O Trivium e as Falácias – Parte II

As Artes Liberais (séc. XII)

Completamos o discurso acerca do Trivium.

Como vimos, utilizar o Trivium significas aprender qual a força das palavras e poder assim defender-se das insidias da comunicação social, dos políticos, das elites no geral.

O estudo das Artes Liberais foi apagado da maioria das nossas escolas (a Gramática básica ensinadas desde os primeiros ciclos nada tem a ver com a Gramática Geral mais profunda e abrangente do Trivium): portanto, estamos na mesma condição da Plebe os dos escravos que nos tempos antigos não tinham acesso a este tipo de educação.

E caso não fosse ainda claro, seria bom reflectir acerca disso: a palavra “livro” deriva do latim liber, que significa ao mesmo tempo “livro”, “libero” e é a raiz de libertas, liberdade: a liberdade pode ser encontrada nos livros que tornam livres. Este era o profundo significado do Trivium.

Doutro lado, é bem ter presente a diferença entre educar e instruir. Hoje a função das escolas é aquela de instruir, não educar:

  • Educar deriva do Latim e + ducere, literalmente: “conduzir algo fora”, portanto “expor algo que está escondido”. Significa aplicar as oportunas disciplinas para desenvolver a potencialidade da mente (e combater assim as predisposições negativas).
  • Instruir deriva do Latim in + struere, isso é dispor, ordenar, preparar. Portanto, instalar noções na mente, tal como inserimos dados num computador.

Na primeira parte do artigo vimos também a ligação entre Trivium e Falácias, entendidas como “enganos”. E as Falâcias são muitas, até que foram subdividas em categorias.

Tipos de Falácias

Wikipédia versão portuguesa apresenta uma lista de Falâcias discretamente ordenada.
Todavia, no site da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) encontrei uma página muito bem escrita e interessante, que reporto quase na integra pois, apesar da lista das Falácias der incompleta, é de fácil leitura:

Como você reagiria aos enunciados abaixo? Quais você
aceitaria? Como você argumentaria para rejeitar os que devem ser
rejeitados? Tente.

