A reboque

Uma semana de pausa involuntária.

Ligo o computador, vou espreitar as notícias. Não aquelas oficiais, daquelas nem sei o que fazer. As outras, que não aparecem nos diários, as que circulam na área da informação alternativa. As que por vezes acertam, por vezes não, mas que de qualquer forma têm que existir para que haja uma voz fora do coro.

Resultado? Uma lástima. Uma semana depois e é como se nem fosse passada. Ainda estamos aqui, a falar dos BRICS, do Dólar, do ISIS.

Pode dizer o sagaz Leitor: “Tá bom, mas o que tu queres? Esta é a realidade, é disso que temos que falar, adequa-te”.

E não, caro sagaz Leitor. Aqui mesmo fica o erro. Esta não é a “realidade”. Esta é a realidade imposta, o que é bem diferente. Nós, todos nós que fazemos ou frequentamos o mundo da informação “alternativa”, seguimos humildemente o roteiro escolhido por outros. Ou, dito de forma mais colorida: somos rebocados. E a coisa divertida é que nem podemos escolher para onde.

Bin quê?!?

Vou fazer um exemplo.
Porque vou fazer um exemplo? Porque me apetece, ora essa.

Há uns 10 dias, mais ou menos, saiu um péssimo artigo de Seymour Hersh. Não há necessidade de apresentações: Hersh é simplesmente considerado como um dos melhores jornalistas mundiais, talvez o melhor em vida. Um jornalista “sério”, um daqueles que se levanta e vai ver. Vietnam, Coreia, Iraque: Hersh estava lá, não é que lia os relatos das agências de imprensa. E um jornalista polémico também, um daqueles que critica abertamente o poder.

O seu último artigo deu rapidamente volta ao mundo. O sumo: Bin Laden não foi morto como descrito pela propaganda da Administração americana. Aliás: esta versão é uma mentira, completamente inventada para glorificar as capacidades da máquina político-militar norte-americana.
Até aqui tudo bem. Afinal alguém que põe em dúvida as absurdidades da tal operação. Aliás, que a desmonta, pois Hersh não trabalha com os “ouvi dizer que…”, mas apresenta nomes e datas.

Resultado: há 10 dias que qualquer blog digno deste nome trata de como Hersh ridiculariza a Administração. Dito assim até parece bom, é a verdade que triunfa. Então, porque um “péssimo” artigo?

Porque o artigo, apesar de parecer “do contra”, fica apoiado na teoria de que Bin Laden se encontrava vivo aquando da operação de 2011. Consequência? Hersh apoia incondicionalmente (voluntariamente ou não, isso não sabemos) a historiografia da Casa Banca, justificando em pleno 10 anos de ocupação do Afeganistão. Sim, ok, a versão de captura e morte foi exagerada, nada correu como descrito, mas afinal os EUA tinham razão, o Senhor do Mal estava lá, vivo e vegeto, e quem sabe quais novas maldades estava a planear com o seu cerebrinho doentio.

Um erro do mítico jornalista?
Segundo Paolo Barnard, jornalista italiano, sim: o mítico Hersh errou.
Segundo a minha opinião não, não houve erro. Mas este é assunto para o próximo artigo, onde iremos tratar da morte de Bin Laden & C. com o testemunho de Barnard (que, lembro, é outro daqueles jornalistas – poucos, infelizmente – que se levantam e vão ver).

O cerne da questão agora é outro: 10 dias passados a confirmar a versão dos Estados Unidos enquanto, aparentemente, eram desvendadas as suas mentiras. Porque mentiras eram, disso não há dúvidas (e nunca houve), mas menores. A grande mentira (“Vamos no Afeganistão para combater o Terror”), aquela foi confirmada, em pleno.

Para entender: 10 dias ao longo dos quais o mundo da informação alternativa exultou porque o simpático jornalista sem mancha e sem medo envergonhava a Casa Branca. Mas 10 dias ao longo dos quais a penosa desculpa que serviu para invadir um País soberano (o Afeganistão) e que justificou os massacres tanto aí quanto no vizinho Paquistão foi terrivelmente reforçada, drones incluídos.

Hipnose

Quantos blogues ou sites realçaram esta vertente? Não dei-me o trabalho de verificar. Com certeza alguns fizeram exactamente isso. E a maioria? Não. Simplesmente, foi rebocada para uma direcção na qual nem queria ir.
Mas para a qual foi.

Isso acontece diariamente. E nem este blog está imune. A cada dia é apresentado um novo bicho-papão e nós aí, prontos para morder o isco e para seguir a estrada preparada.

Para que serve isso? Para afastar a realidade, para esquecer as coisas que contam e para que todos, de forma voluntária ou não, sigam a outra “realidade”, aquela pré-confecionada e inócua. Sobretudo inócua, que não leva para lado nenhum.

