Não poucas vezes, e não desde hoje, a nossa época é posta em relação com aquela vivida durante as últimas décadas do Império Romano. Também hoje há um sensus finis (“um senso do fim”), uma ausência de esperança, colectiva e individual, um cansaço, uma falta de vitalidade, um sentimento de impotência. Estes são clássicos sinais dum mundo em decadência.
Os “bárbaros” estão próximos, muitos já entre nós, como nos tempos imperiais.
Os Godos, os Burgúndios, os Francos, os Vândalos foram capazes de vencer o muito mais poderoso e organizado exército romano, até conquistar a capital, reduzindo a cidade ao nível duma aldeia, com 37 mil habitantes: isso foi possível porque, nos séculos anteriores, o Império e as seus estruturas institucionais e mentais tinham sido erodidas por um conjunto de factores: Cristianismo, corrupção e opulência.
Em vão os imperadores desde Diocleciano tinham tentado, até a última e desesperada tentativa de Juliano o Apóstata, erradicar pelo menos um destes problemas, o Cristianismo, com repressão e violência. O mundo pagão, corrupto até a medula por causa do poder, nada pude fazer contra uma ideologia que carregava dentro de si valores muito fortes e novos: “novos” por assim dizer, pois em parte provinham do judaísmo. Em suma, o Cristianismo era um fenómeno Mediterrânico que não vinha do nada.
No prazo de poucos séculos, conseguiu vingar no mundo germânico, aparentemente vencedor. Perante as antigas superstições, quase infinitas, que haviam cruzado o mundo e com muitos pontos de contacto com a Bíblia e os Evangelhos, apareceu um culto mais forte, mais atraente.
Mas o Cristianismo, transformado por São Paulo (o verdadeiro arquitecto do Cristianismo tal como o conhecemos hoje) numa estrutura religiosa poderosa, tinha dentro de si as sementes do seu fim. Depois de vinte séculos de hegemonia e ascensão do pensamento cristão nas várias declinações católicas, ortodoxas e protestantes, terminou a sua fase de propulsão.
Talvez não foi entendido completamente, até os nossos dias, o que Friedrich Nietzsche queria dizer com “a Morte de Deus”. Nietzsche proclamava no início do século XIX, com décadas de antecedência (simplesmente porque era um génio), que Deus, em virtude ou por causa do Iluminismo e da afirmação da Deusa Razão, tinha morrido na consciência do homem ocidental. Mas o funeral do Cristianismo não teria sido de todo indolor. Não por acaso, o capítulo sucessivo escrito por Nietzsche tinha o título de Incipit Tragoedia (“A Tragédia começa”). Deus foi substituído pelas ideologias. Mas as ideologias, dentro dum tempo relativamente curto (dois séculos e meio, aproximadamente), de igual modo morreram. E a morte delas, tal como aquela de Deus, é saudada como uma libertação.
Em vez disso, é uma outra tragédia: porque agora falta qualquer ponto de referência, secular ou religioso (um Deus morto não pode ser ressuscitado), não podendo considerar-se como valor um “livre mercado”. O “livre mercado” (aspas necessárias) nem é uma ideologia, como acontecia nos tempos de Adam Smith e David Ricardo, e hoje nem consegue ser uma ideia: é simplesmente um mecanismo que agora funciona sozinho, ganhando potência na medida em que enfraquece o homem. Mesmo os homens que agora acham terem nas suas mãos o leme do mercado (e hoje definimos este grupo como “elite”), mais cedo ou mais tarde serão vítimas também.
Quais os valores que regem a nossa sociedade? Aqueles frutos do Iluminismo? Liberdade? Igualdade? Irmandade?
A Liberdade é um conceito relativo. Sim, hoje podemos apanhar um avião e sair do nosso País. Mas isso não é sinónimo de Liberdade: que, por sua vez, pode ser afectada de várias formas.
