Não é pacifismo, não é ódio

Mais uma vez: este não é um blog anti-americano ou anti-israelita.

Os cidadãos da América do Norte, tal como aqueles de Tel Avive ou de Jerusalém, vivem numa condição particular (que depois é a nossa também, em medida ligeiramente menor): a informação disponível é filtrada, censurada, até criada se for preciso.

Alvos duma propaganda que não deixa margem para dúvidas, controlados por uma máquina governamental que segue com cuidado cada desenvolvimento social, estas populações vivem no interior dum mito. No caso dos Estados Unidos, falamos dos mitos da Democracia e da Liberdade. No caso de israel, é preciso acrescentar uma missão espiritual (com aplicações bem práticas também) que encontra a sua origem na religião.

Não podemos cair no erro do “ódio da raça” (ou “da Nacção”, neste caso): este é o objectivo de quem manobra as alavancas do poder. Só com a despersonalização do inimigo, só fechando-o num rotulo genérico (“os americanos são maus” é a mesma coisa que dizer “os muçulmanos são maus”) é possível criar o ódio e esquecer que “do outro lado” há pessoas como nós. Não simplesmente parecidas, mas idênticas.

Claro, é mais fácil pensar “eles são todos maus”, implica mais trabalho do nosso cerebrinho e justifica certas pulsões ditadas pelo rancor e as nossas posições também. Mas esta é a verdade: “eles” somos nós, não há diferença nenhuma. Não há diferença entre pensar que os muçulmanos sejam todos terroristas e que os americanos sejam todos sedentos de sangue estrangeiro: ambas são afirmações desprovidas de qualquer sentido.

Pior: são afirmações que fazem exactamente o jogo do poder. E este é um dado que não pode ser esquecido, porque a História está aí para ensinar que as guerras mais terríveis sempre foram possíveis só depois de ter-se cultivado o ódio como base.

Este não é o blog dum pacifista, longe disso. Mas é importante, sobretudo nestas horas, não esquecer quem é o verdadeiro inimigo. O inimigo não são as pessoas, não são os povos. O inimigo é uma forma de poder que cria monstros lá onde monstros não há; que cria inimigos para os seus próprios interesses; que demoniza inteiras comunidades e até Países só para preservar o seu lugar privilegiado e impedir de ver qual a verdade.

Neste blog, durante os últimos dias, não faltam artigos dedicados aos crimes cometidos na Faixa de Gaza; e nem faltam fortes suspeitas acerca do “acidente” do avião da Malaysia Airlines. O blog continuará a seguir estes acontecimentos, mas isso pode gerar uma falsa ideia: a ideia de que haja “inimigos” lá fora e que por aqui andem “os bons”, os guardiões da verdade.

Ninguém aqui é o guardião da verdade e não há lá fora povos “maus”.
Neste mesmo blog não faltam artigos que explicam (ou pelo menos tentam explicar) qual o verdadeiro inimigo: não nosso, não apenas dum povo, mas de todos os seres humanos.

Tentamos não esquecer que os marines que invadem o Afeganistão não são os filhos dos senadores americanos; que os fuzileiros que atingem as crianças palestinianas não são os filhos dos ricos que vivem em Tel Avive.

Isso deve sugerir algo, não é?

Ipse dixit.

6 Replies to “Não é pacifismo, não é ódio”

  1. Há que se entender que nada se entende e…onde nada se entende não há o que se possa ser entendido, e não se entendendo nada, o que se pode entender?

  2. "A guerra é um massacre de homens que não se conhecem em benefício de outros que se conhecem mas não se massacram." Paul Valéry

  3. Este artigo foi escrito em 2014, eu estou lendo em 2016, e a situação só piorou nestes anos. Acredito que uma postura pacifista poderia mudar o rumo dos acontecimentos, e já foi provado na história que o pacifismo pode fazer uma revolução. Postei em meu canal no YouTube o GASSHO VLOG, um vídeo sobre a biografia de Mahatma Gandhi, e a revolução que ele fez foi um exemplo.

    Mas como dito no artigo, a mídia faz sua parte em doutrinar o povo para que siga as determinações dos governantes. Vou colocar o link do vídeo para poder ilustrar melhor como o pacifismo pode mudar a história do mundo.

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