Em foco: o fim dum regime, o começo da Democracia, a vitória da Liberdade.

Sempre achei o 25 de Abril um dia particularmente triste, anacrónico, afastado da realidade: uma montra que com a retórica “antifascista” cai no patético exaltando valores que há muitos não estão entre nós. Percebo e partilho o senso de honor justamente reservado aos que participaram naqueles eventos, àqueles que arriscaram a vida em prol dum ideal. Mas este deveria ser o único objecto de celebração, porque todo o resto desapareceu.

Ver a classe política que fala de Democracia e de Liberdade tem um sabor cruel: é aquela mesma classe que, na Europa, entregou os nossos Países para as mãos dos especuladores estrangeiros, que abdicou de boa parte da soberania nacional, que empobreceu os cidadãos em nome duma austeridade que nenhum de nós alguma vez escolheu, que continua a aderir sem denuncia-lo a um projecto europeu antidemocrático e antiliberal. O 25 de Abril é, em última análise, o dia que hoje exalta a hipocrisia.

Mas este ano o 25 de Abril atingiu o ponto mais baixo. Ou mais alto, se gostarmos da ironia em molho agridoce. Um rápido zapping com o comando e eis que aparecem no ecrã indivíduos com gravata e posturas graves enquanto falam dos tais “valores”, da resistência, da luta, da Liberdade. Fazem isso com uma máscara na cara, respeitando o “distanciamento social”, em Parlamentos vazios, com os cidadãos obrigados em casa e não parecem reparar no clima de ridiculez que a cena proporciona: o senso do absurdo nem se aproxima destas pessoas e a vergonha é um sentimento que aprenderam a afastar há muito.

Participar numa festa religiosa sem ter fé é um acto sem sentido. É apenas a repetição vazia de uma prática inútil. Do mesmo modo, celebrar a Libertação do próprio País aceitando-o como militarmente, politicamente e economicamente ocupado é simplesmente esquizofrénico.

É preciso o regresso da Revolução e da Resistência, porque uma guerra é sempre uma guerra. E nós estamos em guerra.

É preciso o regresso da Revolução e da Resistência, sem cores políticas porque não há Esquerda ou Direita, só há povos colonizados e povos livres. E nós não estamos livres.

Até lá, o 25 de Abril continuará a ser uma pálida cópia dos Monty Phyton, mas sem a mesma dose de divertimento.

 

Ipse dixit.

15 Replies to “25 de Abril: não estamos livres”

  1. Hoje, os herdeiros do 25 de Novembro de 1975 (ps, cds, pcp, psd, pev, pan, livre, chega, iniciativa liberal), celebram ou criticam hipocritamente como desde sempre o fizeram o golpe de Estado do 25 Abril de 1974.

    A maioria que tanto agora como no passado enche a boca com democracia e liberdade, colaboraram activa e passivamente assim como os seus familiares, com a ditadura do Estado Novo e o clero, tornando-se somente «democratas» após o 25NOV75.

    Este ano os festejos são diferentes, após colocarem os cidadãos Portugueses em prisão domiciliária sem qualquer fundamento, os neoliberais e o clericalismo encenam em conjunto com os seus partidos e acólitos mais um espectáculo, desta vez em desespero para manter o moribundo e corrupto regime nascido do 25 de Novembro de 1975 que desde então tem vindo a destruir (outra vez) a República, a liberdade, a democracia, e a independência da pátria.

    P.S.: Alguém avise os elementos que participaram desse espectáculo que hoje se realizou na Assembleia da República (AR), de que o uso de máscaras generalizado pela população (excepto pelos profissionais de saúde) voltou a ser recusado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) a 06 de Abril de 2020, por as mesmas serem ineficazes na protecção contra a contaminação; as máscaras servem somente para proteger os doentes/pacientes das gotículas de saliva dos profissionais de saúde que possam eventualmente cair ou ser expelidas:

    – Conselhos sobre o uso de máscaras no contexto do COVID-19

    https://www.who.int/publications-detail/advice-on-the-use-of-masks-in-the-community-during-home-care-and-in-healthcare-settings-in-the-context-of-the-novel-coronavirus-(2019-ncov)-outbreak

  2. A partir do segundo parágrafo, se trocarmos a data de 25 de Abril por 7 de Setembro, já teremos um post pronto para as comemorações da “independência” do brasil.

