A chegada da nova crise

…e acabamos a semana (a última sem podcast!) em alegria. Agora parece certo: está a chegar uma nova crise. Acontece.

Como realça Sputnik:

Das recentes declarações dos representantes das principais instituições financeiro-monetárias internacionais, é evidente que o pânico domina.

O Banco Mundial fez uma previsão das taxas de crescimento do comércio global segundo as quais neste ano veremos uma queda de 2.6% para 1.5%. A Directora do Fundo Monetário Internacional, Kristalina Georgieva, por outro lado, prevê uma crise económica ainda pior que aquela de 2008: “O crescimento da economia mundial foi de facto interrompido”, disse a Directora na reunião anual das cúpulas do Banco Mundial e do FMI, realizada no início de Outubro em New York. Segundo as estimativas do FMI, no final do ano o PIB mundial ficará com uma perda de 0.8%, ou 700 biliões de Dólares. Como resultado, para 90% dos Países, o ritmo do crescimento económico desacelerará e será o pior nos últimos 10 anos.

Os especialistas do Banco Mundial não fizeram nada além de confirmar as estimativas negativas dos seus colegas, prevendo uma queda no PIB dos EUA de 2.% para 2.3%. Na Zona do Euro, espera-se que o mesmo valor caia de 1.2% para 1.1%, enquanto na China a queda será de 6.2% para 6.1% (o valor mais baixo desde 1990).

O diário Repubblica é um pouco mais detalhado e explica quais os seis sinais que o FMI tem em consideração para as suas nefastas previsões:

O primeiro alerta é o enorme crescimento das acções privadas e públicas com taxas negativas abaixo de zero, tanto que muitos bancos pedem uma remuneração sobre os depósitos dos clientes. O volume atingiu 15 triliões de Dólares e estima-se que em três anos 20% dos Títulos de Estado irão “oferecer” taxas negativas. A causa tem sido as políticas de flexibilização quantitativa [Quantitative Easing, ndt] dos últimos anos da Federal Reserve e do BCE: evitaram o pior, mas criaram um mar de liquidez. “Com taxas baixas ou negativas, é incentivado o risco e um aumento gradual da vulnerabilidade financeira”, explica o relatório.

O segundo alarme diz respeito ao sistema financeiro não bancário que empresta dinheiro. Facilitados por baixas taxas e, frequentemente, sem um capital adequado, têm inundado o planeta: em 80% das economias mais importantes e mais financeirazadas, a taxa de vulnerabilidade do sector não bancário está a crescer.

O terceiro indicador vermelho é o alto nível de dívidas inseguras das empresas que, segundo o Fundo, está a crescer em várias economias avançadas. É um total de 19 triliões de Dólares, cerca de 40% das dívidas empresariais das economias desenvolvidas, consideradas em risco. Um nível superior ao da crise de 2008.

O quarto alarme diz respeito aos fundos de pensão e seguros. Com baixas taxas, estes procuram investimentos mais rentáveis ​​e, portanto, correm riscos. A taxa dos investimentos mais arriscados aumentou de 5 para 20% nos últimos dez anos. Os efeitos devem ser considerados com cuidado: os grandes investidores institucionais sempre actuaram como estabilizadores do mercado e agora, com carteiras parcialmente ilíquidas, correm o risco de perder essa capacidade. Além disso, com taxas negativas, os bancos estão a perder margens de lucro e a sua consideração nos mercados está a cair.

O quinto alarme no horizonte é aquele dos Países emergentes. Estão a endividar-se com os Países avançados, onde as taxas são baixas: a Dívida externa aumentou para 160% do valor das exportações, contra 100% em 2008. Naturalmente, um aperto nas condições financeiras seria letal.

