A Páscoa: o simbolismo escondido

Então? Páscoa já passou? Acabaram as festas? Páscoa, 25 de Abril (em, Portugal: no Brasil o dia 25 é só o dia antes do 26), em breve teremos o 1º de Maio e a Festa da Mãe.

A Festa da Mãe! Por acaso, agora não interessa. Passo atrás: Páscoa. Vamos falar dela. Porquê? Porque sim.

A Páscoa é uma “festa” estranha, aparentemente menos sentida do que o Natal: o que é um paradoxo porque, do ponto de vista religioso, o alegado nascimento de Cristo tem um valor relativo, enquanto a Ressurreição é a pedra angular sobre a qual se apoia todo o Cristianismo.
Sem uma Ressurreição, Cristo teria sido apenas mais um profeta (na melhor das hipóteses).

Mas vamos espreitar Wikipedia acerca da Páscoa:

Páscoa ou Domingo da Ressurreição é um festival e um feriado que celebra a ressurreição de Jesus ocorrida três dias depois da sua crucificação no Calvário, conforme o relato do Novo Testamento. É a principal celebração do ano litúrgico cristão e também a mais antiga e importante festa cristã. A data da Páscoa determina todas as demais datas das festas móveis cristãs, com exceção às relacionadas ao Advento. O domingo de Páscoa marca o ápice da Paixão de Cristo e é precedido pela Quaresma, um período de quarenta dias de jejum, orações e penitências.

A seguir, toda a descrição da Páscoa no mundo e na História, mais uma frase interessante:

A Páscoa cristã está ligada à Páscoa judaica pela data e também por muitos dos seus simbolismos centrais. 

Abrimos a relativa página da Páscoa hebraica e encontramos:

Pessach (do hebraico פסח, ou passagem) é a “Páscoa judaica”, também conhecida como “Festa da Libertação”, e celebra a fuga dos hebreus da escravidão no Egito em 14 de Nisan no ano aproximado de 1280 a.C.

Os hebraicos fugiram do Egipto num Nisan? E era Moisés que conduzia? Bom, mas isso agora não interessa. O que interessa é que seguindo Wikipedia chegamos à conclusão que a nossa Páscoa tem algo a ver com o Pessach, a Páscoa hebraica, nomeadamente no que diz respeito às datas e aos símbolos. Tudo, portanto, parece ter nascido aí, da fuga no Nisan; sucessivamente, Cristo foi crucificado e ressuscitou na mesma altura (olha a combinação), pelo que os apóstolos, no primeiro século, começaram a comemorar este evento.
Mas esta é apenas uma parte da história. E é a parte errada: na verdade, a Páscoa cristã é muito mais antiga do que isso. E nem era uma festividade cristã.
A estrela de 8 pontas

O arquétipo da morte do filho (o Sol) numa cruz (a constelação do Cruzeiro do Sul), tal como a sua
ressurreição que anula os poderes das trevas, é um mito que se perde nas espirais do tempo.

Mesmo antes da celebração ter sido adoptada pelo povo judeu, muitos mitos religiosos contavam com o evento da ressurreição, como no caso da religião egípcia do deus Horus e do Sol Invictus, associado ao deus persa Mitra.

Também a Pessach hebraica é mais antiga e remonta ao tempo em que Cush, bisneto de Noé, se casou com uma mulher chamada Semiramis. Eles tiveram um filho, ao qual deram o nome de Nimrod. Após a morte do pai, Nimrod casou com a sua própria mãe e tornou-se governante.

A Bíblia fala de Nimrod em Génesis 10:8-10. O povo considerava Nimrod um deus e Semiramis, a sua esposa e mãe, tornou-se a Rainha poderosa da antiga Babilónia. Foi a partir deles que se desenvolveu a religião dos mistérios de Babilónia.

Nimrod foi assassinado por causa da sua violência e iniquidade, o seu corpo foi rasgado em pedaços e espalhado nos cantos mais remotos do reino e na altura, a sua esposa-mãe disse ao povo de Babilónia que Ninrod tinha subido ao sol, e que a partir daí o nome dele era Baal. Já na altura o povo acreditava em tudo e Semiramis conseguiu criar uma religião, da qual ela era a divindade (com o defunto Nimrod, óbvio, agora transformado em Baal).

O ovo

Semiramis alegou ter sido concebida “perfeitamente”: segundo ela, a deusa Lua, durante a ovulação, tinha-a enviado para a Terra num ovo gigante que pousou no rio Eufrates, no primeiro Domingo após a lua cheia do equinócio de Primavera. Olhem para a altura do ano, olhem para o ovo: exacto, encontrámos a origem do ovo de Páscoa.

