Ucrânia: milagre nas urnas!

Eleições na Ucrânia!
E eleições sérias, não como aquela palhaçada do referendo na Crimeia, porque na parte livre e sã do País as coisas funcionam segundo as regras da Democracia.

No estúdio da emissora televisiva 1+1 (do magnata Igor’ Kolomoiskij) encontram-se a apresentadora e o jornalista Anatolij Sharij no papel de comentador.

Aparecem os dados oficiais e eis que Anatolij fica um pouco perplexo. O que se passa?

É que nas províncias do País a percentagem de votantes é elevadíssima: 99.9%.
E não em “algumas” províncias, mas em todas, inclusive onde se combate (Donetsk, Lugansk) e até onde foi proclamada a independência (Crimeia). Todas as províncias com a mesma percentagem: 99.9%!

É um resultado fantástico! Fantástico mas que fica além de qualquer dúvida, pois os ucranianos são feitos assim: quando votam, votam mesmo, não dá para brincar.

Portanto, grande prova de democracia participativa por parte do povo ucraniano: deve ser a primeira vez na história que uma eleição consegue um resultado como este. Na prática votaram todos, até as pessoas em coma. Só não votou quem morreu no percurso até a urna (morrendo assim na mais profunda das vergonhas).

Depois dos primeiros momentos de incredulidade (mas incredulidade para quê? São dados oficiais!), eis que aparece o dado nacional: em toda a Ucrânia votou o 99.9% dos eleitores. E explode a alegria.

Mas será possível? 99.9% de participação? Não será um erro?
Vamos conferir:

nº de províncias da Ucrânia: 24
afluência em cada província: 99.9%
média nacional = 99.9%

É mesmo verdade, a aritmética não mente: 99.9% dos Ucranianos votaram!

É altura de exultar: afinal estamos perante as melhores eleições do mundo. Nem na antiga União Soviética eram atingidas percentagens tão elevadas: mas agora, na nova Ucrânia, 99.9% é normalidade. Mais uma prova da superioridade do Capitalismo face ao Comunismo.

Pena que a emissora 1+1 obrigou Youtube a retirar o vídeo ao qual pertencem estes fotogramas por violação dos direitos de autoria.

Deve ser a lendária modéstia ucraniana.
Pouco mal: há sempre uma alma pia que grava tudo e publica uma versão editada, mais curta do que o original mas sempre clara.

Mas nada pode apagar a nossa satisfação: bem-vindos na Ucrânia livre, democrática e europeia.

Nota final: segundo o site de informação Vzgliad, que reporta a notícia da agência russa Tass, os dados da afluência na Ucrânia de língua e etnia russa (a autoproclamada república de Novorossija) variam entre o mínimo de 12,20%  no Oblast Zakarpatia até o máximo de 36,75% em Zaporozhie. Em Donetsk: 14,65%; Lugansk: 13,07%; Odessa: 13,22%.

São dados ligeiramente inferiores ao 99.9% oficial. Mas já sabemos como é: os Russos não sabem perder… 

Ipse dixit.

Fontes: Nexus Edizioni, Vzgliad, Youtube

6 Replies to “Ucrânia: milagre nas urnas!”

  1. não há como milagres destes para uma pessoa não perder a fé no seu próprio cérebro de cada vez que liga a televisão ou lê as notícias…

    com um milagre democrático destes até já estou a ver 99.9% dos ucranianos a cantarolar isto todo o santo o dia: https://www.youtube.com/watch?v=2MJj2A1Kx20

    quem sabe, talvez os mesmos 99.9% que foram votar também fossem votar a cantar isto também.

    deve ser só alegria por aqueles lados depois de tudo o que se passou ao longo do último ano e de terem gente a morrer para chegarem a um milagre destes.

  2. Será livre mesmo????
    Milagre democrático?
    Um país atormentado com a recente guerra, onde o Primeiro Ministro caiu do dia pra noite, onde o representante maior da população é um bilionário com estreitas ligações com a Europa ocidental.

  3. Meu senhores: bem vindos na nova Ucrânia!

    Os EUA apoiaram a "revolução", liderada por forças de extrema direita (quando não abertamente filo-nazi). E estes são os resultados.

    Pegamos no dono da emissora, Igor Kolomoiskij: hebreu, governador da província de Dnipropetrovsk, é o o terceiro homem mais rico do País. Dono de bancos, duma equipa de futebol, companhias aéreas, tratas de gás, petróleo e nem lhe falta um pequeno exército privado (o Privat).

    Obviamente é aliado da heroína popular Yulia Tymoshenko, pelo que apoia sem reservas a nova ordem estabelecida na Ucrânia após o golpe. Em Abril deste ano, Kolomoyskyi ofereceu uma recompensa pela captura de militantes pró-russos e gastou 10 milhões de Dólares para criar o Batalhão Dnipro.

    Realmente acham que um gajo assim, que goza do total apoio do novo governo de Kiev e de Washington, teria alguns problemas em alterar os resultados das eleições na sua televisão?

    É óbvio que a participação não foi de 99.9%: assim como é óbvio que nenhum media ocidental realçou esta notícias. Afinal está do nosso lado, contra os Russos malvados: é um dos Bons.
    Como nós.

    Gostaria também de realçar a atitude do jornalista convidado pela televisão. Qualquer pessoa com um mínimo de dignidade, perante "resultados" como estes, teria-se levantado e saído. Mas ele não: ficou e exultou, mesmo perante uma aldrabice que até roça o infantil.
    Promoção em vista?

    Abraço!!!

  4. O errado no meio disto tudo é a população, não os políticos ou os ricos. Estes só se aproveitam porque os outros deixam.

    Krowler

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