Copa: os dentes de Dilma

Meu senhores: a Copa do Mundo, os Campeonatos Interplanetários de Futebol!

Faltam só…vamos ver…8 dias? Talvez 10, ou se calhar 5. Bom, faltam alguns dias, depois é o Leitor que escolhe quantos, afinal vivemos numa Democracia.

Então é assim. Encontrei um artigo escrito por um italiano que mora na América do Sul e que reflecte acerca do que se passa no Brasil. Obviamente tudo lido num site de Italia e agora publicado num blog de Portugal. Bem vindos na Aldeia Global!

Eu não tenho instrumentos para julgar quais e quantas destas reflexões sejam o espelho da realidade. Os Leitores do Brasil podem.

O sagaz Leitor dirá: “Mas ainda com esta história das favelas? Basta, agora é a altura do futebol falar, de apoiar as nossas equipas! Rumo à Vitória! A Copa é nossa!”

Calma, sagaz Leitor, tenha calma, os jogos ainda não começaram.

Sim, justo, o desporto e o resto todo. Mas não podemos esquecer que, enquanto o futebol fala, o cidadão que acaba de receber uma cassetada na cabeça pode ter um pouco mais dificuldade para exprimir-se. E, ao julgar pelo que passam os canais de televisão aqui na Europa, as cassetadas voam como borboletas nestas horas também, altura em que deveria ser só o futebol a falar.

Por isso: eis o artigo tal e qual como foi escrito. Eu nada mais faço a não ser traduzi-lo, portanto não fiquem zangados comigo. Mas se escolhi traduzi-lo, evidentemente é porque penso que tão mau afinal não pode ser, não é?).

Ultimamente, nos canais de televisão nacionais [do Peru, onde mora quem escreve, ndt] vejo mais e mais vezes as imagens dos violentos confrontos entre a polícia e os moradores das chamadas “favelas” brasileiras (bairros pobres e precários, muitas vezes casebres, geralmente localizadas nas maiores cidades do Brasil).

A televisão brasileira e peruana falam de confrontos entre “agentes da Lei” e “criminosos”. Na realidade, as favelas não surgem como uma forma de organização do crime, mas porque oferecem a uma parte da população a proximidade da metrópole, do trabalho, do comércio, da escola e, em geral, do ambiente urbano.

Mas este não é o principal aspecto do problema: todos os confrontos nos últimos meses ocorrem apenas nas favelas localizadas perto dos estádios onde entre 12 de Junho e 13 de Julho será realizada a Copa do Mundo.

Já no final de 2011, o Ministro dos Esportes do Brasil, Orlando Silva do Partido Comunista Brasileiro (PCB), havia abandonado o seu escritório, denunciando irregularidades e violações nos programas sociais e desportivos. A sua renúncia chegou a criar uma crise no governo brasileiro, que já Silva era um dos organizadores da Copa do Mundo de 2014 e também dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro em 2016.

Os “donos do futebol” (FIFA) imediatamente aproveitaram a oportunidade para levantar a voz, expressando publicamente “inquietação” e “preocupação” com a crise do governo brasileiro (facto político ou desportivo?), com a “segurança” (facto social ou futebol?) e com o “estado das obras nos estádios brasileiros”. Tudo isso ao ponto de forçar a presidente do Brasil a uma reunião e uma entrevista, já no final de 2012, com Joseph Blatter (presidente da FIFA ou estadista?) sobre as “dificuldades da organização brasileira”.

Não poucos maturaram a ideia de que, segundo a FIFA, o “atrasado Brasil” e os “pobres da América do Sul” já não estivessem a altura para organizar a Copa do Mundo (que hoje exigem tapetes vermelhos e câmaras, não favelas e ultras!).

Aparentemente, o governo “progressista” de Dilma Rousseff mostrou-se muito mais atenta aos “pedidos” (ou pressões?) da FIFA e dos patrões, que não às necessidades (reais) do povo brasileiro. Em vez de proporcionar às favelas os serviços de cuidados primários de saúde e as infra-estrutura de que necessitam, decidiu-se eliminar o problema, eliminando as favelas … (claro, somente aquelas que perto dos estádios)!

Na realidade, a polícia (e o exército!) do Brasil, não estão hoje à procura de “criminosos” que se escondem nas favelas, mas estão a realizar o despejo e a demolição sistemática e brutal de inteiros bairros marginais.