Semiramis tornou-se conhecida como Ishtar: interessante realçar como esta palavra esteja parecida com o moderno inglês Easter (Páscoa), por sua vez derivado do proto-alemão Ēostre, a deusa da manhã.

Semiramis escolheu como símbolos da fertilidade um ovo (óbvio) e um coelho (o coelho pascoal…), enquanto na iconografia era representada com uma estrela de 8 pontas. Porque 8 pontas? Porque o planeta Vénus, com o qual Ishtar tinha uma forte ligação (como Ēostre, a deusa da manhã), desenvolve as suas fases num ciclo de 8 anos, facto já conhecido pelos astrónomos/astrólogos da Antiguidade. E não é um mero acaso o facto da iconografia cristã representar a Virgem Maria com uma estrela de 8 pontas.

Pouco depois de ter fundado a nova religião, Semiramis-Ishtar ficou grávida e disse que tinham sido os raios do deus Baal (Nimrod) a engravida-la. Pessoalmente tenho algumas dúvidas, mas dado que por aqui acreditamos num grávida virgem, não é o caso de ironizar.

O novo filho foi chamado Tammuz e reverenciado como o descendente do deus-sol Baal. Uma vez adulto, durante uma viagem de caça, Tammuz foi morto por um javali, que de facto é uma espécie de porco mais enervado. A Rainha Ishtar, portanto, alegou que Tammuz tinha regressado ao pai, Baal, e a partir daquele dia o povo (que acreditou também nesta) começou a adorar tanto Baal quanto o filho dele, Tammuz. Esqueçam o javali: mas o resto da história não faz lembrar algo?

A cruz Tau

Ishtar explicou também que quando Tammuz foi morto pelo porco enervado, algumas gotas do seu sangue caíram no tronco duma palmeira e que isso tinha desenvolvido uma nova planta durante uma única noite. Tudo isso tornou a palmeira sagrada (Domingo de Ramos).

Ishtar proclamou também um luto de 40 dias, para ser repetido a cada ano antes do aniversário da morte de Tammuz. Durante este tempo, não era permitido o consumo de nenhuma carne (Quaresma) e os fieis eram convidados a meditar sobre os mistérios sagrados e marcar-se com o Tau, a cruz de Tammuz.

As festas pascoais pagãs incluíam orgias (prática que infelizmente foi perdida), eram celebradas com grandes libações, consumo de doces, enquanto no templo de Ishtar as mulheres ofereciam-se a todos, sendo que os homens deixavam em troca algum dinheiro (e aqui vê- se o facto desta ser uma religião primitiva e ultrapassada).

Crianças eram sacrificados em honra dos deuses e o sangue delas era consumido pelos adoradores.
As orgias tinham como consequência a concepção de novas crianças e, acrescentando nove meses, eis que os nascimentos ocorriam perto do 25 de Dezembro, o dia em que Tammuz tinha sido morto para renascer na forma de deus-sol. Muitas das crianças nascidas por volta deste período eram por sua vez sacrificadas nas comemorações do ano seguinte (eis uma das primeiras formas de reciclagem).

É mais do que óbvio que estes rituais penetraram profundamente no Cristianismo. O simbolismo da morte de Tammuz na Sexta-feira, seguido da sua ressurreição no Domingo, são muito mais do que uma coincidência.

Um coelho muito sério

No livro As Duas Babilónias, Alexander Hislop (ministro da Igreja da Escócia, que viveu no século XIX) afirma:

O sistema babilónico era baseado no fato do Sol – ou Baal – ser o único Deus. Quando Tammuz começou a ser adorado como um deus encarnado, isso significou que Tammuz era a encarnação do Sol [do qual era também o filho, ndt].

Conectada ao culto de Tammuz havia a Quaresma, os ​​preliminares 40 dias de grande comemoração da morte e ressurreição de Tammuz, celebrada por choro e riso de alegria. Tais práticas foram observadas na Palestina e na Assíria em Junho (chamado de “mês de Tammuz”‘); foram observadas no Egipto em meados de Maio e no Reino Unido em Abril. Para conciliar essas práticas pagãs com o cristianismo, Roma, prosseguindo a sua política, adoptou uma série de medidas para assegurar que as festas cristãs e as pagãs se fundissem e, com um ajuste complicado mas hábil do calendário, fez que esta tradição, como tantas outras, confluísse no cristianismo.