  1. Se eu abrir uma exceção para você, deveria abrir também para João.
    Se abrir para João, devo abrir para André. E para Marcos também. Depois
    para Maria, Madalena, etc.
  2. Você deve votar de acordo com o partido! Ou será expulso!
  3. A professora chamou a atenção de Joãozinho na semana passada
    (duas vezes) e nesta (segunda, quarta e sexta). Não adianta mais chamar a
    atenção dele. Vamos suspendê-lo.
  4. Os brasileiros gostam de praia, café, carnaval e futebol.
  5. A lei que reduz o porte de armas de fogo deve ser abolida, pois, desde que entrou em vigor, a criminalidade aumentou.
  6. Os empregados são como pregos: temos que bater para que cumpram suas funções.
  7. Deve-se coibir usos como estes: “Me dá um cigarro”, “eu vi
    ele”, “tu foi”, etc., porque, com essa permissividade, vamos reduzir a
    língua de Camões a uma falação de brutos, a uma língua pobre, de poucas
    palavras e alguns grunhidos.
  8. Sabia que o casal X está se separando? Mas cuidado: em briga de marido e mulher ninguém põe a colher.
  9. Aqui se faz, aqui se paga.
  10. Você confia num dentista que foi aprovado com média cinco no vestibular?
  11. É perigoso viajar em carro dirigido por mulher.
  12. Crentes, muçulmanos, são todos uns fanáticos.
  13. Os padres são pedófilos, os padres são mulherengos, os padres
    só pensam em dinheiro, os advogados são uns enroladores, os políticos
    são corruptos, os médicos uns açougueiros, os alunos são uns deitados,
    etc.
  14. O elo perdido entre o homem e o macaco não foi encontrado: por isso a teoria da evolução está errada e a Bíblia está certa.
  15. A ingestão de vinho faz bem.
  16. O vinho é uma bebida saudável, que faz bem ao coração. É
    estimulante. Assim foi reconhecido por todos os povos antigos. Inclusive
    o Apóstolo São Paulo recomendava vinho em suas epístolas.
  17. Tratava-se de discutir e eleger o perfil do professor ideal: ele seria autoritário ou deveria dar plena liberdade aos alunos?
  18. A egiptóloga Fulana de Tal é uma principiante, obteve o
    doutorado há pouco tempo, tem limitada experiência: não pode julgar um
    descobrimento tão importante.
  19. Não vou votar nele para presidente: ele bebe.
  20. Todo nordestino é hábil, L. é nordestino, L. é hábil – Toda
    pessoa hábil é bom político. Ele é hábil. Ele é bom político, – Todo bom
    político é bom administrador. Ele é bom político. Ele é bom
    administrador. – Todo bom administrador merece ser eleito. Ele é bom
    administrador. Ele merece ser eleito.
  21. Dez milhões de pessoas não podem estar erradas. Junte-se a nossa igreja você também.
  22. Isso é uma verdade tão sublime que um milhão de pessoas já a aceitaram como regra de fé.
  23. A Astrologia é uma arte adivinhatória praticada há milhares de
    anos no Oriente. Conta-se que os antigos reis da Babilônia teriam feito
    uso dela para saberem os dias mais propícios para as batalhas. Até os
    antigos imperadores chineses recorriam aos astros para guiarem seus
    passos no governo. É inadmissível que ainda hoje não a considerem uma
    ciência.
  24. Essas práticas remontam aos primeiros séculos de nossa igreja. Como você pode questioná-las?
  25. Milhares de pessoas acreditam no poder das pirâmides. Sem dúvida, elas devem ter algo especial.
  26. Os índices de analfabetismo têm aumentado muito depois do advento da televisão. Obviamente ela compromete a aprendizagem.
  27. A grande maioria das pessoas deste país são favoráveis à pena
    de morte como meio de reduzir a violência. Ser contra a pena de morte é,
    pois, ridículo.
  28. Não acredite nos lingüistas: eles estão a serviço de uma ideologia de esquerda; são liberais, revolucionários e populistas.
  29. Não é preciso conhecer matemática para vencer na vida. Meus
    conhecimentos dessa matéria não vão além das quatro operações e das
    frações ordinárias; no entanto tenho um salário maior do que o de muitos
    engenheiros.
  30. O senhor não tem autoridade para criticar nossa política educacional, pois nunca concluiu uma faculdade.
  31. Espero que o senhor aceite o portfólio e dê uma ótima nota,
    pois passei cinco noites sem dormir e ainda por cima cuidando de minha
    avó, que está muito doente.
  32. Professor, eu preciso tirar boa nota. Se eu aparecer em casa com nota tão baixa, minha mãe pode sofrer um ataque cardíaco.
  33. Eu não votei em Lula: afinal ele nem sabe falar direito.
  34. Por que deveria eu ouvir uma ignorante como você?

Todos os enunciados acima devem ser rejeitados. São falácias. São
enunciados ou tentativas de persuadir o leitor mediante em raciocínio
errôneo, mediante um argumento fraudulento, enganoso.

Essas falácias, como você pode constatar, estão em todos os discursos:
na publicidade, na política, nas religiões, na economia, no comércio,
etc.

Falácia é, pois, todo o raciocínio aparentemente válido, mas, na realidade incorreto, que faz cair em erro ou engano.

Tradicionalmente, distinguem-se dois tipos de falácias: o paralogismo e o
sofisma. O paralogismo é uma falácia cometida involuntariamente, sem
má-fé; o sofisma, uma falácia cometida com plena consciência, com a
intenção de enganar.

Essa distinção não é, no entanto, aceitável, pois introduz um critério
exterior à lógica – a ética. Dito de outro modo, não compete à lógica
apreciar as intenções de quem argumenta. Por isso, tornam-se como
sinônimos os termos falácia e sofisma.

A seguir, apresentam-se os principais tipos de falácias.

Exemplos de falácias

1. Apelo à Força (argumentum ad baculum)

Definição:
Consiste em ameaçar com conseqüências desagradáveis se não for aceita ou acatada a proposição apresentada.

Exemplo:
– Você deve se enquadrar nas novas normas do setor. Ou quer perder o emprego?
– É melhor exterminar os bandidos: você poderá ser a próxima vítima.
– Cala essa tua boca, ou não te dou o dinheiro para o show.
– Ou nós, ou a desgraça, o caos.