Conhecemos o esforço das agências de espionagem para invadir a nossa privacidade através dos vários meios informáticos. Quem pensa “Está bem, que espreitem o meio correio, nada tenho a esconder” não entende que está a ser-lhe retirada liberdade. As notícias estão nas mãos dum punhado de agências de imprensa, as quais filtram os conteúdos: algumas notícias nunca chegam até nós. Também esta é uma forma de retirar liberdade. E os exemplos poderiam continuar.
Igualdade? Não, de todo, e é absolutamente supérfluo falar deste ponto.
Irmandade? Os indivíduos estão cada vez mais fechados em si mesmos, reacção em parte natural perante o medo. Cada País gasta montantes assustadores em armas quando o mesmo dinheiro poderia melhorar de forma estrondosa os níveis de vidas dos mais pobres. Que são muitos, mas muitos mesmo e precisam de tudo. De qual irmandade estamos a falar?
Queremos falar da Justiça? Juízes corruptos pelas corporações, imunidade para provados criminosos
só por estes pertencerem a um Parlamento, tempos de espera e custos absurdos para um normal cidadão, investigações iniciadas apenas para motivos políticos. É “justo” que a nossa segurança enquanto comunidade nacional dependa exclusivamente das pessoas que controlam o nosso Banco Central? Como pode uma sociedade ser justa se o péssimo exemplo é dado em primeiro lugar por quem é suposto fazer respeitar as regras?
Respeito pelo ambiente? Este deveria ser um valor absoluto para todos no planeta: mas bem sabemos, infelizmente, que assim não é, que o equilíbrio ecológico é continuamente posto em causa pelas nossas atitudes, tanto ao nível das empresas quanto ao nível individual. Até a poluição ou o aquecimento global são explorados para obter lucros, até a utilização das energias renováveis depende da potência (isso é: dos fundos fornecidos por corporações) duma lobby.
Democracia? Demasiadas vezes em nome da Democracia foram e, sobretudo agora, são cometidos crimes contra a humanidade. A Democracia é um invólucro, no cujo interior pode caber de tudo a segunda das épocas e das necessidades. Hoje a Democracia exclui o cidadão das grandes decisões e, se for o caso, mata.
Como definir uma sociedade onde a liberdade é relativa, a igualdade não existe, a irmandade está entregue apenas à boa vontade de algumas minorias, onde a justiça não consegue fazer respeitar as regras favorecendo os mais poderosos, onde o ambiente é continuamente degradado e fonte de dinheiro “sujo”, onde a democracia pode ser transformada num instrumento de morte?
Daí a confusão, o sentimento de perda que afecta todos. É o medo, o grande medo (em parte criado, em parte real) que tudo abraça. Paradoxalmente, não é do medo que temos de ter medo, mas da nossa falta de valores, porque aí está a origem. É por causa da falta de valores que o mundo ocidental, tão superiormente armado, irá perder.
Não é o presente escrito uma tentativa de defender o Cristianismo, longe disso (mas muito longe mesmo!). É que o homem é um animal social: vive em manadas, no interior das quais deve reconhecer e manter aquele conjunto de valores que permitem a sobrevivência da mesma manada e dos indivíduos. Que seria das matilhas de lobos sem a hierarquia, as específicas tarefas e a união que desde sempre regulam as suas existências?
Podemos falar do terrorismo, do preço do petróleo, da economia, do mercado, das greves, do crescimento, do decrescimento, do aquecimento global, da Esquerda, da Direita, dos Ufo, da internet, da poluição, da pobreza, das vacinas, dos emigrantes: nenhum destes é um valor, nenhum destes pode preencher o vazio que foi criado.
Em cada cultura humana, quase sem excepção, é normal que o sistema de valores não seja eterno, mas que atinja um ponto de colapso. Reza a História, cúmplice a nossa absoluta necessidade de esperança, que após cada crise pode renascer uma realidade melhor.