The New Catholic Encyclopedia:

Uma vez que a maioria dos primeiros cristãos eram judeus convertidos, é compreensível que a morte e a ressurreição de Cristo no calendário cristão tivesse que acontecer nos dias que coincidiam com o principal feriado judaico, ou seja a Páscoa, celebrada no dia 14 do mês de Nisan, que é a primeira lua cheia após o equinócio da Primavera.

O historiador Eusébio, da época de Constantino, escreveu:

Quando foi colocada a questão da festa sagrada da Páscoa, foi universalmente aceite que fosse útil fazê-la coincidir com uma recorrência bonita e desejável, através da qual receber a esperança da imortalidade.

De facto, é interessante realçar como em lado nenhum do Novo Testamento haja indicações para celebrar a Páscoa cristã. Não faltam referências à Páscoa judaica, mas nada acerca do resto.

Ishtar-Anat-Astarte: a mesma deusa

Então, o que fazem todos aqueles símbolos estranhos que nada têm a ver com a Ressurreição de Cristo? Os quarenta dias da Quaresma, os ovos, os coelhos? Resposta: nada. Até a pomba tem um significado muito mais antigo e pouco tranquilizador.

A pomba (sem o ramo de oliveira livre no bico) não é um símbolo de paz (ou do Espírito Santo ), como geralmente é acreditado, mas é também um símbolo da deusa Ishtar, Juno, Minerva, Afrodite, Vénus, Isis, Anat, Astarte, Tanit.

Tanit

Enquanto as primeiras são bem conhecidas (e atenção: apesar dos nomes mudarem com o passar das épocas, a deusa é sempre a mesma, a originária Ishtar), o discurso muda em relação às últimas.

Anat, por exemplo, aparece como esposa, às vezes irmã de Baal; esposa de El e esposa de Jahvé. Anat é uma guerreira feroz, selvagem e furiosa em batalha, que luta rodeada de sangue enquanto corta as mãos dos inimigos.

Discurso parecido com Astarte, associada ao sexo e à guerra.
Depois Tanit, virgem deusa da guerra, símbolo de fertilidade, que em Cartago pedia o sacrifício de crianças.

A Sexta-feira Santa? Na verdade, Cristo foi crucificado numa Quinta, talvez até numa Quarta-feira. Mas Tammuz tinha morrido numa Sexta-feira, para ressuscitar no seguinte Domingo.

Diz Jesus (Marco 7:6-8):

Este povo honra-me com os lábios,Mas o seu coração está longe de mim;
Em vão, porém, me honram,Ensinando doutrinas que são mandamentos de homens.
Porque, deixando o mandamento de Deus, retendes a tradição dos homens;
como o lavar dos jarros e dos copos; e fazeis muitas outras coisas
semelhantes a estas.

Marcos 7:6-8

Este povo honra-me com os lábios,Mas o seu coração está longe de mim;
Em vão, porém, me honram,Ensinando doutrinas que são mandamentos de homens.
Porque, deixando o mandamento de Deus, retendes a tradição dos homens;
como o lavar dos jarros e dos copos; e fazeis muitas outras coisas
semelhantes a estas.

Marcos 7:6-8

Este povo me honra com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. Em vão me adoram; os seus ensinamentos não passam de regras ensinadas por homens. Vocês negligenciam os mandamentos de Deus e se apegam às tradições dos homens.

Pois.

Ipse dixit.

Fontes: o link mais importante é Wikibooks: The Origin of Easter que, todavia, teve que ser verificado várias vezes pois algumas coisas pareciam não bater certos (e na verdade batiam, era só ignorância minha). Por isso: várias páginas de Wikipedia (versão inglesa e italiana), Biblia Online, Alexander Hislop: The Two BabylonsEusebius Caesariensis – De vita Imperatoris Constantini (ficheiro Pdf, Latim). Não consegui verificar a citação da The New Catholic Encyclopedia: todavia decidi deixa-la pois, mesmo que esteja errada enquanto citação, o sentido bem resume a ideia que transmite o artigo geral.

10 Replies to “A Páscoa: o simbolismo escondido”

  1. Não confundir Cristianismo com Catolicismo. A Páscoa Católica, como tudo o que é católico, é uma colagem do cristianismo ao paganismo no médio oriente que existia no tempo do império romano, quando o cristianismo começou a ganhar força naquele lugar. A páscoa cristã devia ser comemorada como Jesus indicou na Santa Ceia, na véspera da Páscoa Judaica (esta sendo a fuga do Egito, lugar onde existiam os rituais babilónicos mas com outros deuses), uma vez que Cristo morreu exatamente no dia a seguir, na altura dos sacrifícios judaicos no templo.

