Insólito: Titã e a ilha que não é

Os astrónomos estão a lutar com um fenómeno esquisito em Titã, o maior satélite natural de Saturno.

Durante um sobrevoo, a sonda Cassini fotografou o surgimento dum objecto brilhante no Mar Ligeia, um enorme reservatório de metano e etano no estado líquido localizado no pólo norte de Titã.

No entanto, na segunda passagem da sonda, do objecto não houve restos. Desapareceu (imagem à direita). Os pesquisadores estão a perguntar-se o que é que afinal viu o olho electrónico da Cassini.

Descrito como um “brilhante fenómeno transitório,” os cientistas não entendem se o fenómeno foi causado pela emergir na superfície de um objecto sólido, ou se foi mais simplesmente um brilho.

As hipóteses propostas incluem a possibilidade de que tenham sido ondas ou bolhas, ou até matéria sólida em movimento.

Os detalhes da descoberta da “ilha mágica” foram publicados na revista Nature Geoscience. Explica ao diário inglês The Independent Jason Hofgartner, cientista da Universidade de Cornell:

Esta descoberta diz que o líquido no hemisfério norte de Titã não é apenas parado e imutável, mas estão sujeitos a mudanças. Não sabemos o que possa ser esta “ilha mágica”, mas gostaria de investigar mais.

O Mar Ligeia (em falsas cores)

Jonathan Lunine, pesquisador da mesma universidade:

Acreditamos que a estrutura que apareceu diante dos nossos olhos durante a análise das imagem seja uma mudança ocorrida na superfície do mar.

Achamos que o que pareceu não foi uma verdadeira ilha mas algo aparecido à superfície por causa de um decréscimo do nível do mar, ou gerado como resultado de fenómenos tectónicos.

Os resultados apresentados no nosso artigo indicam que é um fenómeno ligado ao fluido que constitui o mar, como a presença de ondas, bolhas, ou talvez mesmo material flutuante que tem uma composição diferente do metano e do etano, dos quais é constituída a bacia.

Titã

Outra hipótese interessante é a presença de sólidos flutuantes ou em suspensão, tipo os icebergues. No entanto, os icebergues em Titã não poderiam ser feitos de gelo de água, pois a sua alta densidade os faria afundar no oceano de hidrocarbonetos líquidos.

Pelo contrário: a eventual composição deve ser uma mistura congelada de metano e etano. Um estudo anterior dos mesmos Hofgartner e Lunine sugere que as condições atmosféricas presentes em Titã poderiam provocar o afundamento destes icebergues no Inverno e um emersão no Verão.

Titã é o maior satélite natural do planeta Saturno e um dos corpos rochosos de maior massa do sistema solar; excede o tamanho do planeta Mercúrio, por tamanho e massa é o segundo satélite do sistema solar depois Ganimedes. Também é o único satélite do Sistema Solar com uma atmosfera densa.

Sob a espessa atmosfera de Titã, que fica a mais de um bilião e 300 milhões de quilómetros da Terra, os astrónomos descobriram montanhas geladas e dunas compostas de “areia orgânica.” A exploração das sondas Cassini e Hugens levou à descoberta de lagos de hidrocarbonetos líquidos nas regiões polares do satélite.

A atmosfera (em cores naturais)

Tal como a Terra, Titã, com o seus líquidos e sua atmosfera densa, tem um sistema meteorológico sazonal, com vento e chuva que causam erosão da paisagens, tal como acontece na Terra.

No entanto, Titã é mais parecido com a Terra primitiva, com uma temperatura muito mais baixa, onde o ciclo do metano substitui o ciclo hidrológico (baseado na água) presente em nosso planeta.

O que é cada vez mais evidente a partir dos levantamentos realizados na maior das luas de Saturno, através da missão internacional Cassini em 2004, é que Titã é um mundo muito mutável.
Conclui Lumine:

A atmosfera de Titã, o líquido na sua superfície, os seus ventos e o seu clima certamente produzem mudanças e é apenas a nossa limitada capacidade de monitorizar esse corpo celeste que dá a ilusão dum mundo estático.

O que seria possível observar se pudéssemos passear ao longo das praias do Mar Ligeia e observar o ambiente costeiro ao longo do tempo? Tenho certeza de que seria possível encontrar muitas mudanças.

Ligea é o segundo mar por extensão de Titã e tem uma superfície de 126.000 km2, portanto mais amplo do que o Lago Superior na América do Norte. O maior dos mares até agora descobertos no satélite é Kraken, 400.000 km2(como o Mar Cáspio). Os lagos de Titã, compostos principalmente de metano, etano e nitrogénio, têm uma temperatura superficial de -180 °C (93K).
A atmosfera do satélite é densa, como já lembrado, e a temperatura não é grande coisa, variando entre os -179 ºC e os -50 ºC da zona equatorial (no Verão). Parece um bocado frio.
No vídeo: o som dos ventos na superfície de Titã, gravado pela sonda Huygens em 2004:

Ipse dixit.

Fontes: The Independent, Nature Geoscience, Media Inaf, Il Navigatore Curioso

One Reply to “Insólito: Titã e a ilha que não é”

  1. E agora, descobriram uma estrela feita de diamante! Não é brincadeira, pode procurar informação sobre isso que encontra!

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