Abro a minha playlist, por assim dizer, aquela que consulto diariamente, e o que vejo?
EUA, Rússia e China: a tensão militar aumenta, a Espanha de Podemos, a FIFA, os EUA e a Nova Ordem Mundial (quoque tu, Pepe Escobar?), porque o ISIS ganha, o banco HSBC teme uma nova recessão (cada mês um banco diferente lança o alarme, reparem nisso), a Grécia, o funeral do Dólar (um dia sim e um dia não), as aventuras quase sérias da Eurolândia, o Reino Unido e a pornografia…

É realidade esta?
Não, meu amigos, não de todo. Este é o pano, o fundo do palco. Na frente dele agitam-se as marionetas. As marionetas olham para nós. E riem. E fazem bem a rir, porque aos menos conhecem quais os seus papeis e quem mexe os fios. Nós nem estas satisfações temos.

Mas então, qual a realidade?
Bravo sagaz Leitor, excelente pergunta.
Agora tente responder.
Não é nada difícil.

Ipse dixit.

11 Replies to “A reboque”

  1. Assinale abaixo a alternativa correta…

    " As " realidades são:

    A casa vai cair ( )
    A cobra vai fumar ( )
    A porca vai torcer o rabo ( )
    A vaca vai tossir ( )

    Obs.: a ultima alternativa não vale para brasileiros pois isso ja aconteceu!

  2. A elite da finança e das corporações está apostada em destruir a Nações.
    Eles querem destruir as soberanias… dividir/dissolver as Identidades para reinar… tudo para criarem uma "massa amorfa" de gente inerte, pobre e escravizada e assim melhor estabelecerem a Nova Ordem Mundial: uma nova ordem a seguir ao caos – uma ORDEM MERCENÁRIA.
    .
    .
    .
    Anexo
    MOBILIZAÇÃO PARA A SOBREVIVÊNCIA
    {uma riqueza que as sociedades/regiões não podem deixar de aproveitar}
    .
    .
    -> Muitas mulheres heterossexuais não querem ter o trabalho de criar filhos… querem 'gozar' a vida; etc;
    -> Muitos homens heterossexuais não querem ter o trabalho de criar filhos… querem 'gozar' a vida; etc;
    CONCLUINDO: é uma riqueza que as sociedades/regiões não podem deixar de aproveitar – a existência de pessoas (homossexuais ou heterossexuais) com disponibilidade para criar/educar crianças.
    .
    —> Já há mais de dez anos (comecei nos fóruns clix e sapo) que venho divulgando algo que, embora seja politicamente incorrecto, é, no entanto, óbvio:
    Promover a Monoparentalidade – sem 'beliscar' a Parentalidade Tradicional (e vice-versa) – é EVOLUÇÃO NATURAL DAS SOCIEDADES TRADICIONALMENTE MONOGÂMICAS..
    {ver blogs http://tabusexo.blogspot.com/ e http://existeestedireito.blogspot.pt/}
    .
    .
    P.S.
    Tal como eu explico no blog «http://tabusexo.blogspot.com/» -> o Tabu-Sexo não se tratou de um mero preconceito… foi, isso sim, uma estratégia que algumas sociedades adoptaram no sentido de conseguirem Sobreviver… leia-se: o Tabu-Sexo tinha como objectivo proporcionar uma melhor Rentabilização dos Recursos Humanos da Sociedade… leia-se, o verdadeiro objectivo do Tabu-Sexo era proceder à integração social dos machos mais fracos!!!
    .
    P.S.2.
    Existem autoridades de sociedades/regiões (que estão sem capacidade de renovação demográfica) em desleixo: não monitorizam/motivam/apoiam uma riqueza que não podem deixar de aproveitar – a existência de pessoas (homossexuais ou heterossexuais) com disponibilidade para criar/educar crianças.
    .
    P.S.3.
    Mais, existem autoridades de sociedades/regiões (que estão sem capacidade de renovação demográfica) que são cúmplices de 'globalization lovers' nazis.
    .
    P.S.4.
    -> Nazismo não é o ser 'alto e louro', bla bla bla,… mas sim… a busca de pretextos com o objectivo de negar o Direito à Sobrevivência de outros!
    -> Existem 'globalization-lovers' (que fiquem na sua… desde que respeitem os Direitos dos outros… e vice-versa), e existem 'globalization-lovers' nazis (estes buscam pretextos para negar o Direito à Sobrevivência das Identidades Autóctones).

  3. Isso cai por terra porque a pessoa que alegadamente está por trás do 11/9/2001 já teria morrido em dez/2001.
    O resto é show ou circo que fazem à volta de um indivíduo que esteve durante muito tempo contratado pela cia primeiro e depois foi utilzado como ícone máximo de algo que foi um trabalho interno com consentimento, para justificar a invasão do iraque, o patriot act, etc … afinal o que há de novo? Além de dizer que mataram alguém que já havia morrido 10 anos antes.

    Nuno

  4. A realidade é o poder corporativo, as marionentas é os fulanos eleitos para dirigir nações. O alvo maioria dos seres humanos no planeta terra.

