Vida do espaço: temos a prova?

Chandra Wickramasinghe

E não, desculpem lá, mas hoje nada de Grécia, dinheiro ou outras desgraças.

Hoje uma boa novidade. Que, esquisito, passou um pouco despercebida.

Lembram-se da missão Rosetta?
Bom, é assim: em 2004, a Agência Espacial Europeia lançou a missão Rosetta para estudar o cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko. Que de facto tem um nome feio. A missão era formada por dois elementos: a sonda verdadeira (Rosetta) e o módulo Philae, que tinha como objectivo aterrar na superfície do cometa.

No dia 12 de Novembro do ano passado, Philae conseguiu aterrar mas não da forma prevista: deu algumas cambalhotas e afinal parou com uma perna para o ar. Até que alguém pensou: “Missão acabada”.

Mas não. Philae, mesmo numa posição incómoda, começou a trabalhar, recarregou as baterias e em Junho deste ano começou a transmitir. E aqui surgem as surpresas.

Chandra Wickramasinghe e Max Wallis são os dois cientistas que trabalham sem parar em volta desta missão. Sobretudo o primeiro, Chandra, não é um cientista “qualquer”: além de ser conhecido porter participado em muitos programas de divulgação científica (BBC Horizon, Channel 5, History Channel, Discovery Channel), além de ser premiado poeta e escritor, membro de inúmeras universidades, da Royal Astronomical Society e do Institute of Mathematics and its Applications, sobretudo colaborou com Sir Fred Hoyle acerca do conceito de Panspermia.

O que é isso? Simples: a teoria segundo a qual a vida não nasceu na Terra mas foi trazida. Como? Com os impactos de cometas e asteroides, algo extremamente comum nos primeiros milhões de anos de vida do nosso planeta. Portanto: vida vinda do exterior. Parece absurdo? Parece. Mas será tanto mais absurdo da ideia de que num planeta totalmente inorgânico possam ter surgido elementos orgânicos (a vida)?

Explica Chandra:

A comprovar-se, isto quer dizer que a vida foi trazida para o planeta Terra por cometas de impacto. A vida na Terra surge gravada em rochas pela primeira vez há 4 mil milhões de anos. Hoje sabemos que a Terra foi intensamente bombardeada por cometas, que também trouxeram água para formar os oceanos. O processo dos cometas trazerem bactérias e vírus para a Terra, contudo, não parou nessa altura. E foi essa entrada de micróbios de cometas que, ao longo do tempo geológico, controlou efectivamente a evolução da vida até à emergência dos hominídeos e do Homo sapiens.

O cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko

Pensamos nisso: as primeiras provas da vida na Terra surgem há 4 biliões de anos: a mesma Terra
formou-se há 4,54 biliões de anos. Isso significa que a vida apareceu em tempos rapidíssimos (do ponto de vista geológico), apenas uns 500 milhões de anos após a formação do planeta. E sem esquecer que na altura a Terra não era o lugar tranquilo que conhecemos hoje mas uma espécie de Inferno.

Mas porque Chandra fala de Panspermia quando o assunto for a missão Rosetta?

A razão é a seguinte: o que o Philae permitiu que os astrónomos detectassem é que a crosta negra orgânica do cometa, gelada, parece esconder microrganismos no subsolo.

Ainda Chandra:

As erupções do cometa ocorrem à distância do Sol, a uma tal distância que não poderia ser isso a provocar a subliminação da superfície. Isso indica que existe vida microbiana na subsuperfície em bolsas de gases de alta pressão que criam fissuras no gelo e libertam partículas orgânicas.

Estas “partículas orgânicas” detectadas assemelham-se às “partículas virais” conhecidas como “extremófilos”, um tipo de micróbios que habitam as regiões mais inóspitas do nosso planeta.

Com os dados recolhidos pela sonda e através de simulações com computadores, Wickramasinghe e Wallis apuraram a existência de sais anticongelantes produzidos pelos organismos, o que explicará a crosta negra e gelada do cometa: microrganismos que podem estar activos a temperaturas tão baixas quanto 40 graus negativos, o que lhes permite sobreviver à dura travessia do espaço.

A superfície negra do cometa e o seu espectro de reflectividade correspondem a material biológico e sugerem provas independentes da presença, em grande abundância, de hidrocarbonetos aromáticos. Não é fácil explicar isto em termos de química pré-biótica [a ciência que estuda a origem da formação das moléculas orgânicas necessárias à vida na Terra, ndt]. O material negro está a ser constantemente reabastecido à medida que é evaporado pelo calor do Sol. E, dada a distância a que está do Sol, alguma coisa está a provocar isto de uma forma bastante prolífica.

A superfície do cometa vista pela Philae

Esta “alguma coisa” seriam os tais extremófilos, como confirmaram os dois cientistas ontem no Encontro Nacional de Astronomia da Sociedade Real de Astronomia, em Llandudno, no Norte do País de Gales.

Chandra, que Arthur C. Clarke definiu como “um dos principais astrónomos do mundo de hoje e, como comprovado pelo seu impressionante currículo, um farol nas investigações de astronomia britânicas, com contribuições fundamentais para o estudo e para a compreensão das poeiras cósmicas”, alarga os horizontes:

É inevitável que os mesmos cometas que plantaram vida na Terra o tenham feito não só no sistema solar mas também em sistemas planetários vizinhos. Estudos recentes mostram que os planetas em torno de estrelas que não o Sol são bastante comuns, estimando-se que existam neste momento cerca de 140 mil milhões de sistemas exoplanetários na nossa galáxia. Acredita-se hoje que a distância média entre sistemas planetários vizinhos que possam albergar vida é de meros anos-luz – o correspondente ao alcance de uma cuspidela em termos astronómicos. Portanto toda a nossa galáxia é uma biosfera interligada.

Esta é a Teoria da Pansmermia (do grego Grego: πανσπερμία da πᾶς/πᾶν “tudo” e σπέρμα “semente”), algo que tinha nascido na Grécia com as ideias do filósofo Anasságora (V sec. a.C.), que foi retomada no ‘800 por Lord Kelvin, o Nobel sueco Svante Arrhenius, e, nas últimas décadas por Fred Hoyle e Chandra Wickramasinghe.

Se isso for confirmado, teremos primos espalhados pela galáxia toda?
Interessante. Seria possível pensar numa moeda única interestelar, algo tipo “AstroNEuro”.
Alguém faça o favor de avisar a Merkel.

Ipse dixit.

Fonte: Diário i

  • Breve nota para os Leitores de Portugal: acho ser este um diário bem interessante. Ainda não entendi de qual lado fique -e vou investigar!-, mas a verdade é que diariamente apresenta uma boa variedade de opiniões, muitas vezes em contraste entre elas.
  • Breve nota para o Diário i: esta chama-se publicidade, não mereceria uma pequena atenção? 🙂

2 Replies to “Vida do espaço: temos a prova?”

  1. Assim sendo a vida vinda de outro "mundo" distante, significa que o universo é cheio de vida, muitas trilhões de anos avançadas e nenhuma delas quer saber deste canto para nada. Inteligentes em afastarem destes insignificantes:-D
    E agora fica a nossa dúvida, exposta para o outro lugar: Como começou a vida por lá? Estão abertas as incrições para as teorias.
    E já agora, como esse tipo de organismos apanharam a boleia? Estamos a falar da teoria da abiogênese da criacionismo, ou todas as nossas teorias, não passam disso mesmo?
    A nossa ignorância é mesmo enorme, mas gostamos de criar regras como se fosse a verdade absoluta, de preferência o homem como o centro da vida no universo, algo como o sol a girar à volta da terra.

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