A guerra do petróleo: a fase do Verão

O Presidente Trump, de facto, retirou-se da Síria. Mas a guerra contra o Irão não acabou, simplesmente foram mudados os tempos: agora a opção é aquela duma acção de longo prazo para provocar a máxima tensão. A notícia de que Trump pediu secretamente à Arábia Saudita para aumentar a produção de petróleo até um milhão de barris por dia é a prova.

Temos que admitir: é a opção que faz mais sentido. Ao jogar com o preço do crude, os Estados Unidos conseguem criar problemas ao Irão, manter sob pressão a Venezuela, enfraquecer a economia brasileira e reduzir os lucros das monarquias que levantam a voz contra a Arábia (é o caso do Qatar) ou dos concorrentes geopolíticos (Rússia e China). Baixar o preços do petróleo custa menos do que uma guerra, dá menos nas vistas e os resultados são assegurados.

A Arábia Saudita e alguns dos seus aliados árabes mais próximos no Golfo são os únicos fornecedores que têm a oportunidade de aumentar a produção. Assim, no caso de um aumento na produção da OPEP e aliados, os preços potencialmente baixos prejudicariam outros membros da OPEP que não têm a possibilidade de aumentar a produção. O objectivo é começar a baixar os preços do petróleo depois dos EUA secarem as finanças da Turquia e terem ajudado a Arábia Saudita a melhorar a sua posição fiscal para o resto do ano com os recentes preços mais altos.

Na área do Médio Oriente, a Turquia foi o primeiro alvo: respondeu em mau modo à israel e está indecisa entre Ocidente (EUA-Nato) e Oriente (Rússia). A subida dos preços do crude foi um duro golpe para um País que é um forte importador. Antes a Lira turca sofreu uma forte queda, agora os seus títulos estão sob forte pressão por causa dum Dólar cada vez mais forte: um clássico ataque conjunto contra um País que não joga de acordo com as regras dos Estados Unidos.

Todavia, a economia de Washington não está em condições de aguentar preços elevados do barril durante muito tempo: Trump está a tentar melhorar esta situação, baixando o custo do “ouro negro” e, ao mesmo tempo, colocando pressão sobre as contas do Irão, o segundo alvo do Médio Oriente.

O caso do Irão

Em 2012 as sanções contra o Irão tiveram um custo muito elevado para Teherão: a produção baixou de 3.8 bilhões para apenas 3 milhões de barris por dia. Hoje os sauditas estão muito confiantes, convencidos pelas novas sanções americanas de que os mercados asiáticos aumentarão a procura de petróleo árabe em detrimento do iraniano. O que pode pode ser, ou talvez não.

O facto é que hoje as coisas são diferentes, porque a China lançou positivamente o contrato chamado “Petroyuan”, com o qual o Irão poderá felizmente vender o seu petróleo em China e em todos os Paíśes que aceitem o Petroyuan.

Enquanto Japão e a Coreia do Sul bem podem desistir da compra para não irritar os Estados Unidos, a China aumentará a sua parte de aquisição, compensando as perdas, porque Pequim está sempre à procura de petróleo para o seu voraz mercado interno. E a Índia, outro País que devora crude, já anunciou a intenção de continuar a comprar apesar das sanções.

Finalmente, a favor do Irão há o acordo russo de troca Oil-for-Goods (“Petróleo em troca de Bens”), com o qual Moscovo compra 500 mil barris por dia e troca de produtos russos. As primeiras trocas entre os dois Países ocorreram em Abril.

Verão quente (talvez)

A Administração americana sabe tudo isso, portanto o próximo passo é empurrar a OPEP para aumentar a sua produção e, como consequência, baixar os preços.

O problema é que o petróleo entrou numa nova tendência de alta, como bem sabem os condutores de meio mundo. Como é possível observar com os dois gráficos (em particular com o gráfico quadrimestral), a tendência é clara: subida.

E o mercado é uma besta estranha: não é suficiente dizer “ok, baixamos o preço” para que este baixe dum dia para outro. Seria precisa uma inteira semana abaixo de 61.76 para resfriar a tendência: isso enquanto o Brent ainda vende perto dos 76 Dólares e o WTI (petróleo dos EUA) está na casa dos 65.50 Dólares.

Pelo que, podemos esperar um Verão com preços flutuantes mas sem grandes quedas porque a China continuará a comprar o petróleo que sobra: e será bem feliz em não paga-lo em Dólares.

Resumindo: encher o depósito custa? Custa muito mais de quanto imaginado. Enquanto deitamos a gasolina no carro, pensamos tristemente na nossa carteira, cada vez mais leve. Porque a gasolina é cara. Mas tentamos ver as coisas dum outro ponto de vista: enchemos o depósito e estamos a financiar uma guerra, uma guerra verdadeira com mortos e feridos. Para que o nosso carro ande é preciso que alguém morra, que direitos sejam atropelados, que Estados sejam bombardeados. Então entendemos que a gasolina é cara mas também barata: quantos litros de gasolina vale uma vida humana? Entendemos que o Estado, o nosso Estado, não tem vergonha nenhuma em lucrar com um líquido que causa morte e sofrimento. E nem falamos aqui dos danos ambientais…

 

Ipse dixit.

Fonte e gráficos: Tom Luongo

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