Mas também a História ensina que qualquer regeneração não é indolor. Pelo contrário, isso passa por uma fase de profundo sofrimento, de regresso até. A suspeito que os nossos “bárbaros”, emigrantes ou não, serão os mais pobres, as camadas dos marginalizados, os que mais nada têm a perder. E os pobres, apesar das declarações optimistas e obtusas da ONU, irão aumentar.
E nem seria irónico se assim fosse: a arquitectura da nossa sociedade contém em si os germes do seu próprio fim. Nós apenas temos que esperar que as futuras gerações possam realmente contar com algo melhor e que não tenha razão o grego Heráclito, que no século VI antes de Cristo advertia de que a humanidade estava destinada a degenerar sem fim.
Ipse dixit.
Caro MAX, gostaria que discorresse sobre a Chechênia e a questão dos homossexuais… Sei que nada tem a ver com o assunto, mas a mídia tem bombardeado com notícias sobre campos de concentração.
Olá José!
Amanhã vou escrever tudo o que sei, juro!
Abraçooo!!!
Em todas as sociedade e em todos os tempos existiu um "sentimento do fim próximo" e a tendência para enfatizar o passado, que passado? O passado em que se morria numa guerra colonial sem saber porque? Um passado em que um mau ano agrícola gerava doenças enfraquecia um pais e essa espiral era aproveitada para ser invadido pelo pais vizinho? Um passado em que não havia antibióticos e se morria com uma simples infeção?
Não é necessário destruir uma sociedade para a renascer das cinzas e a velha comparação com o Imperio Romano peca pelo principal, demorou vários seculos e hoje vive-se ao segundo e os valores herdados da revolução Francesa …eram pura propaganda de regime tal como hoje se enfatiza os valores republicanos e democráticos e talvez num futuro não muito distante de novo num regime ditatorial (é fundamental não esquecer que em 800 anos de historia temos 43 de democracia e nada dura para sempre) iremos recordar os acuais valores democráticos como… " naquele tempo é que era bom …" De facto a historia ensina muita coisa…Mas qual historia ? ou melhor, qual interpretação da historia? Aborrece-me ouvir lamentações e invocações de esperança … Então não há nada de bom? Aqui estamos com tempo livre e com possibilidade de discutir as nossas ideias potencialmente com milhões de pessoas para nos lamentarmos ? Nós estamos destinados a fazer e a ser o que quisermos !
Os valores declarados continuam sendo estes que te referes: fé religiosa, liberdade, igualdade, fraternidade, democracia…Os valores reais são: dinheiro, poder e aparência. Para que estes últimos sejam vividos por uns poucos, o mundo vira um palco onde bilhões de marionetes movimentam-se em função de uma realidade orvalhada por valores que não existem senão na esperança dos que creem e no surrealismo vivido pela maioria
Como hoje eu leio as palavras e as coisas assim, só posso concordar com Heráclito.Lamento…
Mesmo em Roma, nos seus dias de declínio, as pessoas podiam ter a certeza de que algo de sua cultura e história poderia se perpetuar indefinidamente. Não é o sentimento que a sociedade contemporânea carrega consigo. Hoje, mesmo com todos os adventos relacionados de forma inversa por P. Lopes, de forma mais concreta no primeiro parágrafo do seu comentário, temos contra um possível pensamento menos lamurioso o fato de que os mísseis e suas ogivas podem pulverizar qualquer traço de nossa existência. Dezenas de milhares de ogivas em seus milhares de mísseis não foram construídas para decorar silos nucleares.
Só por isso não vejo como não pofemos entender o sentimento derrotista que está no ar. Os tempos de hoje, em nada se assemelham com qualquer coisa que a humanidade tenha passado. E, por enquanto, não vejo as pessoas com preocupações exageradas. A grande maioria crê no fator de dissuasão que nações com poderio atômico geram umas nas outras. Mas como disse acima, pode não ser nesses nossos dias, mas com tantos artefatos de alto poder destrutivo por aí dando sopa, não vejo como os séculos se passarão sem que aconteça algo que as ponha pra funcionar.