  3. Olá todos: é incrível que se eu substituir no comentário de JF as siglas parlamentares pelas do Brazil, embora não tenha nada para ser comemorado em 25 no Brazil felizmente, o comentário cabe como uma luva neste colonizado Brazil. E isto dói, dói muito, e vai ficar pior. Aqui enquanto a governança balança, o ministro da justiça, Sergio Moro, renuncia ao posto, saindo ovacionado pelos meios de comunicação e pela metade da população brasileira, não sabendo ou fingindo não saber que o sujeito sempre foi um mau caráter, de segunda classe, treinado e dirigido pela CIA para implantar definitivamente no Brazil o estado policial. Desde sempre mentiu, fraudou, corrompeu, foi responsável por perdas inimagináveis no Brazil, desde a quebra das maiores construtoras de engenharia civil do país, a desvios milionários de dinheiro como o caso Banestado, nunca elucidado, onde começou seu trabalho de desmonte do país juntamente com uma equipe igualmente fraudulenta de promotores. Este sujeito nunca foi advogado, nunca fez concurso para a OAB, e de repente tornou-se o juiz heroico, que combatia a corrupção, ele o pior dos corruptos. Andava desaparecido, e como sempre faz,ia para a matriz receber instruções.
    Esta estratégia o prepara claramente para o objetivo de poder que é seu sonho de consumo, tornar-se presidente, primeiro ministro,ditador ou que seja neste pobre país.

    E só para divertir, ontem também passei por um salão de beleza ( a minha pedicure e manicure desapareceu). O dono do salão me recebeu sem máscara, ele também não estava usando, e felizmente só uma idosa além de mim hidratava o cabelo, a uma certa distancia de mim. Vez por outra me encarava com olhar pouco simpático. Quando o garoto que a atendia pediu-lhe para tirar a máscara, que poderia sujar com os produtos que usava, respondeu que podia sujar porque estava com duas máscaras sobrepostas e só em casa usava uma só, afinal precisava proteger-se. Aquele proteger-se em bom tom me deixou claro que ela estava a proteger-se de mim. Minutos depois em tom arrogante me dizia: a senhora é uma irresponsável, precisa usar máscara, estão dizendo dia e noite. A essa altura o garoto da hidratação já tinha enfiado uma máscara na cara, e eu tive de responder, mas num tom bastante determinado e alto: minha senhora eu só tenho responsabilidade com a verdade, já a senhora deveria puxar a máscara para os olhos também. Afinal enxergar não lhe faz falta . A velhota sentiu a pedrada, sacudiu o corpo na cadeira, espichou as rugas do pescoço, engoliu em seco, e parou de me chatear. O garoto atrás dela, encolhido, me olhava suplicante e parecia me dizer: eu preciso do dinheiro desta velha. Fiz um sinal que ele se acalmasse, estava encerrada a conversa, e a Pérola, a cachorrinha mascote do salão sacudiu o rabinho e veio sentar-se ao lado da cadeira. Infelizmente, no final das contas, só a Pérola me aprovou.

    1. «…precisa usar máscara, estão dizendo dia e noite…»

      Convivemos se não estou em erro com vários coronavírus desde o Século XIX (isto para não falar nos outros vírus que existem e matam muito mais) e nunca nenhuma entidade ou organismo de saúde, ou governo, impôs o uso de máscaras, aliás qualquer pessoa minimamente letrada ou qualquer profissional de saúde que tenham ambos nascido no Século XX sabem que as máscaras são ineficazes na protecção contra uma contaminação/vírus; isso está escrito nos manuais da ciência e da medicina.

      Quando vierem para junto de si com a treta de ter que usar máscara, diga simplesmente que está a seguir as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS), conforme demonstra a ligação que publiquei no meu comentário acima.

    2. Comparo o tinha de ontem com o dia da encenação do “atentado” ao Bozo. Quero estar enganado , mas este pilantra travestido de justiceiro, será o próximo presidente do brasil.