O sexto sinal que está a formar-se na economia mundial é o do Dólar. Muitos bancos fora dos Estados Unidos concederam empréstimos em Dólares até um total de 12 triliões. São empréstimos que costumam financiar aquisições em Países emergentes: é natural que uma reavaliação do Dólar ou um aumento nas taxas prejudiquem os bancos, tanto os bancos que emprestam quanto os bancos que receberam os empréstimos.

Nesse cenário sombrio não pode faltar o cálculo da bolha da Dívida, pública e privada, em todo o mundo: a Dívida global continua a aumentar e, em 2018, era 226% do PIB mundial, um pouco mais alto do que em 2017, quando era 225%, e claramente acima dos níveis pré-crise. A Dívida Pública é de 82.8% do PIB global, enquanto aquela do sector privado não financeiro é de 143.6%.

O conceituado Economist prefere concentrar-se nos efeitos:

Dez anos após a crise de 2008, a próxima fase do ciclo económico é iminente e não demorará muito para que o mundo enfrente uma nova recessão global. […] É improvável que a próxima recessão seja tão devastadora quanto aquela de 2008-2009 (a mais grave desde a década de 1930), mas isso não significa que devemos permanecer descontraídos.

Se a crise de 2008 -2009 eclodiu nos bancos de Wall Street, de acordo com o semanário, é provável que a próxima crise surja nos mercados emergentes. A questão colocada pelo Economist é: o que os bancos centrais farão se uma nova recessão ocorrer? As taxas já estão no mínimo e não podem ser reduzidas ainda mais.

Resumindo: uma nova crise no horizonte, isso parece certo. Não será tão grave como aquela de 10 anos atrás, mas sempre crise será e haverá uma desaceleração geral na economia.

Para lidar com essa situação, os bancos centrais, que normalmente estimulam a economia em tempos de crise, podem decidir recorrer a instrumentos não ortodoxos, ou pelo menos menos ortodoxos do que o habitual. As suas armas tradicionais, de facto, como a manipulação da taxa de juros para facilitar o empréstimo de dinheiro, já foram exploradas em todo o seu potencial: as taxas já estão próximas de zero e às vezes até mais baixas. Portanto, poderíamos testemunhar um novo Quantitative Easing ou soluções ainda mais criativas.

As causas?

Depois há outra questão: quais as causas? Por qual razão estamos a enfrentar uma nova recessão quando acabamos de emergir de outra crise devastadora? Aparentemente não há uma resposta simples e as melhores mentes do planeta parecem empenhadas numa corrida para encontrar a melhor das justificações.

Por exemplo: a natureza “cíclica” do Capitalismo, que pelo menos até agora sempre mostrou alternar momentos de grande crescimento com crises e recessões. Esses ciclos geralmente duram cerca de dez anos, e hoje estamos exactamente dez anos após a última recessão. A instabilidade política e os riscos de uma guerra comercial internacional, portanto, seriam apenas uma circunstância agravante de um evento que deveria ser enfrentado de qualquer forma.

Segundo outros especialistas, a recessão que teremos que enfrentar nos próximos meses não seria apenas a consequência do normal ciclo de expansão e contracção capitalista. Como lembrado no New York Times por Ruchir Sharma, estrategista-chefe global do banco de negócios Morgan Stanley Investment Management, a economia mundial (e em particular aquela dos Países desenvolvidos, mas não só) parece estar a enfrentar problemas há algum tempo. Nos anos de recuperação, as taxas de crescimento não foram tão boas como antes e mesmo os Países que que cresceram mais, como a China e os Países do sudeste da Ásia, desaceleraram bastante.

Segundo Sharma, o problema é que a economia mundial encontra barreiras ao crescimento económico que nada têm a ver com escolhas políticas dos governos: por exemplo, o envelhecimento da população e a consequente redução da força de trabalho (menos pessoas significam menos bens e serviços produzidos e, portanto, menos PIB). A China, considerada por décadas o “mecanismo” global do crescimento, já esgotou as oportunidades de crescimento mais simples e acessíveis (como transformar milhões de camponeses em trabalhadores); a única maneira de manter as suas taxas de crescimento elevadas é adoptar estratégias para promover um crescimento de melhor qualidade, mas essas estratégias não são fáceis de serem adoptadas.