Apenas gostaria de deixar claro, que não vivo atormentado por todo esse clima. Me mantenho apenas alerta e vivo minha vida entre aqueles que amo e praticando o bom convívio com meus semelhantes. Sempre contando com que um faixo de sanidade alcance as mentes dos muitos sociopatas que gerem esta democracia global.
Expedito.
Expedito, não sinto nenhum sentimento derrotista no ar, um meteorito que possa atingir a terra pode ser muito mais devastador que um arsenal nuclear, mas … basta atravessar a rua sem atenção e pode-se ser fatalmente atropelado por um carro e ai sim … fomos derrotados. É tudo uma questão de perspetiva. Coisas más irão acontecer se esperamos por elas. E boas também…Não só me aborrece como não tenho tempo para lamentações, O Blog costuma dar excelentes perspetivas, visões alternativas da realidade é um estimulo ao entendimento. Por isso este texto não se enquadra naquilo que costumo ver do espirito do blog, lamento …
P. Lopes, o blog, desde que o acompanho tem por característica trazer à baila o que se passa e o que se comenta pelo planeta. Se interessar pelo que tem sido divulgado em relação à Coréia do Norte faz parte no meu modo de entender. Ninguém duvida de que a humanidade pode perfeitamente superar este sensacionalismo de final dos tempos. Assim como Krowler logo abaixo, também creio que a humanidade passa por transformações radicais. Mas, talvez diferentemente do Krowler, creio que temos agentes que trabalham para se perpetuar e perpetuar o seu modo de operar. Sobre o sentimento derrotista que falei acima, você está correto. Usei uma expressão indevida, o correto seria dizer: alarmismo fabricado. Mas o que importa é que todo santo dia, várias vezes por dia as pessoas estão sendo bombardeadas com o pânico norte coreano. Isso já está obtendo seus resultados. E não é pouca coisa. Sobre se o blog tem ou não seus momentos derrotistas, mesmo reconhecendo que disso também não tenha recordação, é sempre positivo o alerta. Embora entenda o que Max descreveu, com base na história, como também, na análise de muitos comentaristas através dos séculos algo que deva ser muito bem ponderado. A história está aí para que dela tiremos lições para não incorrermos nós mesmos erros. Foi o que entendi com as comparações históricas do artigo. Se não fizermos uso do nosso aprendizado histórico, se não devemos fazer uso de comparativos históricos, aí então penso que a humanidade poderá estagnar, ou pior ainda, com toda tecnologia bélica.
Veja bem, não ando aqui a engendrar nenhuma egrégora por meio de pensamentos negativos. A humanidade caminha para a frente, mas ela tem um passado a lhe servir de escola. E nossas imperfeições estão todas registradas nele. Deve ter alguma utilidade.
Expedito.
Sobre as palavras de Heraclito, eu tenho as minhas dúvidas.
A degenaração sem fim, pressupõe que a humanidade perdeu definitivamente o seu propósito.
Mesmo concordando que existe uma crise de valores, e que estas crises são cíclicas, oscilando entre o respeito por mais ou por menos valores, aparecerá sempre, quando a situação se torna mais aguda, uma resposta para essa crise de valores. O Cristianismo foi uma delas.
Mas a humanidade irá continuar a evoluir, ao ponto acredito eu, de daqui a poucos séculos os humanos dessa altura não terem nada a ver com os actuais.
Hoje, aquilo que nos define como espécie, a competitividade, a brutalidade, o espirito aquisitivo, e todas aquelas carcterísticas tão bem enumeradas por Krishnamurti serão ridiculas no futuro, talvez porque o sentimento de 'sensus finis' que norteia os comportamentos actuais, possa dar lugar a uma nova visão do mundo. A ciência está a trabalhar nesse sentido, e quem sabe se Deus, enquanto conceito filosófico ou o Deus das crenças individuais, não venha a dar lugar a um Deus explicado pela ciência.