    Para quem acredita na Bíblia, então, o que pode concluir é que o calendário divino estava programado para substituir o pagão: A celebração da Passagem veio substituir o paganismo babilónico egípcio. A crucificação veio juntar-se à Passagem para acabar com o paganismo babilónico do médio oriente e substituir o tau pelo verdadeiro Messias. Quanto aos ramos, Jesus quando entrou em Jerusalém em cima de um burro, foi recebido com ramos de palma, símbolo da paz naquele tempo, símbolo talvez oriundo dos tempos da palmeira de tamuz, e que os israelitas ignorassem.
    Nas comemorações desse deus pagão, era costume enfeitarem-se árvores, não era? Era próximo das festas saturnálias de fim de ano, que era só bebedeira e sexo, não era?
    Mas alguém alguma vez soube o dia em que Cristo nasceu?
    Ah, já agora, o dia de reis coincidia com quê?…

  2. Autores da façanha histórica que promoveu a verdadeira passagem dos ritos pagãos,primeiro para o judaísmo e posteriormente para o cristianismo: HEBREUS, que sempre foram odiados por onde passavam pois acabavam dominando os povos e culturas locais através de sua primazia secular, o comércio, a moeda e a usura. Transição religiosa facilitada pela queda dos romanos e ascensão das tribos bárbaras com suas crenças pagãs,durante o longo período do SACRO IMPÉRIO ROMANO GERMANO, sucessor de Roma, e muito pouco comentado. Aliás, uma ótima sugestão pra vc, Max. Discorrer sobre esse largo período…

  3. Simbolos são simbolos, e o que numa cultura significa uma coisa, noutra significa outra diferente, mas os princípios religiosos mantêm-se os mesmos.

    Mas para perceber isto seria necessário um estudo comparado das várias Religiões e diferentes culturas. ( Egipto, Maia, Budista, Hindu etc…)

    http://4.bp.blogspot.com/-MjwuN7DicIM/Tq4u_x8cX0I/AAAAAAAAAhQ/YZvPbGJtVI4/s1600/Xolotl_1.jpg

    http://2.bp.blogspot.com/-cZA9MyHwzdY/TuavjahCyBI/AAAAAAAAA0E/DauYCR1fq7E/s1600/Isis-Mar%25C3%25ADa2.jpg

    O Sol sempre foi visto pelos antigos, como aquilo que a tudo dá vida.

    Algumas antigas culturas, adoravam não só o Sol físico, mas aquilo que ele representa, os princípios inteligentes que governam a criação e permitem a vida, essa Energia Inteligente que cria e destrói Mundos e Universos, e dá vida a tudo que foi, é e será.

    Uns chamaram-lhe Cristo (personificado pelo Cristo histórico que nasceu á 2014 anos), outros Krishna ou Osíris ou Quetzalcoatl etc… o Fogo por trás de Tudo, e em Tudo, todo o Manifestado, que cria e destrói Mundos e Universos, e dá vida a tudo que foi, é e será.

    A Inteligência oculta por trás da Arquitectura da Natureza.

    "I.N.R.I. "
    " Ignis Natura Renovatur Integram"
    "O Fogo renova incessantemente a Natureza."

    Este é um esboço muito pobre do que haveria a dizer sobre o tema…
    Mas estaria fora de lugar fazê-lo no contexto deste Blog.
    Mas como já foi dito, cada um tem a direito á sua opinião ou conceito.

  4. Olá Max: o que reiteras no post e que não cansa de me surpreender é como a cultura branca, ocidental, cristã é centrada em torno da sua história, e a toma como se fosse única e original, como é pretenciosa e burra. Como se o conhecimento do tempo passado não estivesse a mostrar a eterna repetição da criação de idéias e coisas. Como se o conhecimento da geografia não nos apontasse regiões do mundo onde se é capaz de encontrar grupos vivendo como a 10 mil anos antes (nenetsis na península de Yamal, Sibéria, gente nos confins das montanhas etíopes ou os zo es na Amazonia, só para exemplificar)com jeitos de ver, sentir e fazer que protagonizam os primórdios das manifestações de espiritualidade e religiosidade e cujo comportamento coletivo reafirma que a cultura a qual pertencemos é a mais torpe que já vicejou no planeta. Abraços

  5. Quanto aos usureiros, Deus já tinha dito no Antigo Testamento que eles haviam de ser espalhados por todas as nações e lhes seriam por opróbrio.
    E Cristo quando chegou ao templo e viu lá os vendilhões, expulsou-os a som de chicotadas no ar e disse que tinham transformado a casa do Pai num ninho de ladrões.