Nas páginas de Project Syndicate, os economistas Nouriel Roubini e Brunello Rosa apontam também para outras causas: a insustentabilidade das políticas de estímulo fiscal que apoiam o PIB dos EUA; a batalha comercial de Donald Trump; as políticas de Donald Trump que levarão a restrições de investimento nos EUA e dos EUA no mundo; os sinais de instabilidade e as acentuadas correcções nos mercados de acções dos EUA e do mundo; a desaceleração do crescimento global e, em particular, na Europa.

A causa: a usura

Provavelmente tudo quanto afirmado até aqui é verdadeiro. No entanto, em Informação Incorrecta gostamos de manter as coisas simples. Então será bom repetir algo que já foi dito que mas não perdeu a sua razão de ser.

A partir de qualquer salário, de qualquer mercadoria, de qualquer Estado (ao qual “empresta” o dinheiro que o Estado poderia criar), a Finança global retira dinheiro sob forma de juros. A Dívida  mundial é quase 250% o Produto Global Bruto, o que significa o seguinte: a grande usura internacional (que costumamos chamar de Finança) endividou o mundo duas vezes e meia o que o mundo é capaz de produzir e, a partir dessa colossal dívida, retira e exige a parte dela (os juros). Ponto, não é preciso mais nada, isso explica tudo.

Cada mercadoria produzida, cada serviço fornecido, cada moeda disponibilizada: tudo nasce já carregado com uma dívida que ninguém consegue (ou quer) pagar. E atenção: não falamos aqui de Dívida Pública, isso é, aquela Dívida que os Estados podem utilizar para criar dinheiro a partir do nada e enriquecer os cidadãos. Aqui falamos duma dívida que cada um de nós tem com a Finança privada, com os grandes jogadores dos mercados financeiros internacionais, aqueles mesmos que lutam (com sucesso) para que os Estados não possam utilizar a Dívida Pública em prol dos cidadão (veja-se o caso da Europa com a limite de 3% da Dívida em relação ao PIB), porque a Finança privada não quer a concorrência dos Estados.

Na Máfia existe o pizzo, uma transferência de dinheiro forçada, que resulta numa extorsão. Os juros são o pizzo que nós, todos nós, temos que pagar à Finança internacional. Problema: o pizzo não cria riqueza porque não é investimento, é pura usura (contrariamente ao Estado que utiliza a Dívida Pública para o correcto funcionamento duma Nação e para investir) e, quando a economia real já não consegue paga-lo, o sistema entra em colapso.

Ao utilizar as Dívidas públicas e privadas como “dinheiro” que rende aos privados, o sistema mantém montes de dívidas num equilíbrio instável: é uma dívida com a qual os bancos criaram triliões, emprestados com taxas de zero ou abaixo de zero, mas a economia real não precisa de mais dinheiro, não consegue absorver outra dívida ou pagar outros juros, embora abaixo de zero. Uma manobra de Quantitative Easing agora seria como atirar um balde de água para o oceano.

Tudo isso já aconteceu no passado: em 1929, quando a Bolsa de New York subiu em flecha ao emprestar dinheiro a todos para que “todos” pudessem comprar acções, ficassem ricos e devolvessem o dinheiro aos bancos. Era tudo muito simples, era só olhar para Wall Street e observar as pessoas tornar-se ricas dum dia para outro. Foi isso mesmo, foi dívida: uma dívida que ultrapassava a capacidade da economia real, pois os cidadãos não tinhma maneira de devolver todo aquele dinheiro emprestado. Aos primeiros sinais de problemas, os bancos pediram que “todos” devolvessem o dinheiro de imediato. E foi a Grande Depressão, com a qual a usura ganhou mas que atirou para a miséria milhões de pessoas.