Apenas quero acrescentar que quando me refiro a Coréia do Norte é somente como exemplo do bombardeamento diário sobre o fim dos tempos. Dele também faz parte Síria, Yellowstone, Donbass, meteoros, invasão allien… E pela quantidade de gente que ouço dizer que gostaria de assistir o gorducho norte coreano fazer testes nucleares com o capeta, dá pra afirmar que a colheita do que foi plantado é muito boa.
Expedito.
Olá P. Lopes, olá Expedito!
Vamos ser claros: eu não acho que amanhã a sociedade irá acabar entre rios de sangue e explosões atómicas. Só que, como realça Expedito, a História está aí. Podemos ignora-la, pensar que nós somos melhores; ou podemos tentar aprender com ela. Eu pertenço ao segundo grupo, então é simples constatar como todas as sociedades até hoje acabaram. Todas, sem excepções.
Mais: a mesma História mostra como raramente uma sociedade acabe de forma pacífica. Falei da Antiga Roma, mas os exemplos são dezenas, talvez centenas.
A nossa é a melhor sociedade e por isso não irá acabar? Pessoalmente tenho a certeza absoluta que assim não seja. Confio mais na História de que no optimismo sem travões.
O sentimento derrotista existe? Mais uma vez, Expedito falou melhor do que eu: podemos não sentir o medo, mas ele está lá, amplificado (criado?) pelos órgãos de comunicação.
P. Lopes é português, correcto? Então tente lembrar: algumas semanas atrás todos os diários falavam da epidemia da Hepatite (que eu ignorei completamente no blog porque era um disparate alucinante). A seguir foi a vez do Armageddon do sarampo. Esta semana é a Baleia Azul. O que haverá na próxima semana? Como não definir isso se não uma série de medos continuamente espalhados entre a população?
São medos criados? Sim, são: os diários devem vender, os telejornais querem audiência, o melhor é pegar numa notícia e torna-la bombástica de forma que os leitores ou espectadores fiquem curiosos e desejem saber mais. Faz diferença? Não: sempre medo é.
Já reparou quantas vezes nos últimos anos falou-se de meteoritos que podem atingir a Terra em qualquer altura e acabar com a vida no planeta? O homem passou milhares de anos sem sequer saber o que um meteorito fosse, agora o conhece e consegui torna-lo numa notícia que incute medo também porque "o risco existe".
A Coreia do Norte? Mas sabe que na net circulam esquemas que demonstram como a Coreia poderia lançar um míssil atómico que atingiria as costas da Califórnia? Isso é falso, mas o que é isso a não ser vontade de espalhar o medo de que o mundo acabe?
P. Lopes, não importa o que sentimos nós como indivíduos, importa o que a sociedade sente, porque depois as escolhas são feitas não na base do que penso eu ou do que pensa P. Lopes, muitas vezes são feitas por cima de ondas emocionais, sejam elas autênticas ou artificias. E a sociedade, nesta altura, tem medos, infinitas emergências, etc., verdadeiras ou falsas que estas coisas sejam.
Eu não rogo para que haja um regresso ao passado: quando vou ao dentista gosto do anestético e só por isso agradeço o facto de ter nascido nesta época e não na Idade Média. Mas acho que deve existir uma sociedade melhor, com valores (sejam eles quais forem), porque a actual não pode satisfazer. E acho também que as nossas gerações não irão ver este "novo mundo", infelizmente.
Por tudo isso não consigo ver o que escrevi como uma lamentação (se fosse uma pessoa pessimista, nem teria começado o blog!) mas como uma cruda fotografia do que se passa na nossa sociedade hoje, reflexo do que tantas vezes aconteceu no passado.
Depois, como sabe, no blog são sempre muito bem vindos os pontos de vista diferentes do meu, por isso não encare o que escrevi agora como uma crítica, porque tal não é: é só a defesa do meu ponto de vista 🙂
Grande abraçooooo para os dois!
