Os Estados Unidos puseram o nariz no referendo para a independência da Escócia? No caso, nada de anormal: Washington tem o vício de intervir lá onde não é chamada, em particular se a ocasião for ajudar o fiel “aliado” britânico.
Por isso: pouca surpresa perante os documentos segredos obtidos pelo jornal The News Gazette: documentos desclassificados, após duma batalha legal de três anos com os funcionários do Departamento de Estado dos Estados Unidos, que revelam como em ocasião do referendo funcionários escoceses pediram a Washington para interferir.
Estes documentos indicam que os EUA têm sido envolvidos no debate sobre a independência da Escócia desde 2007, quando o Partido Nacionalista Escocês (SNP) chegou ao poder. Além disso, Washington vigiou cidadãos norte-americanos que estavam a favor da independência.
Também é relatado que “alguns Estados membros da União Europeia, liderados pela Espanha por causa da ameaça de secessão da Catalunha, colocariam sérias barreiras à entrada de uma Escócia independente na União Europeia”. Que não se percebe se deveria ser uma ameaça ou uma prenda.
O Scottish Sunday Express também pediu ao Departamento de Estado os documentos relativos ao referendo sobre a independência, utilizando a Lei de Liberdade de Informação dos Estados Unidos, e conseguiu aceder a uns 60 documentos, dos quais 22 foram apresentados na íntegra, e 19 com algumas informações restringidas. Outros 14 documentos foram mantidos em segredo “no interesse da defesa nacional ou da política externa”.
A revelação mais surpreendente parece estar contida num “encontro delicado mas não classificado”, datado de 15 de Fevereiro de 2013. Nele, o chefe de política interna da Embaixada dos EUA em Londres, Marisa Plowden, entrou em contacto com um funcionário do escritório do governo do Reino Unido na Escócia para discutir um novo relatório governamental sobre a independência. No encontro foi decidida qual a melhor maneira para encarar as pulsões separatistas da Escócia.
Washington também teria sido informada sobre os cidadãos americanos envolvidos no debate da independência, incluindo o Prémio Nobel Joseph Stiglitz que tem sido um membro do Grupo de Trabalho da Comissão Fiscal do Governo escocês desde 2012, e o ex-embaixador dos Estados Unidos, o professor de Direito David Scheffer.
Partes dos documentos são dedicados aos cidadãos americanos envolvidos no debate, mas não faltam relatos acerca dos líderes políticos locais, como é o caso de então vice-líder do Partido Nacional Escocês (e agora é líder), Nicholas Sturgeon, definido como “um político forte e cuja apresentação impressionou até mesmo os opositores da independência da Escócia na plateia”.
O antecessor de Sturgeon e Primeiro-Ministro da Escócia, Alex Salmond, preocupou por causa dos seus pontos de vista anti-guerra.
Entretanto, os defensores da independência escocesa insistem na necessidade de realizar um novo referendo em que a recontagem dos votos seja feita por observadores internacionais imparciais, de acordo com uma petição colocada na Internet.
Num documento publicado na internet, os activistas lembram das irregularidades e da “fraude” cometidas durante a contagem dos votos no referendo: são citados casos em que os votos favoráveis para o “Sim” foram computados como votos contra a independência e falsos alarmes de incêndio desencadeados durante as contagens dos votos.
Lembramos que segundo os dados oficiais, 55,3% dos eleitores apoiaram a ideia de permanecer parte do Reino Unido, enquanto a favor da independência votaram 44,7%.
No seguinte vídeo, gravado em Dundee durante uma contagem de votos, é possível ouvir tocar o alarme anti-incéndio, observar dois membros extrair papeis das suas malas e deposita-los nas mesas de votos.
Ipse dixit.
Fontes: The News Gazette, RT, Change.org, Scottish Sunday Express,