Hoje o jogo é exactamente o mesmo. Não parece, mas é. É verdade, hoje já não há bancos que emprestam dinheiro a todos. Pelo contrário, para obter um empréstimo hoje é necessário apresentar garantias, o que significa dizer ao banco “olha, eu peço-te 100 Euros mas, como podes ver, já tenho uma casa que vale 120 Euros, depois há o meu tio José que disponibiliza a sua reforma como refém e há também o meu filho que tem 10 anos mas que assina para que, uma vez no trabalho, entregue todo o seu ordenado até os 68 anos caso eu não pague as prestações”. Hoje os bancos funcionam assim porque têm medo, não querem perder dinheiro, tornaram-se actores no grande jogo da Finança internacional e não apenas instrumentos. Simplesmente, o mecanismo da Dívida “para todos” tomou outras formas e actua logo na altura em que o dinheiro é emitido e disponibilizado aos Bancos Centrais e destes aos Estados. É uma dívida que tornou-se intrínseca, quase fisiológica e, como tal, inevitável.

Hoje a Dívida é dinheiro. A Dívida sempre foi e sempre deveria ser dinheiro nas mãos dos Estados: mas a tragédia é que esta Dívida (e o dinheiro assim gerado com o pizzo também) fica nas mãos dos privados, pelo menos até a crise. Pois na crise acontece algo estranho: aí as perdas são generalizadas, são de “todos” porque há bancos “demasiado grande para falir”, porque “é necessário defender o sistema bancário nacional”, porque “as consequências seriam catastróficas”, etc.

Hoje a usura puxou ainda mais o jogo: conseguiu impor baixos salários globais, privatizou tudo e mais alguma coisa, estabeleceu uma globalização que mata a capacidade de produção nos Países mais avançados mas que continua a explorar os mercados emergentes ou subdesenvolvidos, obriga as pessoas a ocupar as ruas para não morrerem de fome e já sonha acerca duma taxa sobre o dióxido de carbono (uma taxa sobre um gás natural!). A usura internacional está a raspar o fundo do barril. Mas é claro que tudo isso tem um custo: torna a usura cada vez mais insustentável para a economia real. E se a economia real não consegue pagar os juros pretendidos pela usura, como vimos, eis meus senhores que chega a crise.

(nota: na prática há dez anos atrás escrevi as mesmas coisas. Em 2029 vou limitar-me a fazer copia/cola deste artigo, sempre que ainda exista internet, porque o joguinho não pode ser infinito e, mais cedo ou mais tarde, algo vai partir-se).

O lobo mudou de roupa
está vestido de camisa e gravata
e assobia uma música há muito esquecida
anseia pelo inverno
o gelo nos seus olhos, ele começa
a hora do ciclone
o regresso da fortuna
as tempestades de guerra no ar.
Ele pega numa criança
leva-me numa viagem
sobre o que será
lembro-me daquela música há muito esquecida.
E lá à distância um aliado no vento
e começamos
comecamos a cair, começamos a cair.
Ele agarra a criança
Não me conheces?
Não me abraças?
A tua fortuna é apenas uma memória
esculpida em todas as árvores de corniso.
Não me reconheces?
Não me abraças?
Eu disse que a tua fortuna seria apenas uma memória
que morre em toda as árvores de corniso.
Somos apenas tu e eu.

(Citizen Cain, Serpentes in Camouflage)

 

Ipse dixit.

Fontes: Sputnik, Repubblica, The Economist, Project Syndicate

Imagem: FEE

6 Replies to “A chegada da nova crise”

  1. A usura junta com a especulação e a exploração enquanto mecanismos preferenciais para fabricar ricos.
    As crises têm servido para um reajuste do sistema, ou seja, quando o pano já não tem mais por onde esticar sem rasgar, aparece uma bendita crise que vai aliviar um conjunto de tensões acumuladas. As vitimas lambem as feridas e a coisa volta a entrar nos eixos.
    Ultimamente tem aparecido um ruído de fundo sobre esta crise que parece avizinhar-se, e que espero que seja de pouca dura.
    É mais do mesmo, apesar de todos os considerandos técnicos do Roubini e de outros notáveis da economia mundial, não passa de uma luta de classes com o fosso cada vez maior entre os muito ricos e os outros.