Antes de sairmos vomitando opiniões, precisamos observar determinadas questões, que parecem óbvias, mas que muitas vezes as desprezamos. A construção do passado, a chamada história, é compilada por segmentos dominantes, em qualquer tempo ou contexto, onde o que interessa é lembrado e o que não interessa é esquecido. A vida humana começou bem antes do Egito antigo…E o que vale para o passado, vale para o presente, sujeitado a uma edição midiática que pode ter espectro global, regional ou local, dependendo do assunto. Ser otimista ou pessimista é puro diversionismo. O que se precisa é uma muito maior aproximação com determinadas questões. Digo para pessoas próximas, dediquem 1% do tempo que dedicam para superficialidades como jogos/competições esportivas (principalmente futebol), automóveis, etc, e se voltem para processos civilizatórios verdadeiramente importantes. Fala-se de que a raça falante sempre está em evolução. Como podemos ter essa pretensão se conhecemos o passado simplesmente por versões altamente suspeitas e não nos empenhamos em buscar fontes minimamente desvinculadas desses segmentos.
"o livre mercado é um mecanismo que funciona sozinho"… como assim?
O cerne da condição humana é sob qual hierarquia de valores é submetido, e o quanto é capacitado para identificá-la.
Olá Chaplin!
Acha mesmo que nesta altura seria possível introduzir uma alteração qualquer? Tem ideia do que isso poderia significar em termos não digo políticos (a política adapta-se sempre ao tipo de mercado) mas económicos? Toda a nossa sociedade, sem excepção alguma, hoje funciona exclusivamente com o tal mecanismo, o assim definido "Capitalismo" (eu já recuso defini-lo como tal).
Não há nenhum maquinista, alguém que possa dizer "Ok pessoal, agora basta", nem nas elites. Um "basta" significaria a queda daqueles valores efémeros que hoje de facto regulam as nossas vidas: para citar Maria "dinheiro, poder e aparência". Significaria a paralise dos mercados, do comércio. Seria o caos total.
Não Chaplin, não há ninguém que possa dizer o "basta". E isso significa que o mecanismo tomou consciência (tanto para usar uma imagem figurada) e que condiciona até o(s) maquinista(s).
Se ninguém pode dizer "basta", isso significa que o mecanismo desenvolveu uma boa dose de autonomia: já não pode ser parado. É por isso que escrevo que, no meu entender, funciona sozinho.
"O cerne da condição humana é sob qual hierarquia de valores é submetido, e o quanto é capacitado para identificá-la."
Gostei desta, muito bem visto. Mas o que aconteceria se até os falsos valores de hoje desaparecessem de repente?
A única coisa que a elite (o alegado maquinista) pode fazer é tentar planear o caminho que o mecanismo poderá seguir. Isso sim, dá a possibilidade de introduzir algumas mudanças (e vimos isso: do Capitalismo autêntico até aquela coisa indefinida na qual vivemos hoje), mas é um processo necessariamente demorado (mais de dois séculos até agora).
Grande abraçooooo!!!!
Olá Max!
O tal mecanismo é uma construção de longa data, que sempre dependerá de um conjunto amplo de ações humanas. Reconheço sua complexidade, justamente pelo fato de sua necessidade de escravizar bilhões de pessoas em todo planeta. Claro que não iremos reverter esse mega contexto apertando meia dúzia de botões. Valores, depois de assimilados, dificilmente são rompidos. Desde a narrativa histórica, por mais mitológica que seja, somos condicionados por todos os lados. O que é triste é a quase total rendição sob essa impositura totalitária, que sequer é reconhecida como tal. Mais do que identificar os segmentos responsáveis por esta construção (obviamente são os favorecidos) é identificar os processos em si e suas mazelas intrínsicas. Abraço.
O problema é o pé no acelarador. O próprio mecanismo está a entrar fora de controle (mesmo por quem julga controlar).
Começaram a aparecer fissuras na construção e observa-se que a coisa lentamente a erodir, porque em parte como foi mencionado acima se os falsos valores são realmente falsos tudo se sustenta em bases muito, mas muito instáveis. Qualquer "grão de areia" é o suficiente para tudo alterar. Isto que não tem nome e está em piloto automático (boa descrição), mas aí estará paradoxalmente o seu próprio calcanhar de aquiles.