Isto serve a um duplo propósito: por um lado, suprime uma parte da população e de possíveis “ultras”, levando-os para longe dos estádios e de possíveis pontos de confronto; mas, do outro lado, tenta esconder aos olhos do mundo e do seu “público pagante” um aspecto da realidade brasileira: o desenvolvimento desigual do Capitalismo, a realidade (crua e vergonhosa) da pobreza, do desemprego, da exploração, da marginalização e da miséria.

Nesta altura, no entanto, classificar como “criminosos” todos os habitantes das favelas que se opõem ao despejo em defesa do seu próprio “bairro”, da sua própria casa, das suas famílias, dos seus filhos e do simples direito de existência, parece uma óbvia monstruosidade, cínica e infame.

Para todos aqueles que nestes dias, no Brasil, estão a resistir e lutar, todo o meu respeito.
Para uma sociedade onde a liberdade tem a cor do dinheiro e as características de cassetete, tudo o meu desprezo.

Para ser sincero: a mim a fotografia de Dilma que sorri com todos os 32 dentes ao lado de Blatter faz uma certa impressão. E se acrescentarmos Pelé, a impressão torna-se horror.
Mas é uma questão de gostos.

Ipse dixit.

Fonte: Facebook Lorenzo Mugnaini

12 Replies to “Copa: os dentes de Dilma”

  1. Parece-me que estar a transformar a Presidente Dilma no bode expiatório da corrupção e exploração pelas elites, a que o povo Brasileiro esteve e estará ainda sujeito, é muita ingenuidade.

  2. Ingenuidade ou "safadeza".

    Mas esta é a simples opinião de alguém que apenas conhece essa realidade superficialmente e de muito longe…

  3. Dois comentários, ambos que ignoram os acontecimentos (reais ou imaginários que sejam), ambos só para defender Dilma.

    Notável.

  4. Max, tem dó.

    Eu não sou Brasileiro, muito menos conheço profundamente a realidade política do Brasil.

    Mas sabemos que nenhum aparelho partidário estará livre de corrupção, em todo o mundo e muito menos no Brasil.

    Provavelmente essa imagem da Presidente Dilma, convém a quem lá esteve (no poder)antes e fez muito pior e provavelmente anseia por continuara a fazê-lo.

    Ainda que claro, não há "santos" em ambas as partes, mas parece-me evidente que, no que diz respeito a desprezar os interesses da população, há uns "diabos" bem piores que outros…

    Mas como já disse, esta é a simples opinião de alguém que apenas conhece essa realidade superficialmente e de muito longe…

    Abraço

  5. Sr. Max,
    os donos da comunicação no Brasil,por coincidência são os mais ricos. coisa pouca, bilhões de reais ou dólares ou euros, o que o sr. preferir. São seis ou sete famiglias.
    Vai dai que NÃO se publica nada na grande mídia nesse pais que vá contra o interesse desa gente, qual seja: ficar ainda mais ricos e poderosos.
    a exceção é a internet.
    Hoje, no dizer de importante blogueiro daqui, essas famiglias são o verdadeiro partido da oposição e do golpe.
    eles são conhecidos por PIG partido da imprensa golpista.
    O poder deles vem diminuindo com a internet. Blogueiros independentes, muitas vezes egressos desta mesma mídia, defenestrados por não se enquadrarem à voz do dono que mente, distorce e usa ao poder de informação para os seus fins, são processados pelos poderosos na intenção de calar a sua voz.
    Com as suas campanhas tendenciosas e muitas vezes financiadas com dinheiro alienígena acabam de cometer o maios dos crimes:
    Roubaram a Copa do Mundo de Futebol dos brasileiros, pelo poder dioturno de divulgação de suas idéias.
    Nas outras copas, disputadas em qualquer lugar do mundo, o Brasil já estaria coberto de verde e amarelo. Com a campanha criminosa e anti nacionalista que o povo foi bombardeado, nada se vê. Quem não dá importância para as noticias e ama o futebol tem medo de decorar a sua casa seu comércio e ser alvo do ódio plantado pelo PIG. Até a primeira vitória do time nacional, eu espero.
    Já me estendi demais e muito mais teria a dizer.
    Sugiro, para balizar a sua visão do Brasil que o sr. leia blogues brasileiros progressistas, entre outros, e que conheça os indicadores sociais daqui de antes e depois do Partido do Trabalhador chegar ao poder.
    abraço.
    emerson57