  6. É tremenda a grandiosidade e magnificiência do Cristo, seja na sua forma Cósmica ou quando se humaniza como Instrutor do Mundo, tal como aconteceu faz 2014 anos sob o nome de Jesus.

  7. Mahapunnama Sutta (MN 109) – O Grande Discurso na Noite de Lua Cheia.

    Um bhikkhu questiona o Buda acerca dos cinco agregados, do apego, da idéia da existência da personalidade e da realização do não eu.

    O Buda dá um ensinamento completo sobre os agregados: o que são, porque são importantes, como eles surgem, qual a sua gratificação, qual o seu perigo e como libertar-se deles.

    http://www.acessoaoinsight.net/sutta/MN109.php

  8. É importante a gente apresentar algumas fontes primárias de onde você está tirando aquela informação, porque na internet existem muitas informações gratuitas, mas quem que escreveu? quem disse? de onde surgiu? As referências mais antigas que eu tenho a Semíramis seriam aquelas que datam mais ou menos do primeiro século antes de Cristo e do primeiro século depois de Cristo.
    Uma grande quantidade de autores greco-romano mencionam Semíramis, você tem Diodoro Sículo, Dião Crisóstomo, Claudiano, Valério Máximo, Propércio, todos esses entre esse período, mencionam uma mulher que viveu no passado, que foi uma grande rainha, uma mulher destacada, Diodoro Sículo diz que ela foi a mulher mais importante da antiguidade. E alguns desses autores fazem referência a um autor chamado Ctésias de Cnido, um médico grego que serviu à corte persa no século 4 a.C., as obras de Ctésias já estão perdidas, então se eu apenas considerar as citações dele que são feitas por Diodoro Sículo e esses outros que mencionei eu posso dizer que o mais longínquo que eu consigo ir nas referências a Semíramis seria no 5° século antes de Cristo. Mas mesmo pra fazer essa afirmação eu tenho que concluir como provável a hipótese de que Semíramis seria a mesma Sammu-ramat, uma rainha da Assíria, se Semíramis for a versão grega dessa rainha, que é do 8° século antes de Cristo, há um problema, porque Nimrod/Ninrod de Babel teria vivido por volta de 2300 a.C., ou seja, eu tenho aí um hiato muito grande entre Babel e a Semíramis histórica se é que ela realmente existiu. Agostinho (354-430 d.C.) é o mais antigo autor que faz uma ligação entre Semíramis, Babel / Babilônia e a Bíblia Sagrada, se Agostinho falou isso da sua própria cabeça ou se ele usou fontes mais antigas que hoje nós desconhecemos é difícil saber.
    Quando Onnes estava numa batalha em outra cidade, Semíramis queria ver o marido e o marido também mandou cartas pedindo que ele desejava muito vê-la, então ela reuniu uma pequena milícia e foi ao encontro do seu marido, mas ela foi tão ágil e guerreira em reunir essa milícia que ela acabou derrotando o exercício inimigo. Onnes não aguentou a pressão de ser ameaçado de ter seus olhos furados e ficar cego e se matou, e Semíramis acabou se tornando esposa do seu rival de Ninus, e com Ninus era teria um filho chamado Ninias, só que algumas versões antigas dizem que o filho dela também se chamava Ninus como o pai, tem contradições, alguns relatos tardios vão mencionar uma relação incestuosa entre ela e o fruto desse segundo casamento, aquela versão que dá um caráter divino para Semíramis vai dizer que depois que ela morreu ela se transformou numa pomba e voou para o mundo dos deuses, até aí é tudo o que eu consigo na antiguidade clássica sobre Semíramis, e tudo indica que Semíramis depois acabou sendo cultuada depois da morte por vários outros povos, alguns até fazem uma ligação entre ela e Ishtar da Babilônia, e Diodoro Sículo menciona que Semíramis fundou várias cidades, inclusive a cidade de Babilônia, inclusive os jardins suspensos da Babilônia. É Agostinho que vai dizer que Semíramis fundou Babel, porque como ele tinha o relato desses autores que colocam Semíramis com fundadora da Babilônia e já havia pra Agostinho uma ligação entre Babel e Babilônia, ele coloca que ela que fundou as duas cidades, essa ideia vai perdurar no cristianismo, mas muito tempo ainda pra que ela tenha mais detalhes como hoje é contada, lá