      1. Não será, simplesmente pq a classe média canalha brasileira não sobrevive sem um “herói” de plantão, e este já cumpriu sua função de “caçador de petistas”. Aliás, não se fala mais em pré-sal, em Lula, em lava-jato, em Temer, nem mesmo em PT. Diagnóstico: Processo concluído com sucesso total. Este é o mesmo país de mentes colonizadas, em que o conservadorismo dos valores/conceitos/princípios incutidos, 1º pelos europeus e depois pelos estadunidenses, trata de eternizar uma sub-sociedade como fosse um pêndulo de relógio…

  4. Hoje a acompanhar o vídeo de Grândola Vila Morena, publiquei esta dedicatória:
    Nunca a discussão do tema liberdade foi tão premente como hoje. Existe um fascismo corporativo que vai avançando, insidioso, subversivo, sem fronteiras e sem rosto. A sociedade vai tendo sintomas espontâneos como a Geração à Rasca em Portugal, os Gilets Jaunes em França ou Occupy Wall Street nos EUA. Platão com o Mito da Caverna ou Thomas Clement Douglas com Mouseland, chamavam atenção para a nossa cegueira colectiva. Aquela cegueira que está na base da ausência de espírito critico numa situação de confinamento geral, mas que ataca de forma veemente a celebração do dia da liberdade. Viva o 25 de Abril, viva a memória do Zeca Afonso!

    1. Meu caro Krowler … lamento… mas suspeito que um outro fascismo corporativista esteve na base do 25 de Abril, muitos dos oficiais dos quadros permanentes (QP) das FA não mostravam muito entusiasmo em ir para o Ultramar e o Governo começou a incentivar os milicianos com progressões na carreira para renovar as comissões no Ultramar e ao fim de alguns anos , milicianos estavam a passar á frente dos oficias do QP …( Blasfémia!) foi nesse contexto que nasceu o movimento dos capitães, esse movimento evoluiu e deixou de reivindicar ao Governo progressões na carreira para começar a reivindicar a queda do Governo, temos ainda a seria suspeita que a CIA incentivou o golpe, não foi por mero acaso que depois de cercar o quartel do Carmo onde estava o Prof. Marcelo Caetano que surgiu o General António de Spinola para receber o poder das mãos de Marcelo Caetano ? Assim… não falta aqui nada ? O mesmo General que tinha escrito o livro Portugal e o futuro onde declarava que não havia solução militar para o conflito, na sequencia do qual foi demitido … E um mês depois surge em cena para receber o poder das mãos de Marcelo Caetano ??? Sem apoios internacionais? É uma historia muito longa e muito mal contada …

  5. Todo o evento 25 de Abril é uma história mal contada. Quem estudar profundamente vai perceber facilmente. Existe muita coisa escrita. É ler, cruzar e informação e pensar.

  6. Mesmo sendo um pacifista, ontem conversando com um grupo de amigos tive de me render, só uma revolução pra resolver essa situação, a que ponto chegamos….

    1. Revolução de quem e para quem? Somos sociedades formadas por indivíduos desorientados, alienados, cuja proximidade com o poder se torna tão ou mais perigosa do o que estamos vendo. Não vejo qualquer segmento importante que esteja preparado para reverter e atenuar os processos civilizatórios…

      1. Seu conformismo e nosso inconformismo só exibe o grau de nossa adaptação nessa sociedade e não nosso sucesso em interferir nela. Existem outros processos de revolução, tal qual isolamento em comunidade em algumas partes do mundo ainda é possível. Mas para isso é necessário saber defender-se já que nessas zonas não há “processos civilizatórios”.

        1. P.s: Não tenho a audácia ou prepotência de achar que as pessoas precisam ser salvas, aliás as mesmas demonstram o oposto desejo.

        2. Constatar e se convencer de algo, mesmo à contra gosto, não é sinônimo de conformismo…O que incomoda é o tal “inconformismo” pendular…

  7. Volte na história e constatará para que serve a ideologia “pacifista”…de Buda, passando por Mandela…que não passa de uma rendição velada das maiorias perante as minorias…A história do bicho homem não tem nada de pacifismo, e jamais terá, pois nossos instintos animais, combinados com ambições surgidas, o impedem.

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