Síria, Ucrânia: dois massacres, duas atitudes

Bombas do governo sírio bombas contra Aleppo. Atingido um hospital, muitas mortes de civis.
O recente ataque em Aleppo ocorreu na Quarta-feira e envolveu o hospital de
Al-Quds, que tem o apoio de Médicos Sem Fronteiras (MSF) e do Comité
Internacional da Cruz Vermelha (CICV): de
acordo com MSF, pelo menos 14 mortos, embora o Observatório sírio para os Direitos Humanos (OSDH) eleva para 27 o número de
mortes. Entre as vítimas também o último pediatra ainda presente em Aleppo.

Fica indignado o inútil Secretário-Geral da ONU, Ban Ki Moon:

É necessário que seja feita justiça para estes crimes.

O chefe do grupo de trabalho das Nações Unidas para a ajuda humanitária, Jan Egeland, afirma que “nas próximas horas” serão cruciais para o futuro de “milhões de pessoas” que dependem da ajuda humanitária.

Esta a versão espalhada em coro pelos órgãos de informação.

  Seria interessante se os mesmos órgãos fornecessem mais pormenores. Por exemplo: Aleppo pode ter sido bombardeada porque ocupada por Al Nusra, o grupo de terroristas “moderado” favoritos de Barack Obama (para não mencionar o Ministro francês dos Negócios Estrangeiros Fabiusde: “No terreno, fazem um bom trabalho”). São terroristas, são sunitas e wahabitas tal como o Isis e mantêm a população de Aleppo (o que resta dela) sob o regime de terror.

É suficiente isso para justificar um massacre? Claro que não.
Temos a certeza de que as bombas contra o hospital tenham sido disparadas pelas forças da Síria? Claro que não.

O Ministro sírio da Informação, Omran al-Zoubi, afirma que os recentes ataques terroristas que ocorreram no noroeste da cidade de Aleppo são crimes de guerra. Acrescenta que a recente vaga de ataques e atentados contra Aleppo é parte dum projecto promovido pela Arábia Saudita, Turquia e vários outros Estados patrocinadores do terrorismo.
Relata a utilização de armas modernas e proibidas durante os bombardeios contra as zonas residenciais de Aleppo e denuncia o facto de que o enviado especial da Organização das Nações Unidas (ONU) para a Síria, Staffan de Mistura, fecha os olhos perante dezenas de mortos e feridos, casas destruídas e mais de 1.200 foguetes que atingiram Aleppo nas últimas horas.

O Ministro sírio é voz de parte, pelo que o testemunho dele vale o que vale. Ficam as acusações ocidentais, segundo as quais o bombardeio do hospital foi o trabalho da aviação russa, apesar dos governos sírio e russo refutarem a acusação: “nos últimos dias, os aviões da Força Aeroespacial Russa não têm tido vôos perto de Aleppo”, realçando como o único ataque aéreo aconteceu na Quarta-feira e foi conduzido pela coligação internacional contra o Isis.

Na verdade é praticamente impossível estabelecer de quem a responsabilidade, e isso apesar das “certezas” espalhadas pelos media. Os quais, doutro lado, publicam só notícias cuidadosamente escolhidas, ignorando as que não suportam a linha oficial do Ocidente.

Um exemplo concreto e oriundo de Aleppo é aquele fornecido por Georges Abou Khazen, Bispo da cidade, que em meados de Fevereiro escreveu ao sitio internet católico Piccole Note:

Escrevo de Aleppo, onde estamos há alguns dias sob um bombardeio contínuo contra os civis, o que causa mortes, ferimentos e destruição; só na noite passada tivemos quatro mortes nos nossos bairros e mais de quinze feridos, mais as casas e os apartamentos danificados Estes ataques são realizados por grupos chamados de “oposição moderada” e, como tal, protegida, salvaguardada e armada; mas na verdade não difere dos outros jihadistas se não apenas pelo nome. 

Eles parecem ter tido luz verde para intensificar os bombardeios contra os civis. Talvez o desejo deles é fazer falir as negociações de paz? [as mesmas que depois conseguiram estabelecer o cessar-fogo teoricamente ainda me vigor, ndt] Ou fazer intervir forças regionais para impedir que o exército regular avance e liberte a região do terrorismo e dos jihadistas? 

Faço uma apelo para travar esses ataques e encorajar as partes a sentar-se à mesa das negociações e que os sírios resolvam os seus problemas através do diálogo entre eles. 

Que o Senhor nos conceda a sua paz.

Ao que parece o Senhor não ouviu bem.
Entretanto,  o enviado especial da ONU, o já citado Staffan de Mistura, exclui que o ataque possa ter sido um erro e fala de “crime de guerra” que parece deliberado, mas sem apontar o dedo contra eventuais responsáveis.
Uma legítima pergunta: mas com base em que os media ocidentais culparam o regime sírio excluindo os terroristas de Al Nusra?

Uma óbvia resposta: com base nas declarações do Departamento de Estado dos EUA. 
John Kirby, porta-voz do Departamento:

As indicações que temos agora são de que esse ataque foi conduzido unicamente pelo regime [sírio, ndt]

E não importa se o governo sírio nega, se a Rússia nega: a voz dos EUA é mais forte e é a única veiculada pelos órgãos de informação.