O que vem? Nem ideia?
Nuno
Olá Nuno!
Refere-se a Teoria do caos controlado. A própria ideia de que o sistema está no piloto automático é falsa não se sustenta a qualquer analise mais ampla.
Abraço
O que não entendo é o seguinte: para se chegar a conclusão de que a história tem suas fundações significativamente adulteradas, só procurando estuda-la. Você só chega aos questionamentos sobre a história tendo conhecimento da narrativa dos vitoriosos. Você lê e conclui sobre os absurdos. Não há outro método. Portanto, é através dos registros oficiais que se vai a campo conferir o que há neles de farsa. Não me vem a cabeça nenhum outro método. Penso que os que frequentam ii têm a noção exata do quanto sempre estivemos enfiados em mentiras. Penso que os que aqui frequentam, quando falam dos relatos históricos, assim agem como ponto de partida para algum lugar, até mesmo o questionamento total daquele relato se assim concluir.
Um outro assunto. Dentre os armagedons geradores de pânico que listei noutro comentário, faltou dois que talvez sejam os mais eficazes: o desamparo a que estão entregando o trabalhador (inclusive pela concorrência tecnológica), como também, toda a incerteza gerada pelo caos econômico mundial.
Expedito.
O caos econômico é segundo muitos é programado e a maior farsa e embuste…(tudo tem a ver não com sistemas eleitorais mas paralelos veja se por exemplo o Eurogrupo é eleito por quem? Serve os interesses de? Tecnocratas para tecnocratas,E como um grupo não eleito tem o poder que tem atualmente? Ou seja o cidadão perde poder para a plutocracia)…tem é sido adiado o reset porque ninguém quer ficar com o nome associado a isso nem o Trump. Porque se reuniu logo no seu governo com indivíduos do Goldman Sachs? Não ia exatamente contra o que ele acusava a opositora?
N
Aliás tanto o T.(antes agora faz de conta que não, os neocons querem umas guerras) mas a própria H.C. tinham relaçoes com a banca russa?
Aliás não é tudo do mesmo, salvo as devidas proporções?
No essencial são, não naquelas coisas dadas como "essencias" mas são meras artimanhas para desviar as atenções?
http://edition.cnn.com/2016/08/17/politics/hillary-clinton-russia-ties-donald-trump/index.html
https://mobile.nytimes.com/2015/04/24/us/cash-flowed-to-clinton-foundation-as-russians-pressed-for-control-of-uranium-company.html
É só usar o Google o duckduck
etc…
Nunca vi tanto aldrabão e vendido mas segundo os sapientes neo-cons e neo-libs vivemos tempos apertados (eles não, mas da maneira que falam até parece sim).
N.
Olá Expedito!
A construção da história e sua respectiva memorização é essencial à dominação. Na verdade, transforma-se em propaganda. Assim como na época medieva qdo a história não oficial era tida heresia, hoje, apesar das dificuldades, temos maiores oportunidades de confrontar a narrativa dos vitoriosos com os fatos em si. E não me refiro ao revisionismo, concebido inicialmente com esse objetivo mas cooptado pelo próprio oficialismo.
Mas falamos de uma iniciativa estritamente individual e extremamente trabalhosa, que exige disponibilidade, alto interesse, renúncias, e até mesmo isolamento. Difícil, mas é o que é.
Abraço
Ora vou dar um exemplo que explica parte do que se está a discutir.
Uma analogia porque digo programado exenplo ideal é só fazer as ligações (não não era porque nem levo a serio o Caos Controlado.
Faltou-me (e falta-me) ser bem melhor a escrever que a raciocinar.
Mas este é um raciocinio em que o Sr.Chaplin decerto verá o que quero demomstrar estão lá vários pontos que o ilustre Brasiliro com B grande tão bem ilustra acima o processo é sempre esse mas deixam sempre incógnitas, marcas, coisas que não encaixam ou passam como realidades quando
Aliás o Max conheçe isto.
