Não é intenção arruinar o dia do Leitor, nem desenvolver o papel de desmancha-prazeres.
Mas, como costumam dizer em Italia, “conhecemos as nossas galinhas”.
Então, mesmo festejando o acordo sobre o nuclear alcançado entre o Irão e a comunidade internacional, melhor não esquecer o panfleto (por assim dizer: são 170 páginas) do qual já falámos no passado: Which Path to Persia? (“Qual Estrada para o Irão?”).
Lembremos: o simpático livrinho foi publicado em 2009 pelo Saban Center for Middle East Policy do Brookings Institution.
Fundado em 2002, o Saban Center oficialmente desenvolve actividades de pesquisa original e programas inovadores para promover uma melhor compreensão das escolhas enfrentadas pelos gestores políticos americanos. Não acaso, entre os membros podemos encontrar políticos dos Estados Unidos e ex-agentes da CIA.
Mas, como sempre, a coisa melhor é seguir o dinheiro: quem financia o Saban Center?
Resposta: o Brookings Institute, como vimos. E quem é o Brookings Institute?
É um dos mais importantes think tank americanos, tal como o Council on Foreign Relations, atrás do qual podemos encontrar os fundos da Rockefeller Foundation, da Ford Foundation, da Gates Foundation, da MacArthur Foundation, do Bank of America, da ExxonMobil, da Carnegie Corporation, mais os financiamentos dos governos de Estados Unidos, Japão, Qatar, China (meditem pessoal, meditem…) e Reino Unido.
Isso permite que o Brookings Institute possa contar com um orçamento anual de 80 milhões de Dólares (dado de 2009).
Agora que temos uma ideia dos autores de Which Path to Persia?, que não é um livro de aventuras exóticas mas um verdadeiro manual para o bom político de Washington, vamos ler um breve excerto cujo assunto central é (imaginem só) um ataque contra o Irão.
Para aqueles que defendem a mudança de regime ou um ataque militar contra o Irão (seja por parte dos Estados Unidos ou de Israel ), não há um argumento forte que possa apoiar esta opção em primeiro lugar. […]
O cenário ideal neste caso seria aquele no qual os Estados Unidos e a comunidade internacional apresentem um pacote de incentivos positivos tão atraente de forma que os cidadãos iranianos apoiem o pacto, enquanto o regime rejeitá-lo.Na mesma linha, qualquer operação militar contra o Irão iria ser muito impopular em todo o mundo e requer o apropriado contexto internacional, tanto para garantir o apoio logístico à operação quanto para minimizar o efeito boomerang dela.
A melhor maneira de minimizar o opróbrio internacional e maximizar o apoio (no entanto, contrariado ou dissimulado) é atacar apenas quando existir uma ampla convicção de que aos iranianos foram dadas, mas em seguida rejeitada, uma soberba oferta soberba, tão boa que apenas um regime determinado em adquirir armas nucleares, e adquiri-las para as razões erradas, iria rejeita-la.
Nestas circunstâncias, os Estados Unidos (ou israel) poderia retomar as suas operações com tristeza, não raiva, e pelo menos alguns entre a comunidade internacional concluiria que os iranianos foram a causa dos males deles por recusar um acordo muito bom .
O texto encontra-se na página 52 da citada publicação.
Realce para a parte mais divertida: “não há um argumento forte que possa apoiar esta opção em primeiro lugar”. Ou seja: não há uma razão válida para atacar o Irão. É preciso construir uma tal razão, porque o Irão tem que ser atacado. Tão simples.
Agora é só esperar que o recente acordo sobre o nuclear iraniano não seja apenas o fruto do dinheiro investido por parte das várias Foundations, empresas petrolíferas, bancos e governos.
Ipse dixit.
Fontes: Which Path to Persia? (versão Pdf, versão Scribus, idioma inglês), Wikipedia (versão inglesa)
Olá Max: um post para guardar na memória e lembrar quando o rumo dos acontecimentos parece surpreendente. Abraços