Contra-argumentação:
Argumente que apelar à força não é racional, não é argumento, que a
emoção não tem relação com a verdade ou a falsidade da proposição.

2 Apelo à Misericórdia, à Piedade (argumentum ad misericordiam, ignorância de questão, fuga do assunto)

Definição:
Consiste em apelar à piedade, à misericórdia, ao estado ou virtudes do autor.

Exemplo:
Ele não pode ser condenado: é bom pai de família, contribuiu com a escola, com a igreja, etc.

Contra-argumentação:
Argumente que se trata de questões diferentes, que o que é invocado nada
tem a ver com a proposição. Quem argumenta assim ignora a questão, foge
do assunto.

3.

Apelo ao Povo (argumentum ad populum)

Definição:
Consiste em sustentar uma proposição por ser defendida pela população ou
parte dela. Sugere que quanto mais pessoas defendem uma idéia mais
verdadeira ou correta ela é. Incluem-se aqui os boatos, o “ouvi falar”, o
“dizem”, o “sabe-se que”.

Exemplo:
Dizem que um disco voador caiu em Minas Gerais, e os corpos dos alienígenas estão com as Forças Armadas.

Contra-argumentação:
Os educadores, os professores, as mães têm o argumento: se todos querem
se atirar em alto mar, você também quer? O fato de a maioria acreditar
em algo não o torna verdadeiro.

4. Apelo à Autoridade

Definição:
Consiste em citar uma autoridade (muitas vezes não – qualificada) para sustentar uma opinião.

Exemplo:
Segundo Schopearhauer, filósofo alemão do séc. XIX, “toda verdade passa
por três estágios: primeiro, ela é ridicularizada; segundo, sofre
violenta oposição; terceiro, ela é aceita como auto-evidente”. (De fato,
riram-se de Copérnico, Galileu e outros. Mas nem todas as verdades
passam por esses três estágios: muitas são aceitas sem o ridículo e a
oposição. Por exemplo: Einstein).

Contra-argumentação:
Mostre que a pessoa citada não é autoridade qualificada. Ou que muitas
vezes é perigoso aceitar uma opinião porque simplesmente é defendida por
uma autoridade. Isso pode nos levar a erro.

5. Apelo à Novidade (argumentum ad novitatem)

Definição:
Consiste no erro de afirmar que algo é melhor ou mais correto porque é novo, ou mais novo.

Exemplo:
Saiu a nova geladeira Pólo Sul. Com design moderno, arrojado, ela é perfeita para sua família, sintonizada com o futuro.

Contra-argumentação:
Mostre que o progresso ou a inovação tecnológica não implica necessariamente que algo seja melhor.

6. Apelo à Antigüidade (argumentum ad antiquitatem)

Definição:
É o erro de afirmar que algo é bom, correto apenas porque é antigo, mais tradicional.

Exemplo:
Essas práticas remontam aos princípios da Era Cristã. Como podem ser questionadas?

Contra-argumentação:
Argumenta que o fato de um grande número de pessoas durante muito tempo
ter acreditado que algo é verdadeiro não é motivo para se continuar
acreditando.

7. Falso Dilema

Definição:
Consiste em apresentar apenas duas opções, quando, na verdade, existem mais.

Exemplos:
– Brasil: ame-o ou deixe-o.
– Você prefere uma mulher cheirando a alho, cebola e frituras ou uma mulher sempre arrumadinha?
– Você não suporta seu marido? Separe-se!
– Quem não está a favor de mim está contra mim.

Contra-argumentação:
Simples. Mostre que há outras opções.

8. Falso Axioma

Definição:
Um axioma é uma verdade auto-evidente sobre a qual outros conhecimentos
devem se apoiar. Por exemplo: duas quantidades iguais a uma terceira são
iguais entre si. Outro exemplo: a educação é a base do progresso.
Muitas vezes atribuímos, no entanto, “status” de axioma a muitas
sentenças ou máximas que são, na realidade, verdades relativas, verdades
aparentes.

Exemplo:
Quem cedo madruga Deus ajuda.

