Palestina: demasiado silêncio

E a questão palestiniana?
Não é altura. Este é o tempo de barcos cheios de “sírios”, de Países “maus” que constroem muros contra os imigrantes, como a Hungria (a Áustria faz o mesmo, mas é diferente: aí fala-se alemão): a Palestina, por enquanto, fica no canto.

Pena, porque mesmo neste período há novidades. E, por uma vez, não são mortos provocados pelas bombas de israel.

Autoridade Palestiniana: sede de poder

Mahmoud Abbas (Abu Mazen)

Com pressa um pouco “estranha”, o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas (Abu Mazen), convoca este mês o Conselho Nacional Palestiniano, parlamento da população nos territórios ocupados e no exílio; e em Novembro, o sétimo Congresso da Fatah, o seu partido.

Objectivo: renovar a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), o seu Comitê Executivo e os chefes de Fatah.

Após 20 anos feitos de negociação sem sucesso, o Presidente com 80 anos tenta inserir nas posições do topo seus homens de confiança, permanecendo Presidente da Autoridade Palestiniana, lugar onde chegam as ajudas económicas dos Países doadores.
Mas não é uma situação clara.

Saeb Erekat, o negociador com israel, deve ser substituído por Majed Faraj, chefe da inteligência da Autoridade, desejado por Abbas e bem visto pelos Estados Unidos também. E esta é apenas a última duma série de medidas que parecem ter como objectivo o poder.

Nos 10 anos da sua presidência, Abbas, muito fraco para impor à comunidade internacional a questão da descolonização, concentrou-se nas questões domésticas.
Tem-se livrado de Mohamed Dahlan, ex-chefe da inteligência na Faixa de Gaza, entra em choque com o seu primeiro-ministro Salam Fayyad e coloca na rua Abed Rabbo Abu, porta-voz da OLP durante a primeira Intifada e membro de primeiro plano após os Acordos de Oslo de 1993.

O punho de ferro contra os seus oponentes internos é paralelo ao zelo com que impõe a cooperação entre a inteligência palestiniana e aquela israelita. Uma cooperação que não para mesmo durante os ataques devastadores de Tel Aviv na Faixa de Gaza em 2008-2009, 2012 e 2014.

Abu Mazen, a alcunha do mesmo Abbas, tem sido o maior adversário da formação do Governo de Unidade Nacional em 2006, quando, após as eleições, Hamas resultou ser o primeiro partido: foi Fatah que criou dificuldades, até chegar à fractura do ano seguinte. A reconciliação com Hamas foi proclamada em Abril de 2014, mas nunca de facto aplicada. E por fim é definitivamente apagada pelo mesmo Abbas ao demitir o governo nascido da reconciliação.

Perplexidade entre a população da Palestina perante o apelo feito por Mahmoud Abbas à ONU, com o objectivo de convencer o governo israelita a permitir que os refugiados possam entrar na Cisjordânia após terem fugido por causa da guerra na Síria. A maioria interpreta o pedido do Presidente como uma renúncia indirecta ao direito de regressar ao País de origem por parte dos mesmos refugiados.
E tal parece mesmo.

Os erros de Hamas

Khaled Meshaal

Hamas, isolada pela comunidade internacional desde 2003 (é colocada na lista das organizações terroristas), é perseguida por Israel depois da roptura com Fatah.

Em Gaza permanece como líder Ismail Haniyeh, o ex-primeiro ministro do nunca nascido governo de unidade nacional (de 2006); fora da Palestina fica o secretário-geral do movimento, Khaled Meshaal, que se estabelece no Qatar.

Após as três guerras desencadeadas por israel contra a Faixa de Gaza, Meshaal liga-se à Turquia, o Qatar e a Irmandade Muçulmana do Egipto, o movimento que tomou posse com o Presidente Mohamed Morsi. Nenhuma destas é uma grande ideia. A Turquia apoia os EUA na luta contra o ISIS enquanto massacra os Curdos; Morsi é homem de Washington e o Qatar é wahabita, a mesma corrente do Islão que fornece financiamentos ao ISIS. Poderia ter-se estabelecido directamente em Washington, teria sido o mesmo.

Depois as coisas mudam com o golpe de Estado no Egipto. Khaled Mashaal anuncia no final de Agosto que, com a mediação do ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair (uma garantia…), o apoio da Turquia e o apoio financeiro do Qatar, está pronto a um acordo com Israel.

O plano é simples.
Tel Avive promete:

  • o levantamento do bloqueio de Gaza
  • um porto flutuante a três quilómetros da costa para importação e exportação
  • rota marítima aberta em Chipre, onde os produtos de e para a Faixa serão vistoriados por soldados da NATO
  • entrada em israel de milhares de trabalhadores de Gaza.

Em troca, Hamas garante:

  • uma trégua de 10 anos
  • o controle dos outros grupos armados na Faixa de Gaza para impedir o lançamento de foguetes
  • a proibição de cavar túneis subterrâneos sob a fronteira
  • o regresso dos prisioneiros israelitas vivos (dois)
  • o regresso dos soldados israelitas mortos (dois soldados após o ataque de 2014).

Contra Hamas ficam: Fatah, a Frente Popular para a Libertação da Palestina, a Jihad Islâmica da Palestina, toda a Esquerda e as outras forças políticas.

Esta oposição afirma que aceitar a divisão entre a Cisjordânia e Gaza tornará impossível para criar um Estado palestiniano tendo como troca Gaza, que representa apenas 2% do território da Palestina.

Em outras palavras, a trégua de longo prazo com israel tornaria Gaza uma entidade separada e a Cisjordânia seria reduzida a um conjunto de enclaves com altas concentrações de população palestiniana. O acordo negociado pelo Hamas seria o fim, no curto prazo, da esperança de criar um Estado palestiniano e a perpetuação da ocupação militar.
Que depois é o desejo de Washington-Tel Avive.

Demasiado silêncio acerca da questão da Palestina. Demasiada pressa.
E, talvez, demasiada política em mãos que não são as melhores.

Ipse dixit.

Fontes: Remocontro, Wikipedia (várias páginas biográficas em idioma inglês)

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