  6. O assunto requer duas abordagens. A primeira é a de que nem Dilma nem qualquer outro político tem margem de gestão suficiente para reverter o nível de desigualdade histórica, desde seu descobrimento, país que é uma verdadeira possessão judaica, e para constatar tal realidade basta estudar a história não oficialista. A segunda, é a de que a sociedade brasileira foi formada à partir do Estado, primeiro, monárquico, posteriormente, Republicano, mas ambos voltados para a proteção de minorias que se sucedem indefinidamente, e de outro lado, como ferramenta opressora de uma maioria, formada por uma educação voltada para a servilidade e submissão, seja pelo viés religioso ou laico. Portanto, a questão supera, de longe, um mega negócio/evento esportivo ou uma administração governamental.

  7. Max, moro em SP e lhe afirmo que não há incursão das forças policiais ou do exército em favelas ou bairros da periferia em nenhuma cidade brasileira além das investidas habituais nas favelas do Rio e SP. O que há são manifestações de rua e greves de alguns trabalhadores, como os metroviários de SP por exemplo. Não cabe nesse espaço discussões partidárias independente de apoiar ou não o governo dos Petralhas que governam o Brasil há 12 anos. Abraço, Eduardo!

  8. Grandes ignorantes. O problema nao é o capitalismo mas sim o comunismo oligarquico. O capitalismo (que inclui necessariamente a livre concorrencia) foi o que fez dos USA o pais com maior percentagem de classe media do mundo. O comunismo oligarquico é quando as grandes empresas, em que se incluem os bancos, dominam o mercado attravés dos governos, que passam leis que apenas vão beneficiar instituiçoes de grande calibre. E isto é estupidamente evidente. Todos sabemos que a classe média tem vindo a diminuir, enquanto que o numero de milionarios tem vindo a aumentar, bem como a riqueza dos mesmos. Mais impostos para a classe média, para que esta "ajude" o sistema nacional de saude, segurança social etc, e beneficios fiscais para as grandes empresas para "atrair ivestimento". Deixem de ser ingénuos.

  9. Olá Pai Natal!

    Apesar do "Grandes ignorantes" que poderia ter sido evitado (o blog entrou em modalidade "tolerância zero"), este é um comentário que mereceria um discurso muito mais amplo. Terrivelmente amplo.

    É vendido como "Capitalismo" algo em que falta o básico: o capital.

    Não há, não existe. O que há é utilizado só para aumentar as riquezas de poucos (a Grande Finança), enquanto quem paga as falhas dos bancos, os juros da Dívida Pública (nas mãos de "investidores" bem conhecidos), os "favores" (subvenções) às corporações é o dinheiro dos contribuintes. Nós, todos nós.

    Mas a Comunismo foi ultrapassado, o Capitalismo triunfou, isso é quanto contado diariamente. Por isso o perigo passou, podemos ficar descansados.

    Abraço!

  10. O que eu disse não deixa de ser verdade: o estado é utilizado para controlar e destribuir a riqueza, mas ao contrario do comunismo idealista, em que é destribuida de forma igual, é redireccionada para as grandes empresas. Comunismo Oligarquico.
    O puro capitalismo nao é perfeito, mas volto a dizer, criou o pais com maior e mais rica classe media, que neste momento esta a ser destruida atraves do Comunismo Oligarquico, bailouts (BPN), aumento de impostos para a classe media, menos impostos e mais beneficios fiscais para as grandes empresas (http://www.portugal.gov.pt/pt/os-ministerios/vice-primeiro-ministro/mantenha-se-atualizado/20140512-vpm-investimento.aspx) e mais impostos e zero beneficios para as pequenas e medias empresas (classe media).

  11. PS: é bem verdade o que disseste max. o bicho papao agora é o capitalismo. Que se aumente os impostos da classe media alta com negocio proprio e mais que um carro na garagem, que eles é que são a causa dos males da sociedade.
    Acho muito giro quando o povinho critica os empresarios de PMES, que são aqueles que pagam melhores salarios a trabalhadores com pouca qualificação (a maioria do povo) e geram mais emprego, dizendo que como viveram acima das suas possiblilidades agora têm que levar com o aumento da carga fiscal. Ignorantes…

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