Diário Expresso (Portugal):

A unidade hospitalar era “muito conhecida localmente” e terá sido alvo
de bombardeamentos por parte de aviões do regime de Bashar al-Assad

Público (Portugal):

Só Assad podia bombardear um hospital em Aleppo, acusam todos

Il Corriere della Sera (Italia):

Bombas governativas contra o hospital

Folha de S. Paulo (Brasil):

Bombardeio do governo sírio contra hospital de Aleppo deixa pelo menos 27 mortos

Então eis uma dúvida: dado que a zona é fortemente militarizada e está constantemente sob a atenta

monitorização de das várias forças armadas, não deveria ser difícil apresentar provas que consigam individuar com certeza a origem do raid aéreo. Fala-se aqui de israel, dos EUA, mas também da Rússia, só para citar algumas delas. A Turquia? Fica a 20 quilómetros de Aleppo: nada para dizer? Porque ninguém mostra nada?
Pode ter sido a Síria? Sim, pode ter sido. Mas não é a única suspeita: outras forças da região poderiam ter tudo interesse numa acção tão mediática. Única certeza: quem decidiu bombardear um hospital cheio de crianças há tempo abandonou a nossa raça.

Ucrânia 

Entretanto, no mesmo dia, unidades do regime da Ucraina dispararam fogo de artilharia contra uma coluna de carros que esperavam a abertura do posto fronteiriço entre o Donbass e Ucrânia, em Elenovka. Quatro pessoas foram morta, incluindo uma mulher grávida; houve também oito feridos, um hospital e sete casas danificadas.
Reacções dos media ocidentais? Zero, a notícia nem apareceu.
O que é estranho, pois estamos perante um crime de guerra que também violou o cessar-fogo alcançado com tanta fadiga.
Um acidente? Nem por isso. As poucas passagens entre a república separatista e a Ucrânia estão fechados à noite. As pessoas chegam de madrugada e esperam dormindo no carro. Não sabiam que no dia anterior um drone tinha sido enviado por parte do exército ucraniano e que poucas horas antes a artilharia de Kiev tinha efectuado alguns tiros de ajuste para aperfeiçoar as coordenas do alvo. E o alvo era a passagem de Elenovka. Portanto nada de acidente.
Assim, os tiros foram disparados com geometria perfeição às 2:45 da
manhã: muitas das vítimas passaram directamente do sono para a morte. Foi um crime de guerra, um assassinato deliberado.

Atenção!
As seguintes imagens pode ferir as pessoas mais sensíveis e hipócritas.
 

Mesmo dia, mesma vontade de matar civis, reacções ocidentais diametralmente opostas. 
As diferenças? Na Síria a situação é caótica, simples acusar o regime sírio para depois minimizar a resposta do governo e dos seus aliados (Rússia). Na Ucrânia, pelo contrário, não há dúvidas: o massacre foi planeado e perpetrado pelo regime de Kiev, que é apoiado pelos Estados Unidos de América. Natural o pesado silêncio dos medias.

Ipse dixit.

7 Replies to “Síria, Ucrânia: dois massacres, duas atitudes”

  1. Nada a surpreender-se: para o Departamento de Estado do império do caos Kiev não deve passar por Estado terrorista, mas Assad deve ser demonizado porque deve cair fora do poder que ainda mantém a Síria como Estado indiviso e dar lugar a uma mudança de regime que divida a Síria conforme seus interesses comerciais, aqueles dos oleodutos, gaseodutos e que tais. Já na Ucrânia a separação do Estado ucraniano debilita os interesses estratégico-militares do império do caos pois perde-se em fronteiras para o estabelecimento de bases mirando o país de outro demonizado, a Rússia. (Oh que história antiga! Do meu tempo de vida, posso elencar uma página de figuras públicas demonizadas, aqui mesmo onde vivo, uma chefe de Estado vem sendo demonizada antes, durante e depois do pleito eleitoral. E ela deve se dar por muito satisfeita que só foi torturada. Nem assassinada como Sadan, nem alvo de chacina sob tortura pública como Kadaffi, só uns dentes arrancados, pau de arara, cadeira do dragão, coisa pouca…)E as mídias é um dos braços "armados com sentidos e significados" do terrorismo internacional orquestrado pelo império do caos a serviço dos grupelhos de onde emana o poder e concentra-se a riqueza.
    "…quem decidiu bombardear um hospital cheio de crianças há tempo abandonou a nossa raça" Se o sentido dessa frase foi dizer que a autoria do crime não é humana, aí eu discordo. Não, ela é tipicamente humana, haja vista a história dessa raça. Não seria a raça do Leonardo (de tão graciosa memória em ii)capaz desse tipo de perversidade, não é mesmo!?

  2. TORTURA É O QUE PASSA O POBRE POVO BRASILEIRO! PENA QUE NÃO SE PODE COLOCAR VIDEOS EM BLOG, SE NÃO POSTARIA UM VIDEO ONDE O LULA AFIRMA DESCARADAMENTE QUE MENTIA AOS FRANCESES SOBRE A QUANTIDADE DE "CRIANÇAS DE RUAS" NO BRASIL…É O MESMO TIPO DE MENTIRA DA GRANDE MÍDIA, VALE TUDO PELO PODER…MENTIR, MASCARAR, MATAR (CELSO DANIEL). PESQUISE SOBRE ISSO SENHORES DO O BLOG! OS GUERRILHEIROS (DILMA E CIA) MATAVAM, TORTURAVAM, ROUBAVAM E SEQUESTRAVAM (DA MESMA FORAM QUE OS MILITARES DO TEMPO DA DITADURA NO BRASIL).

  3. Caro Aldo,
    Vi na totalidade e diz umas verdades.
    Os "demónios", "ets" etc…acho que embora o Sr. que apresenta a sua teoria sem segundas intenções (nota-se) e está convencido disso. É uma opinião como outra qualquer. O problema não é extra dimensional ou extra terrestre.
    É basicamente os psicopatas que deixam(e controlam) um mundo com mais de 7 biliões de almas chegar a certos patamares de pura insanidade.
    Abraço
    Nuno

  4. Quando foi os EUA da America que fizeram um ataque, foi um erro, agora no caso se for um inimigo do mesmo, Crime de Guerra.
    Dois pesos duas medidas

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