pelo século 15 mais ou menos, você vai ter uma obra anônima que vai linkar Semíramis com Ninrode como sendo a mãe de Ninrode e ao mesmo tempo a mulher dele com quem ela vai ter um filho, Giovanni Boccaccio (1313-1375 d.C.) vai falar disso, Dante… só nessa época ela é vinculada também a construção da torre de Babel com Ninrode, aí você acaba deslocando a Semíramis histórica, se é que ela existiu, do período do 8° antes de Cristo, por século 24° antes de Cristo, lá na época de Babel, se eu colocar Babel por volta de 2300 a.C. A Bíblia não fala se ela estava realmente ligada a Ninrode. Tem um livro de um teólogo escocês chamado Alexander Hislop, As Duas Babilônias, é um clássico do cristianismo, mas é um livro já da idade moderna e nesse livro ele cria mais detalhes sobre a lenda de Semíramis, mas ele não diz de onde ele tirou essas fontes, então nós temos muita coisa fragmentada. Não existe nada também encontrado na antiguidade nem na idade média que ligue Semíramis a Tamuz.
    Existe uma diferença entre a licença poética que você usa pra construir um enredo e dar liga a ele, mas não está atribuindo características de veracidade aquela licença poética, há uma diferença entre esse exercício e o exercício da mentira pura, alguém com base no que não está documento, não está provado e não tem nem a menor hipótese pra aventar aquilo ali começa a disseminar afirmando coisas que não são verdadeiras e a partir dessas coisas que não são verdadeiras tirando doutrinas e ensinamentos. Exemplo: já cansei de ver na internet pessoas escrevendo contra o natal com a seguinte premissas – a árvore de natal era uma árvore da deusa Semíramis ou Ishtar (rainha do céu mencionada na Bíblia) que inventou a árvore de natal e adoradora do deus sol e os pagãos quando estavam adorando o deus sol introduziram Semíramis na igreja cristã e Semíramis seria a estátua que depois virou a Maria mãe de Jesus, que seria a cristianização do culto a Semíramis, a deusa do sol, e no início pagãos matavam crianças e em oferecimento ao deus Tamuz e cortavam a cabeça dessas crianças e penduravam nessas árvores para adoração a Semíramis e a Tamuz o deus sol. Gente tudo isso aqui é balela, não tem fundamentação, eu não faço oração a Maria, eu não creio que Maria está como intercessora entre mim e Deus, mas eu não vou agora admitir que alguns crentes comecem a falar mentiras sobre o culto Mariano da igreja católica, eu tenho certeza, o culto mariano não tem nada a ver com Semíramis, Ishtar ou deus Tamuz.
    Tamuz só é uma vez mencionado na Bíblia, Ezequiel capítulo 8:14. E não tem nenhuma associação de Tamuz com o deus sol na mitologia Assíria ou Síria ou da Mesopotâmia ou qualquer lugar ali da Babilônia. Tamuz seria o deus sumério da vegetação e da pastorícia, morria todos os anos para ressuscitar, simbolizando o ciclo de vida vegetal. Antes de morrer foi o pastor do rei de Uruk, cargo de importância. Podia também ser conhecido como Damuzi ou Dumuzi e era marido (ou amante) de Ishtar. E as lendas sumerianas dizem que Dumuzi era o deus pastor de ovelhas (deus do pastoreio), que era filho de Enki ou Enkidu (deus da agricultura), depois Tamuz acaba de casando com a deusa Inanna, que era conhecida como Ishtar na Acádia, depois há uma trama que Tamuz é lançado no submundo dos mortos e perseguido por demônios e depois é resgatado de lá. Depois o culto a Tamuz, que era chamado de Dumuzi originalmente pelos sumerianos, é transferido para os acadianos/acádios da Babilônia, aí sim que ele recebe o nome de Tamuz, pros babilônicos ela vai ser filho do deus Ea, invés de Inna é casado com Ishtar, que é o mesmo culto, apenas mudando o nome dos deuses. Agora, não tem nada que ligue Tamuz a Semíramis ou a Ninrod ou a árvore de natal.
    _Isso é uma mentira que é transformado em palestra e que muita gente fica repetindo esse mantra por aí… Uma infiltração das escolas de mistérios e corruptela posterior._
    Rodrigo Silva – QUEM FOI SEMIRAMIS? Vídeo do canal Rodrigo Silva Arqueologia 8 de fev. de 2021, 08/02/2021.

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