Terrorismo: Sid e a falta de pontaria

Sid Ahmed Ghlam

O mundo do radicalismo islâmico parece povoado por eméritos idiotas: um “califado” do 8º século não é uma escolha religiosa mas o máximo das capacidades para estes indivíduos. Isso, pelo menos, é o que parece ao ler os relatórios divulgados pelas forças de segurança ocidentais.

Pegamos no último caso: França (uhi, Charlie Hebdo!). 

Sid Ahmed Ghlam, argelino, decide atacar “uma ou duas igrejas” (palavras do ministro francês Cazeneuve), então o que faz? Assalta a viatura duma jovem instrutora de fitness, Aurelie Chatelain, perto da capital. Até aqui tudo bem (por assim dizer): é islâmico, está sedento de sangue e precisa dum carro.

Azar: não consegue. Aurelie deve estar bem treinada e, como afirmámos, o jovem radical tem alguns problemas. Mata a mulher e deita fogo ao carro. Pergunta: porque deita fogo ao carro se a intenção era aquela de ficar com o automóvel da vítima? Ah, sim, o jovem tem problemas, é verdade…

Pior, durante a acção Sid dispara quatro vezes: em três acerta na mulher, na quarta acertar na perna dele. O que não é agradável e um pouco embaraçoso também: verdade que Sid está sedento de sangue, mas não do seu. Pouco mal: é nesta altura que um radicalista digno deste nome ignora a dor, invoca a ajuda de Allah e prossegue no seu plano criminoso. Mas Sid deve ter horror do sangue, especialmente do seu: então fica impressionado e liga para as urgências.

Chega a ambulância e com ela também uma patrulha da polícia. Sid está no chão: afirma ter sido atacado. Pena que pouco longe haja também uma mulher baleada num carro em chamas e também a viatura do mesmo Sid, cheia de kalashikov, pistolas, balas e coletes anti-bala. Os polícias serão franceses, mas conseguem fazer 2+2 e suspeitam que não seja normal circular com aquela carga toda: pode ser perigoso, sobretudo quando a conduzir for um incapaz (como Sid).

O jovem nem chega no hospital e já confessa (o fanatismo faz milagres…): o carro é mesmo o seu. Buscas na casa do jovem e o que encontram as autoridades? Exacto: ligações à Al-Qaeda, ao ISIS, mais kalashnikov, mais coletes anti-bala e, claro está, planos para atacar “uma ou duas igrejas”. Não falta nada.

É a vez das declarações oficiais: os serviços secretos sabiam tudo, estavam a vigiar Sid há um ano (parabéns: entretanto o atordoado tinha reunido um pequeno arsenal), quando exprimiu o desejo de aderir à jihad na Síria. A ligação internet estava sob controle, assim como os seus telefone e telemóvel.

Dúvida: mas então este assalto poderia ter sido evitado? Não, explicam as autoridades: Sid era só um imigrante muçulmano sem documentos, com uma queixa por violência, uma viagem na Turquia no passado mês de Fevereiro, a vontade expressa de juntar-se ao radicalismo islâmico e que no dia de Sábado tinha recebido muitas mensagens dum homem da Síria que o incitava “a actuar”. Nada de suspeito, portanto.

Mais interessante ainda: continua a saga das pessoas conhecidas pelos serviços secretos, que acumulam pequenos arsenais e matam à vontade. Afinal não são apenas os radicalistas islâmicos que têm um QI bastante reduzido: também os serviços secretos têm problemas e nós, que continuamos a acreditar em certas coisas…

Ipse dixit.

Fontes: Il Corriere della Sera, La Repubblica, Le Monde

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