    Nuno

  5. Se você não é capaz de fazer as perguntas certas, não terá qualquer chance de conviver com a realidade natural, conviverá eternamente com a realidade construída.
    Exemplifico, basicamente com quatro perguntas que todos deveriam se fazer, e o mais rapidamente possível…
    1)Acredito que somos dominados?
    2)Identifico as origens e os processos que perpetuam tal dominação?
    3)Identifico essas forças impositivas nas relações sociais e civilizatórias, tanto nas questões próximas como nas distantes?
    4)O que faço ou o que pretendo fazer com isso?
    Apenas quatro singelos questionamentos…

    1. Demasiado complexo.
      A nossa situação precisa duma só pergunta, cuja resposta deve ser entendida, absorvida e interiorizada de forma definitiva. Só depois é possível mover-se para a segunda fase, na qual as perguntas de Chaplin fazem todo o sentido.

      A maior parte das pessoas nem gosta de pôr-se uma pergunta acerca do seu próprio papel, imaginemos quatro duma vez só… quer provocar um curto-circuito?

      Custa-me escrever isso, porque sinto-me uma espécie de "iluminado" que encontrou a verdade. Assim não é, tomara eu conhecer as respostas! Mas há algo que, ao longo dos anos, tornou-se tão evidente aos meus olhos que é impossível não ter noção disso. Os últimos tempos trouxeram uma aceleração neste processo de escravização global, na mesma altura em que termos como "Liberdade" ou "Democracia" são estuprados e podem ser encontrados em qualquer esquina.

      A primeira pergunta, portanto, deve ser: somos livres ou escravos? ("Acredito que somos dominados?")
      Parece simples e, claro está, quem frequenta este como outros blog já conhece qual a resposta. Mas a verdade é que somos uma ínfima minoria. Uma elite? Nada disso: mas temos de ter vergonha por ter a capacidade de focalizar um dos problemas fundamentais da nossa sociedade? Não. Assim como é sem falsos pudores que temos de admitir como esta simples pergunta de certeza soaria estranha aos ouvidos da maior parte das pessoas.

      Até quando a nossa condição de "escravos" não for aceite e assimilada por parte duma razoável fatia da população, ficaremos com a magra consolação (ou maldição, pontos de vista) de ter entendido algo sem poder fazer nada para mudar isso. E as restantes três perguntas poderão se dirigidas sempre e só à tal ínfima minoria, não à maioria.

      Rosa Luxemburg achava que o Comunismo poderia ter triunfado apenas quando todos os proletários do mundo tivessem tomado consciência das suas condições e agido de consequência. Lenine achava que era possível partir com uma minoria que desse o exemplo. Sabemos como acabou.

      Esquecemos o Comunismo: um qualquer movimento com ideias claras acerca desta questão seria esmagado ou, mais provavelmente, infiltrado, corrupto e finalmente absorvido pelo sistema.

      Sobram os blogues e os sites da informação alternativa como este porque, como explicado, são devidamente canalizados e tornados inócuos. Aliás, pior do que inócuos, pois desenvolvem uma importante função de contenção.

      Vou fazer um exemplo banal: imaginemos que alguém decida que o mundo da informação alternativa tenha que ocupar-se da Lua. Como fazer? Muito simples: é suficiente uma afirmação do tipo "A Lua é cor de rosa". Imediatamente, todo o mundo da info alternativa irá realçar a absurdidade duma tal afirmação, com tanto de entrevistas, testemunhos de especialistas, lembranças históricas e provas concretas.

      Resultado? Enquanto os blogues (e este não é uma excepção) irão rejubilar por ter desmascarado a enésima falsa afirmação do Poder, este último terá plenamente alcançado o objectivo dele.

      É um jogo perverso, que até dá um novo valor à pergunta "Acredito que somos dominados?". E a maioria das pessoas nem é atingida por esta dúvida, que afinal tão simples não era ("Acredito que somos dominado?" deve ser completada com "E até a que ponto somos dominados?").

      Grande abraçooooo!!!!

    2. Antes de responder a qualquer pergunta, todos deveriam começar a dar um pequeno enorme passo na direcção certa: Desliguem a televisão!
      Só assim, se poderá dar uso aos miolos.
      Até lá, segue-se como no maior protesto jamais feito sobre a actual condição humana:

    3. Não assistir televisão não é a questão maior, desde que você tenha a condição mínima para ajuizar o que está assistindo. E essa condição se estabelece a partir do entendimento propiciado justamente pelos questionamentos mencionados.

    4. O que produz a desorientação e a incapacidade de avaliar e diferenciar assuntos de real importância do que é descartável é igualmente o desenvolvimento do ajuizar ou podemos dizer, a utilização do Trivium, mas como sabemos, a grande maioria não chegará nessa condição… elas continuaram com suas vidas metafisicamente reducionistas. Abraço

Obrigado por participar na discussão!

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