Ler artigo vem com o respetivo pdf (ainda não descarreguei).
Tem a ver com a desunião europeia e que não era para ser mas é porque sim e depois quixam-se (sinceramente não tinha a ideia, mas ainda muito tenho que aprender….)
In o Público:
O maldito relatório Maldague que a Comissão mandou destruir
Não há alternativa? Haver, havia, mas o documento que a defendia foi destruído na cave da sede da Comissão Europeia. Lá estava escrito, claramente, que “há um grande risco de que métodos autoritários possam gradualmente vir a controlar as nossas sociedades democráticas"
PAULO PENA
8 de Maio de 2017, 7:00
https://www.publico.pt/2017/05/08/politica/noticia/o-maldito-relatorio-maldague-1771307
Nuno
O relatório Maldague é apenas um dos tantos comprovantes do caos controlado. Ou vc acredita que o funcionamento e circulação do grande capital e sua respectiva acumulação financeira ocorreria caso não fossem aprovadas legislações nacionais e tratados/acordos internacionais? Pode te convercer de uma coisa: A ESSÊNCIA DOS PROCESSOS DE DOMINAÇÃO NÃO SE ALTERA, APENAS TROCA DE ROUPA…
Entao para que o mandam fazer?
Para depois vir em todos os jornais da epoca.
Não acredito! A Europa teve bons estadistas e que melhoraram imenso a vida de todos em geral, carisma e projetos com conta peso e medida (no sec passado).
Agora quem manda fazer um relatorio e depois (julga)mandar queimar tudo como no estalinismo,nazismo,mccarthismo ou até na "santa" inquisição.
São esses sim os que trocam a imagem ou o representante básicamente a cosmetica e vendem o mesmo, que lhes dizem para vender.
Mas mesmo assim não dão a cara, o problema é nos bastidores, aliás sempre foi lá.
Abraço
Nuno
Desculpe Nuno! Faltou uma palavra no comentário. O DESCARTE do relatório…
Em relação a melhora de vida foi conseqüência da política Keynesiana de expandir a capacidade aquisitiva de determinadas populações, eclipsada pela 2ª Guerra, para que essa riqueza fosse transferida como acumulação de capital de uns poucos. Como essa lógica deu bons resultados em alguns contextos, foi adotada por economistas formadores de opinião e vinga até hoje.
Abraço
Era aí mesmo que queria chegar.
Agora dizer que não existem alternativas a "palhaçada" atual.
Existe claro e óbvio.
Se estes senhores nos idos anis 70 previam a possibilidade de isto acontecer, não haverá atualmente falta de q.i. existe é compadrio e falta de vintade política e a imposição (quase invisível) como se fosse o mesmo caminho.
Aliás John M. Keynes também antevia isto e dava a solução.
Mas para a "oligarquia" ou "plutocracia" isso não é democracia é mais socialismo a beirar o comunismo, por isso nada muda porque embora sem rumo e sem visão a médio/longo prazo a
"abominação sem nome" está a dar jeito aos do costume. E os economistas ou apresentadores palhaços pagos que aparecem na tv ou jornais a defender o que o patrão lhe diz.
As vezes o patrão começa a ver com olhos de ver o que se passa e olha aí o Silvio Santos(experiente e esperto e já a antecipar várias saidas) o que disse à menina das mil e uma noites e ao colega (que agora passam a dar notícias e não a opinionar sobre o que nem conhecimento possuem, formação,etc…)
Pois com a internet agora é possível:
Monento cómico:
https://youtu.be/x2rUA92cpZk
Sim existem alternativas, sempre houve e existirão. A questão é se é possível. Acho que sim mas se levamos anos para chegar até aqui vai demorar mais uns anos para e se existe alternativa mudar para melhor(construir) ou até pior(fácil é destruir) ou deixa-se tudo como está e fecham-se os olhos, que nem o avestruz.
Abraço
Nuno
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