Contra-argumentação:
Mostre que muitas frases de efeito, impactantes, bombásticas, retóricas,
muito respeitadas podem ser meras estratégias mediantes as quais alguém
tenta convencer, persuadir o ouvinte/leitor em direção a um argumento.
No caso dos provérbios, mostre que se contradizem:
– Ruim com ele, pior sem ele X Antes só do que mal acompanhado.
– Depois da tempestade vem a bonança X Uma desgraça nunca vem sozinha.
– Longe dos olhos, perto do coração X O que os olhos não vêem o coração não sente.

9. Generalização Não – Qualificada (dicto simpliciter)

Definição:
É uma afirmação ou proposição de caráter geral, radical e que, por isso, encerra um juízo falso em face da experiência.

Exemplo:
A prática de esportes é prejudicial à saúde.

Contra-argumentação:
Mostre que é necessário especificar os enunciados. Othon Garcia
(Comunicação em Prosa Moderna, FGV, 1986, p. 169) ilustra como se pode
especificar a falácia acima, dada como exemplo: A prática indiscriminada
de certos esportes violentos é prejudicial à saúde dos jovens
subnutridos.

10. Generalização Apressada (erro de acidente)

Definição:
Trata-se de tirar uma conclusão com base em dados ou em evidências
insuficientes. Dito de outro modo, trata-se de julgar todo um universo
com base numa amostragem reduzida.

Exemplos:
– Todo político é corrupto.
– Os padres são pedófilos.
– Os mulçumanos são todos uns fanáticos.

Contra-argumentação:
Argumente que dois professores ruins não significam uma escola ruim; que
em ciência é preciso o maior número de dados antes de tirar uma
conclusão; que não se pode usar alguns membros do grupo para julgar todo
o grupo. Faça ver que se trata, na maioria das vezes, de estereótipo:
imagem preconcebida de alguém ou de um grupo. Faça ver também que são
fonte de inspiração de muitas piadas racistas, como as piadas de judeus
(visto como avarento), de negro (vista como malandro ou pertencente a
uma classe inferior), de português (visto no Brasil como sem
inteligência), etc. É por isso que essa falácia está intimamente
relacionada ao preconceito.

11. Ataque à Pessoa (argumentum ad homimem)

Definição:
Consiste em atacar, em desmoralizar a pessoa e não seus argumentos.
Pensa-se que, ao se atacar a pessoa, pode-se enfraquecer ou anular sua
argumentação.

Exemplo:
– Não dêem ouvidos ao que ele diz: ele é um beberrão, bate na mulher e tem amantes.
Observação: Uma variação de “argumentum ad homimem” é o “tu quoque” (tu
também): Consiste em atribuir o fato a quem faz a acusação. Por exemplo:
se alguém lhe acusa de alguma coisa, diga-lhe “tu também”! Isso,
evidentemente, não prova nada.

Contra-argumentação:
Mostre que o caráter da pessoa não tem relação com a proposição
defendida por ela. Chamar alguém de corrupto, nazista, comunista, ateu,
pedófilo, etc. não prova que suas idéias estejam erradas.

12. Bola de Neve (derrapagem, redução ao absurdo reductio ad absurdum)

Definição:
Consiste em tirar de uma proposição uma série de fatos ou conseqüências
que podem ou não ocorrer. É um raciocínio levado indevidamente ao
extremo, às últimas conseqüências.

Exemplos:
– Mãe, cuidado com o Joãozinho. Hoje, na escolinha, ele deu um beijo na
testa de Mariazinha. Amanhã, estará beijando o rosto. Depois…. Quando
crescer, vai estar agarrando todas as meninas.
– O álcool e uma dieta pobre também são grandes assassinos. Deve o
governo regular o que vai à nossa mesa? A perseguição à indústria de
fumo pode parecer justa, mas também pode ser o começo do fim da
liberdade. (Veja, agosto 2000, p.36)

Contra-argumentação:
Argumente dizendo que as conseqüências, os fatos, os eventos podem não ocorrer.

13. Depois Disso, logo por Causa Disso (post hoc engo propter hoc)

Definição:
É o erro de acreditar que em dois eventos em seqüência um seja a causa
do outro. No extremo, é uma forma de superstição: eu estava com gravata
azul e meu time ganhou; portanto, vou usá-la de novo.