  2. A ” crise” é provocada pelas noticias que predizem a aproximação desse mesma crise , as razões apresentadas são apenas uma desculpa, porque essas razões poderiam continuar a ser estendidas indefinidamente, a verdade é que não existe um tecto máximo definido para o endividamento, falar em triliões de divida é indiferente não faz sentido na cabeça de quem mantém o sistema a funcionar.
    A próxima “crise” que já esta decretada através da comunicação social será apenas mais uma etapa no final da qual os grandes consórcios empresariais serão reforçados através de fusões, bancos físicos serão drasticamente reduzidos , a banca digital emergira do mesmo modo que a tecnologia será apresentada mais uma vez como uma solução para gente desesperada que assim continuara a entregar a sua capacidade de decisão, a sua subsistência e a sua privacidade para consórcios de empresas que nomeiam os governos e dominam os cidadão através de meios electrónicos., o desespero vai criar ódio e revolta que será canalizado para acções hostis contra os “inimigos” decretados pelos governante fantoches. Estamos a ser empurrados numa direcção , a “crise” que terá efeitos físicos é provocada de forma psicológica.
    Mas se sabemos que vai acontecer… não a podemos evitar … então é tempo para nos prepararmos … e ajustar as velas 😉

    1. Acho sua análise equivocada ao culpar ad notícias. Acho que as notícias são armas, igual a noção de futuro. Quem se rende e tem culpa é o povo .

  3. Quando a propaganda insiste veementemente para que a população que ainda consegue juntar alguma coisa, empregue esta coisa em determinados investimentos, meu instinto avisa que provavelmente estes investimentos induzidos sejam uma péssima ideia no momento. Assim é que, no Brazil de hoje só se fala em ações. E já conquistou as massas. O sujeito tem 100 reais, e lá vai ele para o cassino da moda que promete ao investidor lucros fabulosos. Está havendo aqui uma debandada geral e o pequenino investidor já se sente um financista, prometendo à família aquilo que ele diz detestar, mas deseja ardentemente ver-se aceito na camarilha dos que vivem de rendas. Não sei direito como este cassino funciona, mas algo me diz que esse povinho minhoca dos investimentos vai afundar junto com a maioria que não tem um tostão para “investir”. Sei que para os miseráveis nada muda e o costume de não ter nada já se tornou aceitável. Sei lá o que pode acontecer com o zé povinho investidor, se perde aquilo que é a razão de suas vidinhas: um dinheirinho, um poderzinho, uma aparênciazinha.

  4. Um pouco off topic, ou talvez não, porque além de uma crise financeira, também se vive uma crise de valores.

    Entendo que esta análise sobre o papel do povo como co responsável pelas situações que se vivem é pertinente.
    Atirar as culpas apenas para os EUA/Israel/Judeus etc além de redutor é prejudicial, porque além de ser uma análise incompleta, não ajuda a ter instrumentos para tentar encontrar soluções para os problemas.

    Mas uma coisa é certa, embora o povo seja também responsável, porque é sim senhor, disso não restam dúvidas, o império não dorme, não pára e é decisivo na maioria dos casos.

    Alertar para o papel do povo é bom, mas não devemos tirar os olhos do inimigo por um segundo que seja.
    (Faço parte dos 99% de pobres/remediados deste mundo, por isso o império é o inimigo)

    http://www.resumenlatinoamericano.org/2019/11/17/bolivia-el-golpista-kaliman-se-fue-a-estados-unidos-con-un-millon-de-dolares/

    Abraço

Obrigado por participar na discussão!

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