Exemplo:
– O chá de quebra-pedra é bom para cálculos renais. Tomei e dois dias depois expeli a pedra.
Observação: uma variação deste sofisma é o chamado “non sequitur” (não
se segue, “nada a ver”) em que uma conclusão nada tem a ver com a
premissa: Venceremos, pois Deus é bom. (Deus é bom, mas não está
necessariamente a seu lado; os inimigos podem dizer a mesma coisa).

Contra-argumentação:
Mostre que correlação não é causação: o fato de que dois eventos
aconteçam em seqüência não significa que um seja a causa do outro. Diga
que pode ter sido apenas uma coincidência.

14. Falsa Analogia

Definição:
Consiste em comparar objetos ou situações que não são comparáveis entre
si, ou transferir um resultado de uma situação para outra.

Exemplos:
– Minhas provas são sempre com consulta a todo tipo de material. Os
advogados não consultam os códigos? Os médicos não consultam seus
colegas e livros? Não levam as radiografias para as cirurgias? Os
engenheiros, os pedreiros não consultam as plantas? Então?
– Os empregados são como pregos: temos que martelar a cabeça para que cumpram suas funções.
– Tomei mata-cura e fiquei bom. Tome você também.

Contra-argumentação:
Argumente que os dois objetos ou situações diferem de tal modo que a
analogia se torna insustentável. Mostre que o que vale para uma situação
não vale para outra.

15. Mudança do Ônus da Prova

Definição:
Consiste em transferir ao ouvinte o ônus de provar um enunciado, uma afirmação.

Exemplo:
Se você não acredita em Deus, como pode explicar a ordem que há no universo?

Contra-argumentação:
Mostre que o ônus da prova, isto é, a responsabilidade de provar um enunciado cabe a quem faz a afirmação.

16. Falácia da Ignorância (argumentum ad ignorantiam)

Definição:
Consiste em concluir que algo é verdadeiro por não ter sido provado que é
falso, ou que algo é falso por não ter sido provado que é verdadeiro.

Exemplos:
– Ninguém provou que Deus existe. Logo, Deus não existe.
– Não há evidências de que os discos voadores não estejam visitando a Terra; portanto, eles existem.

Contra-argumentação:
Argumente que algo pode ser verdadeiro ou falso, mesmo que não haja provas.

17. Exigência de Perfeição

Definição:
É o erro de reivindicar apenas a solução perfeita para qualquer plano.

Exemplo:
A automação cada vez maior dos elevadores desemprega muitas pessoas. Isso, portanto, é ruim, economicamente desaconselhável.

Contra-argumentação:
Argumente que planos, medidas ou soluções não devem ser vistos como
integralmente perfeitos ou prejudiciais. Mostre que podem existir
objeções para qualquer medida. Que os desvantagens de um plano são
suplantados pelas vantagens.

18. Questão Complexa (pergunta capciosa, falácia da interrogação, da pressuposição)

Definição:
Consiste em apresentar duas proposições conectadas como se fossem uma
única proposição, pressupondo-se que já se tenha dado uma resposta a uma
pergunta anterior.

Exemplos:
– Você já abandonou seus maus hábitos?
– Você já deixou de roubar no mercado onde trabalha?

Contra-argumentação:
Mostre que existem duas proposições e que uma pode ser aceita e outra não.

As Artes Liberais (séc. XV)

Como afirmado, o artigo da PUCRS é interessante porque bem explicado e de fácil leitura, todavia é incompleto. Neste aspecto, Wikipédia faz um trabalho melhor (de vez em quando acontece…), embora mais sintético.

Obviamente, o discurso não acaba aqui.
Para aprofundar podem ser consultados:

Sobra uma pergunta: como superar as confusões originadas pelas falácias?
Como afirma Carlos Fontes na sua página: basicamente com a atenção.

  1. Prestar maior atenção à linguagem, evitando utilizar termos ambíguos, e esclarecer o sentido exacto dos conceitos empregues numa discussão.
  2. Prestar atenção à possível falsidade das premissas.
  3. Respeitar as regras de inferência.

Não é simples: é preciso treino. E muito.
Na antiguidade, os cursos de Trivium, necessários para aprender a Gramática Geral, exercitar a Lógica e dominar a Retórica, duravam anos. E, na maior parte dos casos, os alunos eram filhos de famílias ricas, que não tinham outra ocupação a não ser estudar.

Um típico curso escolar em idade romana era assim dividido:

  • Ciclo Elementar: com o literator e o calculator aprendia-se a ler, escrever e contar.
  • Ciclo Médio: com o grammaticus se aprofundava o estudo da língua latina e da grega; era também estudada a literatura dos dois idiomas e havia as primeiras noções de História, Geografia, Física e Astronomia.
  • Ciclo Superior: com o rethor estudava-se a Eloquência, a arte de construir discursos para vários fins (sobretudo judiciários e políticos). Para isso era necessário conhecer o Direito, a História da Eloquência, a Filosofia.

Portanto, o inteiro ciclo superior era dedicado às matérias humanísticas.
Hoje, com os ritmos da vida moderna, com o trabalho e outras preocupações, não é possível fazer o mesmo.

Mas aplicar a atenção, não “engolir” como verdade absoluta todas as palavras que ouvimos nos meios de comunicação e introduzir uma certa dose de dúvida, isso sim, pode ser feito. Lembrar-se de que existe uma cosia chamada Trivium e que, apesar de não ser ensinada nas escolas, não é coisa morta mas bem viva e actual no marketing das palavras.

E, de vez em quando, podem ser espreitados os links acima, tanto para não perder o habito de manter sempre elevado o nível da atenção.

Ipse dixit.

Relacionados:
O Trivium e as Falácias – Parte I

Fontes: no texto. 

12 Replies to “O Trivium e as Falácias – Parte II”

  1. Belíssima abordagem! O beabá para a identificação e a possibilidade de entendimento das relações de dominância social. Enxergar o mundo "maravilhoso" das meias verdades que permeiam nossas vidas. Observem a sutileza da questão, nos próprios exemplos dados pela PUC existem falácias…hehe

  2. Talvez valha comentar que a educação das artes liberais sofreu duro golpe na Revolução Francesa quando deu lugar à formação profissional. A Escola Normal Superior e a Escola Politécnica visava a formação profissional e considerava a formação liberal como resquício da aristocracia…Foi durante a Revolução Francesa que os termos direita e esquerda surgiram. Ambas facções "revolucionárias" cobiçavam ardentemente o poder. A ala mais radical , a esquerda ateísta e a mais sedenta de sangue, matava religiosos como quem corta grama, mas estranhamente criou uma espécie de religião que louvava a "deusa" razão. Colocou prostitutas nuas nos altares das igrejas para simbolizar a sua "deusa". Depois, do "Terror" , abriu-se espaço para um oficial, que fora muito eficiente em eliminar a aristocracia -Napoleão- que mergulhou a Europa em um banho de sangue.

    1. Alguns reparos. A ala referida era muito mais iluminista do que esquerdista. Napoleão foi o elo central entre a aristocracia e a burguesia ascendente, assim como Getúlio Vargas na denominada "nova república" brasileira. Abraço

    2. Obrigado por sua réplica Chaplin.Cada um pense como julgar melhor, mas os Jacobinos ou a esquerda a quem me referi é considerada como a extrema- esquerda revolucionária. Mas não importam os nomes ,pois nomes, siglas, partidos normalmente escondem os mesmos procedimentos. Assim vemos a chamada esquerda brasileira utilizando os mesmo métodos da revolução francesa, atraindo as massas pela "defesa" das minorias, direitos humanos, etc. O banho de sangue que foi a revolução francesa (período referido como o Terror) ocorreu sobre a recém elaborada Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.A vida de Napoleão é claro não pode ser resumida em um parágrafo ou frase, mas quando me referi a ele no comentário acima o relacionei , entre outras coisas, com o "cerco de Toulon" .O tirano Jacobino Robespierre fez uso da destreza militar de Napoleão para eliminar a resistência aos jacobinos no porto de Toulon…Se comento estes assuntos para alguém da esquerda brasileira serei prontamente acusado de ser de direita (outros perversos com seus métodos) ou serei indagado: "Por que tanto ódio". Assim, sem pretender polemizar, entendo que os meus comentários estão de acordo ao tema do texto que se refere as falácias. Abraço para você também Chaplin.

  3. agora eu entendi, agora eu saquei, agora as todas peças se encaixaram, eu estou entendo tudo agora.
    Vou fica de olhos abertos

Obrigado por participar na discussão!

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